quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O fim de uma era

Atrasado no assunto, relembro a renúncia do comandante Fidel Castro. Liderança carismática que encantou e inspirou centenas de pessoas nos últimos 50 anos, Fidel abre vastas possilidades para o futuro da da Ilha de Cuba. Politicamente, sugere representar o fim de uma era. As revistas semanais devem deliciar-se na próxima semana mostrando a penúria pela qual passam os cubanos em algumas situações e ignorar solenemene as conquistas nas áreas de educação e saúde.

Da minha parte, meus planos de um dia ir a Cuba e assistir a um discurso de Fidel no meio de seu povo estão descartados. Só não fico mais frustrado por lembrar que em 1999 o vi em Belo Horizonte.

Estávamos eu e dois colegas de faculdade (os hoje jornalista André Vasconcelos e químico Rhayder Abensour) em um congresso da União Nacional dos Estudantes realizado na capital mineira. Fidel estava no País e atendeu a um pedido da UNE para discursar no congresso.

Lembro que a euforia tomou conta de quase todos os participantes. Na entrada do ginásio Mineirinho, um casal que não era estudante disse que fazia questão de ver Fidel discursar.

Fidel chegou muitas horas depois de seus seguranças ocuparem pontos estratégicos no ginásio. A posição que ocupei no meio da quadra do ginásio, longe das poucas caixas de som instaladas pela organização, transmitiram palavras cortadas durante boa parte do discurso. Quase no final percebi que o melhor local para ouvi-lo era bem na frente do palco. Tarde demais. Cansado e aborrecido, continuei, desta vez por escolha, no lugar aonde a som chegava ruim.

Fidel se retira da cena principal e deixa Raúl, seu irmão, como sucessor. Eu nunca mais terei chance de ouvi-lo.
Um dia, entretanto, quando meu filho ler em algum livro de história sobre esta figura da história mundial, poderei dizer: papai esteve em um discurso dele.

Na sequência, o texto de despedida de Fidel, traduzido e copiado da Agência Estado:



"Queridos compatriotas:

Prometi na última sexta-feira, 15 de fevereiro, que a próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. Este artigo adquire esta forma de mensagem.

Chegou o momento de postular e eleger o Conselho de Estado, seu presidente, vice-presidentes e secretário.

Desempenhei o honroso cargo de presidente por muitos anos. Em 15 de fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição Socialista por voto libre, direto e secreto de mais de 95% dos cidadãos com direito de voto. A primeira Assembléia Nacional foi constituída em 2 de dezembro do mesmo ano e elegeu o Conselho de Estado e a sua Presidência. Antes, exerci o cargo de primeiro-ministro durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo.

Conhecendo o meu estado crítico de saúde, muitos no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de presidente do Conselho de Estado, em 31 de julho de 2006, que deixei nas mãos do primeiro-vice-presidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. O próprio Raúl, que ainda ocupa o cargo de Ministro das Forças Armadas Revolucionárias por méritos pessoais, e os demais companheiros da direção do Partido e do Estado, foram resistentes a considerar-me afastado de meus cargos, apesar de meu precário estado de saúde

Era incômoda minha posição frente a um adversário que fez de tudo para se desfazer de mim, e em nada me agradava comprazê-lo.

Mais adiante pude alcançar novamente o domínio total da minha mente, a possibilidade de ler e meditar muito, obrigado pelo repouso. Me acompanharam as forças físicas suficientes para escrever por muitas horas, as quais compartilhei com a reabilitação e os programas pertinentes de recuperação. Um elementar sentido comum me indicava que esta atividade estava ao meu alcance. Por outro lado, me preocupo sempre, ao falar da minha saúde, em evitar ilusões que no caso de um desenlace adverso, trariam notícias traumáticas ao nosso povo no meio da batalha. Prepará-lo, psicológica e politicamente, para minha ausência, era minha primeira obrigação após tantos anos de luta. Nunca deixei de assinalar que não se tratava de uma recuperação "isenta de riscos".

Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último sopro. É o que posso oferecer.

"A meus queridos compatriotas, que me deram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo seio devem ser adotados acordos importantes para nossa Revolução, comunico que não aspirarei e nem aceitarei - repito - não aspirarei e nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-chefe."

Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, diretor do programa 'Mesa Redonda' da televisão nacional, que foram divulgadas por minha solicitação, foram incluídos discretamente elementos da mensagem que hoje escrevo, e nem sequer o destinatário das mensagens conhecia meu propósito.

Confiei em Randy porque o conheci bem quando ele era estudante universitário de Jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos alunos, que já eram conhecidos como o coração do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se abrigavam. Hoje, todo o país é uma imensa universidade.

Parágrafos selecionados da carta enviada a Randy em 17 de dezembro de 2007:

"Minha mais profunda convicção é de que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana - que possui uma média educacional próxima de 12 graus, quase um milhão de pessoas com ensino superior completo e a possibilidade real de estudo para seus cidadãos sem nenhuma discriminação - requerem mais soluções para cada problema concreto do que as contidas em um tabuleiro de xadrez.

Nenhum detalhe pode ser ignorado, e não se trata de um caminho fácil, se é que a inteligência do ser humano em uma sociedade revolucionária prevalece sobre seus instintos.

Meu dever elementar não é me perpetuar em cargos, ou impedir a passagem de pessoas mais jovens, mas fornecer experiências e idéias cujo modesto valor provém da época excepcional que pude viver. Penso como (Oscar) Niemeyer que é preciso ser conseqüente até o final".

Carta de 8 de janeiro de 2008:

"Sou decididamente partidário do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado). Foi o que nos permitiu evitar as tendências de copiar o que vinha dos países do antigo bloco socialista, entre elas a figura de um candidato único, tão solitário e ao mesmo tempo tão solidário com Cuba.

Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças à qual pudemos continuar o caminho escolhido. Tinha muito presente que toda a glória do mundo cabe em um grão de milho.

Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total quando não estou em condições físicas de oferecer isso. Explico sem dramaticidade.

Felizmente nosso processo conta ainda com quadros da velha-guarda, junto a outros que eram muito jovens quando começou a primeira etapa da Revolução. Alguns quase crianças se incorporaram aos combatentes das montanhas e depois, com seu heroísmo e suas missões internacionalistas, encheram de glória o país. Contam com autoridade e experiência para garantir a substituição.

Dispõe igualmente nosso processo da geração intermediária que aprendeu conosco os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução.

O caminho sempre será difícil e exigirá o esforço inteligente de todos. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis da apologética, ou da autoflagelação como antítese. É preciso se preparar sempre para a pior das hipóteses.

Ser tão prudentes no êxito quanto firmes na adversidade é um princípio que não pode ser esquecido. O adversário a derrotar é extremamente forte, mas o mantivemos longe durante meio século.

Não me despeço de vocês. Desejo apenas lutar como um soldado das idéias. Continuarei a escrever sob o título 'Reflexões do companheiro Fidel'. Será mais uma arma do arsenal com o qual se poderá contar. Talvez minha voz seja ouvida. Serei cuidadoso.

Obrigado

Fidel Castro Ruz

18 de fevereiro de 2008"



domingo, fevereiro 03, 2008

O que andei fazendo...

Blogueiro desleixado, abandonei parcialmente o blogspot em função da alimentação do blog criado para acompanhar a gravidez e o nascimento de meu filho, o indiozinho mais bonito das malocas do Norte. Para quem ainda se dá ao trabalho de passar por aqui e não estava sabendo desse fato, o ideal é que clique e conheça as Histórias de um índio velho e seu filho.

Bom, por onde mais andei desde novembro? Arrumando a maloca do índio, lendo muito sobre jornalismo para começar a lecionar numa faculdade particular de Boa Vista e tentando malhar para não ficar um índio sem agilidade de caçador.

Também andei concorrendo (e ganhando uma graninha pelo primeiro lugar) a um prêmio de jornalismo promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Roraima.

Vai aqui o lide da matéria, feita para o website do jornal Roraima Hoje:

Estudo mostra biodiversidade dos peixes nos igarapés de Boa Vista

Várias vezes por semana, o professor Filipe Melo troca as atividades nas salas de aula da UERR (Universidade Estadual de Roraima) por uma visita aos igarapés da cidade, onde pesquisa a biodiversidade dos cursos d’água que cortam Boa Vista. A intenção é descobrir quais espécies de peixes sobrevivem na área urbana e saber se podem ser utilizados como bioindicadores da qualidade da água. A pesquisa de Melo, doutor em ictiologia, é apoiada pelo CNPq e Femact (Fundação Estadual do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia). Conforme diz, esse estudo faz parte de um projeto mais amplo, que tem como objetivos gerais fomentar o conhecimento, valorização, a preservação, uso racional de parte do patrimônio biológico do Estado e fornecer subsídios para práticas e políticas de conservação.

