A
plataforma baixa da Orla Taumanan será palco da celebração em Boa Vista
dos 109 anos de nascimento do poeta, cronista, contista e tradutor
Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores nomes da literatura
brasileira. O sarau comemorativo começa às 17h30 do próximo domingo, 30
de outubro, e está sendo organizado pelo Coletivo Arteliteratura Caimbé.
As pessoas podem participar apenas ouvindo, mas o ideal é que cada uma
leve um livro ou poema de Drummond e leia um pouco para os demais
presentes, compartilhando o que mais gosta da obra do escritor. Nos
intervalos das leituras será feita a audição de textos do poeta que
foram gravados por atores.
“Nossa intenção é de que cada um declame seu texto preferido de Drummond
e celebre o nascimento dele, que ocorreu no dia 31 de outubro de 1902,
em Itabira, Minas Gerais. Portanto, traga seus poemas preferidos, sua
bebida gelada, seus amigos, parentes e o que mais desejar e vamos
festejar”, convida a contista Ágda Santos, uma das organizadoras do
evento em parceria com Edgar Borges, integrante do Coletivo
Arteliteratura Caimbé.
Em várias cidades brasileiras haverá atividades comemorando o “Dia D`
Drummond”, marcado para segunda. A antecipação em Boa Vista atende às
particularidades da cidade, explica Edgar: “é mais fácil as pessoas
deixarem a sua casa um domingo à tarde para uma confraternização com
outros leitores do poeta que esperar que façam isso na segunda, dia de
trabalho, estudo e outros afazeres.”
“Vi que muitas cidades iam comemorar o nascimento de Drummond e nasceu
daí a vontade de realizar algo também aqui, já que conheço muita gente
que gosta dele. Por isso fiz a proposta de parceria ao Coletivo Caimbé,
que topou organizar o sarau”, conta Ágda, que escreve contos, poemas e
crônicas no blog Papel de Sêmica.
“Algumas pessoas já falaram que vão levar vinho para brindar o Dia
D. Essa é a intenção: beber, literal e metaforicamente, Drummond, autor
de poemas que estão no imaginário coletivo, como o mais que conhecido
‘José’”, afirma Edgar. Este é o segundo sarau do Coletivo Caimbé neste
mês. Na semana passada, durante a VI Semana Nacional de Ciência e
Tecnologia em Roraima, ajudou a organizar um encontro de cordelistas e
declamadores de poesias. As fotos desta e outras atividades estão
disponíveis no blog do grupo.
O POETA - Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira MG, em 31
de outubro de 1902. Estudou na cidade natal, em Belo Horizonte e em Nova
Friburgo (RJ). Começou a carreira de escritor como colaborador do
Diário de Minas, em BH, onde conheceu adeptos do movimento modernista
mineiro.
Formou-se
em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Ingressou no serviço
público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe
de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945.
Trabalhou também no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
e se aposentou em 1962.
Entre outras obras, publicou Alguma poesia (1930), Brejo das almas
(1934), Sentimento do mundo (1940), José (1942) e A rosa do povo (1945).
Morreu no Rio de Janeiro RJ, em 17 de agosto de 1987, poucos dias após a
morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
Seguinte: sou babão com o meu filho, sim. Mas só quando ele respira. Fora isso...
Bem, na verdade, sou bem menos babão que a mãe e os avós de todos os lados. Mas tem coisa que merece ser babada mesmo, como quando ele decide, sozinho, encarar um microfone, pede para arrumarem na sua altura e, mesmo que não se entenda tudo, declama os dois poeminhas que sabe. Foi isso que o Edgarzinho fez na VI Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Roraima. Lá o Coletivo Arteliteratura Caimbé ajudou a organizar um encontro de cordelistas e poetas entre os dias 18 e 20 de outubro.
Edgarzinho Borges Bisneto, que já havia declamando em um sarau do Sesc, não teve vergonha e mandou várias vezes os versos que sua avó Neide lhe ensinou.
No último sabadão, dia de não fazer nada (um nada que incluiu não ir à feira, o que significa que vai ter pouca comida nesta semana), o moleque montou no Dourado, um “cavalo selvagem que vive na casa do vovô Adair”, como ele diz, referindo-se à parte materna que lhe toca.
A princípio com medo, encarou o perigo como só um índio corajoso o faz. Em poucos minutos já estava segurando na crina apenas com uma mão, levando carona e até guiando o animal.
Com o avó materno, escritor e ex-fuzileiro Adair J. Santos
Se fosse especular como muita gente boba o faz, diria que esse lance de montaria está “no sangue”: meu avô paterno, o finado Santos Figueira foi vaqueiro, dono de várias fazendas e adorava corridas de cavalos. Meu pai, seu Jucá, foi o único dos trocentos irmãos que ficou na fazenda. Rodava Roraima inteiro em suas montarias e chegou a ser jóquei quando jovem e magro. Dizem que fez seu Santos ganhar muitas apostas.
Seu Adair, avô materno, foi criado em um engenho de Palmares (PE), de propriedade do trisavô e bisavô de Edgarzinho. Desde pequeno montou, costume que passou para todos os filhos do primeiro casamento, de onde vem a mãe do Edgarzinho, dona Zanny. Ela diz que monta bem. Nunca a vi fazer isso. Aliás, ontem ela estava apavorada com o moleque dando uma de ginete.
Eu? Bom, basta dizer que aprendi a andar de bicicleta aos 14 anos. Para não dizer que nunca montei num cavalo, tenho uma foto num carrossel e outra sobre um bicho de verdade, mas só fazendo posse, lá pelos meus 2, 3 anos de vida. Essa é a prova da falibilidade do ditado “tal pai, tal filho”.
