sexta-feira, novembro 30, 2018

Diário de um mestrando – 9º mês


Há três meses publiquei pela última vez sobre minhas penas no mestrado. Até cheguei a elaborar o diário no mês seguinte, mas fiquei ou com muito cansaço ou sem computador. Não, não fui tomado por uma doença ou tive o aparelho roubado. Foi bem pior: entrei no modo reforma de casa, um sofrimento que vinha adiando há alguns anos mas que em 2018 decidimos encarar. 


Um pouco de bom humor no status do instagram para aliviar as penas
O resultado foi que passamos, toda a família, a viver entre caixas com as nossas coisas empacotadas, caixas com material que deveria vir em algum momento para a obra, caixas que ninguém sabia o motivo de estarem ali e muito desconforto no lugar onde morávamos, já que nada estava em seu lugar habitual. O nosso cotidiano ficou todo direcionado para acordar, vir na obra, ir nas lojas de material de construção, vir na obra, ir nas lojas, vir na obra, ir nas lojas...

Caixas na casa nova
Fui tudo em um crescente, claro. Talvez o atraso no trabalho tenha rolado pela nossa leve ausência no começo. Mas depois praticamente ficávamos o dia inteiro. Resultado além de estar novamente em casa depois de alguns anos fora? Demorei a entrar no modo “semestre 2018.2”. 

Chegava tão cansado em casa que não tinha disposição para algo além de sentar e ver as imagens da TV passarem ali, sem comunicar muito, sem dizer quase nada. Passei a dormir mais cedo do que nunca havia dormido na vida e a acordar idem. Na verdade, houve noites em que quase não dormi.

Foucault...que leitura difícil
Isso me atormentou muito. Talvez não seja o gênio intelectual das humanas, mas gosto de ir para aula pelo menos com um pedaço do texto lido. Acho um desperdício de tempo e de curso não ter lido o material antes e ficar sem poder discutir os conteúdos. Quer dizer, posso até não discutir por falta de entendimento, mas aí já é outra história.

Um meme que me representou este semestre

Acho que só fui entrar no semestre uns dois meses depois que havia começado. Foi quando limpei a minha velha mesa e abri o computador, li um PDF, mexi no caderno de anotações, me senti um estudante sério novamente. 

Apresentando um texto do Walter Mignolo sobre desobediência epistêmica e descolonialidade na disciplina Seminário de Pesquisa, ministrada pelos professores Adriana Albano e Emerson Carvalho
A colega Valdirene dizendo que desobediência é eu continuar usando bermudas a vida inteira. hahahaha

Tive que fazer jornada dupla para dar conta das leituras atrasadas. Quando terminava de ler o material da próxima semana, começava a ver o que havia sido passado no começo do semestre. Aí então as falas faziam algum sentido.


Quando tudo parecia estar engrenando, logo nos primeiros dias da gente estar curtindo nossa casinha quase nova, Lai, minha enteada, teve uma crise violenta de desmaios e convulsões que durou uns 16 dias. Foram momentos duros. Zanny ficou praticamente morando no hospital e eu fiquei responsável total pela casa, pelo suporte externo a elas e pelo Edgarzinho e seus estudos. 

O bom disso tudo é que aprendi um bocado de coisas de matemática, tipo a multiplicação pelo método da gelosia e a multiplicação pela propriedade distributiva (isso aqui me levou uns dois dias entender).

Agora no dia 25, para completar o quadro de agonias, morreu seu Adair J. Santos, meu sogro, um cara bacana no trato e um escritor também. 

No meio dessa crise no hospital e na vida rolou a eleição... Que desastre o resultado, digo apenas isso...

O banner digital que espalhamos para avisar aos amigos e conhecidos a notícia da morte de seu Adair
Além de tudo o dito acima, rolou um atraso violento também no avanço do texto da qualificação. Não tinha nenhuma condição de parar para ler, analisar e processar o material. Só fui retomar isso agora em novembro. Continuo atrasado e agora um pouco confuso sobre como avançar na questão das categorias de análise. Mas o bom é que a prensa suave que levei da professora Leila, minha orientadora, me tirou do lugar e já fui fazer a entrevista com o sujeito de estudo, o MC Frank D’Cristo. Vou analisar quatro músicas dele para tentar identificar quais elementos ele usa em suas narrativas músicas para construir-se identitariamente. 