Para ler todo o texto, caso interesse, clique aqui

E o bom de postar hoje é que serve como uma espécie de comemoração de 17 anos morando nesta grande aldeia que é Boa Vista. Cheguei aqui no dia 3 de fevereiro de 1991, exatamente num domingo quente como foi o dia de hoje. Na segunda já estava pisando em sala de aula, sem saber escrever português e sem conhecer ninguém, além de alguns da minha família. Mas isso é coisa que acho ter escrito em algum outro fevereiro no blog.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Outras cenas de novembro



A pior parte de uma obra é...Na verdade, não há pior parte de uma construção. Todo o processo é doloroso. Ainda mais quando o executante não manja quase nada dessa parte da vida. 

Fazer as compras, contratar o pedreiro, descobrir que aquilo que se encomendou não foi bem o que se fez ou o que se deveria ter feito...Enfim, obra é um perrengue, tanto físico como mental.

E o XI Conpoesi (Concurso de Poesia do Sesi) aconteceu na sexta passada. Para variar, não ganhei nada. Continuo azarado em questões de competição. Por isso que quando os meus amigos e eu gostávamos da mesma moça, eu já partia para outra. Isso evitava o gosto da derrota. 

Mas voltando ao Conpoesi, o Sesi Roraima lançou, também na sexta, a terceira coletânea de poesias classificadas no concurso. É um belo livro, com mais de 100 paginas e dois poemas meus. A Zanny, mãe do indiozinho, também tem uma no livro.

E rolou a defesa da monografia de Sociologia. Com o tema focado na memória de idosos falando sobre a avenida Jaime Brasil, uma das principais da cidade, encarei na quinta-passada a banca e uma platéia de cerca de 30 alunos do curso e uns conhecidos. 

Nervoso, gaguejei, me enrolei, ouvi centrado as críticas (muito certeiras, por sinal) ao trabalho e aguardei o veredito. O trio de professores demorou um pouco, mas quando voltou a notícia era boa. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos e por isso a nota da banca foi 10 (desde que faça umas correções e acréscimos). 

Agora sou graduado em jornalismo e sociologia, com uma especialização em assessoria de comunicação. 

E o salário? Ô...pequeninho, pequeninho...

quarta-feira, novembro 14, 2007

Descobertas



Descobrir certas coisas na vida nos faz mal. Saber, por exemplo, que alguém na empresa ganha mais do que você, mesmo fazendo muito menos, desestimula.

Outra descoberta negativa é a das notas baixas na escola. Na verdade, o aluno sempre sabe, quem não deve descobrir de jeito nenhum são os pais.
Uma mãe ou um pai que descobre que a filha querida, a criança da casa, o bebê inocente do lar, anda de beijos, mãos e outras coisas mais por aí também não fica nada satisfeito.

Esperar meses, anos pela pessoa amada, rejeitando novas oportunidades, apostando no futuro e finalmente, quando a história de amor está engatada, perceber que nada daquilo que se esperava vai acontecer também não é nada bom.

Enfim, há descobertas e descobertas. Por mim, as únicas descobertas agradáveis que poderiam surgir no mundo seriam a de um depósito secreto de alguns milhares de euros em minha conta e a do corpo amado/desejado que aparece depois da roupa e dos lençóis terem sido deixados de lado.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Cenas de novembro



Ao lado da lan lenta de onde estou postando, um grupo de indígenas mexe no lixo de um supermercado, aparentemente em busca das melhores verduras que jogaram fora.

Boa Vista continua quente.

De férias na cidade, não encontro meus amigos pois eles não querem que os encontre.

A minha monografia de sociologia finalmente tem data marcada para ser defendida: 19 de novembro. Finalmente consegui terminá-la. Agora é encarar a banca.

O indiozinho continua crescendo. Na última medição, estava com 35 centímetros. Se continuar assim, vai nascer maior que os pais.

Já falei que a cidade está muito quente e que mesmo assim muitas pessoas trabalham na rua, vendendo, comprando, promovendo, aparecendo?

Concorro este mês em um prêmio de poesia local, o Conpoesi (Concurso de Poesia do Sesi). Tomara que ganhe algum R$. A situação tá meio periclitante.

Não consigo falar com o chefão da Editora da UFRR para agilizar o meu livro. Acho que assim, assim, vamos entrar em 2008 e nada. Já plantei as árvores, vou ter o filho, estou em duas antologias poéticas impressas mas o meu livro próprio nada.

bá..pareço um velho reclamando da vida.

Acho que vou migrar para o wordpress para facilitar as postagens de qualquer canto.

Falando em canto, foi lançado o edital da III Mostra de Música Canta Roraima. Infos aqui ou aqui.

terça-feira, outubro 23, 2007

Calor, correria e chuva






Os dias têm sido corridos, tanto no trabalho como na esteira da academia.
Também foram muito quentes, principalmente no final de semana. Nada recomendável passar pela minha cabana nesses dias. Parecia Manaus, com aquela sensação insuportável de que a pele está gosmenta por conta do suor
E então, de repente, na segunda e terça-feira começa a cair uma chuvinha aqui, uma chuvinha ali. De um minuto para o outro, porém, o mundo pareceu desabar.
Choveu na tarde desta terça na capital de Roraima.

Quase não consigo entrar no trabalho. Lamentavelmente, foi só quase.


Choveu no sentido mais exagerado da palavra, com raios, trovões, ruas alagando, carros a baixa velocidade na avenida Ville Roy e muita gente olhando espantada para o céu, perguntando-se: “que diabos é isso, chover assim nesta época?”.
Dizem até que choveu granizo. Eu já acho que um dos muitos raios que caíram hoje fez pipocar um areal qualquer e os grãos espantaram o povo.
Isso confirma minha teoria: quando começa a fazer muiiiiiiiiitoooooooo calor em Boa Vista, é sinal de que vai cair chuva. Já a havia comprovado em outros meses, mas nunca na primeira parte do verão.
Parecia que estávamos em junho, quando o inverno amazônico está a mil.
Pelo menos hoje a cidade não vai anoitecer quente.


terça-feira, outubro 09, 2007

Frases atrasadas sobre o feriadão...


Quinta-feira, show morno e sem graça com o Flávio Venturini.

Sexta-feira, 19 anos de criação do estado de Roraima.

50 pampeiros esperando abastecer no posto de combustível instalado a 40 metros da fronteira com a Venezuela.

Uma hora na fila dos turistas esperando para encher o tanque com a gasolina venezuelana a 1.400 bolívares.

Um real comprando 2.030 bolívares.

Santa Elena de Uairén lotada de brasileiros comprando eletro-eletrônicos com preço de puerto libre.

Santa Elena, definitivamente, a cidade de praia dos boa-vistenses.

Congestionamento nas ruas, soldados controlando o trânsito armados com fuzis.

Chuva na Gran Sabana...

De repente, acabam os bolívares dos cambistas e há filas nos bancos para sacar mais dinheiro.

Viagem de retorno lenta. Despacito, pero seguro.

Cansaço.

Queda na cama. E assim se vai a sexta, sem casamento do Luciano na Igreja Matriz, sem show da Elba Ramalho no parque Anauá.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Espadas e heróis



No supermercado, enquanto espero pela mãe do indiozinho, um pai observa o filhinho terminar de mexer nos brinquedos que estão na prateleira. Daí, o moleque enche o pulmão e fala:

- Pelo poderes de Grayskull!!! Eu tenho a força!!!!



He-Man, o bombado dos 80's



Na fração de segundo em que lembro dos comerciais da TV Globo mostrando a nova versão do He-Man, com os personagens Gato Guerreiro e Esqueleto bem mais definidos que no desenho original, o pai se encarrega de corrigir o guri, de não mais de três anos:


- Mas filho, essa espada é de pirata, não é do He-Man.

- Não?, pergunta espantada a criança, enquanto devolve a espada e a troca por outra.

- E essa, pai, é do He-Man?

- Também não, filho. Essa é de ninja.

- Mas serve do mesmo jeito, pai.

Coitado do novo He-Man. Ainda não conseguiu chegar às prateleiras dos supermercados para ocupar mentes e almas de crianças e o bolso dos adultos como o fez na década de 1980.

A turma do cara


Os interessados em ver a abertura do desenho, com as cenas clássicas do Pacato sendo transformado no Gato Guerreira, podem clicar aqui que vão parar direto no YouTube. Enquanto não aprendo a deixar a tela do vídeo dentro do próprio blog, vai assim mesmo.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Paixões afiadas

Depois de passar semanas negando, não teve como esconder que estava amando. E era uma paixão feroz, daquelas que deixam marcas, que arroxeiam.
A sorte dela era sua pele morena, menos sensível às marcas que se destacam nas moças brancas depois de uma sessão amorosa mais exaltada.


Para seu azar, entretanto, sua melanina estava dissolvida na mistura do pai negro e a mãe branca. Sendo assim, as marcas da paixão eram visíveis no seu ombro direito naquela manhã de quinta, expondo-a às piadas e perguntas indiscretas dos colegas.

