Viagens ao Interior de Roraima: Rock na Floresta 3
Estive em São João da Baliza neste final de semana para ministrar uma oficina de criação literária em blogs. O Município fica a 320 tortuosos, esburacados e difíceis de trafegar quilômetros de Boa Vista. Total da viagem: 740 tortuosos, esburacados e difíceis de trafegar quilômetros. Um abandono que incomoda.
A oficina fez parte da programação do Rock na Floresta 3, evento promovido pelo curso de Engenharia Florestal da Universidade Estadual de Roraima. A viagem deveria ser rápida, mas demorou quase 4 horas e meia só na volta. A picape 4x4 de Stallyn, vocalista da banda Iekuana, uma das atrações da festa, não aguentou tanto buraco e quebrou uma peça (não sei se a suspensão ou o amortecedor), o que nos obrigou a vir mais devagar ainda.
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É claro que ir de picape é bem mais rápido que ir no micro-ônibus que levou uma pá de gente de Boa Vista para tocar e ministrar oficinas na região sul de Roraima. Foram duas bandas (Hathor's e Iekuana) e vários oficineiros, entre eles Tana Halú, companheiro do Coletivo Arteliteratura Caimbé.
Eu saí de Boa Vista no sábado às 9h30 e cheguei lá por volta das 14h. A turma saiu na sexta às 20h e chegou mais ou menos às 4 da matina, contando aí duas horas para o jantar em Caracaraí. No meu caso, foi descer, almoçar e correr para a sede da Escolegis, onde ia rolar a oficina. Turma boa, com uns 12 meninos e meninas da UERR e do ensino médio. Tudo correndo muito bem, com explicações e uma atividade de redação, até a hora de criar os blogs de cada um.
Justo aí, no segundo tempo deste jogo de realidade e ficção, a internet travou e não abriu o Blogger nem o Wordpress. Abri tudo na web, menos essas duas plataformas. Para fechar a rodada, faltou energia. Ainda bem que a turma levou tudo no bom humor e se contentou com imaginar, levados pelo meu relato, como se faz uma postagem de texto, foto, link e vídeo. Enquanto falava, lembrei dos relatos do povo que cursou jornalismo no começo da UFRR: como não havia máquinas para manusearem, ficavam apenas vendo os desenhos feito nos quadro representando as peças e os ajustes.
A cidade e o show– São João assiste todos os dias à programação jornalística gerada pela TV Globo de Boa Vista. Ou seja, se por um lado vê o que acontece na Capital, não se reconhece na televisão. É como o morador da área rual que para toda noite para ver o Jornal Nacional: tem tudo lá, menos ele.
Apesar da dificuldade de chegar até lá, as coisas melhoraram. Os balizenses têm hoje como ligar para o mundo, via operadora de celular OI. Por outro lado, me contaram que a única empresa que oferece internet no local está deixando a cidade. Nas rádios, são servidos pelas ondas de uma sediada no município de Rorainópolis e por outra comunitária, que é administrada/gerenciada/ por um vereador ligado ao grupo político de Mecias de Jesus, deputado estadual muito influente na região.
Ficamos na área central da cidade. Além da Escolegis, as oficinas e palestras rolaram também na sede do Sesc Ler. Os shows, incluindo aí a da turma da Onore, aconteceram no ginásio poliesportivo coberto, inaugurado em 1992 pelo finado ex-governador Ottomar Pinto.
Um passeio rápido por algumas ruas e já dá para descrever a essência de São João: muitas casas sem muro ou cerca, muita arborização nos terrenos, diversas residências abandonadas, outras estalando de novas e lá no final de uma das avenidas principais a mata, imponente ao mostrar que já havíamos saída muitos quilômetros atras da área do cerrado. Na verdade, talvez impotente diante do certo avanço da área urbano em sua direção.
O Rock na Floresta 3 durou dois dias. O fechamento com as bandas reuniu um bocado de universitários e seus amigos em busca de rock. Os músicos mandaram muito bem: Onore representou São João com seus covers de pop-rock e a turma da Hathor's colocou o povo para pular com as canções da Pitty (um salve à vocalista, mirradinha de tamanho, mas uma gigante no controle do público).
A galera da Iekuana subiu no palco às duas da madruga e mandou, excetuando uma d'O Rappa, só composições próprias. Puta show dos caras, encerrando uma boa noite de rock na terra onde o forró e o brega dominam ruas, restaurantes e qualquer espaço onde possa ser ligado um aparelho de som.
A melhor cena – 7h20, 7h30 de domingo e já de de pé para o retorno. Em Baliza, a névoa cobre as árvores que daqui a pouco vão nos proteger do sol escaldante que queima as ruas. Cenas como essa (a da névoa) não se encontram facilmente em Boa Vista, terra do calor.
Salve, São João.
(As fotos do evento eu coloco quando Tana Halú mandar)