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quarta-feira, agosto 28, 2013

Sobre as aparências dos mais médicos, ops, das pessoas

Gente, quando me virem por aí de cabelo solto no naipe “vagabundo desempregado”, brinco na orelha, bermudão, chinelo de dedo, comendo em churrasgatinho e com essa cara de índio pobre, saibam que tenho duas graduações, uma pós, já escrevi um livro, tenho filho, pago minhas dívidas, já plantei muitas árvores, ajudo meus parentes, faço a tarefa de casa com meu moleque e pago meus impostos direitinho.

Traduzindo: não é a aparência que define a sua formação, capacidade e caráter.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Vermelho urucum



O urucum é a base de todas as cores. Fora ele, aqui e ali, pigmentos de outros tipos para marcar a passagem pelas pedras pintadas do lavrado de Roraima. Aqui e ali, aqui e ali, bem ali, no restante do continente que é esta Amazônia, tribos de todos os troncos pintam-se de vermelho para a paz e para a guerra com urucum.



Urucum é bom para colocar cor na comida. É bom misturado com óleo. Acrescenta vida à carne. Urucum é quase um tempero na comida do índio, do caboclo, do fazendeiro, do bicho urbano. O urucum é, então, a base de todos os sabores.


Urucum pro rosto, pro corpo, pra comida, pra vida. Urucum tatuado, jogado na água, mostrando fúria, acalmando a fome. Se fosse uma estrela de cinema, os críticos falariam: “simplesmente Urucum”.


quarta-feira, outubro 14, 2009


Funarte divulga lista de contemplados com a Bolsa de Criação Literária

(
Da série Clipando. Publicado no site da Funarte em 9 de outubro de 2009)






A Fundação Nacional de Artes (Funarte) divulgou a lista dos 10 autores contemplados com a Bolsa de Criação Literária. Cada um deles receberá prêmio no valor de R$ 30 mil. Por meio desta iniciativa, a Fundação impulsiona a produção de textos literários inéditos, oferecendo a escritores de todo o país condições materiais para que possam desenvolver seus trabalhos.





Nesta terceira edição do programa, foram recebidos 1.046 projetos. A análise do material coube a uma comissão externa, composta por cinco membros de notório saber na área literária: Ângela Dionísio Paiva, Márcio Araújo de Melo, Regina Lúcia Péret Dell'Isola, Álvaro Costa e Silva Filho e Elga Ivone Perez Laborde Leite. Durante o processo seletivo, foram julgadas a originalidade do projeto, a qualidade da proposta e a metodologia do trabalho.





Em breve será anunciada uma relação de contemplados suplentes, beneficiados por um aporte extra de recursos que o Ministério da Cultura destinará à Fundação.


NOVOS RECURSOS - Em 19 de agosto, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, anunciou uma suplementação orçamentária de R$ 18,4 milhões para a Funarte. Com o novo aporte, os investimentos na Bolsa de Criação Literária subirão de R$ 346 mil para R$ 646 mil. Dessa forma, mais 10 autores brasileiros poderão ser selecionados, como suplentes, para receber a bolsa.

........

Então...ganhei um edital da Funarte.

Faz bem para a auto-estima conquistar um prêmio desses. Principalmente para mim, que estava precisando receber uma boa notícia neste segundo semestre de 2009.

Ganhar um prêmio, independente de qual fosse o valor, era uma das minhas metas para este ano. Depois de algumas participações sem êxito em festivais de música, concursos de poesia e de provimento de vagas (em busca de um salário maior), a bolsa da Funarte reergue meu orgulho índio e me estimula a continuar escrevendo micronarrativas (ou microcontos, outro nome que se dá à mesma levada literária que apresentei como proposta ao pessoal de Brasília).

Ser premiado também revalida minha decisão de abandonar o cargo de professor em uma faculdade particular para investir na redação de projetos e textos literários. Quando falava para meus amigos ser esse o principal motivo, ninguém me levava a sério, apesar de todos concordarem qualquer coisa ser melhor do que encarar muito trabalho, alunos inapetentes e remuneração abaixo de nosso anseio.