MC Frank D'Cristo (Foto: MC 7niggaz)

Eu, concentrado na hora de perguntar as coisas pro Frank (Foto: MC 7niggaz)

Sim, isso mesmo. Construir-se. Sou desses, bem pós-moderno dos Estudos Culturais. 

Dezembro será dedicado a isso e a escrever um artigo para a disciplina...Caraca, só sei os nomes das disciplinas se olhar o caderno...pronto, colei: Arte, Cultura e Identidade, ministrada pelos professores Eduardo Amaro e Tatiana Capaverde. Tenho vontade de usar conceito do Cronotopo, de Mikhail Bakhtin, Baki para os íntimos, mas não sei como. Quer dizer, saber, até sei. Não sei em que. Ainda. 

Bardin e Bakhtin, uma dupla legal

Ah, participei da Semana de Letras da UFRR. Foi minha primeira vez neste tipo de evento. Achei legal e não tão dolorido como pensava. Claro, há de se ter o que falar para ir lá na frente. Essa é a parte dolorida. Ah, sim. Fiz uma comunicação oral sobre minha pesquisa. 
Bueno, que más? Deixa eu lembrar...: reformei a casa, voltei para minha casa, continuamos mexendo na casa, voltei a ler os textos, estou lendo coisas novas além das disciplinas, quase acaba o semestre, acho que aprovei no semestre, falta fazer um artigo para aprovar numa das disciplinas do semestre, estou pedalando sempre que possível, estou lendo sobre categorias e sobre análise de conteúdo para poder avançar no texta da qualificação, a qualificação será em fevereiro, então está logo aí, no virar do mês praticamente, estou cansado algumas muitas vezes, sentindo-me um pouco incapaz, quer dizer, incapaz não, meio lento na verdade.



Mapeando em qual sala ia rolar a parada oral

Uma das mesas do evento

Acho que é isso...dezembro não tem mais aula a partir da próxima semana, ficando com mais tempo livre para agilizar o que deve ser agilizado...


Vou embora. Tchau. 

































quarta-feira, agosto 22, 2018

#05 Mostrando as coleções: estátuas Crazy Toys do Wolverine

Na edição #05 da nossa série "Mostrando as coleções" trazemos duas estátuas do personagem Wolverine. Uma foi comprada em São Paulo e a outra é da marca Crayz Toys, via Aliexpress.


   


 Se gostou do vídeo e quer que a gente continue botando vídeos de nossas coleções, deixa seu joinha, compartilha e mostra pro mundo um pouco do colecionismo na Amazônia!

segunda-feira, agosto 20, 2018

#04 Mostrando as coleções: Batmobiles do McDonalds e da Shell e miniaturas Eaglemoss


Na edição #04 da nossa série Mostrando as coleções trazemos nossos Batmobiles do McDonalds e da Shell, além de algumas miniaturas Eaglemoss que temos aqui em casa. 

Se gostou e quer que a gente continue botando vídeos de nossas coleções, deixa seu joinha, compartilha e mostra pro mundo um pouco do colecionismo na Amazônia!

terça-feira, agosto 14, 2018

Tínhamos todas as boas opções do mundo...






Tínhamos todas as opções do mundo, mas escolhemos justamente navegar placidamente em mares de raiva. Optamos por não olhar para as nossas responsabilidades, por evitar críticas fundamentadas, estudadas, refletidas, analisadas.

Optamos por esquecer que acima de nós havia uma outra categoria de pessoas com mais poder, mais dinheiro, mais voz e outros interesses que não os nossos. 

Optamos por ouvi-las e segui-las, sem atentar que seus destinos não eram os nossos e que seus alertas de “perigo” e “basta disso” eram um canto da sereia que levaria nosso barco às pedras e o deles ao porto.

Tínhamos tanto amor para espalhar, para postar e respostar, mas optamos por sermos ínfimos, maledicentes, por entrar em listas pedindo que fechassem as portas da casa que sempre adoramos quando nos éramos os visitantes, os estranhos, reis em outros lugares.

Nem todos fomos assim, é verdade. Houve quem não gritasse ódio e sim berrasse amor, fraternidade, entendimento, compreensão, empatia e outras coisas consideradas bobagens. 

