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quinta-feira, dezembro 24, 2020

Memórias de 2020 – o ano do fiquei em casa

24 de dezembro de 2020



Há anos não fazia isso de relembrar o que havia acontecido no ano findante.

Sei lá, em várias ocasiões fiz e publiquei aqui, mas tinha perdido a razão. Agora, depois de um ano jodido como este, volta a fazer sentido. Serve como que para dizer: amigo, tanta gente ficou para trás e você conseguiu fechar o ciclo. Valoriza.

Poderia falar de muitas coisas punk, como o cansaço do distanciamento social, a falta dos amigos, os nove ou dez meses que não encosto para abraçar minha mãe e ficamos falando apenas de longe, as semanas em que cheguei a pensar que a Zanny ia morrer de tão doente que ficou, mas o que pegou mesmo foi novembro e dezembro.

Foi no dia 17 de novembro que recebemos, no grupo criado só para trocar informações sobre a minha vó Maria José, uma foto dela toda feliz terminando o almoço. E logo em seguida recebemos o aviso de que estava sendo levada para o hospital após ter caído.

Está lá até agora, internada. Primeiro no Hospital Geral de Roraima, onde podíamos visitá-la. Depois no Hospital das Clínicas, onde não permitem visitas para diminuir o risco de que pegue covid-19.

Foi ainda em novembro que chegou o aviso de minha tia, a principal pessoa a tomar conta da vó, estava com covid-19, que estava começando a ter problemas para respirar, que havia sido internada às pressas.

Até hoje está internada. Já passou pela UTI, saiu, mas ficou muito fragilizada. Nos vídeos que minha afilhada manda do quarto do hospital, nota-se como a doença maltrata as pessoas.

Novembro e dezembro foram duros, mas o ano teve outros momentos, entre agradáveis e bons para serem esquecidos.

Como lembrar das coisas diferentes em um ano tão repetitivo

Dei uma navegada pelo arquivo do Google fotos para visualizar o que havia registrado e salvo no drive. Isso me ajudou a relembrar alguns momentos da ano. Foi mais ou menos assim:

Fui à praia do Curupira como nunca havia ido em 12 anos morando perto. Muitas vezes só para correr numa trilha coberta, algumas poucas para tomar banho.

Nesses nove, dez meses de isolamento, só tive encontros sociais na praça do Mirandinha, mantendo distância e sem tocar, seis vezes. A solidão social foi dura de aguentar.

Para ocupar a mente gravei poemas para o youtube, publiquei poemas nas redes sociais e desenhei cerâmicas que estavam jogadas no quintal. Me integrei a um grupo de estudos sobre literatura indígena e fiz uma disciplina de doutorado na Universidade Federal Fluminense como aluno especial.

Corri regularmente como nunca havia corrido na vida (talvez quando tinha uns 13 ou 14 anos, mas não lembro direito). 

Cheguei a ter pique para completar seis quilômetros, mas doenças, dores, cansaços e o asfaltamento de minha avenida antes solitária e de barro me fizeram diminuir e mudar a rota, baixando para um trecho tranquilo e sem gente de apenas 3,5 km. 

De acordo a retrospectiva do app Strava, corri ou pedalei 463 km, divididos entre  128 dias.

Uma anotação me lembra que comecei o ano com 73,9 quilos. Hoje me pesei depois de tomar café e estava com 73,5 kg. Cheguei aos 71,5 kg em certo momento do ano. Melhor não ter baixado tanto do que voltar a ficar com medo da diabetes.

Bem, por mês, de acordo com o drive de fotos, os destaque da vida foram assim:

Janeiro – Rolou o último churrasco do ano, na praça do Mirandinha. Participei de uma exposição de miniaturas no shopping Garden

Fevereiro – Teve viagem minha, da Zanny e do Edgarzinho ao Espírito Santo com Timóteo, Grazi e Liz Camargo. Depois teve carnaval e preparação para voltar a trabalhar, o que incluiu fazer a segunda tatuagem de minha vida.

Março – Participei de outra exposição de miniaturas e gravei um vídeo sobre isso. Voltei ao trabalho depois de dois anos afastado. Fecharam tudo, voltei para casa, de onde trabalho todos os dias desde então. Fecharam as praias, o que me levou a sair de correr na areia para correr na avenida que era de barro nessa época. Aí aumentei a quilometragem dia após dia, até chegar, meses depois, nos seis quilômetros.

