sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Ação - Poema


Esconda sua pele embaixo da minha
Beije-me logo depois, fale algo obsceno e sorria.
Seja sincera como só é possível ser na cama
Tatue em minha nuca uma mordida que mostre como você me ama.
Seja minha, seja inteira, seja lua
Mexa-se à minha frente, solta, simplesmente nua...


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Para quem vai de festa, boa festa.
Para quem vai trabalhar, bom trabalho.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Dias de fevereiro

Tanto trabalho que falta ar...E ainda vem o trampo no carnaval...Final de semestre na facul...A busca desesperada por um tema para a monografia...O dinheiro que não aumenta...As necessidades que aumentam... A boneca do livro, que não consigo reencontrar...Reaproximações em andamento de amigos afastados...Estudos extras...

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Recordações




Falando sobre o passado, ela comentou:

- Antigamente, no começo do namoro, o banco de trás do carro era um bom palco para as lutas de amor.

Ele disse, espantado com a revelação:

- É mesmo? Você era disso?

Com um sorriso tímido, ela complementou, :

- É. Já fui meio louca, sabe? Mas hoje, depois de algum tempo de casada e um filho, o banco traseiro é somente um bom depósito de livros, comida e roupa.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Aula básica sobre economia ilegal de Boa Vista, Roraima


Em Boa Vista, compra-se gasolina contrabandeada da Venezuela a R$ 2,30. Nos postos, o combustível nacional custa entre R$ 2, 85 e R$ 2, 89. Na fronteira, a 230 quilômetros, os venezuelanos pagam o equivalente a 15 centavos de real por litro e os brasileiros, R$ 1, 50.

Em Boa Vista, consome-se muita cerveja Polar e Polar Ice, também trazida irregularmente da Venezuela. Há quem diga que causa dor de cabeça. Em quem bebe e em quem é pego pela polícia trazendo a mercadoria.

Boa Vista também importa produtos naturais. A turma da marijuana só consome erva vinda da Guiana, que no século passado só mandava porcelanas e coisas do lar para a cidade.

Já os que gostam de cocaína beneficiam-se de Roraima ser a porta de entrada no Brasil para parte da pasta que vai para a Europa via São Paulo. O produto é Made in Colômbia.

Outra fuga de divisas são as propinas pagas aos militares da Venezuela (e vez ou outra a policiais brasileiros lotados na fronteira) para passar esses produtos.

Roraima e Amazonas equilibram as importações mandando mulheres para serem prostitutas na Venezuela.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Atitude



Parados em frente ao terreno baldio, ele fala para sua esposa:

- Bonita área, né? Foi uma compra e tanto.
- É meu amor, agora é só meter uma máquina para tirar esse mato.

Ele, num rompante de auto-afirmação masculina, afirmou:

- Que nada! Eu mesmo limpo isso aí. É rapidinho. Pra que pagar se posso dar conta?

Ela apenas o olhou de relance, sem falar nada, e ouviu imediatamente outra afirmação, dita enquanto ele, envergonhado, colocava a cabeça no seu ombro:

- OK, OK, tudo bem, é verdade! Não vou limpar nada mesmo. É muito mato e vou ter que pagar para isso!

Ela, carinhosa, o confortou:

- Isso, meu amor. A verdade é sempre a melhor coisa a se dizer.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Gostos



Charmosa, aproximou-se de seu professor de inglês e disse:

- Teacher, sabia que eu acho um charme homem de óculos e que fala outra língua?

