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quarta-feira, março 19, 2025

A inquisição nas curvas do rio

Publiquei um conto sobre a Inquisição em um livro lançado colaborativamente pela editora Triumphus. 

 


 




A seleção foi ano passado e nesta semana chegou o meu exemplar.

A curadoria foi da escritora Joseani Vieira , carioca radicada em Roraima há décadas, a quem agradeço pelo olhar carinhoso na hora de escolher meu texto para compor a obra.

Além de nós dois, Vanessa Brandão  é a outra autora de Roraima participante desta coletânea.


 

quinta-feira, dezembro 02, 2021

Venham me ler na 30ª edição da revista Literalivre


Gente bonita que anda por aqui: estou na 30ª edição da revista Literalivre, desta vez com um conto originalmente publicado aqui no blog em 2019. 



 

Confere meu texto “Sabores da noite passada” na página 80 da revista e compartilha o link com quem você conhecer. 

A LiteraLivre é uma iniciativa muito bacana e editar revista não é nada fácil, com equipe ou sem equipe. Então, valorizemos quem faz (eu mesmo já tive vontade de fazer uma revista ou zine literário, mas só de pensar em separar, revisar, diagramar e distribuir me deu canseira). 


Baixa ou lê a LiteraLivre aqui:


quinta-feira, novembro 18, 2021

Com prosa e poesia no e-book da Mostra Picuá de Cinema e Literatura

Este final de semana será realizada a primeira edição da Mostra Picuá de Cinema e Literatura. Muita coisa vai rolar na Serra do Tepequém, inclusive a encenação de dois textos meus que foram selecionados pela curadoria e vão concorrer aos prêmios da mostra. O e-book com as obras foi liberado nesta quinta pela organização. Olha a capa: 



Um dos textos é o poema “Medo, monstros e lama”, escrito em 2020. A interpretação será feita por Everton Alves e Julia Barroso. O conto “Livro de Amor” foi escrito em 2016 ou 2017 e será encenado pelos atores Felipe Medeiros , Kamylly Emanuelle e Luiza Danielle. Todos são da Cia. Criarte Teatral e serão dirigidos por Kaline Barroso. Desde que saiu o resultado eles estão ensaiando e este sábado será o grande dia. 

programação é esta:

 





Eu  não vou pra mostra. Além de não confiar na resistência do meu velho carro para subir a serra, ainda estou em tratamento contra a gastrite e a esofagite e vivo limitado no que posso comer e beber. E viajar para um evento deste sem poder beliscar porcaria e dar um gole numa cerveja, pelo menos, não tem graça. Sem contar que ainda ando cabreiro, muito cabreiro, com a pandemia. 

Os meus textos são estes: 




Zanny também está concorrendo com dois textos. Outros amigos também. Se quiser ler o nosso material, é só clicar aqui neste link do google drive e baixar o e-book da Mostra Picuá de Cinema e Literatura. 


sexta-feira, maio 03, 2019

Los dias desta semana


 Esta semana yo não te vi e nem por isso senti tua falta, mas se te hubiera dito algo será que teria chovido? Era de café o bombom que recusei só que mais tarde escutei uma música bonita. Não lembro o que dizia e o senhor de la esquina estaba orinando en la rua. Quatro bolas de sorvete por um real, quatro meses sin comprarme uma ropa nueva. Soy un nuevo ser ou apenas não tenho como pagar as contas antigas, de el tempo em que poderia fazer nuevas contas?

Gritava sempre que podia e agora gosto mais de escuchar los carros passando. Si todos los viernes vengo a verte, será que você poderia abrir su puerta y darme un trago de vinho? É que é tanta saudade que já no sé, no sé, en sério, no sé.


Esta semana te besé duas vezes. Paguei somente uma, a outra era tarde e não tinha nada para decir. Ouvi no rádio alguém diciendo poesias como a las 11h  y esta hambre que te tengo me llenó de angustias. Lloro, lloro como uma criança e no banheiro nadie lo sabe. Todo dia es eso: yo camino, tu ni pendiente, hija de la gran... Disculpa, velhas manias são difíceis de dejar para trás. Na lateral habia algo para sentir, pero talvez seja melhor para cuando volvamos. Baja la sierra, dejate de eso, baja la sierra, dejate de eso, baja la sierra, deja ese peso.

