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sexta-feira, janeiro 10, 2014

Seis anos com Edgarzinho

E hoje fazemos seis anos juntos:  
pedindo
negando
cedendo
gastando
reclamando
ficando chateados um com o outro
dizendo sim
dizendo não
abraçando
afastando
falando
silenciando
vendo desenhos juntos
brigando pela TV ou computador
saindo sozinhos
dizendo que hoje um vai e o outro fica
aprendendo
dormindo juntos
dizendo que hoje não queremos papo com o outro
contando histórias
construindo memórias
contaminando-nos de hábitos em comum
muitas vezes sendo diferentes dois
Outras tão semelhantes que parecemos um.



segunda-feira, outubro 24, 2011

Dias de Edgarzinho: de declamador a vaqueiro

Seguinte: sou babão com o meu filho, sim. Mas só quando ele respira. Fora isso...

Bem, na verdade, sou bem menos babão que a mãe e os avós de todos os lados. Mas tem coisa que merece ser babada mesmo, como quando ele decide, sozinho, encarar um microfone, pede para arrumarem na sua altura e, mesmo que não se entenda tudo, declama os dois poeminhas que sabe. Foi isso que o Edgarzinho fez na VI Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Roraima. Lá  o Coletivo Arteliteratura Caimbé ajudou a organizar um encontro de cordelistas e poetas entre os dias 18 e 20 de outubro.

Edgarzinho Borges Bisneto, que já havia declamando em um sarau do Sesc, não teve vergonha e mandou várias vezes os versos que sua avó Neide lhe ensinou.





 
 No último sabadão, dia de não fazer nada (um nada que incluiu não ir à feira, o que significa que vai ter pouca comida nesta semana), o moleque montou no Dourado, um “cavalo selvagem que vive na casa do vovô Adair”, como ele diz, referindo-se à parte materna que lhe toca.

A princípio com medo, encarou o perigo como só um índio corajoso o faz. Em poucos minutos já estava segurando na crina apenas com uma mão, levando carona e até guiando o animal.


 Com o avó materno, escritor e ex-fuzileiro Adair J. Santos


 
 Se fosse especular como muita gente boba o faz, diria que esse lance de montaria está “no sangue”: meu avô paterno, o finado Santos Figueira foi vaqueiro, dono de várias fazendas e adorava corridas de cavalos. Meu pai, seu Jucá, foi o único dos trocentos irmãos que ficou na fazenda. Rodava Roraima inteiro em suas montarias e chegou a ser jóquei quando jovem e magro. Dizem que fez seu Santos ganhar muitas apostas.

Seu Adair, avô materno, foi criado em um engenho de Palmares (PE), de propriedade do trisavô e bisavô de Edgarzinho. Desde pequeno montou, costume que passou para todos os filhos do primeiro casamento, de onde vem a mãe do Edgarzinho, dona Zanny. Ela diz que monta bem. Nunca a vi fazer isso. Aliás, ontem ela estava apavorada com o moleque dando uma de ginete.

Eu? Bom, basta dizer que aprendi a andar de bicicleta aos 14 anos. Para não dizer que nunca montei num cavalo, tenho uma foto num carrossel e outra sobre um bicho de verdade, mas só fazendo posse, lá pelos meus 2, 3 anos de vida. Essa é a prova da falibilidade do ditado “tal pai, tal filho”.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Pulando pros três anos




Edgarzinho, luz de minha vida, fonte de alegrias e despesas crescentes, reflexo de minha alma, água da minha poesia, objeto de minha paixão, indiozinho rei de minha aldeia, pajé de meu espírito, causador de preocupações, dono do olhar mais poderoso que já colocou seu peso em mim.

Músicas dos mexicanos do Maná que me lembram o indiozinho:




terça-feira, dezembro 09, 2008

11 meses



Meu indiozinho completa 11 meses nesta quarta-feira. Já engatinha acelerado, empurra cadeiras para caminhar em pé, desce da cama segurando nas roupas dos pais e da irmã, faz manha e chora muito para não ficar no berço ou no cercadinho/curral e adora mexer no meu som.


Se eu te pegar mexendo no som de novo, arranco tua orelha, moleque!





