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quarta-feira, agosto 06, 2025

E se...

Todos os dias há morte ao nosso redor. Seja a de um sonho, a de uma rosa ou a de uma pessoa. Estamos sempre numa canoa que pode virar a qualquer momento, mas que ao mesmo tempo parece fornecer navegação estável. E aí mora o perigo. Só quando vemos alguém ou algo cair e sumir nas águas do rio é que aparecem os medos, os “e se...” criando alternativas que agora serão válidas apenas em outras linhas temporais.  

Ver a morte de perto é um momento que leva a refletir sobre a vida. Se por muito ou pouco tempo e o que fazemos com essas análises já é outra questão.  


(Pronto, era só isso: metaforizar que toda vez que alguém próximo/querido morre e vou ao seu enterro, fico pensando se a forma como levo a vida é a melhor, a mais feliz, a mais adequada, se no último momento – se acaso tiver tempo para isso - pensarei “valeu a pena quase tudo”.)


P.S. musical aleatório: detesto a letra da música Epitáfio, do Titãs. É muito tapa na cara e lamentação. De lá só gosto da parte que penso toda vez que me arrisco, principalmente em águas de qualquer profundidade: o acaso vai me proteger.


Afinal, quem tiver medo que não se dê ao trabalho de nascer.

sexta-feira, julho 25, 2025

IFRR 32 anos: minha 71ª prova de corrida de rua

Domingo passado (20/07) atravessei Boa Vista para correr a minha 71ª prova desde março de 2023: a Corrida dos 32 anos do Instituto Federal de Roraima, o IFRR.

A festa teve largada e chegada no IFRR Zona Oeste, bairro Laura Moreira, com percurso de 5 km por ruas e avenidas com muitas poças d'água e um clima agradável por conta da chuva madrugadora.

Acordei 4h, cheguei no IF guiado pelo meu GPS importado da marca " minha vizinha Sheneville Araújo sabe onde é", largamos 6h34 e usei pela primeira vez um óculos baixa pace que encontrei jogado numa das provas deste ano.

Saí puxando a veloz Meire Souza para ela bater uma meta (imposta aleatoriamente por mim), mas a bichinha quebrou pelo km 3,5, sentindo muito o seu joelho quase cinquentão😪😪😪.

Disse que podia ir sozinho e aí comecei a puxar a Valdeane Rocha , que desistiu de mim nos últimos 200 m e me largou sozinho na hora do sprint 🙄🙄🙄.







Fui o 80º, de 328 participantes, a cruzar a linha de chegada. Coincidentemente esse foi o meu número de peito. Ou seja, se na próxima prova eu me inscrever mais rápido, pode ser que o universo conspire, pegue um número de peito mais baixo e chegue mais rápido. 

Capaz até de dar pódio 😏😏. 

Estratégia, do grego strateegia... Se liga.


Cheguei bem, sem dor em nada, sentindo que poderia até ter feito melhor se estivesse sozinho.

(Bem diferente de como fico nos treinos, nos quais, por mais suaves que sejam, sou pura dor e cansaço antes, durante e depois.)

Agora é treinar focado nas ladeiras da prova Tepequem Up em setembro e ficar aberto a doações de kits, seja de conhecidos ou desconhecidos.

(Isso foi sim uma indireta)

Ah, cheguei ao meu auge corredor e virei capa de um álbum fotográfico do Luquinha Fotografia, um dos muitos que registram as corridas de Boa Vista.

quinta-feira, junho 26, 2025

Sobre o sumiço das palavras

Somem quando as procuro as palavras certas para o momento ideal. Desaparecem antes de escritas, evaporam antes de oralizadas. Fogem para as nuvens, para a escuridão, me deixam feito um bobo, olhando para o papel, para o teclado, para quem está à minha frente. Estanco, gaguejo, finjo de morto, dou certeza de incapaz.


Olho para um lado, foco no infinito, balanço a cabeça, procuro verbos, substantivos e afins e nada. O tempo passa, se alonga e segundos parecem mares nos quais navega rasa a capacidade de conseguir me expressar


Daí me resigno, rio, balanço a cabeça, faço caretas, me rindo e o vazio da falta de palavras me derruba, paralisa, engole e despeja como se nada fosse, como se não houvessem palavras em mim, como se virasse uma elipse incompleta.


E então, quando desisto, vou beber água ou o tempo certo da exposição passou, o milagre acontece e me torno frase, oração, período, rima, prosa, história e cantoria.

O que se salva então é pouco, mas garante meu ar. E com o que tenho na mão respiro e consigo voar até o próximo sumiço do palavreado.




(Dizem que a ausência de palavras na hora desejada diz mais sobre o momento do que sobre si.)




