terça-feira, janeiro 17, 2006

Roraima blues

Entra sem avisar, muda a estação da rádio, me leva da bossa nova ao blues, do samba ao rock n' roll. Sorri, pareço um tonto, perco os sentidos ao entrar em seus olhos e notar a diferenças da vida.
Conversa comigo em uma língua estranha - não há dicionário para traduzir seu efeito. Morde minha orelha e diz que vinho bom é vinho quando se ama. Toco suas costas e conto cada poro com a boca. É uma conta sem fim.

De seus dedos, tocando-me, parece sair música. Danço o ritmo que ela quer. A angústia de sua chegada é como a angústia da partida.

Rio, choro, grito, maldigo seu efeito em mim. Não sou mais homem. Sou criança pedindo atenção, pássaro sem asas, sonhador rogando por imaginação.

Esfrega-se em mim e penso que Deus é justo, mesmo sem acreditar em divindades. Um riso em meu peito é um roce na pouca paz que ainda me resta. Depois me aperta, ajudando-me a não fugir de minha condenação. Fecho os olhos e acho que enfim sou feliz enquanto rabisca sua poesia para marcar em mim seu território. E a madrugada vira manhã, tarde, noite, infinito.

De repente, alma entregue, corpo submerso, navego, flutuo, deslizo até o vulcão. Queimo, rio, é janeiro e acho que chove lá fora.

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