terça-feira, dezembro 23, 2008

Arte no Front Brasil - Venezuela



15h do penúltimo domingo de 2008. É hora de partir, baixar a Serra de Pacaraima e voltar para casa, que segunda tem trampo. Os carros que transportam a banda Iekuana pegam a estrada, esquivam dos buracos e dizem adeus à turma que esteve no II Front, o encontro cultural da Tríplice Fronteira Brasil, Venezuela e Guiana. Mas peraí, que este é o final da história e nem sempre o final reserva a grande surpresa.


É preciso voltar até a terça-feira (16), quando meu amigo Rhayder Abensour, guitarrista da Iekuana, me convidou para acompanhar os roqueiros até Pacaraima. Viagem liberada pela dona da casa, deixamos Boa Vista, capital de Roraima, às 15h30 do sábado. A viagem, já com duas horas de atraso criadas pela espera do término de gravação do CD demo da banda, foi mais demorada do que se pensava. O carro onde estavam o batera Jamil Abensour e o baixista Dant Aliguieri quebrou depois da ponte do rio Uraricoera, a uns 80, 85 km da cidade. Pára, reboca, pára, conserta, anda devagar, a noite chega, os buracos na estrada aparecem, o vidro do retrovisor cai de tanta pancada e estamos em Pacaraima, sede do município homônimo, por volta das 19h.


Chegamos na quadra coberta coberta de Pacaraima, local onde o fotógrafo, doutor em plantas medicinais e amante das artes Joacir Freitas decidiu realizar o II Front desta vez. O primeiro foi há um ano, reunindo artistas do Brasil e da Venezuela no Centro Cultural Terra de Makunaima (sem acento mesmo), chalé erguido numa das encostas da área central da cidade, numa área que preserva a mata da serra e fomenta a interação com a natureza.


Chuva forte, vento frio, o II Front começa. Toca reggae a banda Gui-bras, tocam rock e outros sons quem estiver presente, como Airton Vieira (Tom Vi), professor Nelson, Raul Cover, uns hippies que estavam na cidade e, para fechar a programação oficial, a Iekuana, que entrou meia-noite e pouco em cena.


Mais de uma hora depois, programação oficial encerrada, a gatíssima ex-vocalista da falecida banda LN3 assume o microfone e começa a mandar rock, reggae e hip-hop com uns carinhas muito bons que acompanharam quase todo mundo na noite do Front. Em dueto e sozinha, Alessandra, se não me falha a pesquisa no Google, empolga o restante da turma que ainda não foi dormir ou voltou para o Centro Cultural. 30, 40 minutos e larga o microfone, que é assumido, entre outros, por Avinashi (guitarrista da Iekuana), Stalen (vocal Iekuana, mandando ver com Capítulo 4, Versículo 3, do Racionais MCs) e outros doidos que subiram a serra apenas para cantar e ouvir música.


Este é, sem dúvida, o melhor momento da noite: começa a rolar uma roda-viva de músicos e vocalistas tocando e cantando no improviso, sem ensaio, apenas seguindo a música. Nesta jam sessiom fronteiriça surge uma banda com guitarra base e solo, batera, baixo teclado, bongo, gaita e dois ou três vocalistas. Muito bom. Pena que ninguém filmou ou gravou esta madrugada musical.


Depois de recolherem tudo, parte da turma volta para, supostamente, dormir nas barracas montadas no Terra de Macunaíma. Que nada. Quem havia saído cedo do ginásio estava lá tocando e cantando, fazendo rimas em espanhol, português e inglês, bebendo e rindo, conversando sobre o mundo e sobre arte, olhando as fotografias e desenhos em exposição ou simplesmente deliciando-se com uma boa Polarcita, a cerva venezuelana.


Enquanto isso, eu pensava em ter que entrar cedo na fila da gasolina e no cansaço para dirigir de volta a BV. Por conta disso, fui dormir lá pelas 3h30. Quer dizer, fui tentar dormir. Como não quis ficar na barraca, deitei no banco do carro. 30 minutos chegou o primeiro do nosso grupo pedindo desculpas e abrindo o porta-malas. Mais 30 minutos e chega o restante fazendo barulho. E tudo

isso acontecendo e o povo da cantoria ainda na ativa, o que se estendeu até depois das seis.


