segunda-feira, dezembro 04, 2006


Diários da bicicleta


Então... para aqueles persistentes visitantes, que tantas mensagens deixaram e tantas vezes pensaram no que teria acontecido com este cronista, um fugitivo de suas atribuições blogueiras de escrever e ler com mais regularidade, vai aqui um pouco das aventuras de um índio acima do Equador.

A ultima postagem para valer foi o microconto da porta fechada, postada em primeiro de setembro, há mais de dois meses. Em tópicos, algumas das praias visitadas nestes dias:

- Mudei de emprego e de salário. Agora sou um jornalista a serviço da Universidade Estadual de Roraima.
- Entrei na fase da monografia. Fiz o projeto em duas semanas após o começo do meu ultimo semestre de sociologia na Universidade Federal de Roraima, arranjei o orientador que queria e empaquei na resenha e apresentação de um livro da Agnes Heller.
- Agora viajo quase toda semana para o interior do Estado. Fico surpreso com o que vejo em cada município, tanto para bem como para mal.
- Tirando o Lula, nenhum dos candidatos em que votei na eleição ganhou.
- Participei da comissão julgadora das composições inscritas na II Mostra de Música Canta Roraima, uma realização da Prefeitura de Boa Vista e do Sesc.
- Reaproveitei textos do Crônicas e os publiquei no Overmundo. Também escrevi algumas colaborações para divulgar na agenda do site o que se faz de arte por estas bandas de Boa Vista.
- Me inscrevi no 10º Concurso de Poesia do Sesi e não classifiquei, mas pelo menos fiquei feliz vendo a Zanny recebendo uma premiação na categoria escrita.
- Completamos aqui na oca dos Borges um ano da morte de meu primo (detalhes nos arquivos de novembro de 2005)
- Engordei um pouco...
- Cortei um pouco o cabelo...
- Não vejo há tempos minha afilhada Bia...
- Instalei um som com mp3 no carro e baixei 700 megas de música latina da net...
- Amigos foram embora, outros engravidaram e alguns resolveram entrar no MSN para conversar desde a Venezuela...

Assim, de supetão, é mais ou menos isso. Prometo pelo menos ser um ser semanal.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Ando vivo...

ainda que pareça o contrário.

Trabalhando muito, estudando muito, descansando pouco.

Pronto para voltar.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Vingança

De repente, no meio de mais uma confusão, ela disse:

- Ponha-se para fora! Nunca mais quero te ver!


Ele foi, mas levou a chave da porta e trancou por fora.

(E você, o que faria?)

terça-feira, agosto 29, 2006

Ponto e contraponto


A morena Zanny Adairalba participou no final de semana de um evento promovido pela entidade Nós Existimos, que congrega diversos movimentos sociais. Zanny foi convidada para declamar uma poesia, mas a timidez não deixou.
Para suprir a falta de coragem de encarar o palco, convidou o músico George Farias para a leitura do texto.
George foi além e musicou o poema. Mas a morena não estava sabendo disso e tomou um susto ao ouvir a canção, a sua primeira composição mostrada em público.

A letra do poema é esta:

Vôo

Queria ser pássaro
Voar nas alturas
Romper as barreiras
Pousar nos lavrados
Planar sobre os campos
- Aroma de matos!
Subir as colinas
Banhar-me em seus lagos
Meus sonhos e encantos
Deixar na passagem
Ser ponto na imagem
De interrogação

- Que faz esta ave
tão livre no espaço
colhendo os pedaços
de tanta emoção?

- Que faz esta ave
de cor de alegrias
bailando nos dias
de minha canção?


Eu, para não ficar muito sério, dediquei ao seu poema estes singelos versos:

Queria ser menino
solto no campo
alegria no coração.
Queria ser menino
com boa pontaria
e um estilingue na mão.