Não, não! Sou eu! Olha com cuidado, filho. Não assusta a tua mãe. Querida, chega mais perto, por favor! Sei lá o que está acontecendo, caramba! Acordei desse jeito, pequenininho, parecendo um inseto, mas sou eu...
- Sai, bicho nojento, sai!
Para com isso, amor! Não consegue me ouvir? Tô gritando feito louco aqui. Porra, tu já viu bicho em formato de homem? É mais fácil homem parecer inseto, né? Lembra do Kafka?
- Arg, que nojo!
Oh, amor, fala assim não. Fica calma, tudo vai se arrumar. Posso não saber por que estou assim, se por bruxaria ou castigo divino, mas sei que voltarei ao normal e vamos acabar tranquilamente a conversa que tivemos ontem e arrumar o nosso relacionamento. Sim, sei que fui embora no meio da conversa, feito doido, e voltei depois sem que ninguém visse. Depois disso, apagou tudo de minha cabeça. Só lembro de acordar de manhã com você gritando…
- Sai, bicho asqueroso. Deixa a cama!
Amor, para com isso. Olha direito. Sou eu, o homem que você ama, ou amava, não sei. Já fiz tanta burrada que até entenderia, mas enfim, olha direito. Opa. Não olha tão feio assim, não. Sai, não chega tão perto com essa sandália. Afasta, amor, afasta. Tira essa sandália daí!
Plaft!
- Ai, que sujeira. O bicho tava cheio de sangue, filho. Agora vou ter que lavar os lençóis.
Os tempos andam difíceis. Ou quiçá não, talvez seja eu que ando vendo muito prejuízo no decorrer de uma vida que anda normal sob o ponto de vista da maioria. Caramba, o que estou escrevendo não faz muito sentido. Nunca fui com textos labirínticos. Posso escrever tão mal que ninguém vai entender, mas não o faço propositadamente.
Enfim, o negócio é o seguinte: a situação tá preta (às favas o politicamente correto) lá na minha maloca (às favas parte 2 o politicamente correto). A grana ficou curta demais para muita demanda, as dores geradas pelos problemas na coluna não arredam pé, não vejo perspectivas de melhoria, estou ficando velho etc. etc.
Ok, tirando a parte da velhice, para tudo pode se encontrar um jeito de melhorar. Possivelmente as sessões de RPG que comecei semana passada me deixem melhor, o que me possibilitaria voltar a encarar por mais tempo os computadores. Isso traria de volta minha capacidade de passar horas escrevendo, função da qual tiro minha renda, e garantiria um extra lá na baixada onde me escondo. Sim, eu sei, coisa de pessoa sem espírito empreendedor ficar pensando em trabalhar como jornalista. Poderia abrir uma empresa de qualquer coisa e botar os outros para fazer isso, mas...
O fato é que os tempos andam difíceis e as alegrias são poucas. E quando chegam, parecem que só trazem mais decepção. Foi o caso de um e-mail que recebi da Funarte há uns dias, informando que fui selecionado para participar do I Encontro Funarte de Políticas para as Artes, que vai rolar de 8 a 10 de novembro no Rio de Janeiro.
MESA DE BOAS PRÁTICAS II
DATA: 10 de novembro SALA: Sala Portinari, 2º andar HORÁRIO: 14h às 16h
Projeto Caminhada Arteliteratura – leitura, arte e alegria nos Territórios da Cidadania Edgar Borges, Coletivo Arteliteratura Caimbé
Grupo Uirapuru – Orquestra de Barro Tercio Araripe, Grupo Uirapuru
Oficina Permanente de Teatro e Circo Vania Rocca, Casa do Menor São Miguel Arcanjo
Ser Tão Teatro: núcleo de pesquisa continua e difusão da arte teatral Christina Streva, Diretora artística e fundadora do Coletivo Ser Tão Teatral
Numseikitem: teatro quase mudo Murilo Cesca e Lucas Baumer, Cia. Nuseikitem
Mediador: Elaine Grosmann, CEACEN/Funarte
A seleção não se baseou no meu charme indígena, no meu sotaque venezuelano ou nas fotos de meu filhotinho lindo. Foi fruto da análise do trabalho “Projeto Caminhada Arteliteratura – leitura, arte e alegria nos Territórios da Cidadania”, texto que me tirou umas boas horas de descanso depois que cheguei do Amapá. Como um dos selecionados ano passado com a Bolsa Funarte de Circulação Literária, falaria sobre o projeto na mesa de boas práticas II, lá no Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio de Janeiro.
Olha, vou te confessar, quando comecei a ler o email na tela de meu celular, fiquei feliz. Poxa, nunca apresentei nada em um evento parecido, para uma platéia de várias partes do Brasil (aliás, nunca apresentei nada em canto nenhum). Falaria do projeto, do Coletivo Arteliteratura Caimbé, da importância de desenvolver ações literárias em áreas indígenas.
Falaria, no pretérito, é o tempo certíssimo do verbo. Ao ler o final do e-mail, vi que hospedagem, deslocamentos e alimentação correm por minha conta se quiser ir. Tivesse chegado esse e-mail em julho não haveria problema. Mas a vida não é justa. Chegou agora, depois de ter pego várias pancadas financeiras em todos os bolsos de minhas calças, sem exceção.
Bom, como um não sempre está garantido para quem pede, decidi arriscar e falar com a chefia maior do local onde trabalho. Diria que fui convidado pela Funarte e Ministério da Cultura (enfatizando bem esses nomes, para encorpar a frase) para um encontro muito importante para a cultura local e pediria a passagem e diárias. Rá! Como eu sempre digo: o “não” sempre é garantido e o “sim” é lucro. Adivinha, curioso leitor, o que ganhei?