Houve quem mantivesse isso e houve quem apenas falasse, sem nunca ter agido com amor, que já bastava de tanto carinho para os outros, que estava na hora de ser carrancudo, odioso, opressor, mesquinho e outros adjetivos confundidos com moralidade, patriotismo e cuidados com os da terra.

Houve quem falasse em meritocracia enquanto bebia algo caro sentado na cadeira de couro que ganhou de sua família, de seu esquema financeiro corrupto e corruptor, de seu padrinho político... 

Houve quem falasse em religião como motivo mais do que justo para não aceitar o diferente e ouve quem usasse a religião como motivo mais do que justo para apontar sua língua bifurcada contra o diferente.

Claro, houve muitos que amaram, que abraçaram, que criticaram o alvo certo, mas continuaram ajudando. E houve também quem foi ler mais, ouvir mais, conversar mais, lembrar mais de si e de seu passado (ou do passado de seus antepassados) para entender que a história é cíclica e o mundo dá voltas por ser redondo – nunca plano, apesar da insistência.

Uns tinham todas as opções do mundo e optaram por gritar em vez de abraçar.

Outros (ainda bem que havia bem em outros) também tinham todas as opções do mundo e escolheram a empatia, a ajuda, o entendimento de que amar só os próximos e os conhecidos não faz sentido e de que o mundo é muito grande para alguém insistir em ser pequeno e achar isso uma grandeza.

domingo, agosto 05, 2018

Embelezando o jornal com outros escritores de Roraima

O povo da coluna Okiá, veiculada no jornal Folha de Boa Vista, publicou esta semana uma foto na qual apareço com outros integrantes da cena literária de Roraima. 

A imagem foi produzida pela equipe do Sesc Roraima para o evento Sesc Literatura em Cena e nela aparecem, além de mim, óbvio, Zanny Adairalba, Aldenor Pimentel, Felipe Thiago e Tana Halú. A foto saiu no dia 31.07.18.





No print da versão digital ficamos ainda mais charmosos, acho: 


sexta-feira, agosto 03, 2018

Poema quebrantado e aleatório


Amendoim seco uma briga haverá amanhã
que tempo é esse inverno que
nunca
acaba até
quando esse silêncio tão forte uma
ca
ra 
de
chá uma taça
de vinho um copo de
água dúvidas muitas
dúvidas uma página cheia de letras e de
significados
e
nenhum entendimento
lembranças de quem
não está mais papeis com anotações letras
feias letras desagradáveis promessas
nunca
feitas sempre cobradas teorias
espancando tua ignorância tão bonita e tão
explosiva
a expli
ca
ção nunca entendida
a mentira toda a verdade toda a falta de luz é de tarde
é de dia haverá um eclipse haverá lua e sol verão e praia haverá
esforço o cérebro
 cansado o cérebro exposto
a mente cansada a mente exposta faltam
habilidades nunca serás
tão detetive tão observador tão genial tão bom acabou recomeçou extinguiu-se apagou a chama nunca houve chama
que talvez se vá talvez se ouça ao longe sons ao longe
vida ao longe promessas leia cante chore grite viva diz o cartaz no chão
o sol
o sol
o sol
queima tudo queimam todos os
silêncios cortam afogam cansaço
voltas em torno
do
toco
Toca jazz
Aqui jaz uma
Ideia uma ideia uma ideia
e nunca mais faça castelos
de areia de ar nas
nuvens
que vêm
relatórios que matam
não há criatividade para formulários
não há formulários para criatividade
não há atividade nos formulários
não há diários para a cidade
Nego
ciações à luz de vinho e um
Pouco mais disso e um pouco mais daquilo que não nos devora a alma nem provoca
Nem assopra
Nem corta
Mas machuca a música triste que toca
Um pouco de vinho um pouco de vinho e um pouco de vinho
Afas
tando medos afastando clarezas afastando...

quarta-feira, agosto 01, 2018

Diário de um mestrando em Letras - quinto mês

09.07.18 Segunda

Hoje é feriado em Boa Vista. Aniversário de 128 anos de criação do Município. 
Pensei em me dar folga, mas seria abuso. Fui pelo menos tentar adiantar e melhorar as questões do roteiro de entrevistas ao futuro sujeito da pesquisa. 

Fui caminhar no parque Anauá também. Pegar uma carga de vitamina D. 