(Zanny ficou deveras emocionada com a minha homenagem...)

sexta-feira, agosto 25, 2006

textos velhos resgatados do fundo do baú digital, apenas para não fechar a semana na mesma postagem. Este aqui tem pelo menos uns três anos.

Conselhos

Acredite no destino ou na vontade
Dos homens de fé.
Lute e tente ser o melhor
Conquiste mundos, multidões, sucesso.
Viva como um rei, seja divino.
E com tudo isso acontecendo
Lembre-se a cada manhã
Caro amigo ou cruel oponente:
Todo amor acaba
E aquilo que em tudo te atrai
Uma manhã qualquer só te distrai.
Vá à lua ou passe as férias na praia
Beba até cair ou faça campanha contra
As guerras no Oriente Médio.
Execute a sua vontade e esqueça dos outros
Só porque é sempre assim:
Todo amor acaba
E aquilo que em tudo te atrai
Uma manhã qualquer só te distrai.

terça-feira, agosto 22, 2006

Vida na floresta amazônica



Serras ao norte, cerrado no centro e floresta tropical ao sul. Essas são as coberturas vegetais do estado de Roraima. A mais fria das regiões é na fronteira com a Venezuela, acima dos 1.000 metros de altitude, com um clima que varia de 10 0C a 27 0C.

Estas fotos foram batidas durante uma visita com a minha turma de Sociologia à vila de Campos Novos, um assentamento no meio da floresta do município de Iracema, sul de Roraima. A vila foi criada há dez anos e tem cerca de mil habitantes. Fica a uns 140 quilômetros da capital do Estado, Boa Vista.

Foi no meio da mata que os intrépidos alunos-pesquisadores estiveram buscando conhecimento. Essa aqui é uma das trilhas abertas pelos agricultores para chegar até suas propriedades e escoar a produção. Observe o tamanho das árvores.

Sem sucesso, a floresta parece querer resistir ao desmatamento. É surpreendente sair de uma área de mata fechada e surgir no meio de um capinzal, com o sol a pino.

Nas vicinais, sobrevivendo com muito trabalho e sem o conforto da energia elétrica, os agricultores vivem em casas de palha e de madeira.

No inverno, as picadas viram lamaçais e dificultam o escoamento. Em alguns pontos, a lama engole a metade da perna. Noutros, como nesse, parecem uma trilha de rali, pronta para engolir a sandália de desavisados como este cronista.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Ele já está chegando. Vem dia sim, dia não.
Às vezes fica por dois, três dias, some, parece que nunca mais voltará.
De repente, ele amanhece esparramado, à vontade, faz da sua presença uma constante.
Às vezes fica o final de semana inteiro e some na segunda de manhã, mas antes das dez já está de volta, tocando, sentido, visto.
À noite, não deixa ninguém dormir tranqüilo. Fica ali, mexendo, provocando, fazendo suar, suar, suar...
Parece que setembro é o seu mês.
Quando setembro chegar, ele não sairá mais daqui. Talvez tire férias no ano que vem, lá por abril, maio, mas enquanto isso vai trabalhar muito. Até com mais intensidade que neste ano.
Maldito verão amazônico...

terça-feira, agosto 15, 2006

Queda

Tua ver
da

de dói.
Tua men

tira
também.
Foge d

aqui.
Foge
e re

nega
tudo
o
que
um dia te ofereci.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Em tempos de pouca inspiração literária, fotos de Boa Vista

Se bem que postar as fotos demora mais que postar texto....mas tudo bem.

Este é um dos principais monumentos da cidade: a Estátua do Garimpeiro. Fica bem no centro de Boa Vista. Poucas crianças nasceram e cresceram aqui sem bater uma foto com ele ao fundo. Eu tenho várias...

Essa é a fachada do Estádio Flamarion Vasconcelos, inaugurado na década de 70 pelo governo militar. O Canarinho é o palco dos cláááássicos do futebol da terceira divisão local....


