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quinta-feira, abril 04, 2019

Diário de um mestrando - 13o mês


14.03.19

Os dias têm sido estupidamente quentes e mal aproveitados neste mês de março.

O calor me acaba, deixa sem vontade de estudar. Só penso em ir para a praia (e não vou). Só penso em sair pedalando pelas avenidas, ir para a praia do Caçari, atravessar as praias e me refrescar, como prêmio de melhor esportista amador, na praia dos Gnomos. Não o faço, ou faço menos do que deveria e quero.







 Todos os dias anoto as metas do dia. Todos os dias volto a anotá-las.

Sim, li alguma coisa (bem menos do que deveria).

Sim, hoje isso muda, com certeza. Tenho reunião com a orientadora, professora Leila Baptaglin. A primeira pós qualificação. Separei alguns pontos para discutir. O ritmo deve voltar ao normal.

O que tenho feito então se não tenho estudado como deveria? Quase nada.

Nem a obra avançou neste mês. Este mês só não se perdeu pois fui passear no Lago do Caracaranã e dormimos debaixo dos cajueiros, pegamos bronze, fortalecemos a amizade com Tim, Grazi e Liz. Até gravei uns vídeos para juntar e publicar no Youtube, mas cadê disposição?



Yo, en el lago Caracaranã (Foto: Zanny Adairalba)




Zanny, acordando debaixo dos cajueiros (Foto: Edgar Borges)


Minha avó completa 93 ou 94 anos na sexta. No sábado tem almoço para comemorar a data. O que isso tem a ver com o Diário de um Mestrando? Tudo. Se não fosse o suporte dela e de meu avó ao longo de quase toda a vida que venho vivendo em Roraima, quem sabe o que teria sido de minha vida acadêmica? Ter um apartamento sem pagar aluguel e almoço pronto todo dia quando se chega do trabalho ou da escola/universidade não é para todos. Assim como não é para todos admitir que nem tudo o que se conquistou foi fruto exclusivo do suor e esforço pessoal.


11h36. Vou parar e ir ajudar a Zanny a preparar o almoço. Me diz o Google que a sensação térmica é de 36 graus centígrados, mas sentindo o bafo quente vindo da rua, acho que é o dobro.


22.03.19 Sexta


São mais de 11h. Dediquei a manhã a tomar café, comer bolacha e buscar finalizar um pedaço da dissertação abordando a cena de Rap local. Esta semana foi de buscas e leituras de comentários em redes como o Youtube e Soundcloud.


O que procurava? Saber quantos rappers atuam em Roraima.
O que achei? Uma quantidade muito acima da esperada. Em dois dias e meio localizei mais de 50 rappers em diversos municípios e algumas produtoras de vídeos, bancas, canais de divulgação...


É uma cena bem mais complexa do que parece. Pode não ter o sucesso comercial e midiático que almeja, mas isso não diminui sua extensão. Sobretudo em um estado como Roraima, no qual, apesar de todo o desenvolvimento acumulado na cena artística cultural, ainda tem muito caminho a ser aberto.


Poderia ter sido uma semana bem mais produtiva, mas ontem bateram no meu carro. Estava parado em uma esquina quando a caminhonete amassou a lataria traseira. O motorista desceu, se comprometeu a pagar, o idiota aqui não pegou os dados pessoais, apenas o telefone e saiu cada um para seu lado. Fiz uns orçamentos, liguei pro sujeito e adivinha: um blá-blá-blá imenso sobre eu estar errado, sobre ele estar certo, sobre como a grana tava curta e que ele poderia me ajudar, mas só em muitas parcelas, sobre tudo ter sido minha culpa, sobre só poder pagar no começo do próximo mês se tudo estiver bem...


Gente...que estresse. Se fosse comigo eu tava agoniado querendo me livrar da pessoa, mandando ela logo ir arrumando o carro. Tudo para me soltar desse peso logo. Infelizmente o mundo não é assim...Resultado: vou mais tarde fazer novos orçamentos para decidir se espero pelo sujeito ou eu mesmo faço isso. O pior é que uma das empresas apontou ser um serviço de pelo menos cinco dias.