Obviamente, nada que a faça desistir de seu amor de unhas mal cortadas e dentes afiados.

quarta-feira, setembro 19, 2007

O que já foi da III Mostra Sesc Macuxi de Artes


A abertura da III Mostra Sesc Macuxi de Artes foi muito bonita. Dezenas de pessoas fizeram uma passeata da Praça das Águas até o Sesc Centro. Havia capoeiristas, como o pessoal do grupo Angola Palmares; músicos, atores, dançarinos de quadrilha, cirandeiros, o pessoal da Banda Municipal e a bateria da escola de samba Praça da Bandeira, homens em pernas de pau.

Esse povo todo fez uma festa em frente ao Sesc. Depois vieram os primos índios e apresentaram duas danças indígenas, fazendo uma grande confraternização entre a cultura branca e a cultura dos primeiros habitantes de Roraima.

Da programação de sábado só peguei a comédia Nós, Perdidos, da Cia. Malandro é o Gato, que está sendo apresentada desde o ano passado.

No domingo, por estar vendo a intervenção de dança da Cia. Máster Class, feita na Praça das Águas, perdi o espetáculo Botequim de Samba, no palco do Sesc. Quando Zanny e eu chegamos, até as cadeiras já haviam sido retiradas.

Segunda-feira tive a grata surpresa de me deliciar com a peça “Compassos em Silencio”, do Grupo Locombia Teatro de Andanzas, uma trupe formada por um casal e o filho de 5 ou 6 anos. Mímica, música, interação com o público, poesia do silêncio...Adoro clowns. Nessa de interagir, até eu fui levado ao palco pelos atores, nascidos na Colômbia (atenção à inversão de sílabas para criar o nome do grupo).

Terça foi noite do encontro poético Declamando Eliakin Rufino, poeta roraimense de grande destaque. Dezenas de alunos da Fundação Bradesco, amigos, atores convidados e fãs ocuparam o pequeno espaço da biblioteca Afonso Rodrigues de Oliveira para ouvir e falar poesias do Eliakin, autor de vários livros.

Depois da poesia entrar na veia, foi a vez de pegar a fila para assistir à peça “Capitu - Memória Editada”, do Grupo Delírio Cia. de Teatro, de Curitiba-PR. Os atores vieram a Roraima inseridos no projeto Palco Giratório e mandaram muito bem. É um senhor espetáculo, inspirado no livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.

No começo da apresentação houve um blecaute na cidade e tiveram que parar, pois não queriam que o público ficasse ouvindo uma rádionovela em vez de uma peça de teatro. Mas esse contratempo não impediu que, ao retorno da energia, recomeçassem e encantassem o público com a performance. Amanhã eles voltam a subir no palco, mostrando a história de Bentinho, Capitu e as porcarias que o homem faz quando fica cego de ciúmes. Se você, como eu, nunca leu a obra, clica aqui e baixa o livro de graça.


Cena de Capitu - Memoria editada

A movimentação das artes continua...

19/09 quarta
8h às 12h - Oficina de Confecção e Manipulação de Fantoches com Tarsis Magalhães e Agda Maira. Espaço IX

14h às 18h - Oficina “A Criação Cênica”, com o Grupo Delírio Cia. de Teatro, de Curitiba-PR, do Projeto Palco Giratório.Espaço III


19h - “Videobrasil” Mostra - programa dos vídeo-arte premiados no 16º Festival Internacional de Linguagem Eletrônica. Programa 3: Prêmios de Realização. Espaço III


19h30 - Pensamento Giratório Painel sobre a relação da obra Dom Casmurro com a cena..Capitu - Memória Editada é inspirado na obra de Dom Casmurro, de Machado de Assis. Participação Grupo Delírio Cia. de Teatro e Dr. Rui Guilherme- Espaço II


21h - Espetáculo “O Santo Inquérito”, da Cia Arteatro, de Boa Vista-RR. Espaço I


22h - “Luau Cultural”. Encontro no Porto da Marina Meu Caso, no bairro São Pedro.

20/09 quinta

14h às 18h - Oficina “Iniciação a Técnicas Teatrais”, com Cia Arteatro, de Boa Vista-RR, na Escola Estadual Maria Nilce Macedo, no bairro Cauamé


15h - Apresentação de Filme do projeto “A escola vai ao Cinema”, na Escola Estadual Maria Nilce Macedo, no bairro Cauamé.


19h30 - Mesa Redonda “Artes Cênicas em Roraima: produção e distribuição, com a participação do secretário de Educação e Cultura, Luciano Fernandes Moreira, do presidente da Fetec, Osmar Marques da Silva Junior, do diretor regional do Sesc, Kildo de Albuquerque Andrade, do presidente da Fetearr, Marcelo Peres, e representante dos grupos de dança, Isabel Santos. Espaço III


19h30 - Espetáculo de dança “Cultura Popular”, da Cia Máster Class, de Boa Vista-RR. Espaço II


20h30 - Espetáculo “Capitu Memória Editada”, do Grupo Delírio Cia. de Teatro, de Curitiba-PR, do Projeto Palco Giratório. Espaço I

21/09 sexta


8h às 12h - Oficina de Confecção e Manipulação de Fantoches, com Tarsis Magalhães e Agda Maira. Espaço IX


14h às 18h - Oficina “Iniciação a Técnicas Teatrais”, com a Cia Arteatro, de Boa Vista-RR, na Escola Estadual Maria Nilce Macedo, no bairro Cauamé.


18h às 21h - Oficina de Dança Clássica da Índia “Odissi”, com o Grupo Locombia Teatro de Andanzas, de Barranquilha-COL. Espaço X


15h - Apresentação de Filme do projeto “A escola vai ao Cinema” em escola estadual.


19h30 - Espetáculo de dança “Três em 1”, da Cia Aura de Dança, de Boa Vista-RR. Espaço II


21h - Espetáculo teatral “Assim é, se lhe parece '', com Yandra Firmino, de Cuiabá-MT. Espaço I

22/09 - sábado


8h às 12h/14h às 18h - Oficina: Interpretação do Ator para o Movimento Interno e Ação Total, com Yandra Firmino. Espaço III


10h - Intervenção teatral com da Cia Malandro é o Gato, na Jaime Brasil.


17h - Abertura do Overdoze


17h - Abertura


17h às 18h - Oficina de Desenho para Crianças, com Marcelo Santa Isabel. Espaço III


18h às 19h - Oficina de Skate para Crianças, com Marcelo Santana Azevedo. Espaço II


19h - Apresentação da Orquestra e do Coral Infanto-Juvenil do Sesc. Espaço I
Feira de Artesanato e vendas de comidas típicas. Espaço II
Sessões do Conto com Você “Contos da Meia Noite” e “Contos Sensoriais”. Espaços III e VI.


Apresentações musicais: Espaços I, II e VII

21h - Show do Clã Caboco. Espaço I


Poesias na Madrugada. Espaço VIII


Apresentação do vídeo “Quem tem Medo de Arte Moderna?. Espaço III


Miscelânea de Espetáculos, performances, esquetes, fragmentos de espetáculos, leitura dramática, música, cinema e artes plásticas. Espaços I e II


Bar da Canja Cultural (poesia, voz e violão). Espaço VI


Apresentações musicais Regionais, Reggae e Rock. Espaço II


5h - Encerramento da Mostra.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Começa a III Mostra Sesc Macuxi de Artes





Daqui a pouquinho começa a III Mostra Sesc Macuxi de Artes. Até o dia 22, quem gosta de arte não terá o que reclamar em Boa Vista. Haverá teatro, dança, música, debates, exposições, oficinas e mostra de cinema, com a participação de grupos e artistas locais e nacionais.

A agitação começa às 19h, com o Caldeirão Cultural, reunindo na Praça das Águas, centro da Cidade, todos os artistas que vão participar da Mostra. Da praça, sairão em cortejo até o Sesc Centro, local onde serão realizadas as atividades até o próximo sábado. Serão quatro quadras de caminhada.

Entre outros, estão confirmados para o cortejo o Grupo Locombia Teatro de Andanzas, a Banda Municipal de Boa Vista, a Bateria da Escola de Samba Praça da Bandeira com porta Bandeira e Mestre Sala e diversos Grupos Folclóricos.

A III edição da mostra tem o apoio da Fundação de Educação, Ciência e Cultura de Roraima (Fetec). Além de muitos espetáculos, será estimulada a formação profissional dos artistas, que poderão participar de oficinas, debates, palestras, mesa redonda e intercâmbios de metodologias de trabalho.

Este blogueiro participará como declamador (mais como leitor, na verdade) de uma poesia do escritor Eliakin Rufino e como auxiliar na Mesa Redonda “Artes Cênicas em Roraima: produção e distribuição”, da qual participação o secretário de Educação e Cultura, Luciano Fernandes Moreira; o presidente da Fetec, Osmar Marques da Silva Junior; o diretor regional do Sesc, Kildo de Albuquerque Andrade; o presidente da Fetearr, Marcelo Peres; e a representante dos grupos de dança, Isabel Santos.