30.07.18 Segunda




Uma xícara de chá e mais uma e outra e de novo... Foi assim quase o mês todo, sentado à mesa, reescrevendo (mais tentando que reescrevendo) o artigo da disciplina da professora Déborah e avançando palavra a palavra nas demandas da qualificação deixadas pela professora Leila. O primeiro mandei faz quase uma semana. 








Entre travas e travadas dei uma parada para receber uns amigos da Venezuela que há muito não via. Depois que foram embora, adotei a metodologia de sentar para trabalhar manhã e tarde. Entre lerdezas e vazios, avancei, fechei e mandei. 





Meme eu que fiz 

Já as demandas da quali estão aí, ainda assombrando-me, engolindo-me. São tantas que até tive de numerá-las. A resolução não acontece por ordem de ordenamento e sim por questão de facilidade. O mais fácil, ou que aparente ser, já meio que foi. 




Agora, no momento em redijo isto, estou usando esta escrita como uma forma de aquecimento cerebral para encarar a busca de um conceito, de uma ideia, que não consigo pescar do texto que leio e releio há uma semana. Na verdade, eu sei o que quero, mas não consigo pegar do jeito que quero. É como uma pescaria sem anzol: o peixinho está ali, burlando-se de mim, bem à minha frente. 




Sobre pescarias sem anzol: peguei dia desses uma piaba com a mão lá no lago do parque Anauá. O que isso a ver com a academia? Nada. Só que agora lembrei disso ao escrever o final do parágrafo acima. Ou será que escrevi o parágrafo acima para justificar a lembrança a seguir?


Quase um karatê kid do pega piaba


Abri meu e-mail funcional hoje depois de uns dois meses. Muita mensagem que não me interessa e uma avisando que a grana da UFRR para participação em eventos acabou....Bah, por isso que não me empolgo em ir aos congressos. Se for para viajar a trabalho bancando tudo do próprio bolso, nem me esforço.

Na primeira quinta-feira de agosto vamos apresentar o trabalho de fechamento da disciplina que foi ministrada pelos professores Mibielli/Tatiane/Esqueci o nome/Maurício. Podíamos escolher entre fazer um artigo ou produzir um vídeo abordando a temática da memória. Fiz grupo com a colega Alessandra Cruz e montamos um vídeo com interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) do poema de minha autoria intitulado "Museu em reformas".

O poema vai integrar o livro "Incertezas no meio do mundo", que devo lançar ainda este ano se o Governo de Roraima pagar a grana do edital de literatura que ganhamos no começo do ano. Tá difícil, mas temos esperança que o pagamento saia logo. 


Alessandra Cruz, Luan Selfish (que editou e fez a locução do vídeo) e eu



Alessandra e a intérprete Joice Moura afinando a "declamação" do poema

30 de julho. Não sei se haverá novidades a serem acrescentadas até amanhã, 31. Se houver, volto. Se não, até a próxima edição de meu sofrimento acadêmico.  


22h12

In vino, água e chá, veritas. 
Ou não. 
Quiçá apenas ressaca, mas apostemos na veritas. Isto é, no conceito escorregadio sendo pego para servir de tempero à qualificação. 


Vinho com chá e água ao fundo... hidratação é tudo

31.07.18 Terça

E então calcule o susto que tomei quando vi que deveria entregar um trabalho impresso e não digital e que além disso não havia seguido uma série de recomendações para a formatação do mesmo. E veja que a entrega deveria acontecer nesta quarta, das 8h às 11h, e o prazo ia ficar curto porque você havia prometido levar seu filho ao cinema, uma despedida das férias e preparação para os dias árduos que virão no quinto ano dele. 

Aí então você terá, quem sabe, uma noção de quanto trabalhei na tarde de terça, cortando páginas e ajustando detalhes. Ah, no meio disso, fiquei lendo as mensagens e notícias que chegaram sobre um vídeo no qual um missionário explica a migrantes como funciona o processo de desocupação no Brasil. O material viralizou na cidade e o pessoal aproveitou para reacender as chamas do xenofobismo. 

No meio disso, matérias que ignoravam o contexto da explicação ajudaram a criar o clima de "indignação popular". Só deu isso nos grupos. Sobre os ataques das facções em Boa Vista e um monte de cidades do Interior e a incapacidade das polícias em conter os grupos criminosos, nada ou quase nada. Os imigrantes são bem mais fáceis de atingir do que os caras do tráfico. Ou então ninguém acha perigoso as gangues ratearem entre si a cidade. 