Abril – parece que nada rolou, além dos Diários da Covid-19, minhas publicações relatando as primeiras semanas de distanciamento social.

Maio – Parei de escrever os Diários da Covid-19. Tudo se repetia e nada de horizontes melhores. Mal sabia que chegaríamos em dezembro com mais de 180 mil mortes pela doença no país. Editei o vídeo da primeira fase da campanha dos escritores de Roraima “Fique em Casa e leia um livro”. Fiz a primeira de duas ou três lives com Timóteo Camargo, modo que encontramos de ver-nos e conversar bobagens em segurança nessa época. Morreu o compositor Aldir Blanc, que viria a dar nome a todas as leis publicadas meses depois para lançar editais de auxílio e renda para artistas.

Junho – Começaram a cair com força as chuvas e as goteiras de casa. Senti frio em certos dias, frio de usar meia durante o dia. Fiz as primeiras lives do meu projeto Diálogos Literários Pandêmicos. Foram no instagram.



Julho – Botamos grama no quintal. Literalmente, eu e Zanny botamos a grama no quintal, carregando e montando os retângulos. Fizemos também um canteiro suspenso. Uma telha voou numa ventania noturna, começou a cair água no quarto, tive medo que o forro desabasse e estragasse o guarda-roupa. Entre julho e agosto Zanny adoeceu muito, com fraquezas, vômitos, febres.

Ficamos entre os dois resultados negativos para Covid-19, duas avaliações dizendo que era sim coronavírus e uma outra falando que era uma violenta infecção. Na dúvida, seguindo as orientações médicas, ficamos, como na canção, dormindo em camas separadas por um tempo até ela melhorar. 

Demorou e em certo momento, entre um soro e outro em suas veias e nada dela se fortalecer, cheguei a pensar em como iria criar o Edgarzinho sem a mãe.

Agosto – Colhi pitangas, acerolas e tomates no quintal. Recebi as minhas cópias dos livros do concurso literário que ajudei a organizar na UFRR. Teve um sarau on-line para lançar as obras. Publiquei muitos poemas nas redes, me incomodei com as goteiras na sala.

Setembro – Colhi tomates e pepinos. Vi o rio Cauamé subir e descer várias vezes. O carro quebrou mais uma vez. Acho que foi um furo no radiador. Das outras vezes a bateria acabou e um aro vazou óleo e ficou sem freio (isso voltou a acontecer em novembro ou dezembro, mas em outra roda. Sinal de que devo trocar esse meu bichinho).

Outubro – Fui júri de dois concursos literários no Sesc Roraima. Também fui um dos selecionados para o time de escritores que participou da versão on-line do Festival Literário do Sesc. Fizemos uma edição do Sarau da Lona Poética no encerramento do evento. Foi pelo youtube, o que nos estimulou a sair do instagram para reunir a turma na outra plataforma.  Dei uma entrevista via gravação em casa para a Band Roraima sobre o dia do livro.



Novembro – Comecei a gravar o podcast Macuxicast com o LuizValério e a Zanny. Participei da edição 2020 do Festival Literário de São Gonçalo (RJ), ganhei charges minhas do Lindomar Bach e revistas da Tribo da Justiça do Rapha Porto, arrisquei dividir uma praia com os amigos, fiz Sarau da Lona Poética, vi minha tia e vó serem internadas, ganhei a terceira publicação seguida de poemas meus na revista eletrônica de literatura Literalivre.

Dezembro  - Retomei arealização dos Diálogos Literários Pandêmicos, agora no you tube, fui selecionado em dois editais das leis Aldir Blanc do município de Boa Vista e do Estado de Roraima, o carro quebrou de novo e já agendei fazer mais um conserto em janeiro. 

Fizemos a mais longa edição da Lona Poética até agora, com 3h30 deduração. Também fui selecionado para ser parecerista cultural de uma secretaria de cultura de outro estado. Agora só falta me cadastrar.

Hoje é 24 de dezembro. Falta uma semana para o ano acabar. A vacina já está mais perto, não tanto como queria, mas perto.

Não tenho muitos sonhos para 2021. Só quero que minha família não sofra e que eu tenha foco para me dedicar mais à minha carreira literária. O restante é rotina.