Às 7h, estava de pé, tomando um banho frio numa manhã fria, e às 7h20 estava na fila do posto de combustível venezuelano que fica a 100 metros da fronteira, única fonte de abastecimento dos carros que chegam em Pacaraima. Gasolina a muito menos de um real, espera de duas horas e pouco, volto para o Terra de Makunaima e a cantoria já retornou, acrescida de leituras de poemas.


Para fechar: todos os da Iekuana fomos a Santa Elena, compramos, voltamos, comemos o churrasco, conversamos, saímos às 15h e ainda não havia acabado a festa do Front. Só não ficamos mais tempo por que segunda é dia de chegar cedo e vender a alma ao chefe por uns trocados no fim do mês.


segunda-feira, dezembro 22, 2008

Quem manda lá em casa...


Definitivamente não sou eu. Bons tempos aqueles em que só perguntava de minha amiga Carla Cavalheiro se podia descer o continente até a casa dela, marcava a data e embarcava no avião.


Agora, com o indiozinho comandando a vida lá na aldeia, a caça que não rende muito na feira de domingo e apenas dois aviões embarcando o povo destas bandas, viajar não é tão fácil.


Ainda bem que nessas minhas lidas de extrativista arranjei uma lata de querosene que uso como cofrinho. Como a chefia liberou uma folga do cotidiano, pegarei as moedas que juntei o ano todo e vou até o Sul, pruma tal de Ilha da Magia, também conhecida pelos íntimos como a Linda e Bela Floripa.


Mas como a passagem do pássaro-de-ferro tá os oio da cara, optei por um transporte alternativo. Já aluguei espaço numa canoa que vai sair da Orla Taumanan. Vamos baixar o rio Branco até o Negro, pegar o Amazonas, chegar até o Atlântico e ir pelo litoral até Floripa. Já combinei com a minha amiga: quando chegar no manguezal que fica perto do Santa Mônica, grito pra tu jogar a corda.


Saindo da sessão Querido Diário, diz a lenda que dois índios de uma etnia ali entre Roraima e o Amazonas estiveram certa vez na vila Surumu, encravada na terra indígena Raposa Serra do Sol, para conhecer a Missão da igreja católica que funcionava como escola profissionalizante e tal. Daí voltaram de avião para a aldeia deles, lá no alto rio Branco, para bater um lero com a comunidade, pegar a autorização dos tuxauas, dar uns beijos de despedida na mulherada e tal.


A ano letivo começou e nada dos parentes. Três meses depois da visita, os caras bateram na porta da Missão. Os dois haviam voltado de canoa para começar a estudar...


Três meses navegando, pegando sol e chuva, sendo picados por mosquitos, comendo se acaso pescassem...


Cê tá vendo que eu nunca vou morar numa droga de aldeia que não tem táxi?

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Previsões

Diz a manchete de página do jornal Roraima Hoje, um dos três que circulam em BV:




13º salário
Quase R$ 15 milhões circulando no final de semana

Escreve o repórter no lide:

Governo do Estado e Prefeitura de Boa Vista pagam, neste final de
semana, a segunda parcela do 13º salário de seu funcionalismo público,
o que representa cerca de R$ 14,730 milhões injetados na economia
local.

Diz o povo na sala:

- Vai ter tanto assalto este final de semana.
- Tanto neguinho caindo no golpe da baluda
- Os trombadinhas vão fazer a festa.
- O comércio vai ficar um inferno.
- E os caixas? Já pensou nas filas?
- A estrada para Santa Elena vai congestionar.
- Ei, e a fila da gasolina. O negócio é sair cinco da manhã e chegar
cedo para não pegar fila.
- Acho melhor usarem o cartão de débito. Grana viva só na segunda.
- É, mas é bom não usarem muito. Olha a crise.
- Ei, tá feio o negócio. Se vacilar, ninguém chega em fevereiro
- Tu viu a reportagem de ontem no Jornal Nacional? As montadoras tão
pagando para os operários ficarem em casa e vão dar férias coletivas.
Ninguém sabe se vão voltar.
- Eu, heim...
- E em fevereiro, que vem de uma só vez IPTU, IPVA, escola dos meninos...
- É...
- É...