(Dizem também que acreditar em tudo o que se lê sobre ausências de palavras diz mais sobre quem lê do que sobre quem escreve.)


segunda-feira, agosto 19, 2024

Flor de Cayena

 

Cayena é o nome dessa flor na Venezuela. Nunca fiz força para aprender seu nome aqui. Em minha família todos a chamam de papoula e acho que é isso.
Na frente da minha casa lá em Guasipati tínhamos duas ou três variedades. Com certeza tínhamos da cor laranja.
Tinha cayena também em um jarro na varanda da casa de minha vó Maria José, aqui em Boa Vista. Às vezes eu pegava uma e a colocava em sua orelha, para enfeitá-la. Ela ria e agradecia.
Tem um pé de cayena na frente da minha casa. A muda veio da casa de minha vó. Da janela de meu quarto de estudo a vejo todos os dias.
Tem uma cayena no fundo do quintal. A plantamos sobre o local onde enterramos Balu, nosso primeiro cachorrinho.
Tem uma cayena cor de memórias dentro de mim.

quinta-feira, agosto 25, 2022

Uma crônica e um conto na revista literária Valittera

Salve, gente que gosta de literatura. 

Tem um conto e uma crônica de minha autoria na nova edição da Valittera, revista 


literária dos acadêmicos de Letras da Universidade Estadual de Matogrosso do Sul (UEMS). 

Os textos foram produzidos e enviados para avaliação da equipe editorial no ano passado. A turma demorou um pouco mais do que o esperado para liberar a edição, por isso as leituras citadas na crônica já foram concluídas e o conto tem aquele toque dramático pré-vacinação contra a Covid. 

Independente disso, recomendo a leitura não só do meu material, como o dos demais selecionados, entre eles o escritor Gabriel Alencar, também de Roraima. 

Aqui tem o conto “Ano-novo”: https://periodicosonline.uems.br/index.php/valit/article/view/6257/5057

E aqui a crônica “Leituras para agora e depois”: https://periodicosonline.uems.br/index.php/valit/article/view/6258/5083

Para ler os demais autores, clica aqui. 


quarta-feira, agosto 24, 2022

Um texto sobre café na Revista LiteraLivre nº 34

Saiu em julho e eu achei que havia publicado aqui no blog, mas esqueci 
impressionantemente: na edição número 34 da Revista LiteraLivre tem uma crônica minha falando sobre café. 



Para ler na revista os links são estes: https://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre e http://revistaliteralivre.blogspot.com/.../revista...

Ou então dá zoom nas imagens e faz a tua leitura aqui. 




E então, como você faz o seu café?


domingo, janeiro 16, 2022

Som guturais rumo ao banho do Curupira

Aí eu tô caminhando de boas, curtindo o vento frio debaixo da mata perto do rio e ouvindo a última edição do podcast Autores e Livros, quando escuto um som tipo onça bem perto de mim. Ouvido alerta, ouço novamente aquele som gutural.

Cabreiro, fico parado e o ronco já está ao meu lado. Já era. Bem feito por não dormir até tarde num domingo. Quem mandou vir caminhar no Curupira tão cedo como se fosse um dia normal de semana?

Sorte que era só um senhor conversando bem animado numa vala com Morfeu, que espantava os insetos de cima de seu parceiro dorminhoco.



 Fui embora pensando: que ronco, senhores, que ronco!

quinta-feira, maio 27, 2021

Sobre os dilúvios matutinos

 


É quase junho e o inverno finalmente se estabeleceu em Roraima.
Daqui pra frente os dias com sol serão raros e até teremos momentos de frio. Ou menos calor, conforme o ângulo de visão.
É bom esse tempo frio, gosto dele. É muito melhor do que ficar o tempo todo desesperado atrás de uma sombra, querendo viver dentro do congelador da geladeira, tomando seis banhos por dia para tentar refrescar-se.
Mas tem um lado ruim: as chuvas matutinas, que chegam como um dilúvio nosso de cada dia, de cada manhã, alagando tudo bem na hora de ir para o trabalho.
Quando amanhece chovendo assim sempre lembro do tempo em que só tinha a bicicleta para me locomover, sem a opção de ir trabalhar em meu carro.
Manhãs assim eram garantia de chegar empapado no trampo. E de roupa suja pelos respingos. E de grandes possibilidades de gripar.
Aí, eram duas opções as que tinha: ou esperava acabar a chuva e me atrasava todo ou pedia pro Tino Pequenino, o motorista gente boa do meu trampo, me dar carona (era uma era pré-uber e afins, com o táxi muito caro. ).
A agonia era quando ele não podia me pegar e as 8h vinham chegando, impiedosas...
Saudades desse tempo? Nenhuma.
Agradecimentos ao Tino Pequenino? Todos.

terça-feira, março 30, 2021

Uma crônica publicada na 26a edição da revista LiteraLivre

 Bom dia, povo.

Aqui tem a 26a edição da revista eletrônica LiteraLivre, que saiu neste 30 de março de 2021 com uma crônica que escrevi ano passado durante a internação hospitalar de uma tia e minha, agora falecida, avó.

Dá para ler online ou baixar. É o primeiro texto meu selecionado/publicado no ano fora das minhas redes.