Te matei de curiosidade com esses espaços a mais entre um parágrafo e outro, né? Claro que peguei um “não” como resposta. Obviamente muito justificado e tal, o que não diminuiu minha decepção. Em não sei quanto tempo trabalhando nesta instituição, só fui pedir apoio duas vezes, para duas chefias diferentes. Nas duas peguei o “não” como resposta.
Um e outro colega me disse para tentar com algum parlamentar pelo menos a passagem. Sinceramente? Já não curto pedir de meu local de trabalho, quanto mais de um parlamentar. Se ganho a passagem, fica fechado um acordo implícito para sempre elogiá-lo mesmo quando tiver certeza de que o mesmo está fazendo algo muito ruim para a sociedade. Aí não cola.
Resumindo, aqui estou eu, convidado para um evento muito importante e sem plata para me bancar nele. Meu nome já está na programação oficial divulgada no site da Funarte e minha desilusão já está publicada neste blog, lincada no facebook e divulgada via Twitter. Acho que inconscientemente espero que os acessos ao blog compensem minha frustração. ;-)
Há uma leve chance de ir. Mais leve que ir, é verdade. Depende de dois fatores interligados diretamente. Se rolar, rolou. Se não, bem feito para mim que não estudei o suficiente para ganhar um bom dinheiro todo mês, que declaro imposto de renda e que não tenho parentes importantes.
Não entendo a matutice das pessoas que falam ou escrevem a toda hora sobre a construção do futuro shopping como se fosse algo fantástico. Todas dizem que será uma maravilha, que Boa Vista precisava disso, que agora sim somos uma capital, blá, blá, blá. Caramba, bando de gente obtusa que confunde crescimento econômico de alguns com desenvolvimento social da maioria: Boa Vista precisa de mais escolas, de políticas públicas integradas para todas as áreas, principalmente a cultural, de gestão financeira séria, de planejamento, do poder público olhar para a periferia e arrumar as ruas, abrir bibliotecas, consertar as lâmpadas, criar ações de capacitação profissional, de menos firula com coisas que nunca dão certo, como a Área de Livre Comércio e a tal ZPE, e outras que são pura ilusão, como saúde e segurança 100%. Se todos os que falam do shopping com os olhos brilhando de emoção pela expectativa de passear dando voltas olhando vitrines se dedicassem a falar um minuto por dia sobre desenvolvimento social, aí com certeza teríamos algo a comemorar. Seria o começo da criação de uma consciência cidadã. Afinal, de nada adianta você ter grana no bolso ou no banco para comprar roupas caras em um ambiente refrigerado se o mundo ao redor está desabando ou sendo usado para alavancar a riqueza de alguns.
Ou alguém acha que o shopping não vai ganhar uma pá de benefícios fiscais e afins para seguir em frente? E além disso, alguém já parou para pensar nos impactos ambientais (geográfica, biológica e socialmente falando) que o empreendimento vai trazer à região onde for instalado?
Cordelistas, repentistas e poetas participam de 18 a 20 de outubro da VI Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do Estado de Roraima,que acontece em conjunto com a XIX Feira Estadual de Ciências de Roraima, ambos realizados pela Universidade Estadual de Roraima.
O evento, realizado no Centro de Artesanato, Turismo e Geração de Renda Velia Coutinho, avenida Capitão Ene Garcez, terá um estande para venda de literatura de cordel, livros e CD`s de repente. Além disso, todas as noites, a partir das 19h, haverá um sarau poético-musical com microfone aberto à participação de quem quiser declamar seus poemas preferidos.
Oficinas de introdução à literatura de cordel e produção de xilogravuras serão ofertadas nos dias 18 e 19. A primeira será das 14h às 16h e a segunda das 16h às 18h, também no Centro Velia Coutinho.
Cada uma oferece 15 vagas. Para participar, basta doar um livro literário em bom estado de conservação. Informações e reserva de inscrições podem ser obtidas no telefone 8113 9273.
“A oficina de cordel será ministrada por Rafael de Oliveira, integrante da União dos Cordelistas de Pernambuco. Vamos aproveitar este momento para iniciar as discussões sobre a criação de uma associação que reúna os cordelistas de Roraima, fortalecendo a nossa arte”, diz o professor da Universidade Estadual de Roraima e cordelista Rodrigo Oliveira, um dos organizadores da atividade juntamente com o escritor Edgar Borges,integrante do Coletivo Arteliteratura Caimbé.
Cordéis de Zanny Adairalba
“Esta parceria com a Universidade Estadual vai ajudar a arrecadar livros para nossa campanha permanente de formação de bibliotecas comunitárias no Interior de Roraima. Também ajudar a aliar cultura e ciência em um evento muito importante”, afirma Edgar Borges.
O sarau do dia 18 já tem participação confirmada dos cordelistas Aroldo Pinheiro, Lindomar Bach e do repentista João Viola. No dia 19 será a vez dos cordelistas e declamadores Rodrigo Oliveira, mestre Egídio, Eroquês Guadério e Giovana Velho. Na quinta-feira, 20, sobem ao palco Aldair Ribeiro, João Baroc e Juan Carlos Moraga e a dupla de atores Dyllan Moraes e Enia Justino.
Poeta Eroquês Gaudério
Giovana Velho
O estande com os CD`s, livros e cordéis estará aberto todos os dias das 8h às 18h. Além dos poetas já citados, terá obras dos cordelistas Xarute, Otaniel e Zanny Adairalba, esta última também do Coletivo Arteliteratura Caimbé.