E esta é uma mostra do grafitte local.


segunda-feira, agosto 07, 2006

Interatividade


É difícil ser justo


(Complete a frase com versos, manifestos, filosofias ou exemplos)

quarta-feira, agosto 02, 2006

Boa Vista Shows


Fora os botecos de sempre com as mesmas horríveis bandas de forró, há semanas em que não acontece nenhum show em Boa Vista. E então, de repente, tudo explode. Agora, com a proximidade da seca e a diminuição progressiva das chuvas, as bandas e cantores voltam a ocupar espaço na night macuxi.

No final de semana passado, por exemplo, foi realizado o II Roraima Sesc Fest Rock, o maior festival do estilo em Roraima. 23 bandas se apresentaram de sexta a domingo no espaço multicultural do Sesc Centro, várias delas com repertório formado por músicas próprias, muito diferente do ano passado, quando a proposta autoral foi tímida. Bandas de Manaus (AM), a Pink Rock, e da Guiana, a Brutus, também deram o ar de seu rock em BV.

As fotos e o histórico das bandas podem ser conferidos aqui. Comentários e algumas entrevistas com as bandas podem ser conferidos aqui.

Na mesma sexta em que começou o Sesc Fest Rock, o cantor Neuber Uchoa lançou o seu mais novo CD, com o título ?Eu preciso aprender a ser pop?. Daí, como trabalhei até tardão, tive de escolher entre começar a noite no roquenrol ou na batida amazônica do Neuber. Já rolou um desencontro.

E agora, nesta sexta-feira (4), novamente o público vai ter de escolher e alguém vai perder nessa história. Na mesma noite, o Sesc promove um show com Helen Abad, uma professora de música que agora vai encarar os palcos com um repertório de MPB.
No mesmo horário, 21h, os roqueiros da Mr. Jungle fazem um show no teatro Carlos Gomes para lançar o seu single demo. E apenas para confundir mais a cabeça do público, Geraldo Azevedo (yes!) e Guilherme Arantes (arg!) apresentam-se no Iate Clube da cidade. Tudo ao mesmo tempo de agosto.

Na outra semana, a segunda edição do ano do projeto Sonora Brasil em Roraima traz o grupo curitibano Banza, para única apresentação no dia 11 de agosto no Espaço Multicultural Sesc Centro. No dia 13, é a vez dos Titãs tocarem no Iate Clube.

O problema agora é tempo e grana para comprar tanto ingresso.

Up date

Ahã, eu sabia que algo estava faltando. No sábado, a banda Garden comemora dez anos de estrada com um especial de O Rappa. No domingo, a Prefeitura de Boa Vista e o Sesc Roraima lançam o CD do projeto Canta Roraima (postei sobre ele em dezembro do ano passado), com 18 músicas, incluindo cantigas indígenas, rap e outros ritmos.

E onde estarei eu às 8h da manhã de sábado e domingo? Nas aulas da pós, feito um bom índio, até as 20h, pelo menos. Ou seja, nada de descanso para poder ir relaxado aos shows.

Up date 2

Às 20h deste sábado (5) começa a temporada de músicas eruditas do segundo semestre de 2006. Depois de apresentar-se com grande sucesso no 26º Festival de Música de Londrina (PR), a Orquestra de Câmara da Prefeitura de Boa Vista realiza novos concertos no Centro de Informações Turísticas da Intendência, localizado na Orla Taumanan, bem em frente ao rio Branco.

segunda-feira, julho 31, 2006

Prevenção


De repente, no meio do café da manhã, ele perguntou:

- Ei, tu teve um orgasmo ontem, não foi?

Ela ficou estática, chocada com o questionamento, e respondeu:

- Que tipo de pergunta é essa?