Acessem clicando nos links, baixem, compartilhem, participem:

Recanto das letrasDrive (leitura e Download) e/ou Calaméo.

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Aqui, na categoria Literatura, vocês podem ver os links para as outras ocasiões em que fui selecionado nesta revista. Só cliquem.

quinta-feira, dezembro 03, 2020

Entre angústias, rotinas, lágrimas, atos e silêncios (Crônica)

 Quinta. A vida continua aqui. Pessoas planejam coisas numa aula-reunião infinita.

Lá, na UTI do hospital, uma tia luta pela sua vida. O inimigo é o coronavírus. Apenas quatro anos mais velha que eu, é a mais próxima de todos os meus tios, mesmo estando há muitos anos distanciados pela rotina, pela naturalidade de cada um ter seu caminho próprio para seguir.

Sandra, seu nome. Descobri ano passado, depois de quase três décadas, que os meus gibis antigos não haviam sido presentes dela. Eu simplesmente os pegava e levava de Boa Vista para a Venezuela sem avisar, achando não sei porque que estava tudo bem. Ela me contou, ao ver o seu nome na foto de uma capa de um exemplar dos Novos Titãs da Abril, que ficava pensando “onde foram parar as minhas HQs?”.

Quinta. A vida continua para um monte de gente. Vejo na TV comerciais chamando para festas de forró e corridas de motos. Nas redes sociais vejo convites para eventos de literatura em bares e fotos de ontem mostrando que não há tempo ruim para quem pensar em viver intensamente a vida em tempos de covid.

No hospital das clínicas, minha vó está isolada da família há três dias. Quebrou o fêmur no dia 17 do mês passado. Estava no HGR e lá conseguíamos vê-la. No HC não tem nada isso. Prevenção da Covid-19, cuidados com a contaminação trazida pelas visitas, só os acompanhantes têm direito a ver o paciente.

Vó e tia, em um momento recente de relativa tranquilidade

A vó tem 94 anos. Viveu muito desde que saiu lá da beira do rio Uraricoera. O que sou, o que tenho, o que vivi, devo muito a ela, mãe da minha mãe, suporte familiar de todos nós, os mais jovens, seus filhos, netos e bisnetos.

Sabe a tal da “gratidão”, palavra tão desgastada pelo seu uso automático e sem pensar que virou clichê para tudo? Tenho por ela. E muita. E amor também.  

Mas, além de gratidão e amor, hoje tenho angústia. Vó e tia (justo a tia que gerenciava os cuidados com a vó) internadas. Minha mãe, com os nervos em caco pela situação. A filha de minha tia, minha afilhada, caindo de tanto nervosismo... O quadro é feio, pesado, negativo e complicado na família.

Família. Há quem ajude e há quem aproveite momentos assim para alegar mágoas antigas e descontentamentos recentes para não fazer nada, não dizer nada, olhar apenas, como se um filme tudo fosse... O silêncio é revelador de caráter em momentos assim. O silêncio nem sempre é um “estou pensado como agir”. Em situações assim é mais um “danem-se vocês. Eu tenho coisas mais importantes a fazer hoje, como reclamar e me isentar”.

Quinta, tem alguém falando no computador sobre coisas que mal ouço, terminei dois projetos culturais, estou escrevendo isto que você achou longo demais e o pedreiro está lá fora refazendo uma calçada que as chuvas do boiaçu, do caju, não sei do que, levaram.

Quinta. A vida, aos tropeços, continua. Entre angústias, rotinas, lágrimas, atos e silêncios reveladores sobre a essência das pessoas.

quarta-feira, setembro 09, 2020

Sintiendo el camino (conto)

 



Nos perdimos, vale. Llegamos tarde a nuestra victoria y no hubo trompeta que le echase luz a nuestra rumba. La cerveza que me bebí tenía sabor a ti, a tus cosas, a esa mala costumbre que tienes de llamarme a tu cama, a tu sonrisa, a tus tardes antes de que salieras a probar a otros sabores de otros amores. Bailamos, bailaste, eras así: cuando no te acompañaba, te meneabas sola en la pista, como si nada, como si tu todo y yo, bueno, si no ayudo, que no estorbe.

Nos perdimos, vale. Nos faltó ganas, nos faltó valentía.Lo nuestro podría haber sido eterno, pero que tanto la eternidad si hay vidas que no se entienden entre una madrugada y otra, si hay besos que no son para uno, sino para los que los pidan primero, para el que baile mejor, para el que se menea más sabroso al son de la música que esté tocando en la radio.

sexta-feira, maio 29, 2020

Diário da Covid-19: 11 semanas vivendo no distanciamento

Entre 22.05 e 28.05.2022

 

