Cenas de NatalPara o dia 25, o governo estadual prometeu fazer a distribuição de brinquedos para as crianças de famílias carentes. Anunciou isso nas TVs, rádios, jornais e em carros nas ruas.
Os portões do estádio Flamarion Vasconcelos seriam fechados às 8h30, mas desde as 5h30 haveria ônibus rodando pela cidade, catando aqueles que encarassem a fila.
Às 4h30, retornando de uma madrugada de conversa, vinho, água e churrasco na fazenda urbana de Nei Costa, Zanny e eu vimos que já havia fila para receber os mimos do governo.
O governador Ottomar Pinto, que tem o costume de distribuir pintos, biquínis, peixe, iogurte, material de construção e terrenos, chegou às dez horas para fazer a distribuição.
Ao meio-dia, sob o sol forte de um dia de Roraima (só quem esteve aqui, sabe o que isso significa em termos de temperatura e ardência na pele), centenas de pessoas esperavam em frente ao estádio a chance de pegar um ônibus que as levassem de volta aos seus bairros. Aproveitavam a sombra de pequenas árvores para refugiar-se. Sob suas cabeças, as redes serviam de chapéus.
Quando chegava um ônibus, lá estavam crianças e adultos, carregando brinquedos e redes de dormir, empurrando-se para garantir um lugar e o retorno às suas casas.
Na minha cabeça, algo semelhante às cenas de retirantes e vítimas de guerras.
Às 16h, ainda havia pessoas esperando que os ônibus e vans alugadas pelo populista governo roraimense os levassem de volta aos seus bairros.
Mas é claro que também estavam lá famílias de renda maior que a maioria, com seus carros e roupas mais caras, apenas pela mesquinhez de receber algo supostamente dado de graça.
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No mesmo dia 25, a família Borges reuniu-se na maloquinha de minha mãe para um almoço. Se não fosse um comentário solto de meu pai, ninguém teria lembrado que os dois completavam 32 anos de casados. Foi flecha para tudo quanto foi lado.
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Hoje, 26, é dia de comemorar os 14 anos de Sângela, minha afilhada. Amanhã é dia de missa de um mês de morte do irmão da garota. No último 18, o guri completaria 17 anos. O tempo anda e, como disse Sângela, de tudo temos que tirar uma lição ou a vida fica só naquela coisa besta de ser.