Cinco dias sem o carro no lugar onde moro, no calor que está fazendo, com as minhas obrigações? Significa dias de muito estresse e correria, principalmente por ter que levar e pegar o Edgarzinho na escola, que fica a uns seis fucking quilômetros de distância...
Enfim...


Avancemos.


25.03.19 segunda


Em ritmo de segunda-feira. Lendo o e-mail da professora Leila com as definições do que vamos acatar da banca. Dor nos olhos (será que os óculos já venceram?). Muito calor. Preguiça. Seis ou sete xícaras de café e ainda com sono. Pensando no conserto do carro e as implicações de ficar sem veículo morando na periferia (ver, antes de reclamar, o conceito original de periferia, plis). Fiz um poema. Quarta de manhã vem o povo para consertar a cerca do vizinho. O João anda sumido e a obra da varanda parou. Meu pai pegou o carro emprestado ontem e me devolveu quase sem gasolina. O que será que tem mais de bom nesse livro do Umberto Eco que peguei semana passada e até agora não abri? Será que quando as chuvas começarem o meu ânimo vai melhorar? Dor de cabeça. Quero deitar, mas deitar não rende.


Muito tarde da noite:




Participei nesta segunda de uma aula da disciplina Literaturas Amazônicas, ministrada pelo professor Roberto Mibielli, do curso de Letras da UFRR. Troquei ideias com os alunos sobre seis microcontos publicados em redes sociais e uma coletânea. 


Acho sempre enriquecedor ouvir as interpretações dos acadêmicos. Me surpreendem. Na atividade de hoje, até o meu filho jogou na roda a sua interpretação de um dos textos. Foi bacana.


Abaixo dois dos textos que limos:

DESFECHO

"E a comeria de novo, sem duvidar um segundo", disse, retirando-se da mesa e deixando só o cheiro da cereja no ar.


INDECISO

E aí ela disse "vem!".
Fiquei naquela: "vou, não vou, vou, não vou...".
Quando decidi ir, ela já estava em outro lugar.
Fiquei, apenas a vontade e a frustração me acompanhando.



27.03.19 quarta

Estou uma preguiça só. Ando puro esse meme aí:




Na verdade não é preguiça, é concentração pouca. Ontem ainda fiz algo para apresentar esta semana à orientadora. Agora de manhã deveria já estar fazendo a segunda coisa que me pediu, pelo menos parte dela para fingir que estou super me esforçando, mas não consigo começar.


O pior é que ontem de madrugada, logo antes de dormir, mil ideias bacanas apareceram para escrever essa parte que agora não sei por onde começar. Fiz até um plano de tomar café e banho mais cedo, sentar e agilizar tudo antes que o povo que ainda não chegou em cada chegasse.
São 8h38 e acho que estou cansado.


Estou, creio, no limite do desconforto provocado pelo calor, pela rotina, pelos inúmeros probleminhas que aparecem sugando a grana que não tenho mais.
Até poemas ando fazendo. Dirão os acadêmicos: em vez de fazer ciência, tái: fazendo textinho poético.


Desse jeito vou acabar...Vou acabar nada. Vou continuar. Partiu agora ativar a playlist de jazz instrumental. Nunca falha na hora de ajudar o cérebro a se aprumar.


15h23 - Fiz algo. Não fiz completo, mas fiz. Custou. Bem muito. Para fazer, sacrifiquei o cochilo. Não está UAU, mas vale algo. E foi quase 85% do que precisava por enquanto. Então tá valendo. Espero. Espero não levar reprimenda da profe por conta de minha aparente procrastinação. Agora é tomar banho e vamos numa reunião de pais e mestres. Afinal, temos várias identidades ao longo do dia.


31.03.19 Domingo




Entre calor e acompanhando mais uma etapa da obra infinita estou desde sexta. Sem condições de sentar e ler alguma coisa para o mestrado.

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