É sexta. Mais uma semana de trabalho remoto se foi. Mais uma semana de estudo remoto pro Edgarzinho se foi. A noite traz chuva, a tarde trouxe uma encomenda. Os Correios, na verdade. Bonequinhos. Wolverines e Diabo Azul para mim, outros quatro Marvel Select para o Rubem, que rachou o frete. Uma taça de vinho, trechos do vídeo da vídeo da maligna e boca suja reunião ministerial, dois episódios de comédia norte-americana com uma metade de comédia colombiana. 22 de maio de 2020. As notícias tristes chegam nos grupos de whastapp. A de hoje é a morte da radialista Márcia Seixas. Câncer, dizem. Vão cremar seu corpo em São Paulo. Era doce, gentil, carinhosa sempre. O ano está cruel? O ano não tem nada a ver com isso, penso e parafraseio a entrevista do Karnal que estava ouvindo mais cedo. O ano não tem nada a ver, mas alguém precisa ser culpado. Me jogo numa pesquisa musical sobre vallenato enquanto escrevo parte disto. O sono chega. Não liguei pra minha mãe, que sofre de saudades da mãe dela...


Acorda, diz Balu. Acordo "tarde". Entre o café da manhã, a zapeada nas redes sociais, sites de notícias e conversas no PV, parte da manhã passa ora lenta, ora rápida. Quando escrevo sobre isso é que percebo meus pequenos privilégios: tenho algo de paz e não vamos sair hoje para fazer nenhuma compra, disse Zanny, abandonando a ideia de ir pegar o saco de terra preta para o canteiro. Evitemos a rua, determinou a preta, sonhando nesta quase madrugada. Faço pequenas coisas, planto acerolas à espera de mudinhas, ouço música ranchera, mando fotinhas para mamis. O sábado vai lento e li que são mais de vinte mil mortos por Covid-19 no país. Nas redes alguém muge "cloroquina neles".

 

A vida é mais que sopro em tempos estranhos e mortais como estes. Amar, ter amor, fazer amor, sentir amor. Algo de amor é necessário para não cair. Abraço sempre que posso a Zanny e o Edgarzinho. Já o fazia antes e muito, mas agora me parece fundamental, necessário, pois tem muito mais no mundo além de Covid-19 para nos afastar. Quando fico sabendo que outros pais, como o Adrian, não terão mais seus filhos por perto, me dói, ainda mais sabendo por quantos perrengues ele vem passando há anos, ainda mais lembrando que a menina tinha idade parecida com a do meu filho... Dona Maria José está melhorzinha, reclamando da  falta de cigarro, aperriando minha tia por isso. A vó sempre foi impaciente se lhe faltava o cigarro. Como culpá-la, se fuma desde criança, desde quando Roraima nem existia? Minha tia é minha comadre. Lembrando disso, atento: minhas duas comadres estão na marca da suspeita do corona. Torço pelas duas, grandes mulheres, lindas e maravilhas filhas, minhas afilhadas. Uma delas, a Bia, faz 19 anos amanhã.

 

Com o cansaço de estar parado o dia todo, estava morrendo de sono às 9h da noite. Aguantei para não cair da cama às 4h. Deu meio certo: desde as cinco minhas costas já doíam de tanto dormir. Quase seis, já ouvindo os passarinhos anunciarem a segunda-feira, levantei, agoniado para queimar correndo a energia acumulada. A chuva não deixou, o chuvisco serviu de pretexto. Ainda olhei pro quintal, fiz as contas de quantas voltas teria que dar e quase vou, assim como quase vou pra avenida de barro. Nem um, nem outro. A balança registou mais umas gramas, falando nisso.

 


Jornalistas e publicitários questionando os levantamentos de como o vírus se espalha nas aglomerações, gente insistindo que "fulana não morreu disso, eu falei com a família", mesmo depois de mostrarem mensagens da família comunicando que a Covid-19 levou mais uma pessoa. O negacionismo adota várias narrativas e mostra o tamanho do fanatismo... A tarde é quente, com uma luz linda às 17h. Vontade de sair correndo, mas mesmo que pudesse sair de boas, de tarde trabalho e de tarde, sei lá por quais cargas d'água, sempre doem as minhas pernas quando corro. Melhor fica em casa e planejar o amanhã em segurança. Hoje completamos nove dias sem sair para nada, tirando as minhas corridas na rua de barro. Se não fosse o carteiro e um entregador de hambúrguer no sábado, seriam nove dias apenas olhando os nossos rostos.

Percebi hoje que levo a conta dos dias da semana pelos dias da coleta de lixo: terça, quinta e sábado. E percebi também como devem sentir-se os aposentados: mesmo não gostando de trabalhar todo dia, talvez o trabalho fosse o que os fazia passar melhor o tempo. Quando chega o final de semana fico meio vazio. Eu deveria estar fazendo como as pessoas de Boa Vista e indo jogar bola nas praças, sendo feliz, aproveitando a vida? Não, com certeza. Aí fico entre a ociosidade e o ranço do discurso do “renove-se na quarentena”.

Vovó está bem. Quer dizer, sem covid, mas com problemas respiratórios ainda.  