Ah, cortei tanto texto que me autodenominei um super-herói: Motosserra Man, o herói dos cortados. 


Eram 25 antes, mas Motosserra Man entrou em ação


Poderia ser também o Santo das Madeireiras.

Well...Vem a gosto, agosto. 

Para ler todas as edições do Diário de um mestrando, clique aqui.  

quarta-feira, julho 25, 2018

Todos tão iguais - um poema sobre migração (texto e vídeo)

Olha só que legal este acontecimento de julho: os alunos da oficina de teatro da Escola do Sesc Roraima interpretaram um poema de minha autoria. 

A dramatização de "Todos tão iguais - um poema sobre migração" fez parte da programação turística do Fórum de Presidentes de Federações do Comércio, que reuniu mais 100 representantes das entidades (Fecomércio-Sesc-Senac-IFPD) de 16 estados do País. 

A direção da interpretação ficou a cargo de Karen Barroso, instrutora da oficina.

Abaixo, você pode conferir a performance dos alunos. Na sequência o poema. 



Todos tão iguais - um poema sobre migração

Eu já fui lá de fora

Ele já foi de lá fora
E não duvide: você também já foi bem lá de fora

Minha família veio de longe

A família dele veio de por aí
E se você pensar um pouco
Sua família também não é daqui

Quem é só do lavrado 

Se somos de todos os cantos
Temos vários sotaques, várias cores 
Amamos vários sabores?

Em um estado como Roraima

Formado na base da migração
Não gostar do migrante é bobagem
É ódio sem lógica e nem razão

Pense apenas um pouquinho 

Nisto que vou lhe falar:
E se fosse você por aí
Tentando a vida recomeçar?

Como gostaria que fosse

O tratamento por você recebido
Xingamento, pedrada, brutalidade
Ou mãos estendidas em sinal de amizade?

Reflita sobre o que lhe falamos

Pensem no que dizemos antes
Moramos no meio do mundo
Somos de todos os cantos
Somos todos migrantes

Eu já fui lá de fora

Ele já foi de lá fora
E não duvide: você também já foi bem lá de fora.


========

P.S.: Caso você não tenha visto minha fala sobre a influência da migração na literatura roraimense, dá um click aqui e vê como foi o encerramento do II Sesc Literatura em Cena, realizado em junho pelo Sesc Roraima.  

sexta-feira, junho 22, 2018

#03 Mostrando as coleções: Batman Rabbit Hole e Alex Ross actions figures

 Continuamos mostrando as coleções aqui da casa.

Desta vez Edgarzinho e eu falamos sobre dois bonecos do Batman que chegaram entre maio e junho: um Batman Rabbit Hole, do jogo Arkhan City (no vídeo eu errei e falei Asilo Arkham) e um Batman inspirado nas HQs ilustradas por Alex Ross.






Se tu é um leitor bacaninha, já aperta o like, comenta, chama os amigos para ver e divulga um pouco do colecionismo na Amazônia! E se não for bacaninha, seja bacanudo e faz tudo isso também!

Aqui neste link você tudo o que me lembro de ter falado sobre as coleções de bonecos e carrinhos aqui de casa. 

Lá no youtube tem outros vídeos também além de carrinhos e bonecos. Dá um visu e se inscreve no canal. 

terça-feira, junho 19, 2018

A literatura de Roraima em foco (e eu no meio dos focados)


O curso de especialização em Língua Portuguesa e Literatura da Universidade Estadual de Roraima realizou no dia 9 de junho o seu I Café com Letras. Eu não sabia disso até o momento em que uma colega do curso de mestrado em Letras da UFRR, que também está fazendo a especialização, me mandou uma foto de um slide com dados meus.





Era a apresentação de um trabalho sobre minha trajetória, feita por uma aluna da especialização que me entrevistou faz um tempão e eu já não lembrava mais. Fiquei lisonjeado, cheguei até a pensar que era uma manhã só para falar de minha pessoa, mas depois que publiquei a foto do slide no instagram e no status do Whastapp uma outra colega, que também está no curso, me mandou as imagens abaixo, explicando que era uma manhã inteira de apresentações sobre autores de Roraima.




