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quinta-feira, setembro 06, 2012

Sentimentalismo latino


Em algum momento na longa vida deste blog já falei que nós, criados na América espanhola, temos forte tendência a ser o que alguns brasileiros definiriam como amantes da música brega. 

Mesmo num país como a Venezuela, onde o merengue e a salsa dão, literalmente, o ritmo da vida, há espaço para músicas como as rancheras, originárias do México, que batem fundo em corações apaixonados.

São letras e melodias feitas para embalar corações apaixonados, estando ou não sendo correspondidos. 

Lembro que quando era criança vi muitas pessoas em bares e tascas ouvindo esses sons e chorando por uma mulher ou um cara filh@ de uma mãe que não lhes dava a devida atenção. 

Uma boa música ranchera e uma garrafa de cerveja ou de rum fazem a diferença na hora de aliviar as dores do amor. Muito melhor que ouvir rock. Aliás, se há algo com que o rock não combina é com alivio para um coração machucado. Ou não?

Voltemos à minha história: já no Brasil, por questões geográficas, me afastei das rádios e dos ambientes onde se ouvia música ranchera. Verdade que trouxe e ao longo dos anos comprei fitas cassete (lembra disso?) e CD’s que agiam como pontes entre as recordações de meu passado na Venezuela e o  presente, tão cheio de outros ritmos em língua diferente.

E aí chegou a internet, facilitando o acesso aos mp3 da vida. E veio o youtube, alimentado por milhões de pessoas dispostas a compartilhar seus acervos originais e pirateados. E veio forte como nunca a onda das regravações. E veio Maná, regravando, como já fez com um monte de composições rancheras, Hasta que te Conocí, escrita por Juan Gabriel. E vim eu, consolidando minhas conclusões sobre o Maná: são bregas que só e é por isso que são bons e eu gosto.

Tudo isso foi para te apresentar duas versões da mesma música. No primeiro você verá Hasta que te conocí interpretada pela turma do Fher. No segundo está uma versão longa com Juan Gabriel acompanhado por mariachis  e uma uma orquestra sinfônica. 

Se você tem neste momento algum problema amoroso e entende um pouco de castellano, recomendo que não assista. Emociona. 

Vamos lá, chorar: 






E agora, com Juan Gabriel:

quarta-feira, julho 15, 2009

Fim

No último momento pensou em tudo o que poderia ter feito. Comparou com as suas realizações, acrescentou os momentos de felicidade e somou.
Que se danassem a dor e o desconforto de morrer idoso e doente na cama de um hospital. Sua vida havia sido bem vivida.

quinta-feira, abril 16, 2009

Ratadas, barrigadas etc.


Sou professor de jornalismo pela segunda vez há um ano e meio. Já dei aulas para as turmas do segundo, terceiro e quarto semestre. A cada período, mudam as disciplinas. Se isso me complica um pouco a vida, já que sou obrigado a arranjar tempo para ler novos livros e artigos a cada semestre, por outro amplia a minha visão sobre a parte teórica da profissão e me ajuda a aprimorar meu senso de programação acadêmica.

Atualmente, leciono para o terceiro e quarto semestre. É uma seqüência: 3 e 4. Bem facinho de decorar. O problema é que a idade prejudica minha memória e sempre tenho que fazer força para lembrar quais são as turmas. Demoro em média uns cinco segundo até conseguir dar o nome correto de cada uma. As disciplinas eu decorei o nome, inventei siglas próprias para minhas anotações e tal, mas as turmas...

Até o pessoal que fica nos corredores já decorou quais são. Quando chego reservando o projetor ou um laboratório, eles dizem: - Terceiro ou quarto, professor?

Eu fico assim, pensando, até me lembrar qual é a turma.

Há umas três semanas organizei uma palestra sobre a influência das Assessorias de Imprensa (AI) na agenda da mídia. Íamos discutir isso, agenda setting, fluxos da comunicação etc. Daí eu abro a palestra, apresento os convidados às turmas e vice-versa. Os convidados falam, abrimos para perguntas e eu digo:

- E aí, pessoal do quinto (a minha turma) ou do terceiro (convidados especiais), não vão perguntar mais nada?

Um dos meninos olha para os lados e diz: professor, nós somos do quarto semestre.

Aí veio outro e falou: e nós somos do segundo...

Um segundo de estupefação e a minha resposta clássica para estas situações: quinto, quarto, segundo, terceiro, é tudo a mesma coisa, gente. Tem pergunta ou não?

A última ratada foi ontem. Mandei um texto para divulgar no site da faculdade uma palestra no quarto semestre abordando mídia e religião. E já fui escrevendo com aquele cuidado de não trocar a numeração. Deu certo na última parte do texto, mas na primeira falhou a revisão: em vez de quarto, lá ficou o maldito quinto semestre aparecendo logo de cara.