Nosso isolamento em datas e números, para um dia lembrar e rir do ano de 2020:

17.03.2020 - Edgarzinho teve as aulas suspensas, inicialmente por apenas 15 dias. Havia 290 confirmados de Covid-19 no Brasil e uma morte registrada. Roraima estava feliz: zero casos, zero mortes.

20.03.2020 - Comecei no trabalho remoto.

17.04.2020 - Fechamos o primeiro mês de distanciamento e o Brasil já tinha 33.682 casos confirmados de Covid-19 e 2.141 mortes pela doença.

18.04.2020 - Dados de Roraima: 222 casos confirmados e 3 óbitos.

24.05.2020 - Dois meses após começarem as ações de distanciamento social, mas também de reabrirem comércios, Roraima tem 2.439 casos confirmados e 86 óbitos. Não temos o Hospital de Campanha funcionando e o HGR está lotado em mais de 100 de sua capacidade.

27.05.2020 - Covid-19 em Roraima: 2.959 casos acumulados, 190 internados, 715 recuperados e 102 óbitos, de acordo com o boletim da Sesau.

28.05.2020 - O Brasil já é o novo epicentro mundial da doença e cidades como Boa Vista já anunciam que planejam reabrir tudo oficialmente (porque extraoficialmente o mundo nunca parou).

Esta semana fiquei feliz por várias pessoas conhecidas de longe ou de perto. Vi que tiveram textos selecionados no concurso literário Devair Fiorotti, que ajudei a organizar. Entre várias coisas da organização, fiquei conectando os títulos dos textos aos nomes dos autores nas tabelas dos selecionados. A cada ficha com nome familiar, um "olha, fulan@, foi selecionado. Que bom" ecoava na minha mente. Teve até uns "eu conheço esse nome de algum lugar", seguido de pesquisa nas redes sociais e o encontro com o perfil da pessoa entre os meus amigos virtuais. É bem reconfortante saber que faço parte de uma ação responsável por alegrias e satisfações aos outros.

A chuva cai, quase não corro mais, o peso está voltando e queria encontrar gente, passear um pouco, visitar minha mãe e comer hallaca na casa dela. Mas não tem como se jogar nisso sem riscos e assim chegamos ao final da 11a semana de distanciamento social, isolamento, quarentena, vida normal sem visitas e saídas, nova rotina forever.

Choveu muito ontem. Muito mesmo e com força. Com tanta força que a água decidiu passar pelo telhado, mesmo tendo mandado arrumar tudo lá em fevereiro. Apareceram duas goteiras na sala, uma delas justamente no lugar onde sento no sofá. Linhas de água também escorreram pela parede, a mesma parede que o pedreiro supostamente havia vedado. Que ódio disso.


Com tanta chuva, a noite foi fria. Amanheceu gostoso. Bom para esquecer por alguns momentos que a semana foi tensa no Brasil tanto na área política como na sanitária. Entre os ataques da milícia bolsonarista à democracia e as mais de 25 mil mortes por Covid-19 no Brasil vamos fechando mais uma semana com saúde física aqui na maloca. Já a mental não sei muito bem como anda, mas vamos arrastando até onde der. 


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Este é o nono registro dos meus dias de quarentena e distanciamento social iniciados em março para tentar passar sem danos pela pandemia da covid-19. Tem outras postagens aqui.

sexta-feira, maio 22, 2020

Diário da Covid-19: as mortes começam a ter rosto

Semana passada cheguei a anotar algumas coisas para o Diário da Covid-19, mas desisti na quinta. Muita morte, muita tristeza, muito cansaço mental. De que adiante escrever sobre meu minúsculo mundo diante de um universo de dores e outros absurdos?

Fui fazer outras coisas, escrever umas prosas, me inscrever em concursos, ser jurado de concurso literário, fazer a edição do romance de um amigo, descobrir uma série de humor na netflix, beber algo à noite. Não o suficiente para acordar tarde, não. Continuo madrugando, mesmo que não queira. E quando quero ficar mais na cama, sempre há o Balu para vir bater na cama e pedir que lhe abra a porta da cozinha. Minha vingança vem no outro dia, quando acordo mais cedo que ele e o faço sair do descanso. Ele, fiel cãozinho, fica tomando conta de mim lá da varanda ou colado em meus pés enquanto como. Tanto amor traz resultado: lhe fiz um poema esta semana, uma haikai (ou quase um haikai):

 


Tenho tentado manter a regularidade das corridas. Os amanheceres mais frios ou a pura preguiça têm vencido algumas batalhas matutinas. Engano minha mente dizendo que é bom para o corpo descansar, que meu calcanhar direito reclama se correr dois dias seguidos, que capinar é bom também para o corpo e ativa outros músculos. O certo é que estava com medo de voltar a ganhar peso, o que não aconteceu nos últimos, apesar de notar ou imaginar um crescimento na barriga. Talvez seja ilusão. Hoje vi uma foto minha de sete anos atrás na aula de pilates e me pareceu que o corpo estava parecido com o formato atual. Edgarzinho está na foto. Ele sim mudou muito. Minhas rugas também.

