Duas coisas que venho pensando há dias e quero compartilhar
antes de domingo:
A campanha está acabando e eu li muita bobagem e muita coisa
interessante escrita pelos eleitores dos candidatos aos cargos majoritários.
Percebi um ponto em comum: damos, me incluo, muita importância
a quem vai ficar nos postos de governador e presidente e acabamos sem fazer uma análise mais apurada do tipo de
congresso que o Brasil precisa. Os senadores e deputados federais (e os
estaduais também) são os nomes que de fato mandam no país. Qualquer reforma,
qualquer lei, qualquer iniciativa dos
gestores passa pela câmara e pelas assembleias.
Então, para que votar em pessoas que não estão comprometidas
com um Brasil melhor, mais justo, menos opressor? Escolher ruralistas, fundamentalistas
religiosos, gente que compra voto descaradamente, gente que é parlamentar há
décadas e nunca apresentou projetos ou defendeu ideias relevantes, representantes
do grande capital e outras linhas afins não vai ajudar nada na construção de um
país diferente.
Mas isso é óbvio, né? Tão óbvio que estou com medo que as
pessoas esqueçam e reelejam os piores e elejam os mais vazios...
Bem, essa era a primeira coisa. A segunda tem a ver com
política cultural. Ou melhor, com as propostas (e a falta delas) de gestão
cultural dos candidatos ao governo de Roraima.
Não vou comentar as propostas de Hamilton (PSOL) para o
setor por absoluta falta de conhecimento do que propôs para o setor. Dito isto,
vamos para a minha opinião sobre:
Chico Rodrigues, candidato à reeleição pelo PSB: o fato da
Secretaria Estadual de Cultura ter ficado sem titular durante quase três dos
cinco meses de gestão do atual governador já pode dizer muito sobre a relevância
do setor para ele.
Li um folheto com as suas propostas para a próxima gestão e
a única referência a cultura era criar um Fundo Estadual de Cultura. O problema
é que ele vai ter que fazer isso de todo jeito, pois faz parte do pacote
assinado com o Ministério da Cultura há anos.
Quer dizer, não apresentou nada
de novo, nada de proposta.
Isso ainda não é o que me incomoda mais em seu governo. Pior
mesmo é prever que a Secult continuará inoperante, pensando e atuando como se ainda
fosse uma divisão da Secretaria de Educação, sem buscar capilarizar suas ações,
ensimesmada nas práticas de gestão que remetem ao antigo Território Federal de
Roraima, tempo dos projetos aprovados no balcão para os amigos e compadres. Cadê
editais, programas, propostas de antenar-se mais com a linha seguida pelo
Governo Federal?
O que me dói é que participei de tantas ações pressionando o
governo pela criação da Secult e deu nisso...
Enfim, vamos para Ângela Portela (PT). Deixaram em minha
caixa de correios um folheto com suas propostas. Ela, salvo engano, elencou
quatro ou cinco ações para o setor de cultura. Me deu um desânimo quando vi que
a mais destacada era fortalecer a lei de incentivo, focada na renúncia fiscal. Quer
dizer, mais do mesmo tipo de fazer cultura? O produtor/artista vai ter que continuar
a bater perna para conseguir no mercado o apoio aos seus projetos? Vai seguir
na linha do que já vem sendo feito há anos?
Ah, sim. As demais propostas estão todas previstas no Plano
Nacional de Cultura, discutido, aprovado e sendo tocado pelo Governo Federal.
Mas isso não me incomoda tanto quanto a possibilidade de
Ângela colocar à frente da Secult algumas figuras locais que se ligaram ao PT
para conseguir cargos e vantagens no setor, mas que nunca atuaram para valer se
não fosse para garantir um naco a mais no jantar de gala. Fiquei imaginando a turma
montando seus feudos nas verbas da Secult e mantendo a gestão empacada como
sempre...mas é claro que isso deve ser má vontade minha, encrenqueiro que sou
por não acreditar na boa fé destas pessoas.
Fechando, vamos para Suely Campos (PPS). Confesso que não vi
suas propostas, mas como tive contato com ela durante o tempo em que foi
vice-prefeita de Boa Vista e lembro dela do tempo em que foi primeira-dama, vou
deduzir: deve colocar para gerir o setor aquela turma de gente antiga, que
nunca ouvir falar de participação democrática, que pensa em seu grupo primeiro
e cobra apoio a toda eleição, que nunca pôs os pés numa conferência de cultura,
que ignora o processo que está em andamento no Brasil desde a gestão de
Gilberto Gil à frente do MinC.
Ou seja, de todas as possibilidades, a pior é a Suely e sua
turma assumirem o governo. Chega dá arrepios pensar nisso, imaginando o tipo de
comportamento que, tomara, não tenham os futuros gestores do setor.