O BB, como minha mãe chama o pequeno Borges Bisneto (mais detalhes sobre o começo da vida do moleque, favor clicar aqui) é insuportavelmente saudável. Sei, há uma contradição nesta frase. Explica-se: o indiozinho tem vitalidade extrema. Tanto que já pegou conjuntivite, pneumonia e duas gripes em 2008 e mesmo assim não parou quieto um minuto. Aliás, ficar quieto só quando está dormindo. Bom...na verdade, nem tanto assim. É adrenalina no estado mais puro possível.


Kung-fu Pemón, o filme



Essa adrenalina é o melhor presente que ganhei na vida. É claro que a Vida deixou as parcelas mensais para serem debitadas na minha conta bancária, sem prazo para encerrar a dívida.


Treinamento para caçar coelho: segura na roupa de seu papá

e exija que ele traga o Pernalonga para você




O indiozinho, sem nenhuma modéstia, é muito lindão. Amigos e amigas elogiam o moleque, sempre dizendo que puxou à mãe, pois o pai, além de antipático, é feio. Como um bom índio civilizado, concordo, já que é pura verdade.




Putz, o moleque já coube inteirinho no meu peito. Hoje, ocupa metade da cama sozinho



Reconhecendo plantas: urucum é bom para fazer coloral e para pintar o rosto e ir à guerra





Para celebrar o aniversário de 11 meses do indiozinho, o STF marcou para esta quarta o julgamento da ação contra a demarcação da reserva indígena Raposa-Serra do Sol em área contínua. Vai reunir num só lugar o governador José Anchieta, os senadores e deputados federais que assumem declaradamente serem contra a área, os primos e tios de meu filho que são contra e a favor, jornalistas, curiosos e etc.





Os jornais estão ligados no julgamento.Essa charge aí é

do Marco Aurélio. Deviam fazer matéria sobre o neném, isso sim.



Os ministros do STF já mandaram avisar lá em casa: no meio da leitura vão parar tudo e pedir para os presentes cantarem o parabéns para você. A turma que mandar melhor na afinação leva o prêmio: mantém ou desfaz a área contínua. Lá em casa a gente se contenta com quaisquer mil hectares à margem de um rio.



Pintando-se para a guerra por um pedaço de terra com

sombra, água corrente e crédito a fundo perdido



segunda-feira, outubro 13, 2008

Vamos embora (ou Do que se abdica quando se tem um molequinho)

É noite de domingo, o grupo é de fora e o espetáculo fala de um ensaio e tal. O teatro do Sesc Mecejana tem muitos lugares, mas para criar uma atmosfera intimista, vai todo mundo para cima do palco, ficar bem pertinho dos atores. A peça começa e a família Pemón chega um pouco atrasada, já que parou para comprar os alimentos não perecíveis que serão entregues a título de ingresso.


Por um cálculo errado da organização, poucas cadeiras foram colocadas no palco, aparentemente menos de 30, e agora só há espaço nas cadeiras da platéia, abaixo do nível do cenário e com os outros espectadores à frente. Ou seja, não tem mais vaga para três e meio retardatários.


Digo para ir embora e a mamãe do indiozinho demora. Saio e os atores que estão na porta, preparando-se para entrar em uma nova cena, me dizem: senta no chão. Eu até sento, mas não vou deixar a mãe de meu filho ficar no chão, incomodada, a peça toda, respondo. Desculpa, a gente não sabia, diz a menina.


Tudo isso acontecendo e nada da mamãe do indiozinho deixar o recinto. E olha que estava pertinho da saída. Aí, eles entram gritando e batendo com muita força a porta, conforme previsto no roteiro. Resultado: o neném se assusta com o ruído e abre o berreiro, chorando como quem pegou uma lapada de galho de goiabeira. Então, finalmente, mamãe sai, assustada com a reação do bebê. Eu a olho, penso e falo baixinho: bem que eu falei antes para sair e irmos embora.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Manhã de julgamento no STF sobre
a reserva indígena Raposa - Serra do Sol


Frases ditas na manhã pelo advogado-geral do União, José Antônio Dias Toffoli, durante o julgamento do caso Raposa-Serra do Sol no Supremo Tribunal Federal (STF), tendo ao fundo a advogada do CIR (Conselho Indígena de Roraima), Joenia Wapichana,com o rosto pintado.



"Eu não sabia que para ser um estado é preciso ser latifundiário", referindo-se à alegação de que sobrariam poucas terras para o Governo do Estado gerenciar.



