sexta-feira, outubro 07, 2005

Acusações - poema


B.O. número duzentos e cinco barra zero zero zero um:
O elemento foi preso enquanto tentava desesperadamente livrar-se do flagrante. Detido para mais investigações, foi encaminhado à delegacia para ser interrogado.

Não, não, eu não fiz nada do que possa ser acusado
Eu juro que estava só olhando para a casa ao lado.
E que culpa eu tenho se lá mora a Felícia
Que ao me ver fez escândalo e chamou a polícia?

Ok, ok, eu sei que já fomos namorados
E ela me deixou por um dentista bonitão
Na real, eu só parei por conta de um pneu furado
E não porque enciumado quis tirar satisfação

Tudo bem, tudo bem, admito,
Aproveitei para pedir minhas coisas de volta
Roupas, presentes, CD?s, livros e meu periquito
O coitadinho quando me viu quase berra ?me solta!?

Mas nego que foi meu o primeiro grito
Não tenho sangue de barata para ouvir desaforo
Eu não deixo que abusem de meu coração aflito
E só por isso vou ser preso por falta de decoro?

Sem roupa, sem mulher e sem emprego
Vou tentando afastar o desespero.
Não fui eu que errei, seu doutor
Entenda: é essa droga de coração
Que insiste em se dar por inteiro.

Ah, e sobre as provas que possam ter
Desminto todas, digo que foram plantadas
E qualquer filmagem que possa aparecer
Só pode ser feita de imagens encenadas

Neste caso, seu doutor, eu sou inocente
Como diz a lei, até aprovarem o contrário
E posso lhe arranjar culpado mais conveniente
Que não sou eu nem quem me deixou por um otário

Acho que posso ser bem convincente
talvez para todos seja até mais bacana
Que a verdade apareça feliz e reluzente
Como quem acabou de sair da cama.

Na real, seu doutor, o senhor pode acreditar
Nas retas da vida, às vezes tudo é uma zona
E nesta noite que não parece terminar
A culpa de tudo é da maldita da azeitona

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