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quinta-feira, outubro 17, 2019

Sobre chuvas, preocupações pós-vida e e meus quase livros publicados


Choveu. E muito. Choveu como se não fosse outubro esta semana. Ainda bem, ainda bem. Domingo o ar parecia estar sumindo, muito quente. Aí então choveu como se o mundo fosse desabar, com raios e trovões que fazem Balu, meu cachorro lindo, sair louco pela casa atrás do bicho que está fazendo “bruuuum” em nosso quintal.

Choveu e minhas articulações parecem que enferrujam. Como será o dia em que for mais velho e vá morar em um lugar frio? Chegará esse dia? A da velhice, digo. E se algo acontecer e, de repente, apenas traçando hipóteses, assim que levantar desta mesa eu escorregar lá na varanda molhada pela chuva? E se na queda bater a cabeça numa quina qualquer e tudo acabar ali, de maneira tão boba, tão irrelevante, uma cena improvisada de um filme ruim?

E se acaso morto, já em outra esfera, eu ainda ter consciência do mundo terrenal e ficar pairando por Boa Vista, vendo os desenrolares após a minha partida (partida é um nome bonito para eufemizar algo tão natural como a morte. Melhor que bater as botas, é verdade)? 

Possivelmente não vai acontecer assim, mas e se minha maior preocupação for saber o destino de meus textos não publicados? Ontem ou anteontem ou agora, dependendo de sua relação com o tempo, estava pensando nos livros que ainda não publiquei e deveria ter jogado ao mundo há muito tempo.

O primeiro é de antes de 2010. Seria uma coletânea de crônicas, poemas e contos divulgados inicialmente aqui no blog. E teria ilustrações de um ciclista passeando por todo o livro. A capa também seria um ciclista. Não lembro o nome que lhe daria, mas recordo-me que cheguei a propor à Rosana Santos, que dirigia o setor de cultura do Sesc nesse então, a publicação da obra. Ela pediu para levar a boneca do livro. Aí começou a caminhada sem fim. Demorei para separar o material. Então passei, não me lembro da ordem, para o jornalista Nei Costa ajudar na diagramação (ou revisão, talvez). Acho que antes havia dado ao também jornalista Plínio Vicente para ajudar em algo. 

Por último, sei lá quanto tempo se passou até isso, ficou com a designer Lidiane dos Santos a montagem, o tratamento das imagens (produzidas pelo ilustrador Two, hoje vivendo em local não identificado por mim) e a capa. Ah, essa capa seria uma foto minha numa bicicleta, feita por Zanny Adairalba, à época ocupando o status de namorada. Pelo projeto gráfico da Lidiane ficaria linda depois de trabalhada como se fosse uma pintura. Resumindo: vai e volta, vai e volta, o mundo girou muito, perdi a chance do patrocínio, perdi o arquivo e hoje não sei onde está o material.

O segundo livro seria apenas de poemas. Os textos não sei quando foram escritos, mas a produção começou numa fase difícil para mim, no auge da crise de minhas hérnias. Lembro que pedi para Zanny, já no status de esposa e mãe do Edgarzinho, digitar os textos escritos a mão. Aí a gente instalava o data show e projetava na parede do quarto os poemas para fazer a revisão e diminuir o risco dela ter trocado alguma letra e eu deixar passar. Acho que o ano era 2010, 2011. Foi um tempo difícil para mim, com as dores nos braços limitando muito a minha vida. Livro revisado, cheguei a inscrevê-lo em um ou dois concursos de poesia para livros originais. Não foi selecionado, dei uma nova olhada nos textos e já passei a gostar menos deles, achando-os pouco poéticos, muito “duros”. Larguei em algum lugar digital e esqueci, sem querer, a localização da pasta. Esse livro,vale destacar, foi uma intenção, um devaneio. Diferente da coletânea, não nasceu com possibilidades concretas de ser impresso.

No intervalo entre os dois quase livros veio em 2011 a publicação do Sem Grandes Delongas (se não baixou ainda, é só clicar aqui), uma série de projetos e ações feitas com o Coletivo Caimbé (quem produz sabe o extenuante que é fazer a pré e a pós-produção cultural, sobretudo os registros de memória), o trabalho da vida real, cansaço mental e as dores, tratadas com choques elétricos, gelo, aparelhos desinflamatórios, acupuntura, RPG e, o Santo Graal, os alongamentos no pilates.