 

Estou estudando como se fazem haikais, a propósito. O básico eu sei: são três versos com cinco, sete e cinco sílabas poéticas cada um. Fácil, mas...o que são sílabas poéticas? Zanny tentou me ensinar, meio que entendi, fomos no youtube pegar vídeo aulas e estou nessa, praticamente como o meu filho e suas aulas remotas. Mais duas e acho que pego na teoria como é.

 

Ainda sobre literatura e coisas que nos distraem no meio da pandemia, editei um vídeogravado com outros autores de Roraima para estimular as pessoas a lerem eficarem em casa. Tomara que dê certo, porque os casos não param de subir em Roraima, terra em que geral parece não acreditar nessa doença inventada pela mídia. Até ontem, 21 de maio de 2020, eram 83 óbitos no Estado. Parece pouco, mas é muito. São vidas, amores, quereres, sonhos que se apagaram. Os mortos agora começam a ter rosto. Da semana passada para cá foram três amigos ou conhecidos perdendo parentes e vários dando entrada nos hospitais para serem entubados. E quando a ceifadora se aproxima, o medo ganha espaço no cotidiano.


Cheguei a escrever no facebook que parte desse caos vivido no Brasil era causado pela irresponsabilidade do presidente, que desde o começo contrariou todas as recomendações da Organização Social da Saúde, dando o mal exemplo e trazendo medo e tristeza ao Brasil (até ontem eram mais de vinte mil mortos e hoje saiu matéria dizendo que a América do Sul, puxada pelo Brasil, é o novo epicentro mundial da doença). Um colega jornalista bolsonarista-evangélico respondeu que estava sentindo-se seguro e feliz. É o tipo de resposta que me faz acreditar na falência da sociedade brasileira. Se não há empatia, o que sobra?


Trecho final (ou começo, dependendo do ângulo) da rua de barro na qual corro. Parece que vão fazer  alguma obra bem grande nela

Hoje de manhã acordei às 4h30, ou levantei às 4h30, não lembro. Só sei que estava escuro e meio que chovia (ontem a ventania deu medo. Mais um quilometro por hora e levava as telhas). Acordei tenso porque ontem de manhã ficamos sabendo que minha vó materna Maria José possivelmente está com covid-19. Ela tem 94 anos e fuma desde os seis. Seu pulmãozinho não segura uma onda dessas. Segurei o dia todo bem, mas o subconsciente amanheceu querendo pifar. Fui correr com o gosto de quem precisa colocar para fora toxinas e medos.


Antes de correr fiz um comparativo sobre o que equivale a 83 mortos por coronavírus. São:

1. Sete times e meio de futebol de campo.

2. Três ou quatro quadrilhas juninas.

3. Quase dois ônibus lotados da Eucatur.

4. Quase três salas de aula bem cheias.

5. Mais do cabe num avião turbo-hélice ATR 72-600, tipo os da Azul.

 

Não é uma gripezinha, não é complô contra o presidente, não é invenção da mídia, jambu não cura e oração não espanta o vírus. Fica em casa se não precisar sair. E se sair, usa máscara e lava as mãos. Não é só pela tua vida, mas pela vida dos outros. 

 

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Este é o nono registro dos meus dias de quarentena e distanciamento social iniciados em março para tentar passar sem danos pela pandemia da covid-19. Tem outras postagens aqui.

sexta-feira, maio 08, 2020

Diário da Covid-19: rotinas, lives e aquele desconforto de dois meses distanciado do mundo

Sábado, 02.05

Osvaldo voltou para o seu galho. Me lembra uma música do Nicola de Bari esse seu vaivém pelo mundo. (Sim, música de velho. Nicola de Bari me relembra meus pais e um disco que tínhamos quando vivíamos na Venezuela). 

Saí para correr eram 6h30 e o céu estava bem nublado. 


Vi milho na avenida de barro, a chuva me pegou e dei um pique violento para voltar à casa. No meio da corrida lembrei das aulas de educação física na escola primária. Nunca fui bom de pique e sempre era o último a chegar. 




Chuvisca e do conforto de minha casa penso nas filas na frente das agências da Caixa Econômica Federal. Desde ontem, pelas fotos que vi nos grupos, tem gente esperando para sacar a grana do auxílio emergencial. Tenho sorte de não precisar disso. Poderia alegar meritocracia, como muitos, mas não. Sei que tive sorte de ter apoio para poder estudar em paz.  

Balu, fiel companheiro das manhãs. Quem vê, não sabe o quanto me perturba querendo me lamber na hora das flexões. 



Almas sebosas fizeram um card espalhando que havia mais contaminados em Roraima pela Covid-19 do que o número real oficial. O pessoal no grupo dos jornalistas comentou, perguntou e só de noite a galera da comunicação do governo se coçou para arrumar. Antes tarde do que nunca.