MOMENTO ENTREGA DO OSCAR

Como nunca fui de assumir sozinho os créditos de ações conjuntas, aproveito para destacar e agradecer o apoio da turma do Coletivo Arteliteratura Caimbé, responsável por dar um brilho bacana na idéia original. Valeu Zanny, Luiz e Tana pelas contribuições ao texto do projeto. Com certeza influenciaram positivamente os jurados. Vamos agora em busca de novos prêmios para o Coletivo Caimbé.


Valorizar quem ajuda e inspira é necessário. Afinal, como disse um profeta carioca, gentileza gera gentileza. Nessa batida, muchas gracias ao ator Marcelo Perez, da Cia. do Lavrado, por ter me emprestado para leitura o seu projeto premiado no ano passado com a bolsa Funarte de Dramaturgia.

Em 2008, quando assessorava a Federação de Teatro de Roraima, fiz a matéria falando da premiação e brinquei com o Marcelo dizendo que ia participar de algum edital neste ano para ganhar a mesma grana que ele. Na mesma hora o cara me estimulou a participar, fazendo elogios e tal aos meus textos neste blog e lembrando que para ser premiado é preciso jogar. Afinal, nunca se ouviu falar de ganhador da loteria que nunca jogou.



A lista de pessoas poderia se estender mais, mas vou reduzir para duas pessoas: Avery Veríssimo, que há alguns anos me apresentou a por enquanto criogenizada revista de Micronarrativas Minguante (AQUI tem matéria falando disso), e Luis Ene, editor da supracitada publicação e também o sujeito que aceitou publicar e prefaciou meu e-book Roraima Blues. Esses dois, o primeiro ao mandar o link e o segundo ao aceitar meus trabalhos, com certeza tem peso no caminho que me levou a concorrer no prêmio da Funarte.






Bom, dito tudo isso, dá licença que vou começar a escrever minhas micronarrativas para cumprir com os prazos da turma da Funarte. Inté a próxima postagem.

terça-feira, junho 30, 2009

Mulher do Garimpo: um retrato da Boa Vista do século passado


Roraima tem muitos escritores e vários já abordaram a história da formação deste pedaço quente de chão. Uma dessas pessoas foi Nenê Macaggi, que chegou por estas bandas no começo do século passado, foi garimpeira, morou com os índios, escreveu livros e montou família. Há uns três ou quatro anos, sua história foi contada em um documentário.


O Palácio da Cultura, localizado na Praça do Centro Cívico, leva o seu nome.(foto tirada deste site)
Ah, aqui a ficha do livro, dificílimo de ser encontrado: A mulher do garimpo – O Romance do Extremo Sertão Norte do Amazonas. Manaus: Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, 1976.

A cópia de onde tirei o texto pertence ao escritor Adair Santos, que foi amigo de D. Nenê e é avô do indiozinho que manda na minha maloca. O material ajuda a montar o cenário da pequenina e modorrenta Boa Vista daquele tempo. Boa leitura e se for copiar não esquece do
crédito de D. Nenê.


BOA VISTA DO RIO BRANCO

I


Boa Vista do Rio Branco, pouco acima da linha do Equador que ladeava a formosa Serra Grande, perto de Santa Maria do Boiaçu, ficava na margem direita do alto-Rio Branco e era cercada pelas Serras Pelada, Grande, Malacacheta, Moça e Murupu. Distava de Manaus quinhentas e quarenta e seis milhas.

Vilarejo até 1926, pequenina e triste, possuía na ocasião regular número de habitantes.

A primeira penetração do Vale se havia dado entre 1500 e 1700, quando o Branco tinha o nome de Paraviana ou Kuluêne, por causa da tribo dos Paravianas que desceu o Uraricoera e veio se instalar perto de Boa Vista.

Em 1725 Frei Salvador, monge carmelita, a fim de concentrar os índios para pacificá-los, fundou a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Rio Branco, hoje cidade de Boa Vista, construindo a Igrejinha local onde se achava agora a Matriz, perto do rio.