Foi muita pesquisa mostrada nessa manhã. Sobre 16 autores, para ser mais exato, atendendo ao tema do café: Literatura de Roraima em Foco. 



A aluna que me entrevistou se chama Simone de Castro. Nos encontramos no Guaraná do Marivaldo numa tarde pós-chuva violentíssima, eu já de olho no relógio para ir pegar o Edgar na escola, ela chegando alguns minutos atrasada. Fez perguntas interessantíssimas, bem elaboradas, demonstrou que havia pesquisado muito sobre mim e até me falou de coisas que eu não lembrava mais ter dito/feito/publicado. Muito competente. Se não fosse o horário apertado teria falado mais com ela. Lamentei.


Uma das minhas amigas me disse depois que os autores não foram chamados porque houve relatos de um evento para o qual haviam convidado um escritor que estava sendo analisado, o aluno apresentou suas conclusões, o literato não curtiu e praticamente desmontou todo o trabalho acadêmico na frente da turma, pegando bem pesado. Então, para evitar encrenca, esta turma da UERR decidiu ficar só entre eles.




Pena. Gostaria de ter visto. Como disse para minha amiga, dou risada vendo como os alunos enxergam e detectam coisas que eu mesmo nunca pensei ter pensado.  

segunda-feira, junho 18, 2018

Minha fala na mesa redonda sobre “As influências migratórias na literatura de Roraima”







Entre as diversas atividades das quais participei no Sesc Literatura em Cena 2018, que aconteceu entre os dias 6 e 8 de junho no Sesc Mecejana, decidi destacar a minha fala na mesa redonda de encerramento do evento. 



Acompanhando os escritores Elimacuxi e Eliakin Rufino e a professora universitária Mirella Miranda, com mediação do escritor Aldenor Pimentel, falei sobre “As influências migratórias na literatura de Roraima”.



 Montei a minha fala no celular e praticamente fiz apenas lê-la, com alguns cacos inseridos para explicar ou acrescentar algo. O público foi basicamente formado por alunos do ensino médio de uma escola militar (ou militarizada, não sei). Para deixar o registro do que disse, vou publicar o que disse aqui. Quem sabe não gera um outro debate por aí ou aqui mesmo?

Depois da fala, virão algumas fotos do evento.


Fala Edgar Borges sobre “As influências migratórias na literatura de Roraima”



Boa noite! Buenas noches!

Pensei em começar minha fala pela minha biografia de migrante, pela história de minha família migrante, pela formação demográfica de Roraima migrante...

  Muitas opções... Desisti de buscar uma opçao só e abracei todas.

 Meu tataravô materno era espanhol, vindo da Venezuela descendo o rio Uraricoera.

Meu bisavô paterno tinha uma ascendência italiana.

Meu avô materno era paraense.

Minha avó paterna é wapichana.

Meus pais são roraimenses.

Eu? Sou o único estrangeiro da família. Também Sou o único escritor da família.
Fui Criado lendo livros em espanhol, HQs do Chile e do México, lendo HQs  da Marvel, DC, Conan  o bárbaro, ouvindo música caribenha e centro-americana  falando de amores fantásticos, dor de cotovelo, bebidas, recomeços e parrandas.

O quanto de mim é de um país só?

De repente, voltamos, eu e minha mãe, depois de uma década e meia, depois de uma vida toda fora, mas não fora de Roraima.  A gente ficou fora do Brasil.
Roraima não existia. Roraima era só Boa Vista. Boa Vista era a Ville Roy, onde meus avós moravam.

O tempo passa, domino o idioma e de repente, pouco a pouco, livro a livro, contato a contato, começo a escrever e me identifico em cada publicação, seja impressa ou digital: sou metade brasileiro, metade venezuelano... acho até que latino-americano seria melhor... Mas estamos ainda tão presos a isso da identidade nacional que me rendo...

O que tem de cada país em mim, se lá eu era daqui, e aqui eu sou de lá?
Quão migrante é minha literatura se o português não é minha língua materna e se a minha língua materna foi abandonada?

Quão roraimenses são meus poemas, contos e crônicas se eu não vivo falando de lavrado, se não vivo citando cidades de Roraima, se não boto onça  fazendo amor na beira do igarapé? (O que não deixa de ser uma boa ideia, por sinal).