Veja a programação de hoje até segunda, quando espero ter tempo para atualizar este blog:

14/09 sexta-feira (Abertura - Caldeirão Cultural)


19h - Concentração de artistas envolvidos na Mostra e comunidade para cortejo da Praça das Águas até a frente do Sesc Centro.
Retalhos culturais com apresentação do Grupo Locômbia Teatro de Andanzas, Banda Municipal de Boa Vista, sob o comando do Maestro Moisés Português tocando marchinhas, Bateria da Escola de Samba Praça da Bandeira com porta Bandeira e Mestre Sala e Grupos Folclóricos.


20h - (Sesc Centro)
Pronunciamento do diretor regional do SESC, Kildo de Albuquerque. Apresentação do texto de Abertura. Espaço II

20h30 - Apresentação da Dança do Parixara, com os índios Wapixana da Maloca Canauanin, do município de Cantá-RR. Espaço II

21h - Inauguração da exposição “Arte Indígena - do Artesanato às Artes Plásticas”, apresentando a arte dos povos indígenas de Roraima. Curadoria de Irmânio de Magalhães, da Artezanos (Espaço IV).

15/09 - sábado


10h - Intervenção teatral na Feira do Produtor, com grupo Criart Teatral (Boa Vista-RR)

14h às 18h -Oficina do Projeto Dramaturgia Leituras em Cenas. Espaço III

18h30 - Espetáculo de Dança Infantil “O Baú do Poeta”, da Escola de Dança Cristina Rocha, de Boa Vista-RR. Espaço I

20h30 - Espetáculo “Nós, Perdidos”, da Cia Malandro é o Gato, de Boa Vista-RR. Espaço I

16/09 domingo


19h - Espetáculo teatral infanto-juvenil “Em Busca de um Desejo”, do grupo Criart, de Boa Vista-RR. Espaço I

20h30 - Espetáculo de dança “Botequim do Samba”, do Grupo Harmonia e Ritmo, de Boa Vista-RR. Espaço I

19h30 -Intervenção com a Cia Máster Class, de Boa Vista-RR, na Praça das Águas.


quinta-feira, setembro 06, 2007

Grupos teatrais representam textos de Tchekhov e Hilda Hist


De 9 a 11 de setembro, grupos teatrais roraimenses vão apresentar textos do dramaturgo russo Anton Tchekhov e da brasileira Hilda Hilst, poeta, dramaturga e ficcionista.


As apresentações fazem parte do projeto Dramaturgia: Leituras em Cena, desenvolvido pelo Sesc Roraima em parceria com o Sesc Nacional. São o resultado da oficina “Análise do texto Dramático e Técnicas de Leitura Encenada” dirigida a diretores e atores teatrais de Roraima.

O coquetel de abertura acontece no sábado, mas os grupos só sobem ao palco no domingo (9), indo até terça-feira (11), sempre às 20h, no Espaço Multicultural Sesc Centro, com entrada franca.

Célis Regina, Marcelli Grécia Wottrich e Graziela Camilo vão dirigir os espetáculos.

O projeto estimula a prática da leitura de textos teatrais e a difusão de textos inéditos ou consagrados da dramaturgia nacional e mundial.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Por isso adoro a “sorte de hoje” do orkut

“Você é sociável e divertido”


(contra todos os que dizem o contrário)



Novo blog, com fins pediátricos:


Histórias de um índio velho e seu filho

segunda-feira, agosto 27, 2007

Como criar um filho

Definir as regras de criação de um filho não é fácil. Qualquer deslize e você o terá no divã do psicoanalista, na mesa do bar ou no banco dos réus argumentando que a forma como foi criado é responsável pelos seus problemas juvenis ou adultos.

É por isso que sempre gostei de ouvir histórias de criação. A mais recente é a do fotografo Orib Ziedson e seu filho Gabriel, que tem cerca de 10 anos.

Ziedson conta que o guri vai quatro vezes por semana às aulas do projeto Arte Jovem do Sesi, onde tem aulas de um monte de coisas, como música, teatro e não sei mais o quê. Além disso,
Gabriel, que às vezes carrega a mesma cara de mal-humorado do pai, tem aulas de caratê à noite (por isso o jovem faixa amarela também é um dos líderes da turminha).

Como eu mesmo gostaria de ter estudado um instrumento musical quando era mais jovem mas a minha mãe, por N motivos, não me matriculou, elogiei a iniciativa do Orib de estimular o guri a fazer tantas atividades.

Orib me diz que, mesmo com as críticas da avó materna do Gabriel alegando um possível stress do moleque, é partidário do seguinte estilo de vida:

- Eu fui criado sabendo que criança deve fazer o que os pais querem. Se o Gabriel vai ser vagabundo depois que crescer é problema dele, mas enquanto estiver comendo de meu pirão, é do meu jeito: arte, estudos e esporte. Disso ele não vai poder reclamar.

Dona Maria José, minha avó, pensa da mesma forma: criança, velho e soldado deve obedecer determinações superiores. Por isso já está decidido o que farei quando o meu filho nascer: sendo
indiazinha ou indiozinho, terá uma criação exemplar, sem as molezas dos meninos brancos.

Para começar, já defini a regra número 1: aprendeu a caminhar e está com fome? Muito bem, pegue o arco e a flecha e vá caçar ou coletar.

Agora só falta combinar com a mãe a aplicação do AC (Ato de Criação) 1.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Grávido na cidade

Esse pessoal de cidade, acostumado a muito conforto trazido pela ciência do homem branco, acaba por ficar um pouco molenga. Falta-lhes um muito da fibra indígena. Até para ter um filho precisam de mil e uma coisas.

Já nós, índios, não temos tantos caprichos assim. Se é para ter um filho, tem-se um filho até no intervalo entre uma caçada e outra.

A história da minha chegada ao mundo é mais ou menos essa. Contam os mais velhos da família que quando nasci meus pais estavam em uma aldeia pemón, visitando nossos parentes índios no sul da Venezuela. Era por volta do meio-dia, o seu Juca estava pescando e dona Neide tinha acabado de colocar a panela no fogo para aquecer a água e iniciar o preparo da damorida.

Ao sentir as primeiras contrações, dona Neide mandou uma menina chamar meu pai e depois entrou na cabana. Quando o (naquela época) jovem índio chegou, esbaforido, com a vara de pesca numa mão e os peixes na outra, eu, apesar de ter nascido com oito meses, já havia tomado meu primeiro banho e estava mamando tranqüilo.

Minha mãe, índia nova, formosa, cheia de energia, ainda teria reclamado da demora de seu Juca em trazer o pescado. Comeram a damorida, beberam um cadinho de caxiri e foram dormir la siesta. Eu, o indiozinho, herdeiro das tradições, já fiquei por ali, tranqüilo, dormindo sobre o tapete de palha no canto da cabana, sentindo o calor da fogueira.

Depois de um tempo, voltamos à cidade dos brancos e seus costumes estranhos, como o resguardo de não sei quantos dias para a mulher enfraquecida pelo parto e o impedimento de comer um monte de coisas.

Já falei para a Zanny: se ela fosse ter o indiozinho nas aldeias ianomâmis, o moleque ia nascer no meio da selva, onde teria o cordão umbilical cortado com uma folha de árvore. Nada de muito tecnológico, com certeza, mas eficiente até hoje. E o moleque ainda seria mais saudável que muito menino de branco.

Mas ela insiste em quebrar as tradições de minha família e ter um filho no hospital, com anestesia e um monte de médicos. Coisas de mulher criada na cidade dos brancos.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Identidade

Passamos a vida toda tentando demarcar o nosso território, querendo que as pessoas reconheçam o nosso valor e pelo menos saibam o nosso nome.

Matamos um leão a cada dia, fazemos pós-graduações, escrevemos livros, fazemos grandes trapaças, lideramos revoluções espirituais, obtemos enormes conquistas.

Usamos até crachás para facilitar a vida dos desmemoriados. Colocamos o nosso nome em caixa alta na mesa, no e-mail e no adesivo do carro para garantir o processo.

Brigamos com os nossos colegas de aula quando trocam o nosso nome e tentam nos sacanear com apelidos. Pronunciamos com um quê de irritação as letras de nosso nome quando alguém pergunta pela segunda vez ou o escreve errado.

Daí, quando chegamos à vida adulta, com um nome relativamente conhecido pelo menos entre um pequeno círculo de amigos, vemos que nada disso vale a pena.

Perdemos a nossa identidade para uma coisinha que ainda não nasceu ou que está recém nascida. Para os amigos, viramos simplesmente "o pai de Fulano" e a "mãe de Sicrana".
O que compensa é que um dia talvez possivelmente o mesmo vai acontecer com eles.

terça-feira, julho 24, 2007

Comidas

Ela disse, sedutora:

- Tenho para ti esta noite beijos, queijos e vinhos. Depois deles, o que pode acontecer conosco?

Ele respondeu assim, meio sem entender a óbvia segunda intenção:

- Não sei...ter uma indigestão?