Esta noche hizo frio. Amanheceu nublado e al mismo tempo, que te digo, o sol estava dourado lá no nascente. Yo no vi nada, pero me contaron que segun y qué foi assim, foi diferente. Quando voltar, te procuro, estaba escrito no bilhete. Me recordó um viejo samba, te acuerdas? De aquellos que bailávamos pegaitos, pegaitos, pegaitos, como en los buenos tempos em Buenos Aires. Ya, pues, un dia vamos ir de verdade, no reclames tanto. Apurate, pues, apurate...é que acaso no ves o tanto de soledad que está llegando? Hay que trabalhar, fazer por merecer cada um de los pedazos de desespero que vão distribuir hoy. Vamos a darle com fúria, con ganas.

Tás viendo? Ya no te siento aqui. Mi tempo es otro y dijeron en la esquina que o próximo feriado não tá tendo, mas quando llegar vão
reservar um pra gente lá da rua de baixo.

Esta semana quise chorar y os compañeros de la avenida me dieron un cigarro para que me afogasse en humo. Te lo juro: hasta este momento estoy en eso.  

sexta-feira, abril 05, 2019

Sabores da noite passada

Meu hálito nesta manhã me lembra um pouco das alegrias e sabores da noite passada. Bebemos, rimos, cantamos e, sinceramente não tenho certeza, mas acho que também usamos alguma coisa levemente ilegal para adoçar ainda mais a madrugada.

Começamos cedo, com um happy hour que buscava espantar as dores de um dia pesado de trabalho para ambos. Eu não te conhecia. Não, eu já havia te visto uma ou duas vezes por aí. Sim, isso mesmo. Os amigos nos apresentaram formalmente, começamos a falar de filmes, livros, política e jardinagem. Chope vai, tira-gosto vem, desafinamos algumas músicas no karaokê, discordamos sobre os rumos da economia, sorrimos muito e, se não me engana a memória, trocamos uns beijos no estacionamento do bar. 

Quando a mesa começou a ficar vazia e iniciativas mais decisivas passaram a ser exigidas pelo horário, te fiz uma pergunta fundamental para definir os rumos daquela noite: 

- Dorme comigo? 

Então você abriu um sorriso, encostou tua boca em minha orelha e me disse, antes de mordê-la: 

- Claro. Só estava esperando o convite.  

Ainda bebemos mais um pouco e trocamos ideias sobre o futuro da nação antes de chegar em casa. Por sorte, meu companheiro de aluguel havia encontrado lugar melhor para passar a noite e ficamos à vontade para passear com os nossos corpos sem roupa da sala até o quarto. Li com a língua cada uma das tatuagens e sinais da tua pele enquanto lembrava de um som que ouvia quando era moleque: 

“Y yo que nunca tuve
Más religión que un cuerpo de mujer
Del cuello de una nube
Aquella madrugada me colgué”

Pendurado em tuas nuvens estava quando você falou que provavelmente não amanhecerias ao meu lado. Algo como um compromisso logo cedo com o trabalho, amigos, namorado, não sei... Confesso que naquele momento eu só pensava em sentir o teu gosto e isso afetava o meu raciocínio. O depois ficará para depois, pensei.

Amanhece, abro os olhos e fico olhando para o teto do quarto, cantarolando em minha mente a mesma música da madrugada. Só me acompanham teu cheiro grudado em minhas mãos e uma mensagem no celular, na qual dizes ter gostado da noite e prometes um dia talvez repeti-la. 

Enquanto tomo uma xícara de café preto, sorrio e penso em como promessas de noites boas são fundamentais para aguentar os dias cheios de rotina.

segunda-feira, fevereiro 25, 2019

#ÉguerraTáOk

Sexta-feira, véspera de carnaval. Pressionado pelos seus seguidores nas redes sociais, cansado de ouvir os filhos reclamando dessa história de não mandar tiro nos comunistas, chateado depois do último vídeo de seu filósofo preferido e, sobretudo, após ter sido repreendido por Trump nos bastidores, o presidente brasileiro anuncia logo cedo em seu perfil no Twitter: CABÔ! BASTA! VAMOS DEFENDER A DEMOCRACIA! O BRASIL COMEÇA HOJE DE TARDE A DEVOLVER A VENEZUELA AOS VENEZUELANOS! #ÉguerraTáOk. A mensagem é replicada por milhares de pessoas. Na sequência, ainda no Twitter, convoca o Estado Maior e os principais ministros para discutir como será a operação. Os militares não querem, lembram que há 149 anos não entram em guerra com ninguém, avisam que não tem munição para segurar a onda, mas o presidente não recua, ameaça incluir todo mundo na reforma da Previdência e assim consegue comandar a situação. 