O pior é que quando sai escrito não dá para falar “quarto, quinto, tudo é a mesma coisa”.


................
P.S: Veja no blog Terceiro Semestre as impressões da molecada após fazer matérias para o jornal-laboratório União Informa.

P.S.2: Faça um blogueiro feliz. Comente este post e todos os que você ler aqui.

sábado, abril 04, 2009

A história de meu nome


(Exercício para a oficina do Fábio Malini, publicado originalmente aqui)


- Nome?

- Edgar

- Nome completo, por favor?

- Edgar Jesus Figueira Borges.

- Dos nomes, algum é herança de um antepassado, amigo dos pais, ator de novela?

- O Edgar é de meu avô materno. O Jesus veio direto de meu pai, Sebastião Jesus.

- Legal…

- Na verdade, o nome era para ser Edgar Borges Ferreira Neto, mas na Venezuela não aceitaram.

Fotinha de passaporte


- Como?

- Deveria ter sido registrado com o nome de meu avô materno, mas como nasci na Venezuela - os meus pais são brasileiros, antes que você pergunte - as leis da época não deixaram e tal.

- Que chato.

- Nada. Juntou o Edgar Borges de meu avô com o Jesus Figueira de meu pai. Ficou quase igualzinho.

- E que nome profissional você usa?

- Edgar Borges.

- Ou seja, deu no mesmo, né?

- Então…mas lá na Veneca o costume é te chamar pelo sobrenome do pai. Isso significa que até os meus quase 15 anos fui Edgar Figueira.

- Isso não te dá uma crise de identidade?

- Nada. É uma história legal de se contar. Imagina meu filho explicando de onde saiu o Bisneto dele.

- Como?

- Meu filho…

- Sim…

- Edgar Borges Ferreira Bisneto. Fiz até um blog, que não alimento mais, para ele.

- Cara, você gosta de teu avô, heim?

- Gosto, o velho é gente boníssima.

- Ok, então. Pode sair. Próximo!

- Peraí. Sabia que ainda tem o meu tio, que é o Edgar Filho, e um jornalista, como eu, que é da Venezuela, é escritor premiado e tal, que também se chama Edgar Borges?

- Sério?

- Sério, vai no Google que tu acha.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O fim de uma era

Atrasado no assunto, relembro a renúncia do comandante Fidel Castro. Liderança carismática que encantou e inspirou centenas de pessoas nos últimos 50 anos, Fidel abre vastas possilidades para o futuro da da Ilha de Cuba. Politicamente, sugere representar o fim de uma era. As revistas semanais devem deliciar-se na próxima semana mostrando a penúria pela qual passam os cubanos em algumas situações e ignorar solenemene as conquistas nas áreas de educação e saúde.

Da minha parte, meus planos de um dia ir a Cuba e assistir a um discurso de Fidel no meio de seu povo estão descartados. Só não fico mais frustrado por lembrar que em 1999 o vi em Belo Horizonte.

Estávamos eu e dois colegas de faculdade (os hoje jornalista André Vasconcelos e químico Rhayder Abensour) em um congresso da União Nacional dos Estudantes realizado na capital mineira. Fidel estava no País e atendeu a um pedido da UNE para discursar no congresso.

Lembro que a euforia tomou conta de quase todos os participantes. Na entrada do ginásio Mineirinho, um casal que não era estudante disse que fazia questão de ver Fidel discursar.

Fidel chegou muitas horas depois de seus seguranças ocuparem pontos estratégicos no ginásio. A posição que ocupei no meio da quadra do ginásio, longe das poucas caixas de som instaladas pela organização, transmitiram palavras cortadas durante boa parte do discurso. Quase no final percebi que o melhor local para ouvi-lo era bem na frente do palco. Tarde demais. Cansado e aborrecido, continuei, desta vez por escolha, no lugar aonde a som chegava ruim.

Fidel se retira da cena principal e deixa Raúl, seu irmão, como sucessor. Eu nunca mais terei chance de ouvi-lo.
Um dia, entretanto, quando meu filho ler em algum livro de história sobre esta figura da história mundial, poderei dizer: papai esteve em um discurso dele.

Na sequência, o texto de despedida de Fidel, traduzido e copiado da Agência Estado:



"Queridos compatriotas:

Prometi na última sexta-feira, 15 de fevereiro, que a próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. Este artigo adquire esta forma de mensagem.

Chegou o momento de postular e eleger o Conselho de Estado, seu presidente, vice-presidentes e secretário.