Dia de filme em família. O ator é o amoreco da Zanny, Will Smith. "Focus" tem cenas rodadas em Buenos Aires e eu reconheço algumas locações por conta da viagem para lá em...2017, 2018...Faz tanto tempo. Aproveito e explico/digo para Edgarzinho que os autores de certa música que toca no filme é a banda Rolling Stones. 


 
Domingo, 03.05

Oswaldo (com W, como sugeriu a Vanessa), voou. 

Finais de semana são dias longos quando não se tem para onde ir. Zanny desde ontem à tarde está chapiscando o muro. É minha poeta-pedreira ou é pedreira-poeta? De noite, depois da labuta na obra, botou um vídeo no Youtube com a Regina Lima cantando um xote que compôs. Minha compositora-pedreira-pedrita. 

E eu? De uma cadeira para outra. Incomodado com o calor e dores na cervical e nos braços não faço nada além do normal obrigatório. Não varri nem passei pano e o banheiro só lavo segunda ou terça agora. Era pra gente ter ido no APT arrumar, mas não rolou disposição. Só achei forças para ver uns vídeos sobre o uso das serras tico-tico. Está na hora da gente mexer na que compramos há meses e nunca testamos. 

Sobre planos e 2020: 


A agonia de não ter o que fazer me fez fazer o que há meses queria: fui do lado de casa, peguei um pedaço de cerâmica e pintei. Passei o tempo e me diverti. Acho que nasce um novo Basquiat.



Segunda, 04.05.20

Oswaldo não voltou para o seu galho. 

Preguiça + frio= sem coragem para sair cedo de casa e ir correr. Melhor puxar a nêga para dormir no meu peito. 

Morreu o cantor e compositor Aldir Blanc. Motivo: Covid-19. Hoje é dia de ouvi-lo muito, sobretudo Catavento e Girassol. Aldir se soma a outros 7.025 mortos até ontem no Brasil por conta do coronavírus. Norte e Nordeste registram maior número de mortes e contaminados. Roraima tem 806 casos confirmados e 11 mortes. Até ontem eram 32 pessoas internadas. Enquanto uns morrem, o que o presidente fez? Foi para manifestação em BSB a seu favor e a favor de um golpe de estado. Levou a filha pequena e bandeiras dos EUA e de Israel (subserviência que fala?) para o protesto. 


Que merda o Brasil fez? Que merda o brasil (assim, minúsculo mesmo) continua fazendo?

Jornalistas foram agredidos. O mundo político e social reage, mas o bolsonarismo não recua. Em Roraima o povo acha que jornalista deve apanhar também. Basta ser da Globolixo ou e qualquer veículo que não elogie o genocida. Todo mundo é especialista em pauta e cobertura agora.

Me diverti: fiz uma live no instagram com o Timóteo. Era para ser 20 minutos apenas e a primeira hora passou voando. Só percebemos quando o sistema do IG nos expulsou. Voltamos e ficamos quase outra hora. Algumas pessoas queridas ficaram nos acompanhando em nosso papo de boteco. Ah, sim. Não falamos de nada e falamos de tudo. Tipo aquela série de humor do Seinfeld. 



Terça, 05.05.2020

Acordei animado para ir correr, tipo umas cinco horas. Murchei quando vi que tava garoando. Só parou de chover lá pelas 9h. Saco.

Oswaldo, o viajante, voltou para seu galho. Ou será que é outro, um primo, um sósia, um irmão gêmeo? 

Oswaldo tá lá, meditando, e dois periquitos e outro passarinho no maior converse na árvore dele (ou nossa?). 

Dia de pintar cerâmica. Fiz mais uma de manhã. Acho que foi esse esforço que me deixou com dor de cabeça. 

Tarde meio quente. Trabalho remoto eu, Zanny mexendo com as mudinhas de pitanga, Edgarzinho já fez as tarefas e fica conversando com a vovó Alba sobre o jogo de celular.

Chegou e-mail de uma revista dizendo que tive um poema selecionado para a próxima edição on-line. Fiquei contente. 

Vanessa passou um som cantado em espanhol dum cantor daqui, o Murilo Modesto. Fui ouvir o EP todo e gostei. Eu passei sons que falam de migração para várias pessoas. Hoje teve música que só nos inbox da vida.

Corri de noite na escuridão da rua de barro. Minhas pernas doeram e faltou ar. Não rendeu. Não rende quase nunca.

Lua cheia na rua de barro

Pintamos, Edgarzinho e eu, cerâmicas.

13 mortos por Covid-19 em Roraima 

Quarta, 06.05.2020

Balu me acordou, Oswaldo amanheceu no galho do abacateiro, choveu até umas 9h, 10h. Pesquisei concursos literários, discuti a relevância musical de Los Hermanos com a Vanessa, trabalhei quase sem net à tarde, vi uns vídeos de matemática com Edgarzinho (minha memória de peixinho dourado para números continua a mesma). Fechei com o Timóteo para fazer uma live de noite.