Ah, quando lembrava ia anotando o que estava lendo e vendo.

Ficou essa lista de livros, HQs, séries e filmes (só os que consegui ver por inteiro). Não entram aí os inúmeros vídeos que vi no youtube sobre história da música na América Latina, sobretudo sobre salsa. Também não entram artigos e livros científicos. Que se jodan.

Então, o que você compartilhou, sem saber, comigo de leituras e vídeos?

Quase todas as séries, livros, filmes e afins que vi em 2020

Séries

1. Ascenção do Império Otomano
2. Unbreakable Kimmy Schimidt
3.
The Good Place
4. Drácula
5. Paradise DP 2t
6. Brooklin 99 6t
7. Titans 2t
8. Altered carbon 2t
9. Modern Family t 1, 2, 3, 4, 5, 6,7,8,9,10
10. Barbarians
11. La Revolution
12. Archer t 11

13. Por trás daquele som – t 1 e t 2

14. Rompan todo: La historia del rock en América Latina


FILMES
1.Hobbes and Shaw
2. Wonder Woman linhagem de sangue
3. 1917
4. Cães de guerra
5. Get Hard
6. O elo perdido
7. Operações Especiais
8. Um amor, mil casamentos
9. A leí da noite
10. Al son que me toquen, bailo
11. Atomic blondie
12. Senhor Estagiário
13. Resgate
14. Doc O mundo sem ninguém - AL
15. Doc As cidades mais incríveis do mundo antigo
16. Doc A grande história: humanos carnívoros
17. Loco por vós
18. American made
19. Doc Império Mongol
20. Focus
21. Liga da Justiça Sombria
22. Justice League Dark: Apokolips War 
23. Te quiero, imbecil.
24. No andaba muerto, estaba de parranda
25. Eurovision - festival da canção
26. Parker
27. O homem que mudou o jogo
28. Milf
29. Power
30. A lenda do cavaleiro sem cabeça
31. Origens Secretas
32. Afonso Padilha, alma de pobre
33. GDLK
34. Broken city
35.
The Devil all the time
36. Enola Holmes
37. Superman, o homem do amanhã
38. Superman Red Son
39.
O Halloween do Hubie
40. Ya no estoy aquí
41. Protegendo o inimigo
42. The man from U.NC.L.E
43. Matrix
44. A última cartada
45. Lanterna Verde
46. Troco em dobro
47. Bronx
48. Teocracia em vertigem -  porta dos fundos

LIVROS

1. Greenland - entre dois mundos, HQ de Bia Cruz
2. Histórias Brasileiras de Verão, Luís Fernando Verissimos.
3. ,Hilda Hilst
4. Capitães da areia, Jorge Amado.
5. 6. Contos reunidos, Moacyr Scliar
6. Faca, Ronaldo Correia de Brito
7. Ideias para adiar o fim do mundo, Ailton Krenak


HQs 

1. Coringa, de Brian Azarello
2. Constantine, a fagulha e a chama
3. Demolidor, anjo de guarda
4. A espada selvagem de Conan, a coleção, n° 1. 160 pág.
5. V de vingança
6. Batman que ri
7. O Cortiço
8. Pílulas Azuis
9. Tribo da Justiça 1 e 2
10. Dilbert – Já não lembro mais se somos muquiranas ou espertos


segunda-feira, fevereiro 19, 2018

Uma postagem para colecionadores de actions figures


Em janeiro uma amiga viajou para os Estados Unidos, rodou uns 20 estados e na volta, toda gentil, trouxe em sua bagagem alguns bonequinhos que comprei na Amazon e mandei deixar na casa de uma amiga dela.

Vieram umas actions figures do Batman (principalmente do morcegão usando armaduras - adoro demais) e uma do Wolverine versão Logan Old Man. 

Antes de guardá-las (ainda não comprei a estante  não quero deixar pegando poeira) fiz algumas fotos das actions e postei no meu perfil no instagram, trocinho que criei dia desses. 

Vou compartilhar aqui também por motivos de ter achado bonitas as fotos e para poder lembrar um dia lá na frente do tempo em que não tinha estante e falava isso para vocês. 