O novo mês trouxe uma boa notícia. Depois de pegar porrada em diversos concursos literários, finalmente fui classificado em um. O aviso chegou neste sábado, 8 de outubro, via Gmail.
Entre 1.672 participantes, fui um dos 40 selecionados para fazer parte da antologia resultante do II Concurso de Poesias Revista Literária – Edição 2011, promovido pelo Portal Revista Literária, com o apoio da Editora Scortecci e do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal.. Só não lembro qual poesia inscrevi. A agenda na qual anotei isso ficou perdida no rio Macacoari, lá no Amapá, conforme já contei nesta postagem.
Não vai ter grana, não vai ter fama, não vai ter troféu. Mas trouxe felicidade, o que em um ano podre como este já é algo bom.
Olha aí a lista com todos os selecionados:
Aline Rocha Rodrigues
Ana Beatriz Cabral
Ana Maria Galdino da Costa
Anna Lisboa
Claudio José da Silva Júnior
Christienne Krassuski Fortes
Cristina Martins Tavares
Douglas Ceccagno Edgar Jesus Figueira Borges
Francisca Dilma Sousa da Costa
Francisco Conrado Araújo Silva Filho
Gabriela Andrade Vitor
Helena Maria de Souza
Ivan Gagliardi Castilho
Izildo Carlos Alves da Silva
João Elias Antunes de Oliveira
Joés Carlos S. Silva
Kátia Adriano
Lelia Alice Bertanha
Luana Mirella Marques de Lima
Lúcia Lovato Leiria
Maíra Fé Maia Soares
Márcia Maranhão de Conti
Márcia Turi Marques
Marcus Vinicius Borges Oliveira
Maria Angélica Marangoni
Maria Elisa Corrêa Dias
Matheus Ferreira da Rocha
Nealdo Zaidan
Renata Alves Torres Lage
Ricardo Mainieri
Ricardo Nonato Almeida de Abreu Silva
Rogério Alves Dantas
Robson Leandro Soda
Rosana Mendonça Nunes
Sergio Augusto Ferreira Domingues
Sérgio Reinaldo Rosman
Vilma das Graças Ferreira
Wellington Kallil de Campos Alves Zanny Adairalba
No feriado de 5 de outubro, aniversário de 23 anos passados da transformação do Território Federal de Roraima em Estado de Roraima, o Sesc Roraima realizou o sarau café com letras “Da Palavra à Arte”.
O encontro teve poesia e música e fez parte da programação da mostra Aldeia Cruviana - Cultura de todos os povos, realizada de 30 de setembro a 8 de outubro em quatro cidades.
Expus a série Curt@s Histórias e Poesias e declamei um poema. Mas isso não tem importância nenhuma. Bacana mesmo foi a estreia de meu filhotinho Edgarzinho no mundo das artes. O indiozinho mais fofutcho do Norte declamou os versos que sua avó paterna, dona Neide, lhe ensinou e ele adaptou:
“Batatinha quando nasce/ Se esparrama pelo chão/ A mamãe quando me vê/Bota a mão no coração/...E eu sou um campeão”
O outro que ele decorou, mas não falou, é este:
“Eu sou pequeninho/ Do tamanho de um botão/ Carrego papai no bolso/ E mamãe no meu coração/...E eu sou um campeão”
Sim, a rima final é a mesma. =-)
Sim, a segunda poesia não me valoriza muito. =-(
Lamentavelmente, eu estava ajustando a máquina fotográfica e não percebi quando o bebê puxou a mãe pela mão, foi até o espaço da declamação e mandou ver seus versos em público. Perdi a estreia do moleque!
Na terça 4 de outubro, véspera do aniversário de 23 anos do maltratado Estado de Roraima, a simpaticíssima e muito boa poeta Eli Macuxi fez mais um sarau poético-musical em sua casa, na Biblioteca Osvaldo Rodrigues de Oliveira.
Um bocado de gente boa esteve lá, entre eles os poetas Roberto Mibielli e Zanny Adairalba e a professora Mirella Miranda. Levei os originais de meu livro de poemas “Outubro”, recheado de textos que nunca serão publicados em papel e composto de alguns já disponibilizados neste blog e outras paragens da web.
Enchi-me de coragem e li alguns. Não era um medo de reprovação, era o medo de ler em voz alta. Gosto de escrever, gosto de ler mentalmente. Essa história de ficar lendo nossos textos pros outros não me encanta.
Deve ser por conta de meu sotaque, que ressurge quando menos o quero, e pela minha voz baixa. Seja lá o que mais influenciar, li alguns meus, outros de Mário Bandeira e Jorge Luis Borges e me diverti muito até as quatro da manhã, quando deixei os poetas lá e fui dormir.
Valeu pelo convite, Eli. Temos que repetir isso. Tua turma é muito boa.
No final do mês passado, exatamente na quinta-feira 29 de agosto, fui um dos jurados da segunda fase da XIII edição do Concurso Sesi de Poesia (Conpoesi), o mais tradicional de Roraima. A interpretação das 16 poesias classificadas foi realizada no Malocão do Sesi.
Esta foi a segunda ocasião em que atuei como jurado do Conpoesi. A primeira foi há muiiiiitoooossss anos, também na modalidade interpretação, quando ainda era jovem, magro e bonit...quer dizer, menos feio. Isso aconteceu lá em 1997, na primeira edição do concurso. Estava eu no segundo ano do curso de jornalismo.
Da primeira vez eu era bem mais jovem...
Todos os jurados
Julgar interpretação ou texto é um lance que exige muita atenção. A principal é para não ser injusto com nenhum concorrente. Acredito que desenvolvi bem minha tarefa.