O terceiro livro não publicado quase chegou lá no ano passado. Foi escrito totalmente a mão, no silêncio do meu antigo apartamento, com pouca luz e muita reflexão. Escrevia a primeira versão e já passava a limpo o rascunho, mexendo na estrutura caso não me agradasse mais. Depois de ter um monte de poemas prontos, passei para o computador, alterando novamente os textos. Ficou alguns anos parado na gaveta virtual até aparecer um edital do governo do Estado de Roraima prometendo uma grana para publicar cinco livros de autores radicados aqui. Fiz um projeto conforme as regras do edital, imprimi o material, fui selecionado, botei a Zanny (sempre ali, parceirassa) para me assessorar na busca da editora, aguardamos o pagamento e... tomamos calote na veia. A gestão da Suely Campos, governadora da época, não ligou pra gente e desprezou a própria iniciativa. 

Ficamos a ver navios (no final desta postagem quilométrica vou copiar a matéria que saiu no Jornal Folha de Boa Vista com as nossas reclamações em outubro de 2018). Ainda bem, aindaaaaa bem que não levei pra frente uma ideia que me chegou de repente no meio desse processo e que seria bem a minha cara de abestado confiador de que os outros vão sempre honrar seus compromissos: imprimir o livro por conta e gasto próprios, depois receber e ficar elas por elas de boas. Ainda bem que fiquei quieto...

Esse livro de poemas quase impresso em 2018 é o que acho mais bacana de todos, inclusive mais bacana que os contos do Sem Grandes Delongas. Estou pensando em bancar uma impressão independente dele ainda neste 2019, aproveitando que não perdi o arquivo ainda. Tem até prefácio já, feito pela poeta Elimacuxi.

Quantos livros foram até agora? Três. Ok. Não cansado de quase publicar sempre, aproveitei este ano para, no intervalo entre um parágrafo e outro da dissertação, escrever um novo livro de poesias, bem mais curto que o quase livro de 2018. 

Esta semana fiz a revisão dele, cortei uma coisas, mudei outras, arrumei ali, organizei ali. Vou ver se inscrevo ele em alguns concursos. Se nada rolar, tentarei publicar ano que vem. Se não der certo, serão quatro livros quase publicados por mim, o que deve me transformar num dos maiores autores quase publicados de Roraima.

Voltando ao começo do texto, já pensou tudo isso me atormentando numa pós-vida? Que agonia seria, que agonia...

P.S. : O colega escritor Aldenor Pimentel me lembrou lá no grupo de Whatsapp dos Escritores de Roraima que antes do Sem Grandes Delongas tive o e-book Roraima Blues como primeiro livro solo publicado.  Eu acho que em algum momento da redação pensei nele, mas o meu pensamento é meio linear às vezes-quase sempre-já passei vergonha por isso- e disse (ele, meu pensar, ou eu, dono do pensamento?) "estamos falando só dos impressos. Apenas dos impressos, não viaja...". Bem, descartei lá na hora, mas depois dessa observação do Aldenor, acho válido apontar que em 2008 a revista portuguesa Minguante publicou esse livro digital de microcontos. O site saiu do ar, eu não havia pedido nenhuma cópia do material  e apenas anos depois consegui um arquivo com os textos selecionados, mas sem a capa, que pode ser conferida nesta postagem feita por mim à época. Ah, e para variar, não sei em que canto está o arquivo...

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A seguir, a matéria falando sobre o calote do Governo de Roraima. Por desgosto e vã esperança de receber e esquecer o assunto nunca havia falado disso aqui no blog, mas sempre citava por aí nas conversas sobre literatura.

 CARTA DE REPÚDIO


Escritores reclamam de falta de pagamento

Escritores e agentes culturais de Roraima publicaram uma carta de repúdio nas redes sociais reclamando da falta de cumprimento do edital



Escritores e agentes culturais de Roraima publicaram uma carta de repúdio nas redes sociais reclamando da falta de cumprimento do edital l 07/2017 de incentivo e fomento a literatura da Secretaria de Cultura de Roraima.

De acordo com a carta, sete meses após a divulgação do resultado final, o Governo de Roraima ainda não entregou a premiação. A lista dos projetos aprovados foi publicada no Diário Oficial do Estado em fevereiro de 2018. Os autores dos projetos a serem premiados são: Edgar Borges, Eroquês Velho, Aldenor Pimentel, Lindomar Bach e Danilo Santos. O valor total do edital é de R$ 100 mil, sendo R$ 20 mil para cada um dos cinco projetos de livro selecionados para publicação.