Imediatamente após a mensagem, as bolsas de valores do mundo inteiro começam a flutuar perigosamente. Investidores retiram seu dinheiro do Brasil e as ações das empresas de armas começam a subir vertiginosamente. A OPEP não se pronuncia, marcando primeiro uma reunião com os diretores da Exxon e outras companhias petroleiras. Em Boa Vista e Pacaraima, internautas postam “Agora vai”, “Brasil acima de tudo”, “O mito vai acabar com o socialismo” e “Eu quero guerra contra o comunismo”, todos com a hastag #ÉguerraTáOk. Quem se pronuncia contra é linchado virtualmente e chamado de “traidor da pátria”. 
Às 11h30, o plano de guerra é anunciado pelo presidente, que veste novamente a camiseta falsificada do Palmeiras para falar sobre como vai acabar com os bandidos venezuelanos (A camiseta? Ah, tá. É verde, verde é a cor do Brasil e também a do Exército, justifica na coletiva).  

China e Rússia avisam: não apoiamos vocês. A ONU diz que não concorda com nada e Trump já despachou seus assessores especiais na área de guerra para o Brasil. A Colômbia não diz que sim nem que não, surpresa com o ato do governo brasileiro, que começa suas ações no sábado de Carnaval, aproveitando a ressaca da primeira noite do feriadão. Maduro avisa que seu governo vai reagir ao “imperialismo ianque-brasileiro com bravura e dignidade”. Ninguém leva fé, mas ele chama e avisa seus generais: “se eu cair, como ficam vocês e seus esquemas? Todos vamos nos dar mal”. Como ainda não há garantias concretas de anistia para os militares, todos juram lealdade e mobilizam suas tropas em direção a Santa Elena de Uairén. O mundo acredita que logo, logo, eles mudarão de ideia.

Os aviões que decolaram de Boa Vista atacam a infraestrutura de Santa Elena para imobilizar qualquer reação inicial. A ideia é tomar conta do país vizinho e aproveitar para tirar o foco dos laranjais e outros problemas. No whastapp, a população boa-vistense está eufórica. Muita gente aposta que vai ser fácil acabar com o governo do Maduro. “Daí, esse monte de venezuelano preto e pobre que veio para cá vai voltar rapidinho”, diz uma das mensagens no grupo “Unidos pela Venezuela”. Martins, cliente de uma boate no Buritis, começa a pensar: se todas as prostitutas voltarem de repente, os programas vão aumentar de preço. Não sei, não. Isso não está certo...

A primeira bomba brasileira cai no posto de combustível a poucos metros da fronteira. A população de Pacaraima fica estupefata e começa a xingar a falta de planejamento dos arquitetos da ação de paz (porra, e agora como é que a gente vai abastecer?) O medo e a revolta do lado de lá aumentam quando a segunda bomba é jogada no hospital de Santa Elena e outras mais são jogadas no quartel, no comando da Guarda Nacional e na subestação que manda energia para Roraima. O ataque inicial, padrão em casos de guerra, traz consequências: Boa Vista entra em alerta energético, o preço dos combustíveis dispara, milhares vão aos postos para abastecer antes que tudo acabe, a migração dos venezuelanos aumenta e incha Pacaraima. 

O governador roraimense é chamado às pressas para Brasília. Lá, anuncia que tudo agora será estado de exceção e calamidade. As aulas são adiadas mais uma vez e os pais com alunos na rede pública se desesperam ao pensar que o ano letivo de 2019 deve acabar só em 2020. Aquecendo a economia, diversos empresários já começam a mandar mensagens aos secretários oferecendo seus produtos.