O grande vencedor da noite foi o poeta Rodrigo Mebs, na categoria Comunidade. O cabeludo pai da Isabela e marido da Adília levou para casa cinco dos seis troféus de sua categoria, sendo dois na modalidade escrita e três na interpretação. Neste link você pode conferir parte da produção do cara, foto abaixo, que veio para Roraima fugindo do frio de Curitiba.
Rodrigo Mebs
Vencedores da categoria interpretação
Este ano foram inscritas 109 poesias no concurso. Eu mesmo inscrevi três textos e neca de pitiribas de classificar um que fosse. Os vencedores dividiram R$ 6 mil em prêmios.
Confere o resultado do Conpoesi 2011:
Modalidade escrita - categoria industriário
1º lugar – “Confecção do amor”- Margarita Caplan Schvartz - VIVO
2º lugar – “Retrospectiva” - Jonas Gondim Martins – Correios
3º lugar – “Vida de garimpeiro” de Jonas Gondim Martins - Correios
Modalidade escrita - categoria comunidade
1º lugar – “O caminho’ - Ciro Campos
2º lugar – “Desterro” - Rodrigo Mebs de Santana
3º lugar – “A saída” - Rodrigo Mebs de Santana
Modalidade Interpretação – categoria industriário
1º lugar – “Um ser” – Autoria de Danúbia dos Santos/ Interpretada por Fábio Gonçalves – Eletrobrás Distribuição
2º lugar – “Festa de casamento” – Autoria de Jaider Esbel/ Interpretada por Cecília Monteles – Eletrobrás Eletronorte
3º lugar – “Gotas D’Água” – Autoria e interpretação: Margarida Caplan – VIVO Modalidade Interpretação – categoria comunidade
1º lugar – “Desterro” – Autoria e interpretação: Rodrigo Mebs
2º lugar – “A saída” – Autoria de Rodrigo Mebs/ Interpretada por Alessandra Almeida Denz
3º lugar – “Jardinagem” – Autoria de Rodrigo Mebs/ Interpretada por Adília Ribeiro
O Coletivo Arteliteratura Caimbé assinou
um convênio com a TV Universitária para exibir vídeos em um programa
que será veiculado aos sábados. A parceria foi fechada durante o I Seminário de Comunicação Pública de Roraima, realizado nos dias 15 e 16 de setembro na Universidade Federal de Roraima.
Representei o Coletivo no evento. Outras organizações da sociedade civil organizada também assinaram o
convênio de cessão de espaço da grade da TV. Conforme o documento, cada
uma terá 10 minutos na programação de sábado, das 13h às 14h, para
exibição de vídeos de cunho educativo e cultural.
Diversas
reuniões aconteceram antes do Seminário, reunindo os representantes da
sociedade civil para discutir os termos do convênio. Pelo texto, cada
uma será responsável por captar e editar seu material, cabendo à TV
apenas a veiculação.
Um
conselho curador será responsável pela análise dos vídeos que serão
exibidos. O Coletivo Caimbé foi convidado a participar deste projeto por
ser atualmente a única organização da sociedade civil que realiza em
Roraima atividades periódicas focadas em literatura.
Isso não significa que será exibido apenas material produzido pelo
Coletivo. Queremos integrar o maior número de produtores independentes
do Estado, ligados ou não à área da literatura, livro e leitura.
Portanto, fica o convite: se você tem ou pensa em produzir algum vídeo
bacana e quer veiculá-lo na TV Universitária, mande-nos uma mensagem
(coletivocaimbe@gmail.com ou edgarjfborges@gmail.com). Vamos ser
parceiros nesta jornada audiovisual.
Conforme o convênio, os vídeos não poderão ter enunciados, imagens,
áudios, caracteres ou textos que sejam configurados como produto
promocional ou comercial. O conteúdo também deve obedecer ao que rege o artigo 2° da lei N° 11.652, bem como o regimento interno do Núcleo de Rádio e TV da UFRR.
Participei entre os dias 25 de agosto a 3 de setembro da Pororoca Cultural, evento literário realizado em três comunidades ribeirinhas do Amapá pelo arte-educador Jonas Banhos, do Movimento NossaCasa de Cultura e Cidadania.
Macapá - Carmo do Macacoari - São Tomé - Foz do Macacoari - Macapá: esse foi o trecho
Representando o Coletivo Arteliteratura Caimbé, me taquei para o estado cuja capital é cortada pela imaginária Linha do Equador.
A viagem foi mais uma etapa do projeto Caminhada Arteliteratura, que congrega todas as atividades fora de Boa Vista feitas pela equipe do Coletivo Caimbé, e integrou-se o projeto Mochileiro Tuxaua, escrito por Jonas e aprovado com o prêmio Tuxaua Cultura Viva, do Ministério da Cultura.
Foram 12h30 para chegar em Macapá. E se você olhar no mapa, Roraima e Amapá estão praticamente colados, separados no Brasil por um pedaço do Amazonas. O lance são as conexões. Fui de Gol, saindo de Boa Vista 2h30 da madrugada, dormindo duas ou três horas no aeroporto de Manaus (AM), fazendo uma escala em Santarém e descendo em Belém (PA), onde fiquei outras horas e encontrei, vindos de algum lugar do País, Jonas Banhos e Rita de Cácia, também do Movimento NossaCasa de Cultura e Cidadania.
O aeroporto internacional de Macapá é acanhado em sua área de desembarque. Os passageiros ainda são obrigados a descer do avião e enfrentar o céu aberto para chegar numa escura sala e poder pegar suas bagagens. O bom é que ainda tem uma sacada para ver quem vai ou chega e dar tchauzinho (Bem Boa Vista em anos passados).