“O edital estipula prazo máximo de 30 dias para a premiação, o que ainda não foi feito, ainda que as despesas tenham sido encaminhadas à Sefaz, para pagamento, em abril deste ano, pela Secult” 

Confira na íntegra:

Nota de repúdio

Nós, escritores e coletivos literários abaixo assinados, repudiamos a não entrega da premiação em dinheiro, pelo Governo de Roraima, dos cinco projetos aprovados no Edital N. 07/2017 – Incentivo e Fomento a Literatura, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), cujo resultado final foi divulgado oficialmente por meio da portaria N. 022/2018, de 23 de fevereiro de 2018, publicada no Diário Oficial do Estado de Roraima N. 3186, em 26 de fevereiro de 2018.

Destacamos que o mesmo edital estipula prazo máximo de 30 dias para a entrega da premiação, que, até o momento, sete meses após a divulgação do resultado final, não foi efetuada, ainda que as respectivas despesas tenham sido liquidadas em abril deste ano pela Secult e encaminhadas à Sefaz para pagamento, conforme despacho daquela secretaria.

Repudiamos ainda a postura da Secult, que em ofício, “lavou as mãos” em relação à entrega da premiação, eximindo-se de sua responsabilidade como coordenadora do certame, ao orientar estes escritores a procurarem a Sefaz, com o argumento de que os procedimentos por aquela secretaria “competem somente até a fase da liquidação da despesa”, o que é contraditado pelo próprio edital, cujo texto diz que a Secult pode, intervir mesmo após a entrega da premiação, ao, por exemplo, “acompanhar o desenvolvimento das atividades e, após a conclusão dos trabalhos, verificar o cumprimento das condições fixadas”.

Repudiamos também a desculpa do Governo do Estado de que está impedido de entregar a premiação em razão do bloqueio de suas contas, quando sabemos que o Governo pôde, mas não efetuou o pagamento deliberadamente. Prova disso é que em junho e julho deste ano foi realizado o Arraial do Anauá, quando foram realizadas diversas despesas da área da cultura.

Entendemos que o não investimento dos referidos recursos representará grande perda para o próprio Governo, a literatura e a cultura locais e, principalmente, a população.

Lamentamos tamanho atraso na entrega da premiação em dinheiro, o que apenas reflete o descaso histórico do Governo do Estado com a promoção de políticas culturais, em especial voltadas ao desenvolvimento da literatura e da leitura, enquanto no mesmo período este Governo firmou contrato para a destinação de R$ 89 mil, na modalidade de inexigibilidade de licitação, com o objetivo de adquirir obra artística de um único produtor cultural, autor de dezenas de outras obras, que, desde 2015, foram adquiridas ou estão em processo de aquisição com recursos do Estado, sem contar que a gestão atual abriu inscrições para edital cultural de outro segmento, mesmo alegando não haver recursos para o edital de literatura, cujo resultado já foi divulgado.

Assim, solicitamos a imediata entrega da premiação em dinheiro do Edital N. 07/2017 – Incentivo e Fomento a Literatura, aos projetos que tiveram, pelo próprio Governo do Estado, por meio de processo público de seleção, reconhecidos o mérito cultural e a qualidade técnica, para que se atinjam os objetivos do certame de “disseminar o conhecimento e a cultura do Estado de Roraima, e levar o leitor para novos caminhos”.

Outro lado – A Sefaz (Secretaria de Fazenda) informa que as contas do governo encontram-se bloqueadas, em cumprimento de decisão judicial, o que impede qualquer tipo de pagamento. Tão logo haja o desbloqueio, os pagamentos pendentes serão normalizados de acordo com a disponibilidade de recursos.

sexta-feira, março 15, 2019

Galeria do Parque Anauá: em vez de quadros, armas

As prioridades dos governos estaduais de Roraima são esquisitas. O foco no incentivo à cultura e à arte nunca é uma delas e tudo é desculpa para exibir isso. E eu, que vivo aqui desde o primeiro desses governos, ainda me surpreendo com a capacidade negativamente inventiva desse povo. 




Antiga Galeria de Artes do Anfiteatro do Parque Anauá


A surpresa desta semana foi ver a galeria do anfiteatro do parque Anauá, que ficou fechada por anos e anos até ser mais ou menos reformada e receber uma duas ou três exposições apenas, ser transformada em base da Força Nacional. 

A questão não é discutir o mérito do papel da Força Nacional na área de segurança. 