O Exército da Venezuela reage à agressão brasileira, agora impulsionado também pelo ódio e tristeza dos soldados que perderam amigos e familiares nos primeiros ataques brasileiros. A ação inicial de Caracas é mandar seus caças de origem russa atacarem o quartel brasileiro em Pacaraima. Centenas morrem. Para evitar que cheguem reforços por terra, bombas são jogadas na BR-174, fazendo com que a parte da serra desmorone. Os habitantes de Pacaraima agora estão isolados completamente e há rumores de que hoje à noite vai ter saqueio nos supermercados. Os empresários contratam e armam ostensivamente seus seguranças. A comida quadruplica de preço na serra e duplica em Boa Vista. O Procon diz que não pode fazer nada, que é lei da oferta e da procura. Uma emissora de TV divulga matéria sobre como vestir-se em tempos de conflito e ensina a reaproveitar os restos de ontem para fazer uma deliciosa sopa “Venezuela libre”. 

Se as empresas que exploravam o turismo na Gran Sabana agora buscam alternativas para não fechar por falta de clientes, os hotéis e hosteis estão lotados: jornalistas do mundo inteiro estão chegando, interessados em cobrir a primeira guerra do continente americano em décadas. Romances começam a acontecer e, entre uma matéria e uma coletiva em Boa Vista, há gringos sendo levados para conhecer a beleza do por do sol nas praias Grande e dos Gnomos. Na Eletrobras, a direção da empresa se reúne para analisar de quanto será o reajuste na energia após a desconexão com a hidrelétrica  de Guri-Macágua. Na vila Três Corações, vulgo Km 100, seu João reclama que agora não tem mais gasolina da Venezuela para revender em seu postinho alternativo de combustível. “Isso tá errado. A guerra não era para nos fazer passar perrengue. Isso tá errado”, diz.   

De Brasília, vestindo camiseta florida e com o motorista já esperando para levá-lo ao aeroporto para poder noronhar-se, o ministro da Economia manda um recado ao povo: fiquem tranquilos. Isso não afetará os rumos da modernização do país. O Brasil continua atacando e, para suprir a falta de munição, dispensa licitações e compra milhões em munições e armas das empresas dos Estados Unidos e Iraque. Trump elogia o Brasil pela coragem de enfrentar a ditadura madurista e sugere acelerar as privatizações para que não falte cash na hora de renovar o estoque de armas. Moscou e Pequim continuam dizendo que a intervenção não é o caminho e já encaminharam seus porta-aviões para o Caribe para garantir seus interesses. Nos bastidores, discutem com Washington e Guaidó os horizontes econômicos pós-fim da Guerra da Venezuela. Ou, como alguns historiadores vão preferir contar, da Guerra do Brasil.

Novos ataques são registrados de lado a lado. Pacaraima agora está a escuras, sem internet e sem água. Santa Elena parece um deserto e as comunidades da etnia Pemón começam a servir de abrigo para quem deixou a cidade. As famílias dos jornalistas destacados para a fronteira estão desesperadas pela perca de comunicação com eles. Em Santa Elena as emissoras de rádio são atingidas por bombas. Milícias começam a surgir dos dois lados da fronteira. Brasília diz que as nossas são do bem e convoca extraoficialmente seus especialistas cariocas para assessorá-las. As facções criminosas aumentam o preço das drogas e os casos de assalto e furtos começam a aumentar em Boa Vista. O 5° DP transborda de tantas denúncias e há rumores de grupos paramilitares em ação. Os empresários locais começam a mandar seus familiares para outros estados, inflacionando o preço das passagens aéreas e terrestres. 

O mundo olha perplexo o povo brasileiro: o Carnaval toma conta das ruas do país e a guerra é cada vez mais comentada nos grupos do Whats e do Telegram. Em Boa Vista garantem que a festa não vai será suspensa para poder inspirar alegria aos hermanos: “é a nossa contribuição para nossos vizinhos neste momento tão difícil que enfrentam. Depois da tempestade sempre vem a bonança. Aproveitem que estamos com desconto no último lote dos abadás”, declara em seus stories o dono do maior bloco boa-vistense. No instagram, tudo continua em perfeita harmonia e as hastags #AlegriaNaFolia e #AlegreEAmorNoCarnaval são as mais utilizadas pelos digital influencers. 