- Vamos investir na exportação?

- Hum...sim...para aproveitar a implantação da ALC e da ZPE, né?

- Boa, boa, boa.
- Vamos trazer coca da Venezuela e revender para ganhar um extra?
- Ou então maconha da Guiana?
- E se a gente for pego?
- Pois é. Se tiver que pagar advogado, já era o IPTU, IPVA, escola dos
meninos...
- Melhor ficar quieto.
- É vero.
- Mas que era uma boa idéia, era. Se não fosse o IPVA...


quinta-feira, dezembro 11, 2008

Como chegar até Edgar Borges pelo monitoramento de visitas


Num certo dia, pessoas nesses pontinhos visitaram o blog Crônicas da Fronteira, localizado na ponta norte do Brasil.



Notem que é mais fácil fazer uma visita virtual que real a Roraima. Atualmente, para chegar aqui, só pela BR 174 ou por avião, voando sobre esse monte de verde.


Não. essa mancha clara não é desmatamento, não são plantações de arroz em terra indígena. Boa Vista, a capital do Estado, está localizada à margem direita do rio Branco e foi fundada numa área conhecida localmente como lavrado que os cientistas chamam de cerrado. Muito calor, vegetação rasteira, lagos e igarapés.

Na ponta esquerda superior da imagem do Google está Boa Vista. A mancha clara do lado direito, próxima ao rio, é um arrozal.



Sabe aquele marcador da imagem anterior? Então. Ele identifica um acesso bem pertinho do local onde trabalho, marcado com um círculo. Essa pista aí, com essa área de piçarra em frente, é o Estádio Jornalista Flamarion Vasconcelos, mais conhecido como Canarinho, fundado na década de 1970. O governo estadual tacou asfalto e cimento para "urbanizar a área". Ah, também plantou umas arvorezinhas para daqui a muitos ano ter uma sombrinha no local.


Se você tiver curiosidade de ver o, em algum lugar deste blog tem uma foto frontal dele antes da "urbanização".

terça-feira, dezembro 09, 2008

11 meses



Meu indiozinho completa 11 meses nesta quarta-feira. Já engatinha acelerado, empurra cadeiras para caminhar em pé, desce da cama segurando nas roupas dos pais e da irmã, faz manha e chora muito para não ficar no berço ou no cercadinho/curral e adora mexer no meu som.


Se eu te pegar mexendo no som de novo, arranco tua orelha, moleque!





O BB, como minha mãe chama o pequeno Borges Bisneto (mais detalhes sobre o começo da vida do moleque, favor clicar aqui) é insuportavelmente saudável. Sei, há uma contradição nesta frase. Explica-se: o indiozinho tem vitalidade extrema. Tanto que já pegou conjuntivite, pneumonia e duas gripes em 2008 e mesmo assim não parou quieto um minuto. Aliás, ficar quieto só quando está dormindo. Bom...na verdade, nem tanto assim. É adrenalina no estado mais puro possível.


Kung-fu Pemón, o filme



Essa adrenalina é o melhor presente que ganhei na vida. É claro que a Vida deixou as parcelas mensais para serem debitadas na minha conta bancária, sem prazo para encerrar a dívida.


Treinamento para caçar coelho: segura na roupa de seu papá

e exija que ele traga o Pernalonga para você




O indiozinho, sem nenhuma modéstia, é muito lindão. Amigos e amigas elogiam o moleque, sempre dizendo que puxou à mãe, pois o pai, além de antipático, é feio. Como um bom índio civilizado, concordo, já que é pura verdade.