Ele, olhando para o seu pedaço de cuzcuz, disse:

- Nada não, é que passou no rádio que hoje é dia do orgasmo. E como tu gosta de ganhar presente por tudo, só quero te avisar que se tu teve um orgasmo ontem, te contenta com ele, que hoje estou cheio de serviço.

terça-feira, julho 25, 2006

Refrão

Quando estava indo embora, ela disse:

- Gostei da noite. Quando quiser me ver de novo, liga neste número.

Ele, encabulado, preso à sua ética pessoal, respondeu, temeroso:

- Até que gostaria, mas você é a namorada de meu melhor amigo. E se perdermos o controle e algo a mais rolar?

Ela o olhou no fundo dos olhos, suspirou e cochichou em seu ouvido:

- Não quero parecer insensível, mas o que os olhos não vêem, o coração não sente. E se um não quiser, dois não se enrolam.

quarta-feira, julho 19, 2006

Lições da vida após a visita da morte


Nunca se perca de quem você gosta.

De vez em quando, ligue para uma pessoa amiga e diga-lhe o quanto gosta dela.

Sorria mais de quem só quer viver sério.

Ame. Ame nem que seja uma ave, mas ame e demonstre.

Viva o dia. E se for o seu perfil, a noite também.

Reúna-se de vez em quando com pessoas queridas e inteligentes. Faz bem à alma e ao cérebro.

Procure entender como é o outro, o desconhecido, e descubra novos matizes da existência.


...............

Agora, também brincando no Overmundo.

segunda-feira, julho 17, 2006

Justificativas de índio

O blog está completamente às traças, com as baratas fazendo a festa e devorando os bits de cada texto. Ando trabalhando muito. Não estou reclamando disso. Pelo contrário, estou na melhor fase profissional da minha relativamente curta vida.

Ando meio sem vontade de escrever. Falta a dose certa de inspiração e gana de transpiração. Ando meio seleção brasileira, na real. Não são problemas pessoas. Aliás, se há algo do que posso me alegrar é da falta de grandes problemas pessoais. Nisso sou bem diferente de todas as pessoas que me rodeiam. Cada uma tem um drama para contar ou resolver. Eu, no máximo, me preocupo (quando lembro) da falta de um tema para a monografia.

Acho que é a saudade da aldeia, de pescar de noite no rio, brigar com jacaré, de ficar na rede quieto para evitar chamar a atenção do Canaimé, de acordar cedo para ir caçar...Ops, peraí, saudosismo não. Também não era tudo isso de bom a vida na maloca.
Bom, talvez seja só preguiça, sem tanta filosofia ou elucubrações. Por isso não escrevi nada no dia 7 de julho, quando o Crônicas da Fronteira completou dois anos de existência, ou no dia 9, quando meu querido município, Boa Vista, chegou ao 116º aniversário.

Para não deixar a poeira tomar conta do blog, resolvi colocar um texto tolo rabiscado no caderno entre as 22h e as zero horas, depois de uma aula de segunda ou quinta-feira.

Visitas? Assim que estiver mais folgado vou retribuir todas. Pode ser hoje ou amanhã. Quem sabe o que a vida nos guarda para daqui a algumas horas?
Beijos índios a todos.




Mão no queixo, silêncio.
A parede branca, mesa bagunçada.
Memórias, papéis velhos.
Maio se esvai, águas chegam.
Como se fala da inquietação?

Fotos, conchas do mar, canetas
Objetos e outras mil coisas se valor.
Notícias velhas, contas de energia.
É muito fácil pintar a inquietação.

Uma mosca, um copo d?água, calor.
Palavras para ler e guardar.
Um caminho sem sinalização de volta.
Uma foto do presente
Como escritores definem inquietação?

Jazz no canal de áudio.
Músicas com gaitas escocesas falam de rosas.
Substantivos, adjetivos, desconstruções gramaticais.
Traduções, induções, possessões.
Para quê tanta inquietação?

quarta-feira, julho 12, 2006

Ocupado.
Volte amanhã.
O dono manda avisar que vai grudar um cartaz de poesia.
Ou quem sabe um bilhete com uma prosa.
A leitura será (espera-se) boa.

segunda-feira, julho 03, 2006

Texto do Sérgio, mais um acertador do bolão do Crônicas da Fronteira, sobre um jogo da copa de 1998, muito semelhante ao de sábado. E com uma pitada de teoria da conspiração.