O professor parou de ler a sua revista, olhou para a moça e respondeu:

- Me too, baby. Me too.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

1991: welcome to the aldeia



Hoje completo 15 anos morando em Boa Vista. Cheguei na maior aldeia de Roraima no dia 3 de fevereiro de 1991. Era domingo e na rua de piçarra de minha casa redemoinhos de poeira se formavam.
No outro dia, já estava em sala de aula, cursando a oitava série sem conhecer ninguém e esforçando-me todos os dias para dominar o idioma. Desde então, visitar a Venezuela, só de ano em ano.
Daquele começo de década até este novo milênio muita coisa boa e ruim aconteceu.
O último laço com Guasipati, minha antiga cidade, foi cortado em dezembro de 2004, quando vendi a casa que tínhamos lá.
Fiz alguns amigos, ganhei muitas inimizades, engordei, emagreci, viajei pelo Brasil e parte da América, passei meses sem sair da cidade, virei jornalista e curso sociologia. (Recordando, jornalismo era a última das opções. As primeiras eram filosofia, psicologia e fisioterapia. Como à época não ofertavam esses cursos no Estado, fiquei dividido entre letras e comunicação social, escolhendo a última.)
Trabalhei como office boy, professor de espanhol, datilógrafo de trabalhos escolares e monitor dos projetos culturais do Sesc. Mas fui bom mesmo como desempregado profissional.
Depois de alguns anos economizando, comprei uma casa para meus pais, uma supermegahipermaxi bicicleta aluminum vermelho-linda com amortecedor frontal e um carro vagabundo para fazer o trecho casa-trabalho-faculdade e carregar as compras do supermercado. No balanço, acho que estou bem, levando em conta que nunca fui de planejar muito o futuro. Espero agora que venham outros dias, com muitas alegras e postagens agradáveis.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Viagem pela BR 174



Leiam esta historinha digital da Mônica numa viagem à ilha de Margarita, procurada todos os anos por milhares de brasileiros de Roraima e do Amazonas para desfrutar das delícias do Caribe.
A HQ peca quando mostra cenas da família da dentucinha passeando à vontade na área indígena waimiri-atroari. Neste trecho, os carros não podem sequer estacionar, o que é lembrado a cada centena de metros por placas enormes. Também não é permitido fotografar os animais. Depois das 18h, carros particulares não passam, somente ônibus. O tráfego é liberado de manhã.
De qualquer forma, valeu a intenção.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Situações


Estava tão mal no mercado que quando tentou vender a alma, ainda teve que devolver algum ao comprador.
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Era um esforçado. A vida lhe deu limões e ele fez limonada para vender, mas não havia açúcar ou adoçante caindo do céu.
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Anunciou no jornal: procuro amor e trabalho. Sem experiência comprovada.
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Saiu correndo quando viu o rapaz com quem havia marcado um encontro às escuras. Conta que foi espanto a primeira vista.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Dias de janeiro

Ocupado.
Cansado.
Estudando, depois do fim da greve da universidade.
Sem dinheiro (Quando se é assalariado e o pagamento sai antes do prazo, o mês fica mais longo...)
Sem tempo para sonhar, apenas trabalho e leituras de sociologia das organizações, planejamento urbano e formação sócio-econômica da Amazônia.
Fechando mais um informativo de meu local de trabalho.
Vendo a chuva cair em dias inesperados.
Agora no orkut.
Pensando.
Cancelando, por enquanto, os encontros da Confraria Lúpulo com Guaraná, formada pelos Três Mosquiteiros (Nei Costa, Luiz Valério e eu) e Dona Dartanhã (Zanny Adairalba).



A Confraria

terça-feira, janeiro 17, 2006

Roraima blues

Entra sem avisar, muda a estação da rádio, me leva da bossa nova ao blues, do samba ao rock n' roll. Sorri, pareço um tonto, perco os sentidos ao entrar em seus olhos e notar a diferenças da vida.
Conversa comigo em uma língua estranha - não há dicionário para traduzir seu efeito. Morde minha orelha e diz que vinho bom é vinho quando se ama. Toco suas costas e conto cada poro com a boca. É uma conta sem fim.

De seus dedos, tocando-me, parece sair música. Danço o ritmo que ela quer. A angústia de sua chegada é como a angústia da partida.