Um quadro imenso, que Jonas me contou ser de um dos grandes pintores do Amapá, decora a sala e serve como local de encostar coisas.
Ao lado do acanhado aeroporto, uma grande obra de modernização parece estar parada. Dentro dele, a muvuca é grande para poder pegar as bagagens. E eu só pensava no Sarney e seus diversos mandatos como senador do Amapá.
A cidade é quente. Mais quente que Boa Vista até. É a selva amazônica que traz a sua umidade e deixa tudo com jeito de Manaus, outro lugarzinho que me dá medo ir por conta do calor. E tem o fator primordial: estando em Macapá, se está no meio do mundo, com direito a pular de um hemisfério a outro em apenas um passo. Ou seja, é sol que não acaba nunca.
Em compensação, a brisa que vem do Amazonas é um espetáculo da natureza, literalmente falando.
Macapá tem uma imensa orla frequentada a toda hora por pessoas que buscam relaxar à sombra da Fortaleza de São José de Macapá, beber uma gengibirra, jogar uma partida de futlama ou fazer suas caminhadas (Neste caso, uma observação: o espaço da calçada da orla mal dá para quadro pessoas apertadas umas com as outras. Acho que quiseram economizar no cimento da largura para ter mais comprimento.). Um final de tarde na Orla, olhando a maresia e sentindo o vento gostoso que bate, e você esquece que o meio-dia (e as 10h, 11h, 13h, 14h, 15h,16h e 17h) é escaldante. Do jeitinho de Roraima.
A maquete da forteleza
Não é o mar, é o rio-mar Amazonas
Olha eu no meio do mundo, cada perna em um hemisfério.
Macapá não possui muitos prédios. Parece Boa Vista. Percebi que há muitas casas com muros baixos, alguns até assustadoramente baixos demais para os padrões de Boa Vista, onde qualquer casa furreca tem muro de dois metros e meio e uma cerca elétrica ligada diretamente na usina de energia.
Vi muitas residências feitas de madeira, com uma arquitetura que me lembrou as casas de filmes ambientados no interior dos Estados Unidos.
O material, me disseram, era mais barato que tijolo e cimento. Deduzi que os formatos poderiam ser herança do tempo em que havia muitos gringos morando lá enquanto trabalhavam na extração de minério e ficavam na base militar que os EUA instalaram durante a Segunda Guerra.
Gostei muito de ver que ainda se encontram muitas árvores em ruas comerciais. Mangueiras e outras espécies servem como abrigo para pedestres e clientes, dando um toque bacana à cidade. Diferentemente de Boa Vista, onde a primeira medida do dono ou do arquiteto é mandar derrubar o que estiver na frente para não atrapalhar a visibilidade da placa do empreendimento. Depois disso, mandam instalar vidros fumês e potentes centrais de ar condicionado para amainar o calor. Quando imbuídos de espírito ambiental, plantam umas palmeiras para dar um “toque amazônico” aos comércios.
E falando em comércio, mercadinhos, mercearias e quitandas são chamados em Macapá de Mini Box. É mini box para tudo quanto é lado. Daí entendi de onde a banda Mini Box Lunar tirou o seu nome. É como se fosse Mercadinho Lunar.
Na primeira noite em Macapá, 23 de agosto, tive a sorte de pegar um evento legal, o Navegando na vanguarda, em frente ao Teatro das Bacabeiras, com diversas atrações musicais, entre elas a Lunar.
Foi lá que bebi minha primeira dose de gengibirra e, mais uma vez, refleti sobre a loucura que é o deslocamento rápido (mesmo durando tanto entre dois estados tão próximos). Afinal, uma noite antes estava em Boa Vista e menos de 24 horas depois estava curtindo o som de gente totalmente desconhecida e que não desconfiava que houvesse um índio na terra deles.
Olha a galega lindinha psicodélica vocalista da Mini Box Lunar
Antes de pegar a van que nos levaria até a comunidade Carmo do Macacoari, visitei a sede de NossaCasa de Cultura e Cidadania, conheci in loco o projeto da biblioteca aberta 24h (é um pegue-e-devolva muito legal que funciona no Centrão da cidade), estive na escola Conexão Aquarela para o começo de uma parceria entre a instituição e a NossaCasa e participei de duas entrevistas de para falar da viagem.
A primeira foi com Humberto Moreira, radialista da Difusora do Amapá que já esteve diversas vezes em Roraima, inclusive na inauguração do Estádio Canarinho, hoje Flamarion Vasconcelos, e conhece várias figuras relevantes da cultura local. Ele chegou a cantar um trecho da música “Roraimeira”. Olha aqui o trecho final do papo com ele:
A outra entrevista foi no programa do Olímpio Guarany. Essa a gente gravou enquanto passava na TV. Assista e veja a mancada que dou no meio dela:
Bem, dadas as entrevistas, comido o peixe frito com açaí no mercado municipal, o camarão na orla e carregada a van com muitos livros e gibis, embicamos rumo à comunidade Carmo do Macacoari, a algumas horas por terra de Macapá. Estava com tanto sono que não vi quando deixamos a área urbana. Fui acordar já no trecho de piçarra e buracos antes da comunidade. A vegetação é parecida com o lavrado/cerrado de Roraima, tendo inclusive buritizais, gramíneas e plantações de milho e arroz em vários pontos.
Carmo do Macacoari tem energia elétrica 24 horas, padaria, duas quitandas (ou mini box, conforme o costume local), uma escola, igreja de São Sebastião (que serve como praça com seus três bancos e meio), cemitério, a rua principal asfaltada e dois campos de futebol que vivem cheios de meninas e meninos. As noites são modorrentas e a iluminação pública péssima.