Vamulá. Primeiramente, inspirados em Batman - cavaleiro das trevas, clássica e fodástica HQ de Frank Miller lançada em 1986, temos o morcego já bem idoso, numa armadura que inspirou a do filme Batmam Vs Superman, e o  Líder mutante:

Batman, o velho irritado...





Líder, o chefe da gangue Mutante, esperando o Batman pra ver quem ganha o combate.




O grande encontro, versão Frank Miller: Batman e Líder Mutante.





**********

Estas outras três são de actions que já estavam na coleção. Fiz as fotos e as legendas para postar no instagram (e no Twitter). 

A do Thanos foi temática: especialmente produzida para o Valentine's Day 2018. 

Já a do Coisa e do Rhino, tudo da linha Marvel Select, foi um reaproveitamento de foto antiga, feita por Zanny Adairalba:


Durante um passeio no mato, você escuta um barulho, olha pro lado e vê um cabra feio como o Abominável à espreita... Não sei vocês, mas eu possivelmente me molharia (no mínimo).






Tá no jornal: a turma quebrou tudo numa confusão no baile de carnaval.






- Uma flor para uma flor.

-Ah, Thanos, você é tão romântico




Para fechar, uma visão do "estúdio" que montei para tirar as fotos das actions com um fundo neutro. Tudo bem profissa...hahaha Só na base da improvisação com um pedaço de EVA e a luz da minha luminária artesanal. Esse branco aí uma sacola de plástico que usei como difusor...




Fazendo pose, uma action inspirada na animação The New Batman Adventures


Para ver outras postagens com mais bonequinhos de minha coleção, dá um clique aqui. 


quinta-feira, janeiro 26, 2017

Colecionador de coisas diversas

Leitores assíduos ou apenas aqueles que um dia chegaram aqui por acaso, vítimas da aleatoriedade dos mecanismos de busca, devem já saber que sou um colecionador de coisas diversas.

(Colecionador desorganizado poderia ser chamado de acumulador? Sou um colecionador extravagante que não arruma as coisas apenas para manter um estilo caótico na casa e nas gavetas...)

Enfim, entre essas coisas que vou juntando estão as miniaturas de carrinhos, preferencialmente na escala 1: 64. Para quem não sabe o tamanho deste tipo de veículo, é só pegar um carrinho da Hot Wheels. Esse é o padrão 1:64.

(Facinho de aprender, né? Eu tive que me enfiar na internet para tentar entender o que diabos os caras falavam e escreviam sobre essas medidas...)

Tem uns sites e blog muito legais que vão avisando o que chegou de novidades nos lotes da Hot Wheels. No  Brasil, acho que o T-hunted é mais conhecido. Daí vou acompanhando as postagens e mapeando o que me interessa. Minha preferência são as minis temáticas, inspiradas em filmes, desenhos, games ou HQs.

(Isso de ter um foco ajuda a controlar a ânsia de comprar cada carrinho bonitinho que aparece nas gôndolas e deixa o lance de colecionar um pouco mais emocionante na hora de caçar a peça desejada)

Faço assim: acompanho lá no site as publicações dos lotes e vou salvando no celular as fotografias das peças que me interessam. Daí vou nas lojas para ver se chegaram, mostro pros vendedores, fico nessa busca.

Entre os meus desejos dos lotes de 2017 estavam a The Mystery Machine, do desenho do Scooby-Doo; um dos carros do filme Velozes e Furiosos (dirigido pelo personagem Dominic Toretto) e um fusqueta turbinado.

(Fuscas são bem difíceis de encontrar. A galera vai atrás mesmo).

Dei sorte em janeiro. Em menos de 20 dias encontrei as três peças na Sukatinha, loja de brinquedos local, e numa das filiais da Americanas. E ainda conseguir pegar a Mystery Machine e o carro do Toretto para o tio John, que também é colecionador.

Vê as minis



Fast & Furious! Esse é modelo do carro em que o Dominic Toretto desce de paraquedas de um avião para emboscar um povo




Essa mini The Mystery Machine eu estava atrás fazia um tempão.




Oia que bonita a mini do fuquita! Acho que li no T-hunted que um carro real assim chegou a ser produzido.




Bem, além de minis de carros, também sou fã de histórias em quadrinhos. Parei de comprar há um tempo porque ficaram supercaras as revistas e algumas histórias não estavam mais me agradando, mesmo nos personagens favoritos. 