Porque Voltamos

...E naquela tarde ele já se sentira mal, os amigos ficaram apreensivos, e logo vazou...A equipe adversária soube, e um dos jogadores, que era seu amigo, ligou preocupado pra concentração...Não quiseram dar mais detalhes... "comeu um doce e passou mal..."...Só isso, mas foi o bastante...Era sexta-feira e provavelmente Saulinho não jogaria no domingo.

Exames para lá e repousos pra cá, e no fim, abatido, disse que queria jogar de qualquer maneira...Achava que devia isso ao povo. Foi aconselhado a pensar e só na hora do jogo decidiriam o que fazer. Ferreira estava muito aflito, era como se fosse com seu filho. Os nervos da equipe estavam em frangalhos. Matheus disse que por ele Saulinho não jogaria e caiu sobre os ombros do mais experiente e do jogador a difícil decisão. Jogar ou não jogar?

Faltando uma hora para o jogo, alguém põe um envelope embaixo da porta. Alguém leu e houve uma reunião a portas fechadas. Demorou muito até alguém quebrar o silencio. Então o maioral disse: - Temos que perder o jogo! Todos se perguntaram, e perguntaram aos outros...- Como???.....- Estamos obedecendo ordens!...Foi o que falou o "seu" maioral.

Na entrada do campo uns concordavam, outros não. Chamaram o Saulinho no canto, e lhe disseram algo...Ela acenou com a cabeça...- Que vergonha! ? pensou. Num jogo em que o time estava irreconhecível, nervoso, querendo gritar, o placar foi 3 x 0 para o adversário. Era inacreditável. Eles foram os campeões.

sexta-feira, junho 30, 2006

Meus mundiais


O Sérgio postou dia desses sobre onde e o que estava vivendo nos últimos mundiais de futebol. Desde o post da Luma, tentei me lembrar qual foi a copa que acompanhei com tanta atenção como esta. Resultado: nunca havia assistido a tantos jogos desta competição.
Daí comecei a pensar onde estava na final de cada mundial que rolou desde meu nascimento. A conta ficou assim:

Argentina 1978 - Com certeza, estava dormindo ou no seio de mamãe.
Espanha 1982 ? Não lembro, mas é provável que estivesse brincando com os meus bonequinhos no quintal ou no quarto.
México 1986 ? Estava na quarta série. Fiquei sabendo bem depois que a Argentina era campeã.
Itália 1990 ? Ah, essa final eu lembro. Um gol apenas da Alemanha contra a Argentina. Assisti na casa do meu amigo Gustavo. Alguém falou que final com placar tão magrinho não valia a pena pagar aposta.
EUA 1994 ? Assisti na varanda da casa de meus avós.
França 1998 ? Não lembro. Acho que estava dormindo. Mas depois acompanhei tudo...
Coréia do Sul & Japão 2002 ? Estava dormindo na final. Apenas ouvi os gritos de meus primos e tios na casa ao lado. É ruim de assistir jogo às 7h da madrugada!


E você, lembra onde estava nas últimas finais da copa do mundo?

segunda-feira, junho 26, 2006

E com vocês, Lumita, a grande vencedora do prêmio "Acertei o placar nos jogos do Brasil"!!!!!!
(Rufar de tambores, histeria coletiva na blogosfera, milhões de acessos etc. etc. etc.)
Que a ficção de Luma ilumine a segunda-feira de todos nós.





