A Secretaria Estadual de Cultura convocou ontem (17.02.16) os artistas e produtores culturais
locais para uma conversa com a nova titular da pasta, Selma Mulinari.
Mesmo não gostando desse tipo de reunião por não gostar muito de
reuniões, fui lá e ainda chamei os parceiros.
Estava previsto para começar 18h, mas a secretaria só começou a falar por
volta de 18h50. Antes disso, o locutor/apresentador/mestre de cerimônias ficou
convocando os presentes a assumirem o microfone e cantar/declamar/tocar para
animar os presentes.
Me lembrou o sarau que organizo, quando começo a chamar a turma.
A secretaria foi amistosa em sua fala, colocando-se à disposição da comunidade
cultural para trabalhar em conjunto, falou que o Estado tem algumas ações em
vista, lembrou de seu passado como chefe de Departamento de Cultura, disse que
estará sempre aberta para ouvir demandas.
Aí ela passou o microfone para o responsável pelo setor de Turismo no
estado, o Peixoto (conforme foi apresentado) que falou de uma ação de
cadastramento de artistas em parceria com o Ministério do Turismo que pode
gerar cachês bacanas para quem for selecionado.
E só. Acabou a parte séria e começou a confraternização.
O microfone já foi sendo passado para quem queria cantar e o locutor já
chamou o povo para a mesa de lanchinhos que estava sendo servida.
Eu e algumas outras pessoas estávamos esperando o momento do microfone
aberto para quem quisesse apresentar demandas, sugestões, propostas em público.
Não rolou.
Fiquei frustrado. Tipo, foi muito educado mesmo por parte da nova
secretaria apresentar-se ao seu principal público (é bem mais do que rola na
Fundação de Cultura de Boa Vista), mas faltou algo mais. Faltou o momento da
conversa aberta, aquela em que elogios e cobranças são feitas na frente de todos
e não ali no pé do ouvido, na roda com os amigos.
De toda forma, como a secretária disse querer que todos expressássemos
nossas demandas, aproveito este espaço gratuito para pontuar algumas delas e dar
minha contribuição para o sucesso de sua gestão:
1.
Secretária, muitos anseios e muitas propostas dos
produtores de arte e cultura em nosso Estado já estão registrados nos anais das
conferências estaduais de cultura. Peça para sua equipe resgatar esses documentos.
A última foi em 2013.
2.
Dê andamento público aos trabalhos do Plano
Estadual de Cultura. Para nós, produtores e artistas, políticas de estado são
mais produtivas que políticas de governo.
3.
Especificamente falando da nossa área, invista
na literatura, livro, leitura e bibliotecas: nós, que trabalhamos nas cadeias
criativa, mediadora e produtiva do segmento, estamos à margem de quase todos os
investimentos do Estado. Crie editais de prêmios e bolsas para circulação da nossa
literatura e para a produção de livros, por
exemplo. Aplique dinheiro na compra de nossas obras e distribua-as em todas as
bibliotecas de Roraima. Isso nos dará ar
para poder continuar trabalhando. Espelhe-se no que outros estados fazem para
fomentar-nos. Espelhe-se nas boas ações do Ministério da Cultura. E, por favor,
vá além da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Já basta dos produtores e
artistas a pedir dinheiro de empresários para bancar a cultura. Quer dizer, há quem
ache o máximo a lei, mas eu acredito que podemos ir muito além dela
rapidamente. É só separar 20% dos
recursos do arraial, por exemplo.
4.
Reforçando: editais com seleção isenta são muito
bacanas, são modernos, democráticos e, olha que contemporâneo, diminuem esse
costume de ter produtor e artista indo bater no balcão da gestão para pedir
grana e outros apoios, feito nos anos 1970.
5.
Determine, divulgue e amplie os apoios de
logística e infraestrutura para as ações de nosso segmento. Se não tem grana
mas tem parcerias, todos ganham e a cena literária se fortalece. Mas não
esqueça que recursos ainda são muito bem-vindos.
6.
Faça outras reuniões segmentadas, em horários
bacanas como o de ontem, facilitando a vida de quem trabalha o dia todo e não
poderia faltar para ir a encontros matutinos, por exemplo. Bote os assessores
para anotar e, com certeza, terá boas ideias para colocar em prática.
7.
Por último e não menos importante, dê o start
nos debates sobre a necessidade de um Plano Estadual do Livro, Leitura,
Literatura e Bibliotecas. É um trabalho penoso, mas seria um marco para sua
carreira como gestora oriunda do setor educacional.
De nada e boa sorte, secretária Selma. Como um dos agentes que
batalhou muito em reuniões e debates para que fosse criada a Secretaria
Estadual de Cultura, eu realmente torço por uma gestão exitosa para todos.