Rio, choro, grito, maldigo seu efeito em mim. Não sou mais homem. Sou criança pedindo atenção, pássaro sem asas, sonhador rogando por imaginação.

Esfrega-se em mim e penso que Deus é justo, mesmo sem acreditar em divindades. Um riso em meu peito é um roce na pouca paz que ainda me resta. Depois me aperta, ajudando-me a não fugir de minha condenação. Fecho os olhos e acho que enfim sou feliz enquanto rabisca sua poesia para marcar em mim seu território. E a madrugada vira manhã, tarde, noite, infinito.

De repente, alma entregue, corpo submerso, navego, flutuo, deslizo até o vulcão. Queimo, rio, é janeiro e acho que chove lá fora.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Espirituosa

Ligeiramente cambaleante, depois de ser medicada para normalizar a pressão, que estava em 20 x 10, dona Maria José me diz na saída do hospital, quando a pego pelo braço para irmos até o carro:

- Eu estou bem. Não sei pra que tanta gente me segurando como se eu fosse cair.

- Quer dizer que a senhora está bem? Então vai caminhando até chegar em casa. É só pegar o retão da avenida e pronto.

Língua afiada, mente rápida e corpo cansado, minha avó responde:

- Meu filho, eu iria, mas o médico insistiu que devo repousar...

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Aperfeiçoamento



Ao reler seus antigos textos, ele comentou:

- Nossa, como mudei meu estilo de escrever!

Ela não percebeu o auto-elogio implícito na frase e deixou escapar, enquanto assistia a um vídeo-documentário:

- Para mal ou pior?

Um estranho e emburrado silêncio tomou conta da casa por algumas horas.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Oníricos


Na mesma cidade, numa noite qualquer, duas pessoas com pouca amizade sonharam uma com a outra. Acharam absurdas as cenas e riram quando amanheceu e o sol os encontrou em suas camas, distantes vários quilômetros.

Dias depois, encontraram-se numa festa. Nunca trocaram mais de três palavras, o tradicional "olá, como vai?", e não foi neste dia que tudo mudou.
Na mente de cada um, a pergunta: o que aconteceria se contasse o seu sonho ao outro?

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Mens sana in corpore sano

Depois de alguns meses, concluí a leitura de Pasajes de la Guerra Revolucionaria, coletânea de artigos escritos por Ernesto Che Guevara sobre o combate contra o regime batistiano em Cuba.
Encaro agora o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.
E quando dá tempo, pega minha megahipersuperbike de alumínio com amortecedores frontais e vou preparando o corpo para as primeiras trilhas deste ano.
E você, o que está lendo?

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Metas para 2006


Agora que o ano começou, a euforia de um monte de pessoas já diminuiu e os carnês do IPTU, do IPVA e da escola particular de muito fulano já estão sendo impressos, causando pavor no orçamento, agora sim vale a pena estabelecer metas realistas a cumprir nos próximos dozes meses:

1) Concluir o curso de sociologia. Depois, farei como FHC e me tornarei presidente do Brasil, criando uma nova moeda, derrotando o PT em toda eleição e privatizando o que restar de empresa pública.
2) Reatar laços com algumas pessoas que deixei para trás nos últimos dois anos, especialmente, e cuja convivência me fazia bem. Mas se elas não quiserem, que se danem. Até hoje me virei muito bem sozinho sem elas.
3) Conseguir publicar o meu livro de crônicas e poesias. Já tem o patrocínio no esquema (Salve o Sesc Roraima!) e falta só o Nei entregar a boneca impressa para fazer os últimos ajustes.
4) Comprar um imóvel e construir ou alugar, transformando-me em um miniempresário do setor imobiliário.
5) Reduzir ou pelo menos conter o avanço dos quilos a mais. Essa sim é uma briga entre o corpo e a mente.

Cinco é um bom número. Mais do que isso é exagero. Alguém me lembre delas em dezembro, please.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Crescimento



Ela disse:
- Amorzinho, vamos discutir o nosso relacionamento?