na fronteira

Doce era a ilusão de segurança das rotinas. Prezava-as.
Mas aquele dia era um dia diferente.
O dia estava chuvoso, frio, e isso não a impediu de sair para a rua.
Vagueou sem destino até que entrou naquele mesmo café. Todos os dias era ali que ia almoçar e jantar.
Mal entrava e recebia um sorriso rasgado do garçom, que já nem perguntava, vinha apenas servir-lhe, com meia garrafa de água e meia garrafa de vinho.
Levava com ela um livro, fingia ler algumas páginas, mas essencialmente sonhava acordada. Pensava nele, na sua vida, alheia a tudo o que se passava a sua volta.
A chuva teimava em cair, fustigando as vidraças. Lá fora, viu gente que corria de um lado para o outro, tentando proteger-se.
Não reparou naquele homem, sentado à frente, que a olhou curioso.
Pagou e saiu. Não viu que o homem a seguiu.
Percorreu o caminho até a casa, cabeça baixa e olhar perdido.
Entrou no prédio e subiu as escadas. Não viu o homem....

Novamente saiu de casa e o destino levou-a ao mesmo café.
O garçom trouxe o jantar. A chuva estava suspensa e o negro da noite venceu a negritude daquele dia.
Repara num homem sentado à sua frente. Ele sorri, ela devolve o sorriso. Um sorriso triste, de alguém para quem a vida já nada significava.
Sem uma palavra, ele juntou-se a ela e acariciou-lhe uma das mãos. Mãos frias de um coração vazio....

Saíram juntos do café e percorreram as ruas da cidade.
E recostada a um carro, ela sonhou a sofreguidão de um grande amor.

Era o seu aniversário de casamento. Um casamento sem brilho, sem emoções, um fardo para a sua alma.

A partir desse dia, depois de muitos anos, sonha que vive um grande amor. Fantasia sobre a sua vida e revive, ainda que por breves momentos, o sabor da paixão.

Alguma coisa mudou dentro dela. Não olha mais os outros no café com olhar de indiferença, olha os outros clientes com uma curiosidade assanhada, como se pudesse beber deles a vida que não tinha: o casal de namorados a beijar-se; as três amigas que vinham desabafar suas mágoas e um casal de gays com ar culpado, que claramente tinham outras famílias em casa, mas que todos os dias se encontravam ali antes de subirem para um quarto do hotel ao lado.

Todos fantasiando a felicidade. Não se sentia mais só.
Tudo o que via, analisava, e o que não via, imaginava. Completava a realidade de cada um com os seus próprios sonhos e assim vivia feliz.

Saía dali somente quando começava a esvaziar, mas não ia ainda para casa.
Encostava-se em um carro. Rua vazia de vida naquela hora, via os carros que passavam e sentia a impressão que produzia neles. Muitos olhavam para ela como se fosse doida, com a curiosidade natural de ver uma mulher sozinha àquela hora da noite. Muitos homens solitários como ela, abrandavam, olhavam-na demoradamente, tentando percebê-la.
Às vezes, havia um que parava. Confundia-a com uma prostituta, perguntava-lhe o preço. Ela sorria, entrava no carro, fazia-lhe tudo e não levava nada.
O calor de um corpo, a intimidade, mesmo que falsa, para ela não tinha preço.
Separam-se, sem trocar um olhar ou uma palavra.


E com muito prazer,
Luma invadindo o espaço do Edgar
Beijus

sexta-feira, junho 23, 2006

Cotidiano (Ou sessão querido fotolog)

Sem mais futebol, sem cheias de rios, sem dores ou febres na alma. Apenas algumas fotos do cotidiano de um índio em Boa Vista.

Ler, ler e ler. E ainda falta tanto...


Para ler, que tal uns óculos direto do Feirão do Garimpeiro?


Consciência pesada? Joga nessa balança importada da Venezuela.


Raízes...

Uma nega bonita chamada Zanny...

Um indiozinho chamado Edgar...

A família do índio, pintada pela artista plástica macuxi Carmézia Emiliano...


E um close do índio, na tela da pintora Mari Faccio.