Perspectivas nada animadoras surgiram no horizonte a partir daquele momento.

sexta-feira, julho 13, 2007

Peso

Diz a revista da semana passada: "a partir dos 30 anos, o peso das pessoas aumenta de 0,5 a 1 kilo por ano."

Fazendo contas simples: como já estou um pouco acima do que considero meu peso normal e tenho apenas 1,64 m de altura, a previsão é que devo chegar aos 41 com 79 kg ou 74 kg, considerando o registro atual.

Resultado: nada melhor que continuar indo todo dia à academia. Faz bem pros joelhos.

quarta-feira, julho 11, 2007

As guitarras pedem passagem


No mês do rock, Boa Vista está cheia de motivos e shows para celebrar. Nos dias 13, 14 e 15 será realizado o maior evento de rock brasileiro acima da Linha do Equador: é o III Roraima Sesc Fest Rock, com 29 bandas participantes, entre as locais e as representantes da Venezuela, do Amazonas e de Rondônia.

Parte das bandas vai apresentar suas próprias composições, sedimentando um trabalho que já tem algum tempo em gestação e é muito discutido: evoluir do simples cover para o rock autoral, fortalecendo a cena local.


No dia 20 as bandas se encontram para outra noite de muito rock com sabor macuxi e a convidada especial: Matanza.


Ou seja, rock não vai faltar neste restante de mês. Para o próximo já tem homenagem a Raul Seixas e outros eventos sendo preparados.
Enquanto isso, eu fico aqui, batendo cabeça com a monografia...

sexta-feira, julho 06, 2007

Parabéns para mim e para
quem gosta deste blog


Pois não é que o Crônicas da Fronteira chega neste sábado, 7 de julho, ao seu terceiro aniversário, cheio de gás e algumas dívidas, mas disposto a correr alguns quilômetros a mais para servir como canal de expressão deste blogueiro índio?

Escrever por três anos neste blog tem sido uma experiência de aprendizagem contínua. Gostei de algumas muitas coisas que escrevi, refleti sobre outras e concluí que não valia a pena tê-las publicado, conheci pessoas de muito talento e disposição para usar a blogosfera como veículo de comunicação, ganhei alguns elogios e colecionei críticas construtivas e destrutivas.

São 324 postagens sobre os mais diversos assuntos, com 22.069 acessos do dia 12 de julho de 2004 até as 16h14 do dia 6 de julho de 2007, conforme o contador, sendo 53 da Argentina, 74 da Venezuela e 488 dos Estados Unidos.

Por aqui, já escrevi sobre quase tudo, a saber:
Sexo
Romance/amor
Guerra do Iraque
Gente bêbada
Viagens à Venezuela, Peru, São Paulo, Floripa e não sei que outras cidades
Amigos
Lúpulo com cevada
Música (todos os estilos)
Orkut
Garimpo
Coisas de Roraima
Dificuldades com o Haloscan
Sociologia
Jornalismo
UFRR
UERR
Amigos
Memórias
Reservas indígenas
Política local
Trabalho
Férias
Casais alegres, ranzinzas e tristes
Outros blogs
Blogagens coletivas
Poemas
Etc., etc...



O primeiro post foi este aqui:

Quarta-feira, Julho 07, 2004

O Casal

- Me beija?
- Não.
- Por quê?
- Não tô afim.
- Me abraça?
- Não.
- Por quê?
- Tás muito suada.
- Coça minhas costas?
- Não.
- Por quê?
- Tão cheia de areia.
- Então, tá. Mas, ô, sexo, nem pensar.
- Por quê?

# Edgar Borges @ 10:37 AM


Agora, vou lá fora que parece que alguém está disposto a pagar a festa do terceiro aniversário.

terça-feira, julho 03, 2007

A noite de Beth

Elizabeth está que arde de paixão. Hoje, sacio minha sede de ti, Luizão, pensa enquanto beija o rapaz. Para Elizabeth, a noite até agora está quase perfeita. A festa com a turma do trabalho correu bem, a troca de presentes compensou o investimento no perfume para a moça da recepção e o jantar foi ótimo.

Mas Elizabeth deseja mais da noite. Anseia lamber cada pedaço do Luizão, que apesar do nome é baixo e magrinho. Luizão, Luizão, me mostra de onde você tirou esse apelido, voa a frase pela cabeça de Elizabeth.

Beth tira a sua roupa enquanto dança ouvindo os Beatles tocando Love me do. Ela gosta do Luizão desde que o moço começou a trabalhar como assistente administrativo na empresa. Beth acha as mãos de Luizão lindas e seu queixo másculo. Quando o rapaz passa carregando algumas pastas, ela fica olhando a sua bunda, imaginando como seria apalpá-la.

É, Luizão, hoje tu escapas de um raio, mas não de mim, pensa Beth, tomando mais uma taça de vinho e avançando para a cama vestida apenas de perfume e desejo. Sobe no colchão com um movimento diagonal e a luz do abajur joga sombra em seu bumbum, o sonho de consumo de muitos solteiros e casados dos prédios onde vive e trabalha.

Luizão deve estar que nem se agüenta também, feito eu, pensa Elizabeth, louca para beijar, morder, arranhar e fazer com o moço qualquer outra ação imoral que venha a lhe passar pela mente.

Beth esfrega seu desejo nas pernas de Luizão e sobe, preparando-se para ações mais íntimas quando percebe um certo, hummm, desânimo, para chamá-lo assim, no moço.

Parece que a auto-estima anda baixa por aqui, pensa sarcasticamente Beth, disposta a fazer uma terapia rápida para solucionar os problemas do rapaz e assim tocar a noite a contento.

Mas Beth, pobre Beth, talvez não sacie sua fome hoje. É que Luizão, empolgado com a festa e com a quase certeza de uma noite de paixão garantida com Elizabeth, acabou comemorando antes da hora a vitória do jogo ainda não jogado. Resumindo, entornou demais as copas, misturou muita cerveja com alguma vodka e um pouco de vinho e agora, tsc, tsc, surge bêbado e em magnífico ronco na frente de Beth.

Pobre Beth, ela hoje escapa de um raio, mas não de ir dormir com fome e com sede. E ainda corre o risco de Luizão vomitar a sua cama. Afinal, ninguém sabe o que e como pode sair dessa mistureba alcoólica.

sábado, junho 16, 2007

Caindo na estrada


Sábado: até Pacaraima, cerca de 200 km

Domingo, mais 18 km e pega um bus de Santa Elena até Puerto Ordaz, mais ou menos 600 km


segunda, terça e quarta, aqui:
Quinta, pegar o bus de volta à noite, atravessar quatro ecossistemas diferentes (cerrado, selva, serra e a savana venezuelana), amanhecer em Santa Elena e chegar em casa lá pelo meio-dia, passando por mais dois ecossistemas (serra e cerrado).
Quem disse que viajar não é entrar em contato com a natureza?
Fora isso:
Acaba neste domingo o arraial Boa Vista Junina 2007, uma promoção da Prefeitura de Boa Vista. A apuração do concurso de quadrilhas, a grande atração da festa, deveria ser neste sábado, mas uma chuva com ventos muito fortes atrapalhou tudo na sexta e os últimos dois grupos sobem ao tablado hoje.
Semana que vem começa o Arraial do Anauá, uma promoção do Governo do Estado.
As chuvas deixam a cidade menos estressante para quem não gosta de calor. Já quem se locomove de bike ou moto, sofre. Olha o depoimento da Sâmia, chateada com a chuva.
A partir de agora, postagens direto da Venezuela, dependendo do tempo livre.
Promessa de viagem: ao voltar, quebrar algumas barreiras de tempo pela monografia e mais uma tentativa de retomar contato com algumas pessoas das quais gosto muito.

quarta-feira, junho 13, 2007

Minguante

A revista online Minguante completa um ano de micronarrativas e aborda nesta edição o tema “celebração”.

Apresentado a ela pelo Avery, surjo contentemente nesta edição como colaborador.

Os editores já lançaram o tema da próxima edição (espelhos) e esperam colaborações. Quem quiser, vá lá e saiba como participar.

terça-feira, junho 12, 2007

Primeiro round

Uma semana depois, eis que a introdução foi acertada e o primeiro capítulo foi parido, num processo que engoliu o feriado, o final de semana e muitas horas à noite.

A certa altura, nem uma palavra era produzida, tamanho o cansaço mental e o bloqueio criativo. O professor gostou das 13 páginas apresentadas, pediu apenas para que explicasse melhor o que essa tal de socialização que tanto escrevo e não explico.

Agora, vamos ao parto do segundo capítulo, o que implica arranjar tempo para chegar aos entrevistados, além de sorte e habilidade para conseguir extrair deles a informação que preciso.

Fora isso, tenho que bolar um nome bem bacana para a monografia...Me parece que essa será a parte mais difícil.

Mas...antes disso...vamos ver as luzes de Puerto Ordaz, Upata e, oba-oba, Guasipati, minha cidade natal, numa viagem à trabalho para a Venezuela...acho até que vou tomar uma Polarcita...ou seja...haverá um certo atraso na pesquisa...mas o dia 4 de julho não perde por esperar.

