terça-feira, outubro 04, 2005

Quem é você?



Quem você pensa que é
Para fazer da vida bagunça
Jogar na rua lembranças velhas
Mudar de posição a minha lua?

Acaso te deram licença
Para cantar boleros na rua
Pintar emoções nas praças
Comer de tudo o que queres?

Não adianta falar de leis
Invocar direitos fundamentais.
A única coisa infundada aqui
É teu jeito de ser desbocada.

Aponta logo o nome do culpado
Diz aí quem perdeu a porta da cela
Soltou as rédeas do hospício
E te fez baixar no meu colo.

Achas fácil chegar e virar
Minha alma pelo avesso, ser
Fim, meio, começo, infinita
Fonte de dor e prazer?

Baixa a cabeça. Não é assim
Se abancar e mudar velhas regras
Tumultuar um processo normal.

Só por que teu beijo me tonteia
Só por que teu cheiro me droga
Só por que teu gosto me doma
Pensas ser fácil tomar conta do lugar?

Vai, soletra bem devagar
Quem você pensa que é
Trazendo transtornos, ditando mudanças,
Fazendo um novo filme de cada dia?

Contando vantagens, chegas de mansinho
Me das nova vida, me enches de vinho.
Eu tiro minha roupa, me dou a você
E quando amanhece...nada a dizer.

Ainda te pego, desconto minha raiva
Te faço refém, te enterro na praia
Te jogo no lago, te perco num bar
Ainda te pego, ainda te escrevo.

Quem você pensa que sou
Para comigo mexer assim
Virar meu copo, teu gosto de tequila
Na lista da minha espera, furar a fila.

Vou colocar no out-door
Em letras interrogativas
Pintado de vermelho-espanto
Quem, afinal, eu penso que é você?


Making of:

No segundo semestre de 2003, numa dessas noites chatas investidas estudando, comecei a rabiscar uns versos. De repente, lá estava, quase pronta, esta poesia. Assim, feita para ninguém, sem motivo. Mas quando a mostrava para outros, a reação era: nossa, quem é essa que te perturbou tanto?
Lógico que ninguém acreditou na versão do "não a fiz para ninguém" e continuavam perguntando.
Bem, alguns meses depois a mostrei, sem segundas intenções, para Zanny, que parece ter gostado muito, a ponto de escrever, também sem segundas intenções uma poesia-resposta. Quem quiser conferir o contra-ataque, vá aqui e leia. É muito legal.
Ah, depois disso, acabei dedicando o poema para minha amiga Carla Cavalheiro, à época meio zuretada de paixão pelo seu ainda firme namorado Rubinho.
Ficou assim a dedicatória: Para Carla e sua capacidade invejável de se apaixonar.

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