Minha literatura é mais ou menos roraimense que as letras de música do Mike Guybras, que fala cheio de sotaque do vento que vem do monte Roraima; do Eroques Gaudério que faz poemas tradicionalistas gaúchos há 30 anos sob o sol escaldante do verão aqui no meio do mundo?

Quando Zanny Adairalba, Rodrigo de Oliveira e seu Otaniel Souza produzem e divulgam a arte da literatura de cordel falando daqui e de lá do nordeste, eles fazem literatura em Roraima, para Roraima ou de Roraima (E esses “em”, “para” e “de” são hoje uma das discussões teóricos lá na UFRR, para vocês saberem)?

Hoje fiz com o Felipe Thiago, poeta da nova geração, usuário de plataformas alternativas para publicação, como paredes e fanzines, um levantamento de quantos autores que a gente conhece e convive, com livros impressos ou não, são daqui ou de fora.

Chegamos a uns 30 nomes de cabeça. Deu uns 60, 70%, de gente que veio de fora... Gente que só...

Os migrantes fazem rodar a máquina da literatura de/para/em Roraima... Ou Roraima ajuda a fazer dos migrantes pessoas escritoras?

Não tenho posicionamento definitivo.


Máscaras em exposição no evento. Feitas por alunos do ensino médio da escola do Sesc
 Prevejo apenas que o impacto dessa onda migratória venezuelana que tanto horror provoca neste nosso estado feito de migração - horror inclusive compartilhado por escritores e artistas migrantes - esse impacto a gente começará a sentir em uns cinco anos, quando essa turma e seus filhos começarem a ocupação progressiva dos espaços culturais.

Eu mesmo ando planejando escrever usando aquela ideia do portunhol selvagem, imitando o que já foi feito no centro-oeste.

Trago uma música sobre migração pra gente refletir sobre isso da migração. Chama-se “Movimiento”, e é do uruguaio Jorge Drexler:

Mal ficamos em dois pés
Começamos a migrar pela savana
Seguindo o rebanho do bisonte
Além do horizonte, para novas terras distantes

Somos uma espécie em viagem
Nós não temos pertences, mas a bagagem
Vamos como  o pólen no vento
Estamos vivos porque nos estamos movendo

(...)

Yo no soy de aquí, pero tu tampoco
Yo no soy de aquí, pero tu tampoco
De ningún lado, de todo y, de todos
Lados un poco

Los mismo con las canciones
Los pájaros, los alfabetos
Si quieres que algo se muera
Déjalo quieto

......
Encerrando:

Sobre movimento na literatura, na oralidade, que mais poesia híbrida que esta, dita inconscientemente por um vendedor venezuelano de bandeiras brasileiras fabricadas na China divulgando uma copa do mundo que vai rolar na Rússia?

Una bandeira por seis
Duas banderas por diez
Una bandeira por seis
Duas banderas por diez

Buenas noches.

..................................

Bem, agora vamos a algumas fotos no evento:

Fui mediador de três bate-papos intitulados Diálogos Literários, uma ideia que tive para uma feira de livros do Sesc em 2010 ou 2011 e decidi resgatar para este novo evento literário.  Puxei a conversa com esse povo bonito aí:

Elimacuxi e Zanny Adairalba:




Rodrigo de Oliveira e Aldenor Pimentel:



Tana Halu e Marcelo Perez


Também fui, mas agora como escritor e não como mediador, para um Diálogos coordenado por Elimacuxi. O outro escritor foi o Aldenor Pimentel.



Fotinha de lembrança e prova de que estive feliz no Literatura em Cena


Momento de foto geral com todos os participantes escritores:


Cartaz mostrando algumas das coisas que iria fazer:

 


Nós, no jornal Folha de Boa Vista:



Programação geral (bom para consultas e pesquisas no futuro sobre eventos literários dos quais participei): 











Com Felipe Thiago, Zanny Adairalba, Tana Halu e Elimacuxi em um descanso das atividades: 





Aqui você pode ler um relato sobre a primeira edição do Sesc Literatura em Cena, realizado em 2017.


Aqui tem a programação da feira de livros que cito lá encima. Foi em 2011 e foi legal. 


Pesquisando o termo "feira" aqui no blog, achei esta postagem sobre a feira de livros do Sesc em 2006. 

Aqui é a postagem que falava do que iríamos fazer eu e o jornalista Nei Costa nessa feira.