..........

12 de junho

Aos que têm, parabéns pelo dia dos namorados.

Aos que não têm, ainda há esperança para o ano que vem.

Aos que não têm, mas são apressados, o dia só termina à meia-noite. Pelo menos uma boca livre deve andar procurando outra boca livre.Afinal, a desesperança é a última que morre.

quarta-feira, junho 06, 2007

Presentaço...

Segunda, 4 de junho, 11h40, Departamento de Ciências Sociais da UFRR, uma conversa com o meu orientador:

- Professor, posso entregar a monografia até quando?
- Hum...
- Melhor, até quando devo entregar a monografia?
- Ah, agora sim. Pelo prazo legal você tem até 4 de julho para entregar e 17 para defender.
- 4 de julho...4 de julho não é daqui a um mês? 30 dias para fazer tudo?
- Ahã.

Por tudo, entenda-se complementar a introdução da mono, fazer o capitulo do referencial teórico, o que implica caçar mais teoria, fazer a pesquisa de campo e passá-la para o papel com analise crítica. No final, claro, acrescentar as considerações finais e encarar a banca.

No meio do caminho, uma viagem a trabalho para a Venezuela, falta de tempo, “brancos” e “travas” redacionais e um computador velho e sem memória que pára quando esquenta.

Esse foi o meu presentaço de aniversário. Como sempre pensava a cada começo de semestre, devia ter me inscrito em um cursinho de inglês.

sexta-feira, junho 01, 2007

Frases, apenas para não deixar passar batida a semana


No orkut:

“Sorte de hoje:Você aproveitará uma oportunidade em breve”


(Uai, mas se é de hoje a sorte, a frase não deveria ser algo do tipo “oportunidade hoje”? Quando é em breve mesmo?)


No trabalho, o colecionador de DVD’s alternativamente distribuídos:

- Talvez eu vá ao cinema ver “Piratas do Caribe”.
- Eu nunca vi um filme com nome tão apropriado para se assistir em casa enquanto ele passa no cinema.
- Como assim? Não entendi....
- PIRATAS do Caribe, ou seja, quase Piratas NO Caribe...


Seu Juca, meu pai, às seis da manhã, vendo homens de meia idade correndo e caminhando:

- Quando eu vejo esses caras nessa idade fazendo exercício só me vem a cabeça que eles estão fazendo isso obrigados.
- Como assim, pai?
- Aposto que o médico falou que precisavam se exercitar e mandou eles correrem para não ter problemas de saúde.
- Sim, e daí?
- É justamente por isso que eu não vou ao médico, para evitar alguém me ameaçar com problemas de saúde.

terça-feira, maio 29, 2007

Músicas e adendos


"Ando devagar porque já tive pressa" e os meus joelhos agora doem um pouco...

quarta-feira, maio 23, 2007

Histórias de amor familiares



Edgar Borges Ferreira, meu avô, é um poeta que nunca fez poesias. Eis a resposta escrita dele à minha pergunta sobre o começo do namoro com minha avó, dona Maria José, na segunda metade da década de 1940. Se alguém me arranjar descrição melhor para um começo de relacionamento, pago um sorvete.

Edgar Neto: começou o namoro de vocês?

Edgar Avô: um primeiro olhar de reconhecimento; um segundo olhar mais desembaraçado; um terceiro olhar totalmente correspondido; um aperto de mãos e a explosão da paixão.

segunda-feira, maio 21, 2007

Amores fumantes


Ela perguntou, em tom já visivelmente irritado:

- Você não está mesmo percebendo nada de diferente em mim?

Ele, preparando-se para o pior, respondeu hesitante com outra pergunta:

- Éééé... alguma coisa de maquiagem ou nas roupas?

Mostrando seus cabelos, ela disse:

- Se você prestasse mais atenção em mim, teria percebido que fiz mechas na cor tabaco! Mas você não olha direito!

Para livrar-se de qualquer pena, ele contra-atacou:

- Meu amor, é claro que tinha percebido. Tava só brincando contigo. Vem cá pra te fumar todinha, vem...
Amores fumantes

Ela perguntou, em tom já visivelmente irritado:

- Você não está mesmo percebendo nada de diferente em mim?

Ele, preparando-se para o pior, respondeu hesitante com outra pergunta:

- Éééé... alguma coisa de maquiagem ou nas roupas?

Mostrando seus cabelos, ela disse:

- Se você prestasse mais atenção em mim, teria percebido que fiz mechas na cor tabaco! Mas você não olha direito!

Para livrar-se de qualquer pena, ele contra-atacou:

- Meu amor, é claro que tinha percebido. Tava só brincando contigo. Vem cá pra te fumar todinha, vem...

quinta-feira, maio 17, 2007

Amor com capuccino


Ela disse, chateada:

- Não consigo esquecer dele. E não é por achá-lo lindo, pela elegância que transborda ou pela forma sempre gentil com que me tratou.
- É pelo sexo então?
- Não. Adorava fazer sexo com ele, mas também adorava ficar apenas sentindo o seu coração bater.
- É pelo dinheiro, pelos presentes?
- Pára com isso. Sou mulher de depender de homem para ter alguma coisa? Sou rica de terceira geração.

Irritado, ele perguntou:

- Pô, então o que é que esse sujeito tem de tão especial?

Suspirando, ela respondeu:

- Ai, acho que é por causa daquele maldito capuccino expresso que ele me entregava na cama todo dia ao acordar...

segunda-feira, maio 14, 2007

Sobre domingos chuvosos



Abrir a janela, ver a água da chuva cair e ouvir música bem baixinho, com pouca luz no quarto, é uma das coisas mais agradáveis que o inverno amazônico me proporciona. Descobri o gosto desse vício/prazer justamente em um domingo, ouvindo o blues “Come Rain or Come Shine”, a última faixa do disco Riding With The King, uma parceria do B.B. King e do Eric Clapton.

Dependendo da música e do que estiver fazendo, o som também me leva a refletir e a relembrar fatos da vida. Neste domingo, chuva lá fora, música latina aqui dentro, leio na revista Caros Amigos um artigo do Ferréz sobre uma biblioteca comunitária em São Paulo enquanto Franco de Vita faz a trilha. Ferréz fala sobre ativismo, envolvimento, Franco canta amores e amizades. Em comum, abordam ações e reações, propostas, sentidos para a existência.

Na essência, ou pelo menos para onde levo meus pensamentos, discutem como eliminar inconformidades e superar seus limites. E eu, inconformado por natureza, preguiçoso por opção, começo a pensar se a vida assim como está é tudo, lembro de conhecidos que fazem do trabalho a bússola de seus dias, transformando os resultados na empresa ou repartição o ponto alto de sua biografia.

Em um giro rápido, esqueço dos outros. O egoísmo e a vaidade são marcas de minha profissão. Penso no meu gosto pela escrita, pelas crônicas, pela expressão de pensamento. E vem o questionamento: por que escrever? Isto é, escrevo por necessidade artística e intelectual, o que inclui fazer algo além da maioria das pessoas, ou por ver o meu nome nos veículos que recebem as minhas colaborações, puro narcisismo?

Sem chegar a nenhuma conclusão, percebo que por dinheiro até hoje não foi. Segundo meus extratos bancários, 11 anos depois de ter publicado o primeiro artigo em um jornal local, ainda não recebi remuneração alguma por uma linha publicada em mais de 10 jornais e sites de Roraima e outras partes do mundo. Se é fama ou cartas dos leitores o que procuro, então alguém deve estar levando os louros e recebendo os e-mails.

Vinte músicas se passam, a chuva cessa e volta, e eu ainda não chego a nenhuma conclusão sobre a real motivação de escrever textos que não se encaixam no exigido pelo cotidiano de minha profissão. O jeito deve ser continuar vivendo e ouvindo músicas no escuro do quarto para tentar achar a resposta.

quinta-feira, maio 10, 2007

Dias no garimpo



Acordamos cedo. A noite foi fria, choveu. Ainda bem que nenhum mosquito apareceu para incomodar. Talvez o frio os espante. Todos já se levantaram, sou o último a deixar a rede. Com uma toalha servindo de casaco, escovo os dentes com água tão gelada como se fosse retirada de uma geladeira.

Venta levemente, a temperatura ambiente mudará em breve, depois que o sol conseguir espantar de vez as nuvens. Por enquanto, frio. Dormir num barracão sem paredes não é muito agradável. O café da manhã é frugal e deve ser engolido rápido, pois as máquinas já estão ligadas.

Juntar e lavar o cascalho, segurar na mangueira e direcionar o jorro para o material. Agora é esperar que desse monte saia uma pedra pelo menos. Parte da produção é dos peões, mas é o chefe quem sempre ganha. Ele leva o produto para a capital, vende pelo melhor preço e repete de novo que a cotação está pior do que na última vez.

Almoçar em menos de cinco minutos, correr para continuar o trabalho, chamar o colega da vez para que ele também corra...