O que já tinha, está bem guardado no apartamento, à espera de uma estante mais arejada. Esse tanto de revistas que guardo desde os anos 1980 ganhou um reforço muito bacana em dezembro, quando ganhei do poeta/professor Francisco Alves uma pilha de edições de Conan, o Cimério. 
Coisa boa é ganhar HQs!

As revistas, publicadas pela Mythos Editora, estavam (e estão) muito bem conservadas. Me ajudaram a passar umas boas noites divertidas em dezembro e complementaram meu conhecimento sobre a ascensão do bárbaro nortista ao trono da Aquilônia e também sobre o seu romance com Bêlit, a rainha da costa negra.

Se quiser ler outras postagens sobre minhas actions figures e carrinhos, vai aqui que o blog automaticamente te mostra.

Sobre HQs, tem este marcador. Algumas postagens tem as duas marcações.  



terça-feira, junho 24, 2014

Psicologia, poderes mutantes e academia




Diferentemente de João do Santo Cristo, que quando criança só pensava em ser bandido, ainda mais quando de um tiro de soldado o pai morreu, eu pensava em ser psicólogo, ainda mais quando gente bem mais velha vinha conversar comigo buscando soluções para suas vidas confusas e eu conseguir racionalizar e dar-lhes o recado.

Teria sido um bom psicólogo se, quando pós-adolescente, houvesse oferta desse curso em Roraima. Tempos distantes aqueles. De todas as IAS que gostava (filosofia, psicologia, fisioterapia), nada tinha em Roraima. Sobraram-me os cursos por aproximação, pelo gostar. 

Letras ou Comunicação Social? A única universidade daquele tempo no meio do mundo era a UFRR, que publicava um livreto com as ementas e a relação de disciplinas de cada curso. Escolhi jornalismo a um dia de encerrarem as inscrições no vestibular. Tudo pelo nome bonito da disciplina “Comunicação Comunitária”. 

- Vamos falar com as pessoas, nas comunidades? Que legal, pensei, iludido. Nunca rolou, mas as pedras e os meses sim. Formei-me jornalista. O primeiro graduado da família. Mamãe ficou feliz, muito feliz. O vô Borges ficou um orgulho só com a vó Maria. 

Depois, bem depois, buscando ocupar o tempo, fui cursar Antropologia. No meio do curso, mudei para Sociologia. No final da primeira semana de cada semestre, pensava: o que estou fazendo aqui? Já tenho carreira, emprego e estresse suficiente com isso. 

Mesmo assim, continuava, semestre após semestre, greve após greve. Formei-me sociólogo com nota dez no trabalho de conclusão de curso. Histórias de velhos na Jaime Brasil. Curti fazer aquilo. Foi duro, mas consegui. Meu orientador ficou emocionado, quase chorou. Um lindo ele, titulação de mestre tendo a minha idade. Ou era mais novo? Bem, era uma referência para tentar fazer um mestrado. Nunca fiz, nunca consegui. Nem mesmo agora, que poderia, estou conseguindo. Cada um carrega suas pedras e as minhas fazem enormes barreiras a serem transpostas.

Mas do que estava escrevendo mesmo no começo? Ah, sim. Sobre como poderia ter sido um bom psicólogo. Quem sabe? Ainda consigo ouvir bem as pessoas e dar orientações claras a seus questionamentos. Muitas não seguem. Outras pensam, colocam em prática e se dão bem. Ou, pelo menos, ficam melhores que antes. Quer dizer, acho. 

Tenho alguma facilidade para extrair das pessoas o que elas têm de melhor. Basta que me esforce um pouco e supere minha preguiça de conviver e viver. Mas o fato que merece destaque é a capacidade de conseguir o contrário. 

Consigo me surpreender com a minha rapidez em fazer as pessoas destilarem contra mim o que carregam de mais pesado e ruim dentro delas. E faço isso sem querer, inconscientemente, assim, tipo um poder mutante, como aqueles personagens de HQs que depois viram miniaturas e a gente coleciona. 

Rolou semana passada isso. Surto coletivo de raiva e mágoa surgindo inesperadamente no meio da noite pelas estradas digitais da vida. 

Pensei ter perdido esse dom esquisito, mas esqueci a regra básica da mutação: grandes poderes trazem grandes confusões.