"Se a terra é da União é muito mais fácil defender fronteiras do que se fosse de particulares", sobre a questão da fragilidade da soberania nacional, argumento muito usado pela turma contrária à demarcação em área contínua.



"Se houver declaração de independência (na reserva) o Estado vai lá e vai agir".



Frases da advogada Joenia Wapichana, argumentando a favor da demarcação em área contínua:




"Que nossos valores culturais e valores espirituais sejam garantidos na aplicação do artigo da Constituição".



"Vivemos há mais de 30 anos (sic) se arrastando, esperando".



"Somos acusado de ladrões, de invasores dentro de nossa própria terra. Somos caluniados e isso tem que ter um fim".



"O que está em jogo são os 500 anos de colonização. Isso é o que está em jogo. Nós temos a nossa economia e isso não é contabilizado pelo Governo do Estado de Roraima. Somos os maiores criadores de gado".



"Circulam anualmente na terra indígena mais de RS 14 milhões".



Manchetes dos jornais nesta quarta-feira (27)




Roraima Hoje





Raposa Serra do Sol

Destino de Roraima nas "mãos" do STF



Folha de Boa Vista


Supremo começa hoje decidir (sic) sobre demarcação da Raposa Serra do Sol



Para saber mais dos lances locais, clica aqui, na Folha de Boa Vista.

Para saber mais dos lances nacionais,que são os que valem mesmo, pode ser no G1



Mas antes de tudo isso ser visto ou lido, o lado pitoresco do dia 27 de agosto:



Edgar: Filho, hoje é um dia histórico e você vai ficar aí, mamando no peito de sua mãe e depois indo dormir?

O indiozinho fica em silêncio, a boca no peito da mãe, o olhar meio perdido.

Edgar: Vamos, filhão, vai ficar aí?

O indiozinho me olha, meio perdido, como a dizer: vai lá e garante a minha parte. Te vira.


No trabalho, a ligação:


Tana Halu: Ei, seu acomodado, consegui um carro. Vamos pra reserva fazer matéria!

Edgar: (Risada) Fala sério. Tenho um monte de coisa para fazer hoje aqui.

Tana Halu: Pára de ser assim. Hoje é um dia histórico e tu vais ficar atrás de uma mesa, escrevendo release?

Edgar: Ei, cara, mas esse aqui é o meu trampo. Se eu estivesse num jornal, eu iria.

Tana Halu: Tu já foi mais ativo. Hoje só quer saber de ganhar teus milhares de reais mensais sem fazer esforço.

Edgar: Pois é...


E na hora do almoço, depois de ouvir a transmissão no trabalho:



Edgar: Vó, a senhora está perdendo a transmissão do julgamento do caso da Raposa!


Vó Maria José: Isso já tá perdido faz tempo, meu filho.


Edgar: Como assim, vó?


Vó Maria José: Isso tudo é coisa de um bando de índio e branco sem-vergonha. Ninguém vai ganhar nada com isso.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Esporádico

Quando demoro a postar, uma ou outra pessoa me pergunta: você não escreve mais?

Escrevo sim. Faço e reviso matérias institucionais no meu trabalho institucional, preparo planos de aula para duas disciplinas no curso de jornalismo da Faculdade Atual da Amazônia, faço os textos de divulgação da Federação de Teatro de Roraima e mando, vez ou outra, uma mensagem pelo orkut. Ah, e até faço traduções de convênios assinados entre universidades do Brasil e da Venezuela.

Ah, mas e o blog Crônicas da Fronteira?

Alguém tem que ceder espaço. Geralmente é ele. É um equivalente ao espaço que cedo para meu filho dormir à vontade na cama. Se ele se mexe, eu me afasto para ele ficar à vontade. Se ele acorda cedo, eu tento acordar cedo. Se ele chora e eu estou com ele, paro o que estiver fazendo para tentar acalmá-lo.

Fora isso, leio alguns e-mails que chegam de vez em quando, como do o Ismael Benigno, do blog amazonense O Malfazejo, que supostamente estava sendo tocaiado por figuras mal-encaradas paradas em carros em frente à sua casa. Pelas últimas postagens, tudo se resolveu na boa.

Ou como os do Luiz Valério, blogueiro aqui de Roraima, que voltou ao Blogspot depois de uma suposta censura nos servidores que impediam seu acesso à página em que vinha trabalhando. Depois de um tempo, ele voltou ao Política com Pimenta certo.