Não há o que fazer além de jogar bola, tomar banho no rio ou esperar a adolescência chegar para começar a namorar e, se for de gosto, beber e fumar. A cara de Guasipati, cidadezinha da Venezuela onde cresci. A diferença é que lá tem mais ruas.
Quando chegamos, a criançada ficou doida, perguntando pelos livros, pelo cinema, pelas brincadeiras e pelo banho no rio. Jonas e Rita fazem a festa no local.
Ficamos três dias trabalhando e divertindo-nos muito com a turminha. Os meus companheiros montaram barracas e estenderam lonas com livros, gibis e material de desenho, colocaram megafones a disposição dos leitores mirins, fizeram sessões de cinema com um projetor montado na frente da sede do Movimento NossaCasa, oficinas de fotografia e artereciclagem e outro bocado de ações bacanas.
Eu, que fui para o Amapá a trabalho, também trabalhei. Expus meus textos da Mostra Fotográfica Curt@s Histórias e Poesias e fiz quatro oficinas de criação literária, sendo duas com turmas da escola local e outras com o público da NossaCasa.
Da primeira para a última, mudei tudo para adaptar-me à realidade do pessoal, afetada pela timidez, falta de investimento na capacitação docente e de material adequado ao seu desenvolvimento educacional. Apesar do que possa parecer, achei muito bom o resultado. No final, já estavam produzindo seus versos e ilustrando poemas meus, de outros autores e criados por eles mesmos.
O processo foi bacana. Foi de demolição, construção e reconstrução de conceitos e métodos em busca do melhor resultado, da melhor forma de semear gosto pela literatura, o grande desafio que decidi encarar quando me juntei aos meus colegas do Coletivo Arteliteratura Caimbé.
Bom, nem tudo foi trampo. Teve também banho no rio, devoração de camarão comprado a seis reais o quilo, dormida em barracas depois de uns 9 ou 10 anos (a última vez foi quando subi o Monte Roraima, lá na distante juventude) e uns bons bate-papos com o seu Zé Picanço, tio do Jonas, quilombola, agricultor, capitão de barco e dono da casa onde montamos base.
Rá! Esse feioso, tampando o nariz, sou eu, todo aventureiro, pulando no Macacoari
Cineminha na NossaCasa
Segurança antes de tudo. Tenho filho para criar.
Deixamos Carmo do Macacoaria sob protesto das crianças, que queriam mais sessões de leitura, desenho e cinema. Embarcamos na segunda (29 de agosto) no barco “pó-pó-pó” de seu Zé rumo à comunidade São Tomé, distante umas quatro ou cinco horas do Carmo, conforme a maré.
O Macacoari foi alargando, ficando barrento, a selva crescendo, mostrando seus açaizais imensos, suas margens cercadas pelos fazendeiros, que botam arame até nas entradas dos pequenos igarapés.
O tempo aqui tem outra noção. Ele vai e vem conforme as águas sobem e descem, baixam e crescem, conforme o açaí está ou não maduro ainda. Passamos por dezenas de palafitas, por um quilombo, por tracajás e araras, por ribeirinhos descendo o rio em suas voadeiras e “montarias”, nome dado às canoas cavadas no tronco de árvores ou feitas com três tábuas.
Enquanto subíamos, seu Zé ia contando histórias da região e tirando sarro, junto com a Rita, da minha falta de conhecimentos básicos sobre natação. Para seu Zé e todas as crianças do Carmo, que nascem praticamente anfíbios, uma pessoa que não sabe nadar é, no mínimo, estranha. Como explicar o injustificável?
Chegamos em São Tomé com a maré cheia, baixamos o material no porto da comunidade e almoçamos na casa da senhora Borges, minha parente distante, mãe de 14 filhos e participante da oficina de arte. Depois disso, oficina de literatura e ilustração, arte, roda de leitura, fotografias de novos anfíbios, banho no Macacoari e sessão de cinema na escola da comunidade.
Em São Tomé, assim como na Foz do Macacoari, só se anda acima do nível do chão, da vazante. As ruas, avenidas e calçadas são passarelas de madeira mais largas, menos largas, conforme a situação. Energia elétrica? Duas ou três horas por noite, conforme o combustível do motor. Se estragar ou não forem pegar, ficam no escuro vários dias.
Eu, urbano 100%, demorei a me acostumar com a situação. Depois me ambientei tanto que ao chegar em Macapá já estava caminhando como os ribeirinhos.
Outro teste do meu processo de adaptação à selva amapaense foi passar as malas de uma embarcação para outra em São Tomé.
Seu Zé Picanço me pegou para marinheiro, deu as instruções e mandou tomar cuidado para não cair na água. Eu, valente e sem colete salva-vidas, encarei a responsa e quase tirei nota 10 na prova. Faltou só subir no telhado do barco para empurrar as malas, mas antes disso um morador, com pena de mim, desceu do porto para nos ajudar. Quer dizer, pensando bem, eu tirei nota 10 em tudo o que seu Zé mandou fazer. Tanto é que no último dia navegando com ele já estava quase com a patente de capitão. Como falei antes, só faltava aprender a nadar.
À esquerda, comunidade Foz do Macacoari. Abaixo do barco, o rio de mesmo nome. O horizonte aí é o Amazonas, imenso e forte
Saímos na terça-feira, 30 de agosto, em direção à Foz do Macacoari, comunidade literalmente na esquina com o colosso rio Amazonas. Foram duas ou três horas subindo. Aqui aconteceu o momento mais chato da viagem: descobri que meu caderno de anotações havia ficado no Carmo.