A questão é tentar entender o que se passa na cabeça dos gestores que fecham equipamentos culturais em uma cidade que tem seu único museu fechado, uma cidade cuja biblioteca municipal não funciona, uma cidade que não possui nenhuma galeria pública...

Como vamos ser melhores assim?

Não tem como.

É por isso que sempre faço minha versão da música Porto de Lenha quando descubro ou revejo uma ação/comportamento governamental/social desse tipo: Boa Vista, tu nunca serás Liverpool. 

E muita gente dá risada dessas ações e medidas, diz que artistas que reivindicam espaços e políticas públicas assim são esquerdistas, que vivem na mamata e outras tantas baboseiras aprendidas nos grupos de whastapp. 

Fico pensando em como essas pessoas educam seus filhos...

Se é que educam, né? O que lhes dirão sobre artes visuais, música, literatura? Que é bacana, mas só em outras famílias, em outros estados, na TV, fora do Brasil? 

Imagina o tamanho da reprodução da ignorância nessas famílias...

É por isso que eu tento levar meu filho ao máximo de eventos que consigo. Sei que, no mínimo, incomodado por estar fora de casa ele vai ficar. E que talvez alguma obra lhe chame a atenção.

Mas essas crianças cujos pais ficam criticando a arte e falando asneiras, qual será o destino intelectual delas?

É a era da ignorância acima de tudo?

Enfim. Resistamos. 

Ah, em 2014 publiquei aqui mesmo no blog um pequeno texto intitulado “Check-list cultural da depressão”. Listei uma série de equipamentos culturais que estavam  com as portas fechadas. O Anfiteatro do Parque Anauá estava entre eles, saiu e voltou. 


quinta-feira, setembro 29, 2016

Da falta de boa gestão cultural em Boa Vista




Lambe-lambe produzido pelo Coletivo Carapanã


Eu pensei em fazer textão sobre como não tem política cultural no município de Boa Vista; sobre como as previsões de vitória do grupo do PMDB, que está aí desde o ano 2001, apontam que nada mudará neste setor; sobre como o povo ignora que já deveríamos há muito tempo ter abandonado essa política de promover grandes festas e achar que só isso é fazer gestão cultural; sobre como seria legal ter ação do poder público apoiando todos os segmentos culturais; sobre essa coisa do boa-vistense achar linda uma praça com flores e esquecer que humanizar a cidade é bem mais que isso, é dar condições dos fazedores de cultura de trabalhar na boa, sem precisar estar mendigando apoio no balcão de políticos e empresários...

Pensei, mas desisti. Cada cidade tem os gestores que merece e quem pensa em ter mais padece.
 
Padece e cansa, por sinal.

quinta-feira, agosto 18, 2016

Publicando artigo sobre a gestão cultural de Alto Alegre no livro Panorama Cultural de Roraima


Juntamente com esse povo bonito da foto participei do lançamento do livro Panorama Cultural de Roraima, para o qual escrevemos um artigo científico intitulado "Alto Alegre/RR: desafios, especificidades e construções do sistema cultural". 

O lançamento ocorreu no dia 17 de agosto, no Espaço de Cultura e Arte União Operária, Boa Vista. O livro apresenta uma coletânea dos trabalhos realizados pelos alunos do Curso de Extensão em Gestão Cultural, capacitação promovida em 2015 pela Universidade Federal de Roraima, executada pela Fundação Ajuri e financiada pela Secretaria de Articulação Institucional (SAI) do Ministério da Cultura (MinC). 

Na foto aparecem os colegas de curso, a professora orientadora e a fotógrafa que nos cedeu uma imagem para ilustrar o artigo:



Chloé  Bourgy Noleto, Celijane Nunes, Leila Baptaglin (orientadora), Layrine Silva (fotógrafa), Edgar Borges (vulgo eu) e Gerson Barreto.


Para ler a obra, é só clicar aí:




quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Sugestões para a Secretaria Estadual de Cultura de Roraima



A Secretaria Estadual de Cultura convocou ontem (17.02.16) os artistas e produtores culturais locais para uma conversa com a nova titular da pasta, Selma Mulinari.

Mesmo não gostando desse tipo de reunião por não gostar muito de reuniões, fui lá e ainda chamei os parceiros.

Estava previsto para começar 18h, mas a secretaria só começou a falar por volta de 18h50. Antes disso, o locutor/apresentador/mestre de cerimônias ficou convocando os presentes a assumirem o microfone e cantar/declamar/tocar para animar os presentes.