O caos começa a ser melhor percebido na quarta-feira de Cinzas, quando se descobre o fim do estoque de paçoca em Roraima. Um produto químico jogado não se sabe ainda por quem provoca um novo efeito secundário. Conforme mensagens de áudio e texto que não param de chegar, parece que pessoas pálidas, ensanguentadas e em farrapos começaram a morder quem se aproxima delas. Por precaução, os remetentes pedem para espalhar em todos os grupos até alguma autoridade ler e fazer alguma coisa. 

sexta-feira, fevereiro 22, 2019

Fantasmas, tristezas o algo así



Eu aqui chorando, no por ti, ni por nadie, mas por tudo, por todos ao mesmo tempo.  É que a gente às vezes llora por nada, llora quando vê uma mala notícia, quando el pajarito canta mais lento en la mata.

Eu aqui, ojos mojados, como beira de lagoa, como poço en el tiempo de lluvias,
y lá fora tudo parece estar normal até onde la vista alcanza. Mas los ventos traen canciones, trazem vozes de lejos y essas vozes falam com a gente, se mostram para nosotros, contando histórias que quase nunca tienen final feliz.

Vejo fantasmas caminando en la calle, falam comigo que aqui não es o lugar de ellos, pero que se le va a hacer, si así es la vida (lembro duma antiga canção de los llanos e completo la frase) “y que le vamos a hacer”. Sorriem, hablan mais, pedem algo, peden atención o algo assim. Se van, espaldas al sol, cabeças baixas.

O final de semana é de esperar. Dizen que lejos vienen chegando mudanças. Mudanças exigem sacrifícios, exigem fechar a porta da zona de conforto, exigen llegar a la frontera de los que nos incomada y avanzar. Avanzar. Avanzar. A palavra una y otra vez suena em mi cabeça, martela incesamente, faz tudo queimar y pienso en gritar alto para ver si se fuga de mi mente y me deixa em paz. Esperar cansa, llorar también.

No tem mais lágrimas agora. No. No tem nada, para dizer la verdade. O que temos é um vazio que poderia ser saudade, que poderia ser hambre, quien sabe ganas de volar longe. Ou não. Quem sabe seja apenas uma tristeza escondida intentando salir de sua casa, quien sabe lo que hay dentro de uno sin que uno sepa, sin que uno le dê una miserable dose de atenção.

O relógio toca. É hora de parar de pensar y fazer algo da rotina, agir no automático. O cotidiano no tiene espácio para sonhar.

sexta-feira, novembro 30, 2018

Diário de um mestrando – 9º mês


Há três meses publiquei pela última vez sobre minhas penas no mestrado. Até cheguei a elaborar o diário no mês seguinte, mas fiquei ou com muito cansaço ou sem computador. Não, não fui tomado por uma doença ou tive o aparelho roubado. Foi bem pior: entrei no modo reforma de casa, um sofrimento que vinha adiando há alguns anos mas que em 2018 decidimos encarar. 


Um pouco de bom humor no status do instagram para aliviar as penas
O resultado foi que passamos, toda a família, a viver entre caixas com as nossas coisas empacotadas, caixas com material que deveria vir em algum momento para a obra, caixas que ninguém sabia o motivo de estarem ali e muito desconforto no lugar onde morávamos, já que nada estava em seu lugar habitual. O nosso cotidiano ficou todo direcionado para acordar, vir na obra, ir nas lojas de material de construção, vir na obra, ir nas lojas, vir na obra, ir nas lojas...

Caixas na casa nova
Fui tudo em um crescente, claro. Talvez o atraso no trabalho tenha rolado pela nossa leve ausência no começo. Mas depois praticamente ficávamos o dia inteiro. Resultado além de estar novamente em casa depois de alguns anos fora? Demorei a entrar no modo “semestre 2018.2”. 

Chegava tão cansado em casa que não tinha disposição para algo além de sentar e ver as imagens da TV passarem ali, sem comunicar muito, sem dizer quase nada. Passei a dormir mais cedo do que nunca havia dormido na vida e a acordar idem. Na verdade, houve noites em que quase não dormi.

Foucault...que leitura difícil
Isso me atormentou muito. Talvez não seja o gênio intelectual das humanas, mas gosto de ir para aula pelo menos com um pedaço do texto lido. Acho um desperdício de tempo e de curso não ter lido o material antes e ficar sem poder discutir os conteúdos. Quer dizer, posso até não discutir por falta de entendimento, mas aí já é outra história.