Nele tem de tudo: ilustrações, poemas, microcontos, notas de reuniões, telefones, lista de coisas para fazer que nunca faço mas é bom lembrar que devo fazer...
Ficando o livro no Carmo e tendo chegado à Foz, não tinha como pegar um táxi e buscar o caderno. O jeito foi esquecer e tocar o barco, voadeira, montaria pra frente.
Nessas alturas, eu já estava sabendo que horas a maré subia e baixava, como manter o equilíbrio de um barco pequeno e outros detalhes da vida marinheira. Só faltou saber nadar.
Ficamos na casa de seu Martinho e dona Creuza, extrativistas, pais de várias moças e rapazes que conseguiram concluir o ensino superior com muito esforço e quilos de açaí vendidos no porto de Macapá.
Clique para ler os nomes das duas voadeiras
Seu Martinho é a figura que dá a seguinte entrevista, falando sobre a importância dos projetos de incentivo à leitura para manter os agricultores no campo:
Se você viu todo o vídeo, percebeu que o homem é ligado no mundo. Foi um dos fundadores do PT no Amapá, ajudou a organizar o movimento extrativista e lê muito. A obra atual é Assim falou Zaratustra, do Nietzsche, texto que eu ainda não tive coragem de encarar.
De passarela em passarela, saímos por quatro dias da casa de seu Martinho para a biblioteca comunitária da Foz.
Carangueira: não se meta com ela e ela não se mete com você
Li essa obra quando era criança pequena na Venezuela. Foi presente de meus avôs maternos
Clique para ampliar e ler
A Quele, nora de seu Martinho, é quem abre o espaço semanalmente para oferecer um recanto de leitura às crianças e adolescentes da Foz. Funcionando no prédio onde havia antes uma escola, a biblioteca tem um acervo de revistas, gibs e livros muito bacana. Recentemente compraram, com a verba de um edital do Ministério da Cultura, diversos exemplares da literatura amapaense. Entre eles veio um chamado Mazagão, a cidade que atravessou o Atlântico. Fantástica a história da população que saiu durante o reinado português da África para Lisboa, depois para Belém e no fim foi instalada no que viria a ser o estado do Amapá.
Olha aqui uma entrevista com a Quele e a Gabi, sua sobrinha, falando sobre as atividades na biblioteca:
Sentiu como a leitura muda as pessoas? Conhecendo esse povo me lembrei das visitas e bibliotecas que deixamos em cinco comunidades indígenas de Roraima durante o primeiro semestre deste ano.
A Caminhada Arteliteratura foi justamente isso: um semear de mudanças. Por isso sempre disse para os diretores e tuxauas que se tratava de esperar resultados a médio e longo prazo, sempre cobrando do Poder Público capacitações para saber como dinamizar os espaços literários.
Ficamos quatro dias na Foz.
Fizemos atividades na biblioteca comunitária, na escola estadual Eugênio Machado e na casa de seu Martinho, conversamos muito com os professores e moradores sobre o trabalho, tomamos banho de rio todo dia, passamos calor na beira do Amazonas, pois a selva é quente do mesmo jeito.
Os alunos chegam de barco. Em média, os mais distantes moram a duas, duas horas e meia de casa. A merenda da escola, com muita economia para que não falte nehum dia, é um copo de nescau com algumas bolachas de água e sal
A turma, ouvindo poesia de olhos fechados
Essa moça bonita se chama Rayane. Colocando um "H" teria o mesmo nome da filha de meu amigo Rhayder Abensour, da banda Iekuana
Preparando o cinema na casa de seu Martinho
Olha a professora de português
Voltando para a casa de seu Martinho
Acima de tudo, nos divertimos muito fazendo o bem.
Demos uma passada na comunidade Igarapé do Amazonas, antiga Igarapé dos Porcos, em frente à Foz, mas já no município de Macapá.
Lá conversamos com o seu Zeca, irmão de seu Martinho. Ele nos mostrou de onde vem o palmito que muita gente adora em sua pizza. Confere no vídeo:
Como dito antes, esta foi uma viagem de aprendizado, muito aprendizado. Fiz coisas que nunca havia feito na vida, como entrar numa plantação de açaí, comer arraia, andar em passarelas de madeira, carregar sacolas de um barco para outro, tomar gengibirra, esquivar-me de aranhas caranguejeiras e conviver com ribeirinhos, entre outras que agora esqueço. Só faltou ir ao evento poético promovido pela Alcinéa Cavalcante, o “Poesia na boca da noite”. Até fiz contato via Twitter, mas não deu. Fica pra próxima.
A Pororoca Cultural terminou no sábado, 3 de setembro, quando deixamos a Foz de madrugada, rumo a Macapá, na minha segunda viagem pela Amazonas. A primeira foi indo para Iquitos, há muito tempo. Vi o sol nascer um pouco antes de chegar na capital amapense, desembarcar tudo e preparar-me para viajar na próxima madrugada de volta a Boa Vista, no trecho Macapá-Belém-Brasília-Manaus-Boa Vista. E esse era o mais rápido...
Nascendo
Nascido
Macapá, vista do Amazonas
Antes de fechar um exemplo de como o mundo é pequeno. Na última noite, enquanto comprava algo para comer no supermercado próximo ao hotel, encontrei uma professora de português que havia conhecido na Foz. Se ficasse mais uns dias estava como em Boa Vista, totalmente enturmado.
Se isto fosse um programa de TV, te chamava para a próxima viagem literária. Mas não é. Tudo na vida de pessoas como a turma do Coletivo Caimbé e de NossaCasa de Cultura depende de verba e apoio. Por isso, fica o convite: vamos conversar sobre uma visita à tua região? Apoiando bem, garanto que as atividades te farão bem.