Me lembrou o sarau que organizo, quando começo a chamar a turma.

A secretaria foi amistosa em sua fala, colocando-se à disposição da comunidade cultural para trabalhar em conjunto, falou que o Estado tem algumas ações em vista, lembrou de seu passado como chefe de Departamento de Cultura, disse que estará sempre aberta para ouvir demandas.

Aí ela passou o microfone para o responsável pelo setor de Turismo no estado, o Peixoto (conforme foi apresentado) que falou de uma ação de cadastramento de artistas em parceria com o Ministério do Turismo que pode gerar cachês bacanas para quem for selecionado.

E só. Acabou a parte séria e começou a confraternização.

O microfone já foi sendo passado para quem queria cantar e o locutor já chamou o povo para a mesa de lanchinhos que estava sendo servida.

Eu e algumas outras pessoas estávamos esperando o momento do microfone aberto para quem quisesse apresentar demandas, sugestões, propostas em público.

Não rolou.

Fiquei frustrado. Tipo, foi muito educado mesmo por parte da nova secretaria apresentar-se ao seu principal público (é bem mais do que rola na Fundação de Cultura de Boa Vista), mas faltou algo mais. Faltou o momento da conversa aberta, aquela em que elogios e cobranças são feitas na frente de todos e não ali no pé do ouvido, na roda com os amigos.

De toda forma, como a secretária disse querer que todos expressássemos nossas demandas, aproveito este espaço gratuito para pontuar algumas delas e dar minha contribuição para o sucesso de sua gestão:

1.       Secretária, muitos anseios e muitas propostas dos produtores de arte e cultura em nosso Estado já estão registrados nos anais das conferências estaduais de cultura. Peça para sua equipe resgatar esses documentos. A última foi em 2013.
2.       Dê andamento público aos trabalhos do Plano Estadual de Cultura. Para nós, produtores e artistas, políticas de estado são mais produtivas que políticas de governo.
3.       Especificamente falando da nossa área, invista na literatura, livro, leitura e bibliotecas: nós, que trabalhamos nas cadeias criativa, mediadora e produtiva do segmento, estamos à margem de quase todos os investimentos do Estado. Crie editais de prêmios e bolsas para circulação da nossa literatura e  para a produção de livros, por exemplo. Aplique dinheiro na compra de nossas obras e distribua-as em todas as bibliotecas de Roraima.  Isso nos dará ar para poder continuar trabalhando. Espelhe-se no que outros estados fazem para fomentar-nos. Espelhe-se nas boas ações do Ministério da Cultura. E, por favor, vá além da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Já basta dos produtores e artistas a pedir dinheiro de empresários para bancar a cultura. Quer dizer, há quem ache o máximo a lei, mas eu acredito que podemos ir muito além dela rapidamente.  É só separar 20% dos recursos do arraial, por exemplo.
4.       Reforçando: editais com seleção isenta são muito bacanas, são modernos, democráticos e, olha que contemporâneo, diminuem esse costume de ter produtor e artista indo bater no balcão da gestão para pedir grana e outros apoios, feito nos anos 1970.
5.       Determine, divulgue e amplie os apoios de logística e infraestrutura para as ações de nosso segmento. Se não tem grana mas tem parcerias, todos ganham e a cena literária se fortalece. Mas não esqueça que recursos ainda são muito bem-vindos.
6.       Faça outras reuniões segmentadas, em horários bacanas como o de ontem, facilitando a vida de quem trabalha o dia todo e não poderia faltar para ir a encontros matutinos, por exemplo. Bote os assessores para anotar e, com certeza, terá boas ideias para colocar em prática.
7.       Por último e não menos importante, dê o start nos debates sobre a necessidade de um Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas. É um trabalho penoso, mas seria um marco para sua carreira como gestora oriunda do setor educacional. 

De nada e boa sorte, secretária Selma. Como um dos agentes que batalhou muito em reuniões e debates para que fosse criada a Secretaria Estadual de Cultura, eu realmente torço por uma gestão exitosa para todos.

sexta-feira, outubro 03, 2014

Da possível gestão cultural no futuro governo de Roraima e meus medos sobre ela



Duas coisas que venho pensando há dias e quero compartilhar antes de domingo:

A campanha está acabando e eu li muita bobagem e muita coisa interessante escrita pelos eleitores dos candidatos aos cargos majoritários.