Mais tarde, em 1774, Pereira Caldas, Governador do Grão-Pará,
mandou construir, na boca do Itacutu, o Forte de São Joaquim, ampliando o povoamento do Vale e fazendo expulsar os espanhóis da região. Depois, em 1766, houve um conflito com os holandeses, sendo o famoso Ajuricaba, acusado de trair a Pátria.

Em 1789, o Coronel Lobo D’Almada, então Governador da Capitania de São José do Rio Negro, trouxe as primeiras reses para os lavrados do Rio Branco, fundando a fazenda de São Bento, no Uraricoera, perto da embocadura do Itacutu, formador do Rio Branco.

Em 1839 deu-se a invasão dos ingleses, quando já o Amazonas era Província. Atrevidamente os orgulhosos invasores ensinaram a língua inglesa ao gentio, incutindo-lhe que o Rio Branco pertencia à Inglaterra. Frei José dos Inocentes foi encarregado de expulsá-los, resultando daí a Questão de Limites com a Guiana Inglesa, possessão da Inglaterra, que durou anos e anos, sendo eles afinal expulsos do Forte pelo Alferes Paulo Saldanha.

Em julho de 1890, a sede da Freguesia, possuindo duzentos habitantes, foi elevada à categoria de Município, com o nome de Boa Vista do Rio Branco, tendo então dois milhões, cento e quarenta e um mil trezentos e dezesseis limitando-se: ao Norte e Leste, com a Venezuela, pelos Montes Roraima (dois mil oitocentos e setenta e cinco metros de altura) e Caburaí (fronteira com a Guiana Inglesa) e pelo Rio Maú; ao Sul, com a cidade de Moura, pelos Rios Catrimâni e Anauá. E sua faixa de fronteira se alongava por novecentos e cinqüenta e oito quilômetros, com a Venezuela e por no
vecentos e sessenta e quatro com a Guiana Inglesa.




Fazenda Boa Vista e Igreja Matriz, 1905 (Acervo PMBV). Atrás do fotógrafo ficava o Porto do Cmento.


II


O povoamento do Rio Branco muito se deve aos cidadãos Inácio Lopes de Magalhães, que fundou a primeira escola em Boa Vista e da qual foi depois professor o tão querido Velho Mota, ou melhor, João Capistrano da Silva Mota; Sebastião Diniz, Fábio Leite, Carlos Mardel de Magalhães e Professor Diomedes Souto Maior.

Banhava a cidade o Rio Branco, formado pelo Itacutu, vindo da Serra do Pacaraima e pelo Uraricoera, oriundo da junção do Santa Rosa com o Maracá, os quais rodeavam a extensíssima Ilha de Santa Rosa Ou Maracá.

Município bastante rico, ficava Boa Vista quase completamente isolada de Manaus no verão, quando então o rio impossibilitava, pela seca, a navegação em grande parte. E sendo a água o único elo existente entre as duas cidades, ficava a população carecendo do necessário, pois raríssimo era o motor que se atrevia a subir e descer o perigoso rio.

O solo do Município tinha setenta por cento de planalto e trinta por cento de área montanhosa, salientando-se a Cordilheira do Parima, continuação dos Andes, com a Serra do Parima, a mil e cinqüenta e um metros de altitude e a do Tepequém, com mil e quatrocentos metros.

Muito espalhada, com poucas casas de alvenaria e inúmeras de taipa, cobertas de palha de buriti ou inajá. Sem árvores, sem praças e sem flores. Prédios velhos e feios. Quintais abertos e abandonados, sem uma horta ou jardinzinho. Só um bangalô, à distância, embelezando a paisagem. Nenhum grupo escolar, sendo raras suas escolas, regidas por professores primários. Sem cais e as margens do rio terríveis para a atracação das embarcações.

Ruas estreitas e barrentas e no centro da cidade um coreto coberto de palha. Nenhuma indústria. Comércio regular e população igual à das cidades interioranas: curiosa, maledicente, hospitaleira, alegre e amiga de festas e piqueniques.