Live do ano

Fizemos a live. Matamos um pouco a saudade e fizemos o povo rir um pouco. Ficou numa média de 10 a 12 pessoas, mas repetíamos para o público que eram 10 mil. Faltou energia no final e rolaram efeitos especiais. A Jéssica mandou prints pra a gente lembrar como foi. 









Quinta, 07.05.2020

Fui dormir umas 23h30. Acordei não sei que horas, mas quando cansei de tentar voltar a dormir, eram 5h06. Corri. Não queria, mas manhãs sem chuva serão raras. No grupo dos jornalistas, Cyneida compartilha matéria sobre a idiotice de um general da operação Acolhida. O cara prega a imunidade de rebanho.   

Quero, mas não consigo produzir literatura. Fico a manhã toda entre o Whatsapp e as redes sociais conversando e vadiando. A casa toda está em slow. Sobretudo o Edgarzinho, aproveitando a TV nova que lhe comprei com suas economias de mesada e outras granas recebidas dos avós durante meses. (Receber um produto em casa nunca mais será simples: eu peguei a caixa na varanda com todo o cuidado do mundo e Zanny limpou até os pés do aparelho, mesmo tendo chegados embrulhados. Desconfiança nunca é demais.).

Estou cansando da situação, do todo. Ontem a Isadora me perguntou como andavam as coisas e lhe disse:

Entre a felicidade de ter um emprego em que posso fazer trabalho remoto, a agonia de ver meia Boa Vista ignorando a pandemia e a ansiedade de ver tudo isso passar e poder fazer compras sem achar que vou pegar e passar a doença para minha mulher e filho. Ah, e com saudades de minha mãe e avó, que não visito há quase 50 dias ou por aí.
Basicamente assim ando.

De tarde, no grupo dos escritores, ficamos sabendo que a filha da Jacinta teve Covid-19 e está em recuperação. Febres intensas e outros sintomas durante dias, conta. Assustador. Fez um poema sobre isso. 



Estamos todos quebrando sem querer.

Às 18h, Oswaldo não estava na árvore. A noite está fria. Edgarzinho usa meu gorro dos Andes e boto uma manga comprida pela primeira vez no inverno. Minha mãe não atende a ligação, o vizinho prepara uma carne cheirosa que só e bebo uma cerveja na varanda. A noite e a vida ainda continuam. Vejo mais um capítulo da série Peaky Blinders, algo curto no Youtube e vou dormir.  

Sexta, 08.05.2020

É madrugada, acordo, chove, como, Zanny faz yoga, Edgarzinho e dona Alba dormem. Temos conforto, mas isso não impede o desconforto. Como será o retorno à normalidade? Quando será o retorno à normalidade? E digo normalidade porque acredito que não melhoraremos enquanto mundo. Falimos. Somos um país binário e quem está no centro é para sentir-se superior (mesmo não havendo centro que dure duas chuvas). Sabe a cabeça pesando? Sabe o tempo pesando? São nove semanas assim já. Domingo é dia das mães e eu, que nunca liguei para datas assim, morro de vontade de passar o dia com a minha velhinha, de pedir a benção de minha avó Maria José. Comemos, temos o que comer, mas isso não impede outras fomes. Somos mais que um estômago, mais que necessidades físicas. Ontem teve forró em alguma das casas por trás da nossa. O povo não aceita ficar quieto, isolado. Roraima é fronteira, terra de ninguém, terra de oportunidades. Lembro que um perfil de humor no instagram me bloqueou porque comentei que estava fazendo piadas xenofóbicas com venezuelanos e a questão do auxílio emergencial. Replicou dizendo que era crítica social. Respondi dizendo que não e apontei a outra piada do dia, homofóbica. Ganhei block... Roraima, terra onde gente se apropria de referências indígenas para repetir o discurso opressor. Quantos casos teremos hoje registrados? Essa nossa curva deveria estar caindo, mas somos irresponsáveis, somos semideuses vacinados contra tudo e contra todos depois de tantos anos de dengue, malária, paludismo, viroses sem nome e sem destino. Choveu de tarde, apareceram umas goteiras onde não havia goteiras. Um dia, quando a pandemia baixar, chamarei o rapaz que fez o conserto das outras goteiras. Quando será que voltaremos à normalidade? O que será a nova normalidade? Estou cansado deste diário e pode ser que seja o último, pode ser que não. Leila disse para ler A peste, de Camus. Baixei no celular, baixe no computador, mas tenho preguiça de ler muito em PDF. A peste, apeste, peste. São quase 18h, termina mais uma semana de trabalho remoto, minhas costas doem e não vou revisar o que escrevi hoje. Quem ler, que ache os erros. Zanny, preta linda, fez bolo e eu fiz suco de limão. 

Oswaldo não dormiu, mas amanheceu no abacateiro. E pegou chuva o dia todo.


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Este é o oitavo registro dos meus dias de quarentena e distanciamento social durante a pandemia da covid-19. Tem outras postagens aqui.


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