Percebi um ponto em comum: damos, me incluo, muita importância a quem vai ficar nos postos de governador e presidente e acabamos sem  fazer uma análise mais apurada do tipo de congresso que o Brasil precisa. Os senadores e deputados federais (e os estaduais também) são os nomes que de fato mandam no país. Qualquer reforma, qualquer lei, qualquer iniciativa  dos gestores passa pela câmara e pelas assembleias.

Então, para que votar em pessoas que não estão comprometidas com um Brasil melhor, mais justo, menos opressor? Escolher ruralistas, fundamentalistas religiosos, gente que compra voto descaradamente, gente que é parlamentar há décadas e nunca apresentou projetos ou defendeu ideias relevantes, representantes do grande capital e outras linhas afins não vai ajudar nada na construção de um país diferente. 

Mas isso é óbvio, né? Tão óbvio que estou com medo que as pessoas esqueçam e reelejam os piores e elejam os mais vazios...

Bem, essa era a primeira coisa. A segunda tem a ver com política cultural. Ou melhor, com as propostas (e a falta delas) de gestão cultural dos candidatos ao governo de Roraima. 

Não vou comentar as propostas de Hamilton (PSOL) para o setor por absoluta falta de conhecimento do que propôs para o setor. Dito isto, vamos para a minha opinião sobre:

Chico Rodrigues, candidato à reeleição pelo PSB: o fato da Secretaria Estadual de Cultura ter ficado sem titular durante quase três dos cinco meses de gestão do atual governador já pode dizer muito sobre a relevância do setor para ele. 

Li um folheto com as suas propostas para a próxima gestão e a única referência a cultura era criar um Fundo Estadual de Cultura. O problema é que ele vai ter que fazer isso de todo jeito, pois faz parte do pacote assinado com o Ministério da Cultura há anos. 

Quer dizer, não apresentou nada de novo, nada de proposta. 

Isso ainda não é o que me incomoda mais em seu governo. Pior mesmo é prever que a Secult continuará inoperante, pensando e atuando como se ainda fosse uma divisão da Secretaria de Educação, sem buscar capilarizar suas ações, ensimesmada nas práticas de gestão que remetem ao antigo Território Federal de Roraima, tempo dos projetos aprovados no balcão para os amigos e compadres. Cadê editais, programas, propostas de antenar-se mais com a linha seguida pelo Governo Federal? 

O que me dói é que participei de tantas ações pressionando o governo pela criação da Secult e deu nisso...
Enfim, vamos para Ângela Portela (PT). Deixaram em minha caixa de correios um folheto com suas propostas. Ela, salvo engano, elencou quatro ou cinco ações para o setor de cultura. Me deu um desânimo quando vi que a mais destacada era fortalecer a lei de incentivo, focada na renúncia fiscal. Quer dizer, mais do mesmo tipo de fazer cultura? O produtor/artista vai ter que continuar a bater perna para conseguir no mercado o apoio aos seus projetos? Vai seguir na linha do que já vem sendo feito há anos?

Ah, sim. As demais propostas estão todas previstas no Plano Nacional de Cultura, discutido, aprovado e sendo tocado pelo Governo Federal.

Mas isso não me incomoda tanto quanto a possibilidade de Ângela colocar à frente da Secult algumas figuras locais que se ligaram ao PT para conseguir cargos e vantagens no setor, mas que nunca atuaram para valer se não fosse para garantir um naco a mais no jantar de gala. Fiquei imaginando a turma montando seus feudos nas verbas da Secult e mantendo a gestão empacada como sempre...mas é claro que isso deve ser má vontade minha, encrenqueiro que sou por não acreditar na boa fé destas pessoas.

Fechando, vamos para Suely Campos (PPS). Confesso que não vi suas propostas, mas como tive contato com ela durante o tempo em que foi vice-prefeita de Boa Vista e lembro dela do tempo em que foi primeira-dama, vou deduzir: deve colocar para gerir o setor aquela turma de gente antiga, que nunca ouvir falar de participação democrática, que pensa em seu grupo primeiro e cobra apoio a toda eleição, que nunca pôs os pés numa conferência de cultura, que ignora o processo que está em andamento no Brasil desde a gestão de Gilberto Gil à frente do MinC. 

Ou seja, de todas as possibilidades, a pior é a Suely e sua turma assumirem o governo. Chega dá arrepios pensar nisso, imaginando o tipo de comportamento que, tomara, não tenham os futuros gestores do setor.

No mais, é isso: não espero muito dos ainda candidatos quando assumirem. E espero estar muito, muito, muito errado em minhas leituras de contexto.