Desempenhei o honroso cargo de presidente por muitos anos. Em 15 de fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição Socialista por voto libre, direto e secreto de mais de 95% dos cidadãos com direito de voto. A primeira Assembléia Nacional foi constituída em 2 de dezembro do mesmo ano e elegeu o Conselho de Estado e a sua Presidência. Antes, exerci o cargo de primeiro-ministro durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo.

Conhecendo o meu estado crítico de saúde, muitos no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de presidente do Conselho de Estado, em 31 de julho de 2006, que deixei nas mãos do primeiro-vice-presidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. O próprio Raúl, que ainda ocupa o cargo de Ministro das Forças Armadas Revolucionárias por méritos pessoais, e os demais companheiros da direção do Partido e do Estado, foram resistentes a considerar-me afastado de meus cargos, apesar de meu precário estado de saúde

Era incômoda minha posição frente a um adversário que fez de tudo para se desfazer de mim, e em nada me agradava comprazê-lo.

Mais adiante pude alcançar novamente o domínio total da minha mente, a possibilidade de ler e meditar muito, obrigado pelo repouso. Me acompanharam as forças físicas suficientes para escrever por muitas horas, as quais compartilhei com a reabilitação e os programas pertinentes de recuperação. Um elementar sentido comum me indicava que esta atividade estava ao meu alcance. Por outro lado, me preocupo sempre, ao falar da minha saúde, em evitar ilusões que no caso de um desenlace adverso, trariam notícias traumáticas ao nosso povo no meio da batalha. Prepará-lo, psicológica e politicamente, para minha ausência, era minha primeira obrigação após tantos anos de luta. Nunca deixei de assinalar que não se tratava de uma recuperação "isenta de riscos".

Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último sopro. É o que posso oferecer.

"A meus queridos compatriotas, que me deram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo seio devem ser adotados acordos importantes para nossa Revolução, comunico que não aspirarei e nem aceitarei - repito - não aspirarei e nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-chefe."

Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, diretor do programa 'Mesa Redonda' da televisão nacional, que foram divulgadas por minha solicitação, foram incluídos discretamente elementos da mensagem que hoje escrevo, e nem sequer o destinatário das mensagens conhecia meu propósito.

Confiei em Randy porque o conheci bem quando ele era estudante universitário de Jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos alunos, que já eram conhecidos como o coração do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se abrigavam. Hoje, todo o país é uma imensa universidade.

Parágrafos selecionados da carta enviada a Randy em 17 de dezembro de 2007:

"Minha mais profunda convicção é de que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana - que possui uma média educacional próxima de 12 graus, quase um milhão de pessoas com ensino superior completo e a possibilidade real de estudo para seus cidadãos sem nenhuma discriminação - requerem mais soluções para cada problema concreto do que as contidas em um tabuleiro de xadrez.

Nenhum detalhe pode ser ignorado, e não se trata de um caminho fácil, se é que a inteligência do ser humano em uma sociedade revolucionária prevalece sobre seus instintos.

Meu dever elementar não é me perpetuar em cargos, ou impedir a passagem de pessoas mais jovens, mas fornecer experiências e idéias cujo modesto valor provém da época excepcional que pude viver. Penso como (Oscar) Niemeyer que é preciso ser conseqüente até o final".

Carta de 8 de janeiro de 2008:

"Sou decididamente partidário do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado). Foi o que nos permitiu evitar as tendências de copiar o que vinha dos países do antigo bloco socialista, entre elas a figura de um candidato único, tão solitário e ao mesmo tempo tão solidário com Cuba.

Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças à qual pudemos continuar o caminho escolhido. Tinha muito presente que toda a glória do mundo cabe em um grão de milho.

Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total quando não estou em condições físicas de oferecer isso. Explico sem dramaticidade.

Felizmente nosso processo conta ainda com quadros da velha-guarda, junto a outros que eram muito jovens quando começou a primeira etapa da Revolução. Alguns quase crianças se incorporaram aos combatentes das montanhas e depois, com seu heroísmo e suas missões internacionalistas, encheram de glória o país. Contam com autoridade e experiência para garantir a substituição.

Dispõe igualmente nosso processo da geração intermediária que aprendeu conosco os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução.

O caminho sempre será difícil e exigirá o esforço inteligente de todos. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis da apologética, ou da autoflagelação como antítese. É preciso se preparar sempre para a pior das hipóteses.

Ser tão prudentes no êxito quanto firmes na adversidade é um princípio que não pode ser esquecido. O adversário a derrotar é extremamente forte, mas o mantivemos longe durante meio século.

Não me despeço de vocês. Desejo apenas lutar como um soldado das idéias. Continuarei a escrever sob o título 'Reflexões do companheiro Fidel'. Será mais uma arma do arsenal com o qual se poderá contar. Talvez minha voz seja ouvida. Serei cuidadoso.

Obrigado

Fidel Castro Ruz

18 de fevereiro de 2008"