Ele respondeu, surpreso:
- Mas de novo? Toda semana é praticamente a mesma coisa!

Ela explicou sua atitude:
- Olha só: é tudo para o crescimento de nossa relação. Só isso.

Ele, olhando para baixo e sentando-se, resmungou:
- Se é para crescer, devias me chamar para jogar basquete ou vôlei...

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Cenas de Natal


Para o dia 25, o governo estadual prometeu fazer a distribuição de brinquedos para as crianças de famílias carentes. Anunciou isso nas TVs, rádios, jornais e em carros nas ruas.
Os portões do estádio Flamarion Vasconcelos seriam fechados às 8h30, mas desde as 5h30 haveria ônibus rodando pela cidade, catando aqueles que encarassem a fila.
Às 4h30, retornando de uma madrugada de conversa, vinho, água e churrasco na fazenda urbana de Nei Costa, Zanny e eu vimos que já havia fila para receber os mimos do governo.
O governador Ottomar Pinto, que tem o costume de distribuir pintos, biquínis, peixe, iogurte, material de construção e terrenos, chegou às dez horas para fazer a distribuição.
Ao meio-dia, sob o sol forte de um dia de Roraima (só quem esteve aqui, sabe o que isso significa em termos de temperatura e ardência na pele), centenas de pessoas esperavam em frente ao estádio a chance de pegar um ônibus que as levassem de volta aos seus bairros. Aproveitavam a sombra de pequenas árvores para refugiar-se. Sob suas cabeças, as redes serviam de chapéus.
Quando chegava um ônibus, lá estavam crianças e adultos, carregando brinquedos e redes de dormir, empurrando-se para garantir um lugar e o retorno às suas casas.
Na minha cabeça, algo semelhante às cenas de retirantes e vítimas de guerras.
Às 16h, ainda havia pessoas esperando que os ônibus e vans alugadas pelo populista governo roraimense os levassem de volta aos seus bairros.
Mas é claro que também estavam lá famílias de renda maior que a maioria, com seus carros e roupas mais caras, apenas pela mesquinhez de receber algo supostamente dado de graça.
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No mesmo dia 25, a família Borges reuniu-se na maloquinha de minha mãe para um almoço. Se não fosse um comentário solto de meu pai, ninguém teria lembrado que os dois completavam 32 anos de casados. Foi flecha para tudo quanto foi lado.
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Hoje, 26, é dia de comemorar os 14 anos de Sângela, minha afilhada. Amanhã é dia de missa de um mês de morte do irmão da garota. No último 18, o guri completaria 17 anos. O tempo anda e, como disse Sângela, de tudo temos que tirar uma lição ou a vida fica só naquela coisa besta de ser.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Folga fraudada

Era para não trabalhar esta semana e trampar na próxima. Mas cá estou, fazendo serviços como se não houvesse folga nenhuma.

De qualquer forma, bom natal a todos. Até semana que vem.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Um ano lá, um ano aqui



Há um ano, às 16h45, estava em Lima, capital do Peru, entrando em um táxi para dirigir-me a uma estação de embarque da empresa de ônibus Cruz del Sur e viajar até a cidade de Arequipa, a caminho de Machu Picchu.

Passei uma noite e menos de um dia na capital peruana. Olhei pela primeira vez o oceano Pacífico, entrei em igrejas históricas, vi catacumbas cheias de ossos, caminhei no meio de uma cidade cerimonial da tribo Lima, no meio de um bairro residencial, e comi um prato sem gosto em um restaurante vagabundo.

Isso sem contar o péssimo negócio que fiz ao contratar um taxista como guia turístico. E foi um péssimo negócio em dólares.

E hoje, sexta-feira, exatamente um ano depois, estou aqui, numa pesquisa emocionante sobre a loja em que posso comprar latas de tinta por um preço mais baixo.