Um meme que me representou este semestre

Acho que só fui entrar no semestre uns dois meses depois que havia começado. Foi quando limpei a minha velha mesa e abri o computador, li um PDF, mexi no caderno de anotações, me senti um estudante sério novamente. 

Apresentando um texto do Walter Mignolo sobre desobediência epistêmica e descolonialidade na disciplina Seminário de Pesquisa, ministrada pelos professores Adriana Albano e Emerson Carvalho
A colega Valdirene dizendo que desobediência é eu continuar usando bermudas a vida inteira. hahahaha

Tive que fazer jornada dupla para dar conta das leituras atrasadas. Quando terminava de ler o material da próxima semana, começava a ver o que havia sido passado no começo do semestre. Aí então as falas faziam algum sentido.


Quando tudo parecia estar engrenando, logo nos primeiros dias da gente estar curtindo nossa casinha quase nova, Lai, minha enteada, teve uma crise violenta de desmaios e convulsões que durou uns 16 dias. Foram momentos duros. Zanny ficou praticamente morando no hospital e eu fiquei responsável total pela casa, pelo suporte externo a elas e pelo Edgarzinho e seus estudos. 

O bom disso tudo é que aprendi um bocado de coisas de matemática, tipo a multiplicação pelo método da gelosia e a multiplicação pela propriedade distributiva (isso aqui me levou uns dois dias entender).

Agora no dia 25, para completar o quadro de agonias, morreu seu Adair J. Santos, meu sogro, um cara bacana no trato e um escritor também. 

No meio dessa crise no hospital e na vida rolou a eleição... Que desastre o resultado, digo apenas isso...

O banner digital que espalhamos para avisar aos amigos e conhecidos a notícia da morte de seu Adair
Além de tudo o dito acima, rolou um atraso violento também no avanço do texto da qualificação. Não tinha nenhuma condição de parar para ler, analisar e processar o material. Só fui retomar isso agora em novembro. Continuo atrasado e agora um pouco confuso sobre como avançar na questão das categorias de análise. Mas o bom é que a prensa suave que levei da professora Leila, minha orientadora, me tirou do lugar e já fui fazer a entrevista com o sujeito de estudo, o MC Frank D’Cristo. Vou analisar quatro músicas dele para tentar identificar quais elementos ele usa em suas narrativas músicas para construir-se identitariamente. 

MC Frank D'Cristo (Foto: MC 7niggaz)

Eu, concentrado na hora de perguntar as coisas pro Frank (Foto: MC 7niggaz)

Sim, isso mesmo. Construir-se. Sou desses, bem pós-moderno dos Estudos Culturais. 

Dezembro será dedicado a isso e a escrever um artigo para a disciplina...Caraca, só sei os nomes das disciplinas se olhar o caderno...pronto, colei: Arte, Cultura e Identidade, ministrada pelos professores Eduardo Amaro e Tatiana Capaverde. Tenho vontade de usar conceito do Cronotopo, de Mikhail Bakhtin, Baki para os íntimos, mas não sei como. Quer dizer, saber, até sei. Não sei em que. Ainda. 

Bardin e Bakhtin, uma dupla legal

Ah, participei da Semana de Letras da UFRR. Foi minha primeira vez neste tipo de evento. Achei legal e não tão dolorido como pensava. Claro, há de se ter o que falar para ir lá na frente. Essa é a parte dolorida. Ah, sim. Fiz uma comunicação oral sobre minha pesquisa. 
Bueno, que más? Deixa eu lembrar...: reformei a casa, voltei para minha casa, continuamos mexendo na casa, voltei a ler os textos, estou lendo coisas novas além das disciplinas, quase acaba o semestre, acho que aprovei no semestre, falta fazer um artigo para aprovar numa das disciplinas do semestre, estou pedalando sempre que possível, estou lendo sobre categorias e sobre análise de conteúdo para poder avançar no texta da qualificação, a qualificação será em fevereiro, então está logo aí, no virar do mês praticamente, estou cansado algumas muitas vezes, sentindo-me um pouco incapaz, quer dizer, incapaz não, meio lento na verdade.



Mapeando em qual sala ia rolar a parada oral

Uma das mesas do evento

Acho que é isso...dezembro não tem mais aula a partir da próxima semana, ficando com mais tempo livre para agilizar o que deve ser agilizado...


Vou embora. Tchau.