De um acampamento a outro, muitos igarapés represados com a areia de seu próprio leito, cheios de mercúrio. A água, apesar de transparente, não é boa para beber nem tomar banho. A camada vegetal some, sobra o branco da argila e sua asfixiante refração que aumenta o calor do meio-dia.

São 20 horas e ainda há pessoas trabalhando. O trator não pára de juntar material. A cozinheira já terminou a janta, gordurosa, calórica, quem trabalha o dia inteiro sente muita, muita fome. Uns comem nas redes, outros em pé, o restante em bancos improvisados.
Urinar, defecar, escovar os dentes, tomar banho, trabalhar. Não há paredes por aqui. Tudo é feito em contato com a natureza, ao ar livre.

O ouro que sobra nas pequenas cicatrizes do acampamento alimenta o sonho das moedas a mais ou a gorjeta da Guarda Nacional, que parece estar ali só para ser agradada e não ficar desagradável.

Hora de partir, banho rápido usando a própria mangueira de lavagem de material. Atravessamos a savana, deixamos para trás corruptelas, suas casas feitas com latas de querosene e a vila principal. Agora é voar por uma hora e voltar à vida urbana normal.

quarta-feira, maio 09, 2007

segunda-feira, maio 07, 2007

Chegaram as águas de maio

Finalmente o verão amazônico está chegando ao fim. Chove em Boa Vista desde o sábado à noite, com pequenos intervalos para dar um tempo à terra seca, desacostumada às chuvas.
As noites agora ficarão mais frias, nada parecidas com os últimos dias, por exemplo, quando o calor, somado à falta de brisa, parecia asfixiar a cidade. Agora ficará mais fácil de sair no meio da tarde sem sentir a pele queimando.
O inverno é bom para os agricultores plantarem, é bom para pessoas como eu, que ficam de mau humor quando está muito quente. É ruim para quem inventou de fazer casas sobre os lagos que havia na cidade e perto dos igarapés e rios. É ruim também para os agricultores que vivem nas vicinais no interior do Estado. Nesta época, fica difícil transitar nas estradas de barro e escoar a produção.
É bom para passear no intervalo entre uma chuva e outra. É ruim para secar a roupa lavada no final de semana. É bom para namorar debaixo do lençol e tomar chocolate quente. É ruim para namorar no portão.
O inverno é bom para pensar e ouvir música no escuro. É ruim para fazer show ao ar livre.
Mas que tanto, que venham as chuvas com força total. Como bem disse minha avó Maria José, “tava na hora do inverno dar um chute no verão”.

quinta-feira, maio 03, 2007

Teatro em Roraima

Opa, a partir desta sexta tem peça teatral, oficina de iluminação e debate sobre os espetáculos apresentados. É a Caravana Balaio Teatral, que traz a Roraima o grupo de teatro Clowns de Shakespeare, de Natal-RN.


O grupo vai apresentar seis espetáculos, ministrar duas oficinas e participar de dois debates. A turma começou a trabalhar no dia 2 e vai até 6 de maio, em Boa Vista e Iracema, município ao sul do Estado.

O circuito começou pelo município de Iracema, onde o grupo apresentou o espetáculo Fábulas promoveu um debate com o tema Teatro de Grupo Fora do Eixo.

Esta é a segunda vez que Os Clowns de Shakespeare vêm a Roraima. No ano passado, o grupo participou da II Mostra Sesc de Artes. Este humilde cronista assistiu às apresentações. Muito barulho por quase nada, inspirada na obra de Shakespeare, é totalmente diferente da peça Roda, Chico, peça roteirizada a partir das músicas de Chico Buarque. Uma é comédia e a outra é mais drama. Mas ambas são muito boas e vale assisti-las.


segunda-feira, abril 30, 2007

Escolhas

No grupo de amigos, a pergunta:

- E se vocês pudessem ter todo o sucesso do mundo, com milhares de holofotes apontados para vocês, dizendo que são o máximo e tal, centenas de homenagens pelos serviços prestados à humanidade, como fariam?
- A minha parte eu quero em dinheiro.
- Pra mim, separa umas broas que já tá bom demais.
- Troco por quatro quilos de sexo, drogas e roquenrol.
- Me arranja um iPod e uma som novo pro carro que tá massa.
- Deixa eu dar uns pegas na tua irmã que que me conformo.
- Eu queria ser deputado federal.
- Bom mesmo era encher a cara todo dia sem ficar de ressaca e com o fígado inteiro.
- Dá pra trocar por uma coleção de gibis da Mônica? É pra minha irmãzinha...

quinta-feira, abril 26, 2007

Partículas

O Ensaio Poético Ilustrado de Lindomar Neves Bach ainda não estava lá quando cheguei no bar Carta Roja. Obra independente, bancada pela coragem do autor e o estímulo de conhecidos, foi lançada em um espaço alternativo, numa noite fria, num bairro distante do Centro.
As possibilidades de encontrá-lo por onde costumo andar? Poucas.
Mas hoje, graças a uma gentileza de minha colega Soninha, veio até mim. Aqui, sem autorização do autor, alguns poemas (os mais curtos, é claro, que dá uma preguiça escrever....):

Diva

Menina linda
A calma se contorce
Quando você passa
Minha rua
Aonde nada acontece
É tua..


Razões

O amor é tudo
Que sobrevive
Ao tempo

Esperança de vida
Sem amor
Não existe


Sussurros

Num arrebol
A noite chega
Calando o sol

Moldura

Espera...
Cai a chuva
Mas o sol virá
E a noite ainda demora

O poeta operário
Com o olhar nublado
Molda no imaginário
A sepultura dos seus olhos

O amor tão desejado
A inocência
Na nudez
De um dia ensolarado.

quarta-feira, abril 25, 2007

Mudança


O tempo muda. Até em Boa Vista o sol tem que pedir arrego uma certa hora. A quarta-feira amanheceu nublada, choveu várias vezes durante o dia e no final da tarde um vento frio varria a cidade. Bom para tomar chocolate quente, bom para participar de um lançamento literário como o de hoje à noite, quando o desenhista Lindomar Neves Bach lança seu primeiro livro de poesias, intitulado "Partícula - Ensaio Poético Ilustrado”.




Se um dia qualquer a temperatura baixar até os 24 graus, metade dos roraimenses morrerá por congelamento. Quando bate nos 28, o povo já se empacota todo e diz que está "muito frio".

terça-feira, abril 24, 2007

segunda-feira, abril 23, 2007


Nota mental de segunda


Mudar para um local onde o mês de abril não seja tão quente, mesmo com os órgãos ambientais afirmando que o inverno amazônico já começou...Talvez a Patagônia.

Temperatura de Boa Vista é uma no Climatempo.

Na rua, o lance é bem mais quente, ainda mais que não está ventando...

quinta-feira, abril 19, 2007

Nas Trilhas de Makunaima


Amantes de documentários, fanáticos pela Amazônia, eis a chance de conhecer um pouco mais este pedaço do Brasil. Neste domingo, às 21h, horário de Brasília, a TVE transmite o vídeo “Nas Trilhas de Makunaíma”, produzido pelo jornalista roraimense Tiago Bríglia.




O vídeo faz parte do projeto DocTV, uma iniciativa de várias instituições para fomentar a produção de documentários sobre temáticas regionais em todos os Estados.



O roteiro apresenta a história do personagem mitológico de maior representatividade entre os indígenas do extremo norte do Brasil. A partir de narrativas de índios Ingarikó, Taurepang e Macuxi, são apresentadas as diversas faces de Makunaima - um ancestral guerreiro dos índios de origem ‘Karib’, concebido por algumas etnias como um deus da natureza.


Tiago, de camisa verde, filmando no Monte Roraima


O filme proporciona uma viagem pelos mistérios da lenda e percorre as trilhas do Monte Roraima, uma montanha de 2 bilhões de anos, considerada o templo sagrado onde vive o espírito de Makunaima.


O documentário traz a interpretação de pesquisadores sobre os fundamentos do mito de Makunaima e uma análise crítica sobre o personagem Macunaíma de Mario de Andrade, inspirado no mito indígena que foi registrado pelo etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg em sua obra Vom Roroima Zum Orinoco, quando esteve entre os índios Taurepang (Pemón para os venezuelanos) e Arekuna, em 1911.

quarta-feira, abril 18, 2007

Música de Roraima

Cantores Eliakin Rufino e Neuber Uchôa
apresentam show Damurida no Sesc RR




Durante o show, nesta quinta (19), Dia do Índio, haverá uma exposição da arte naif da artista plástica Carmésia Emiliano. O ingresso custa R$ 10. Estudantes e comerciários com carteira atualizada pagam só cinco pilas.

Para quem nunca ouviu a palavra damorida, trata-se do nome de um apimentado caldo feito pelos índios da região à base de carne de caça (antigamente. Hoje já se aceita carne de gado) ou peixe (quando mais espinhento, melhor).