Ah, outra ocupação é colocar fotos de meu filho na minha página do orkut. Assim, meus amigos de longe ou de perto sabem como anda o meu índio.

sexta-feira, abril 04, 2008

Desejo


Um dia a casa sobe e a alma cai
Daí, quem sabe,
Você se toca e se vai.

Uma noite a lua desce
O verão acaba
E o rio Branco cresce.

Um dia, quem sabe o dia,
As coisas mudam
E paro com essa agonia.

Uma tarde, com certeza,
Te encontro caminhando pela rua
Ou meio louca, seminua
Deitada sobre minha mesa.


(Texto publicado originalmente na revista on-line Minguante. Tem outros meus também. Se você quer participar com suas histórias, corra. O prazo encerra na outra semana)


Se nunca foi visitar, que não seja por falta do endereço: Histórias de um Índio Velho e seu filho.

domingo, fevereiro 03, 2008

O que andei fazendo...

Blogueiro desleixado, abandonei parcialmente o blogspot em função da alimentação do blog criado para acompanhar a gravidez e o nascimento de meu filho, o indiozinho mais bonito das malocas do Norte. Para quem ainda se dá ao trabalho de passar por aqui e não estava sabendo desse fato, o ideal é que clique e conheça as Histórias de um índio velho e seu filho.

Bom, por onde mais andei desde novembro? Arrumando a maloca do índio, lendo muito sobre jornalismo para começar a lecionar numa faculdade particular de Boa Vista e tentando malhar para não ficar um índio sem agilidade de caçador.

Também andei concorrendo (e ganhando uma graninha pelo primeiro lugar) a um prêmio de jornalismo promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Roraima.

Vai aqui o lide da matéria, feita para o website do jornal Roraima Hoje:

Estudo mostra biodiversidade dos peixes nos igarapés de Boa Vista

Várias vezes por semana, o professor Filipe Melo troca as atividades nas salas de aula da UERR (Universidade Estadual de Roraima) por uma visita aos igarapés da cidade, onde pesquisa a biodiversidade dos cursos d’água que cortam Boa Vista. A intenção é descobrir quais espécies de peixes sobrevivem na área urbana e saber se podem ser utilizados como bioindicadores da qualidade da água. A pesquisa de Melo, doutor em ictiologia, é apoiada pelo CNPq e Femact (Fundação Estadual do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia). Conforme diz, esse estudo faz parte de um projeto mais amplo, que tem como objetivos gerais fomentar o conhecimento, valorização, a preservação, uso racional de parte do patrimônio biológico do Estado e fornecer subsídios para práticas e políticas de conservação.

Para ler todo o texto, caso interesse, clique aqui

E o bom de postar hoje é que serve como uma espécie de comemoração de 17 anos morando nesta grande aldeia que é Boa Vista. Cheguei aqui no dia 3 de fevereiro de 1991, exatamente num domingo quente como foi o dia de hoje. Na segunda já estava pisando em sala de aula, sem saber escrever português e sem conhecer ninguém, além de alguns da minha família. Mas isso é coisa que acho ter escrito em algum outro fevereiro no blog.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Identidade

Passamos a vida toda tentando demarcar o nosso território, querendo que as pessoas reconheçam o nosso valor e pelo menos saibam o nosso nome.

Matamos um leão a cada dia, fazemos pós-graduações, escrevemos livros, fazemos grandes trapaças, lideramos revoluções espirituais, obtemos enormes conquistas.

Usamos até crachás para facilitar a vida dos desmemoriados. Colocamos o nosso nome em caixa alta na mesa, no e-mail e no adesivo do carro para garantir o processo.

Brigamos com os nossos colegas de aula quando trocam o nosso nome e tentam nos sacanear com apelidos. Pronunciamos com um quê de irritação as letras de nosso nome quando alguém pergunta pela segunda vez ou o escreve errado.

Daí, quando chegamos à vida adulta, com um nome relativamente conhecido pelo menos entre um pequeno círculo de amigos, vemos que nada disso vale a pena.

Perdemos a nossa identidade para uma coisinha que ainda não nasceu ou que está recém nascida. Para os amigos, viramos simplesmente "o pai de Fulano" e a "mãe de Sicrana".
O que compensa é que um dia talvez possivelmente o mesmo vai acontecer com eles.