A Igreja, bonitinha e bem conservada. Os dois únicos prédios novos e modernos, obra de Frei Gaspar, irmão leigo beneditino, pertenciam a uma comunidade estrangeira da Baviera: eram a Prelazia e o Hospital Nossa Senhora de Fátima, servida por dezesseis Madres Missionárias alemãs beneditinas. Como não havia médicos, Madre Radegundes, farmacêutica, operava. Eram elas as únicas pessoas que vendiam leite e verduras à cidade. O prédio da Prefeitura, de cons
trução antiga, era interessante, com uma franjinha e um colar de mosaicos azulados. Mas os fundos eram cobertos de palha e davam para o rio. A cadeia, exígua e frágil, agarrava-se

desesperadamente aos fundos da Prefeitura, como a pedir-lhe que não a desamparasse senão morreria estatelada no chão.

Todo o policiamento era feito por três guardas municipais, com uniforme de camisa cáqui, calça de mescla e cinturão. Freqüentemente, de fuzil na mão, um ou dois deles levavam os presos para cortar lenha e capinar as ruas. Mal alimentados e maltratados, os sentenciados trabalhavam por dois mil réis diários, com comida.

O Mercado, paupérrimo. A matança de gado era livre. A carne não faltava e não havia fiscalização nas duas ou três reses que matavam por dia para o consumo da população.
O Quartel, na única praça sem adorno, era, parece mentira! Coberto de palha! A praça chamava-se Praça da Bandeira. E o Município fazia fronteira com dois países estrangeiros!
Perto do Quartel havia um campo de aterragem eventual de aviões. O Comandante dali devia estar em um quartel na fronteira brasíleo-venezuela ou guianense e não em Boa Vista, a dias de viagem das mesmas, visto como ainda não havia aviões e muito menos da FAB, anos mais tarde denominada Mãe de Boa Vista.

Ao redor da cidade, mato raso e cajuais de frutos saborosíssimos. O vinho de buriti, maravilhoso sempre, era vendido no Reis e no Chico Benício. E coalhada, longe, numa casinha isolada. O leite, ótimo, sem a mistura triste da água, mas escasso. Poucas frutas, mas todas excelentes. Ovos? Galinhas? Porcos? Outra criação doméstica? Cousa rara ali, sem mesmo se saber porque, pois espaço havia de sobra.

Nenhum cinema. Um clube, Os Caiçaras, de madeira, onde o pessoal se divertia. Nenhuma farmácia particular. E nem luz elétrica funcionando, com força motriz tão perto... e a escassa que havia só era acesa à chegada de personalidades de Manaus. E em cada canto de rua, baiúcas e bares repletos de bebidas e de jogadores.

E as autoridades, então? O Juiz de Direito, Dr. Vinitius, inteligente, bondoso e empreendedor, era dono de motor, no qual viajava e comerciava, de sociedade com o sogro, prestigioso político local e de coração grande: era o fazendeiro Homero Cruz. O Prefeito era caçador-pescador-fazendeiro e político temido e poderoso. Também tinha o coração largo e era tremendamente hospitaleiro. O Delegado de Polícia era miudinho, padeiro e vendedor de máquinas de costuras. E assim por diante...

quinta-feira, junho 25, 2009

Boa Vista ficando mais velha



Há quase 119 anos, num distante 9 de julho, o governador do Amazonas
(àquela tempo, Roraima era parte do gigantesco Estado do Amazonas), Augusto Ximenes de Villeroy, elevou a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo da Boa Vista do Rio Branco, pertencente ao Município de Moura, à categoria de Município. Na década de 1930 é que passou a chamar-se definitivamente Boa Vista. Naquela época, tudo chegava por barco.




O desembarque era feito no
porto do cimento, aí onde fica o banco de areia na parte central da foto, feita nas primeiras décadas do século passado. Subindo o barranco, chegava-se à sede da fazenda que originou a cidade. Na sequência, fechando o triangulo, à esquerda ficava a Igreja Matriz e à direita a Intendência. A cidade, pequenina, acabava logo em seguida.


A foto colorida tem uns dois anos de feita e é do fotojornalista Tiago
Orihuela. No lugar do porto do cimento, a Orla Tauamanan, erguida sobre o antigo barranco. Sobreviveram daquela época alguns prédios, entre eles a sede da fazenda e a igreja Matriz. A cidade, como se percebe, cresceu um bocado, principalmente na década de 1980, quando milhares de garimpeiros baixaram por aqui atrás de ouro e diamante.
Mas isso é outra história, para outro post.