É preciso cuidado para se deliciar com o prato. Este cronista, na primeira vez que foi saboreá-lo, confundiu uma pimenta olho-de-peixe, redonda e verde, com outro tipo de condimento e mastigou uma delas inteirinha...

Logicamente tive que correr para tomar água e abafar o incêndio bucal. Tirando essa ardente questão, é um dos mais saborosos pratos da culinária indígena.

Ah, além da olho-de-peixe, a damorida leva também pimenta malagueta e jiquitaia, que é uma farinha feita de pimentas moídas. Um espetáculo de ardência.





terça-feira, abril 17, 2007

Abril Vermelho

Integrantes do MST Roraima concluíram hoje uma passeata que veio do município do Cantá, a 35 km de Boa Vista. A sorte dos manifestantes é que o clima ajudou, com um céu nublado e algumas pancadas de chuva. Se fosse em fevereiro, com certeza os casos de insolação e desidratação teriam abalado alguns companheiros.

Já em Boa Vista, os manifestantes fizeram um protesto por mais terra para a reforma agrária e apoio para quem já ganhou o lote. Estiveram em frente à Assembléia Legislativa, bem na praça do Centro Cívico, por volta do meio-dia, o horário de maior pico de trânsito no local e o único onde os deputados dificilmente podem ser encontrados.


Os manifestantes na ponte sobre o Rio Branco, que
separa os municípios do Cantá e Boa Vista

O protesto faz parte de um calendário nacional do MST. As ações do "abril vermelho" lembram o assassinato, em 1996, de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (PA).

Abril Vermelho também é o nome do livro de um escritor peruano chamado Santiago Roncagliolo.





quinta-feira, abril 12, 2007

Deduções fiscais

Impostos governamentais são como pensões alimentícias: não adianta tentar fugir deles. Tem que pagar ou bábáu.


Declaração, para fechar o mês do Imposto de Renda

Frase do filme Encontro Marcado: “só há duas coisas certas na vida: impostos e a morte”. Ou alguma coisa parecida.

quarta-feira, abril 11, 2007

segunda-feira, abril 09, 2007

A música

Ok, há quem não goste do Maná e ainda há quem nunca tenha ouvido falar da banda mexicana. Há também quem acredite que o Acústico MTV e a gravação com o Santana foram as únicas coisas que eles fizeram na vida

Tudo bem. A sete quilômetros da linha fronteiriça, ali na vizinha Santa Elena de Uairén, muitos venezuelanos nunca ouviram falar de muitos nomes famosos no Brasil. São conseqüências da diferença de idiomas e da mania dos programadores de rádio de privilegiar as bandas e cantores anglo-saxões.

Superar as barreiras da língua permite que nos deliciemos com letras como a que está logo aí abaixo. Fher, vocalista do Maná, faz um duo com Juan Luis Guerra, grande nome da música latina. O vídeo é pura poesia e é estrelado por atores de padrão físico diferente de outros vídeos da banda. Bonitos, porém com aparência de gente normal, como eu ou você, e não de modelos.

Quer dizer, bonitos como eu, de acordo com as afirmações de minha mãe, dona Neide.

Para os interessados, Bendita tu luz está disponível em dezenas de links no YouTube e no Guatevídeos. Neste site também é possível acessar vídeos de outros artistas latinos.

Bendita tu luz

Bendito el lugar y el motivo de estar ahí
bendita la coincidencia.
Bendito el reloj que nos puso puntual
ahí bendita sea tu presencia.
Bendito Dios por encontrarnos en el camino
y de quitarme esta soledad de mi destino.
Bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
desde el alma.
Benditos ojos que me esquivaban,
simulaban desdén que me ignoraba
y de repente sostienes la mirada.
Bendito Dios por encontrarnos
en el camino y de quitarme
esta soledad de mi destino.
Bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada, oh.
Gloria divina de esta suerte,
del buen tino,
de encontrarte justo ahí,
en medio del camino.
Gloria al cielo de encontrarte ahora,
llevarte mi soledad
y coincidir en mi destino,
en el mismo destino.
Épale
Bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada.
Bendita mirada, oh,
bendita mirada desde el alma.
Tu mirada, oh oh,
bendita, bendita,
bendita mirada,
bendita tu alma y bendita tu luz.
Tu mirada, oh oh.
Oh oh, te digo es tan bendita
tu luz amor.
Y tu mirada oh, oh.
Bendito el reloj y bendito el lugar,
benditos tus besos cerquita del mar.
Y tu mirada, oh, oh.
Amor amor, qué bendita tu mirada,
tu mirada amor.

quarta-feira, abril 04, 2007

Céu perigoso em Roraima: três aviões caem

Três aviões tucanos da Força Aérea caíram em Boa Vista nesta tarde de quarta-feira (4). Um deles caiu no meu bairro, o Paraviana, depois de bater numa torre de telefonia celular. Morreu uma pessoa. Outro caiu ao sul da cidade, perto do matadouro. O terceiro foi apenas um pouso forçado perto da BR 174, ao norte de Boa Vista.
Talvez a chuva fortíssima que caiu na cidade tenha alguma culpa. Choveu por cerca de duas horas, a tal ponto que as ruas alagaram e o nível dos igarapés que cortam os bairros subiu muito.

Abaixo, a matéria do repórter Luciano Torres, publicada no site Fonte Brasil:

"Por volta das 13h30 de hoje um Super Tucano A-29 da Aeronáutica caiu na rua Abacateiro, na Praça do bairro Paraviana. O acidente ocorreu após o avião ter colidido com uma torre de telefonia celular. Os dois pilotos da Base Aérea de Roraima que estavam no avião morreram na queda. Conforme testemunhas, o avião permaneceu por cerca de 30 minutos sobrevoando a parte leste de Boa Vista sem poder pousar no Aeroporto devido a forte chuva que encobria o céu. A causa da queda não foi divulgada pela Aeronáutica, mas suspeita-se que os pilotos tenham tentado realizar um pouso de emergência quando colidiram com a torre. Antes da queda os pilotos ejetaram os assentos, mas não sobreviveram por estarem muito próximos do chão. Os corpos foram encontrados em um terreno baldio a cerca de 30 metros da praça onde o avião caiu."




Olha aqui as fotos do Luciano




A torre do Paraviana, com os ferros soltos depois da colisão:








Os agentes de trânsito no local







Outras informações podem ser encontradas nos sites do jornal Folha de Boa Vista e no site Jornal do Rádio.




Up Date: O portal G1 entrou com uma info nova: seriam quatro e não três os aviões caídos.

terça-feira, abril 03, 2007

Histórias de amor e sexo ou sexo e amor



1.Alfredo está agitado, nervoso. Aos seus pais, conta que são as provas que o tem assim. Coitado, anda uma pilha, diz a sua mãe. Alfredo, na verdade, está apaixonado. Não por uma, mas por duas meninas. Uma é da escola, faz a oitava série junto com ele, senta na cadeira em frente, tem um cabelo liso negro lindo, olhos esverdeados e um pouco fechados, parece uma japonesa. Além disso, para ele, é a dona do sorriso mais bonito da cidade.
A outra é a irmã de seu melhor amigo. Alfredo adora ir visitá-lo. Da varanda, entre os vidros da janela, consegue vê-la às vezes dançando na frente do espelho, apenas de calcinha e sutiã. A menina, mais velha que ele, gosta de passear pela casa vestida apenas com uma camiseta. Ah, como Alfredo gosta quando ela se abaixa para pegar algo e ele está por perto.
Alfredo, coitado, só encontra paz quando fica algum tempo sozinho no banheiro ou quando vai se deitar.

2.
André diz não saber o que fazer para ficar em paz. A Paulinha agora quer namorar, já pensou, pergunta a cada novo encontro. Qual o problema se ela é linda, simpática e o deseja? Ora, é justamente esse o problema, quase grita o impaciente André. Eu não quero nada sério, foi ela que me procurou, passou a cantada, insiste nos encontros e agora vem com essa. E aí, o que você pretende fazer, perguntam seus amigos. Por enquanto nada. Eu não quero namorar ninguém agora, só me falta gritar isso na cara dela, mas também não resisto a uma mulher linda, simpática e que me deseja.

3.
Sim, eu sei que parece bobagem, mas que custava, pergunta a quase deprimida Ana Lúcia. Se era para tanto eu não sei, mas, poxa, as pessoas deviam pelo menos argumentar de maneira menos agressiva, continua. E o que houve, que coisa tão horrível aconteceu? Aconteceu que ando toda estressada com os meus dois empregos, a faculdade e o cursinho para o concurso. Por tudo isso não temos muito tempo para namorar e outras coisinhas mais. E quando eu peço para ele me acompanhar da entrada do prédio até minha sala, sabe o que ele me responde: para quê vou entrar se daqui a pouco vou ter que sair? E ainda por cima eu quis um beijo de língua e ele me deu uma bitoca, como se fosse meu namorado há tanto tempo que tivéssemos criado laços fraternos. Onde já se viu isso, preguiça de caminhar 15 metros e ainda por cima preguiça de beijar?