E nunca diga que o blog Crônicas da Fronteira é somente diversão para
gente desocupada. Aqui nois fala de história também.


É vero que também falamos bobagens com jeito de coisa séria. Por isso, aproveitando o gancho, vai no Orkut e te liga nas comunidades mais importantes dos últimos tempos:


Eu leio Crônicas da Fronteira (que pelo nome você pode deduzir o tema, inteligente leitor) e Eu conheço/adoro o Edgarzinho (Não é sobre mim. Ninguém gosta de mim a ponto de fazer comunidade amorosa. É sobre o meu filhotinho índio. Dele sim, todo mundo gosta. Até quem não gosta de mim.)


terça-feira, maio 13, 2008

Conversa reservada



- Ah, Edgar, me conta aí, descendente de índios, qual é a tua posição nesse negócio da reserva Raposa-Serra do Sol?
- Bicho...depende...
- Como assim, depende do que? Tu é a favor ou contra a demarcação em área contínua?
- Olha, eu sei que os índios têm direito, que são 500 anos apanhando no Brasil e uns 300 e poucos pegando porrada por aqui, que os caras estavam aqui antes de todo mundo.
- E então?
- Mas sair todo mundo? Até os descendentes de mãe índia com pai branco?
- Hum...
- É claro que citar esses exemplo só fortalece a causa de quem pretende entrar no bolo e não sair para não ter seus interesses econômicos atingidos.
- Traduz.
- Seguinte: arrozeiro não está preocupado com o filho de dona Maria que vai ser impedido pelo Conselho Indígena de Roraima de ficar na reserva. Tá preocupado com os seus interesses, com manter a propriedade e tal.
- Mas os caras produzem, geram emprego, pagam impostos, estão aí há trocentos anos. Eles têm direito a ficar lá, Edgar!
- Claro, mas todos estão recebendo indenização. O lance é que ninguém se agrada do valor.
- E então, vão ter que sair como todo mundo?
- Eles fazem tudo isso que tu falou, mas também tem isenção por décadas de alguns impostos, pagam mais ou menos 30% a menos em tudo que compram, se forem da cooperativa dos produtores, poluem pra caramba...E além disso, o arroz aqui não é tão barato como deveria ser.
- É o preço do progresso.
- Não, negão. Eu não vou bancar a vida mansa de ninguém que compra tudo com subsídio e ainda tira onda de coitado.
- Mas tu não acha que ficar ninguém naquele tanto de terra, só os índios e os padres e o pessoal das ONGs, é um perigo? Tem até avião dos gringos voando na região para fazer o mapeamento dos minérios e ninguém faz nada! É a internacionalização da Amazônia!
- Mermão, já começou faz tempo. Os mesmos políticos que chiam por conta da reserva nunca se coçaram antes para reverter esse processo e são os primeiros a bater palma quando chegam os estrangeiros prometendo comprar terras e fazer indústria. Qual é a diferença de fazer reserva indígena onde o branco não entra e dar terra para o gringo onde a gente também não vai entrar?
- Mas é diferente. A gente vai ser invadido e tu não se decide.
- Invasão fizeram os índios na fazendo do prefeito de Pacaraima. E pegaram bala para deixar de serem apressados. O STF não tá julgando o caso? Pra que fazer furdunço?
- Pois é, né? Mas e aí, de que lado tu tá?
- Bicho, nem os índios se entendem nessa briga e tu vai querer que eu tenha uma opinião definitiva?
- Mas tem que ter, Edgar. É a soberania do País o que está em jogo! Todo mundo já se decidiu!
- Sei: metade odeia os arrozeiros e todos os que moram lá e não são índios. A outra acha que a terra vai ser entregue às ONGs assim que sair o último branco e mestiço.
- Pois é, mas e tua opinião?
- Velho, em qualquer um dos casos eu não vou pegar um naco de terra. Então, deixa rolar. A história vai dizer que lado estava certo: os pró ou os contra a reserva em área contínua.