Putz, o moleque já coube inteirinho no meu peito. Hoje, ocupa metade da cama sozinho



Reconhecendo plantas: urucum é bom para fazer coloral e para pintar o rosto e ir à guerra





Para celebrar o aniversário de 11 meses do indiozinho, o STF marcou para esta quarta o julgamento da ação contra a demarcação da reserva indígena Raposa-Serra do Sol em área contínua. Vai reunir num só lugar o governador José Anchieta, os senadores e deputados federais que assumem declaradamente serem contra a área, os primos e tios de meu filho que são contra e a favor, jornalistas, curiosos e etc.





Os jornais estão ligados no julgamento.Essa charge aí é

do Marco Aurélio. Deviam fazer matéria sobre o neném, isso sim.



Os ministros do STF já mandaram avisar lá em casa: no meio da leitura vão parar tudo e pedir para os presentes cantarem o parabéns para você. A turma que mandar melhor na afinação leva o prêmio: mantém ou desfaz a área contínua. Lá em casa a gente se contenta com quaisquer mil hectares à margem de um rio.



Pintando-se para a guerra por um pedaço de terra com

sombra, água corrente e crédito a fundo perdido



sexta-feira, dezembro 05, 2008

Atualizando

I

A coisa tá feia lá na aldeia. Da semana passada até hoje todos estão sofrendo com a gripe.

Primeiro fui eu, com o catarrão, fotofobia e dor de cabeça. Depois de me dopar com as drogas dos brancos e mais ou menos sarar, quem caiu por conta do vírus foi o indiozinho. Na seqüência, veio a Mamá dele.

Resultado: uma índia velha acabada e um neném doente mas com uma incrível vitalidade, daquelas que cansa os pais.

Graças a Macunaíma, tudo está melhorando, menos a mania de dormir tarde que o indiozinho tem.


II

Para mexer com fotos?

Faça um curso ou tente aprender sozinho.

Hum...aprender sozinho? E a disposição?

Faça um curso.É o jeito. Pague um curso.

Bá...pagar....gastar...bá...

Pois é...

Ah, se eu tivesse disposição para ser autodidata, conquistaria o mundo e não pagaria nada.

Pois é...


III

Chove no norte do Norte. Alegram-se as plantas, alegram-se as pessoas. Em compensação, quando abre o sol...

quinta-feira, novembro 20, 2008

Funarte premia ator de Roraima



Boas notícias para a cultura de Roraima. Marcelo Perez, ator e diretor do grupo Cia. do Lavrado, foi premiado pela Funarte (Fundação Nacional das Artes), órgão do Ministério da Cultura, com a Bolsa Funarte de Estímulo à Criação Artística – categoria dramaturgia. O prêmio é concedido a apenas duas pessoas por região. No Norte, a outra ganhadora foi Jória Baptista Lima, de Rondônia.



Marcelo (D) vai receber R$ 30 mil para escrever uma peça. Tá achando que é barato ser criativo?


Para comemorar a premiação, a Cia. do Lavrado fará às 20h deste sábado (22), no Centro de Cidadania Nós Existimos, uma apresentação especial da peça Homens, Santos e Desertores. O espetáculo traz o próprio Marcelo, que além de tudo também é blogueiro, e Renato Barbosa no elenco.


Vinte e quatro autores da região se inscreveram para concorrer à bolsa da Funarte. Marcelo foi escolhido com o projeto de texto Apenas um blues e uma parede pichada, que abordará o índice de suicídio entre os jovens roraimenses.


“Preciso ser beliscado todos os dias para poder acreditar. Estou super feliz. Este incentivo de R$ 30 mil possibilita aos artistas sentar e produzir sua dramaturgia com calma”, diz.
“Para a Cia. do Lavrado, este também é mais um ganho. Atualmente, a companhia é a grande fomentadora da minha vida profissional”, afirma Marcelo. O grupo lançou no primeiro semestre deste ano o seu site, com fotos, informações e agenda de apresentações. Além disso, é filiado à Federação de Teatro de Roraima.

terça-feira, novembro 18, 2008

Duelo, ou começo de tarde com faroeste



Encerrando a trilogia iniciada no El Mariachi, seguida de A Balada do Pistoleiro, nas cenas finais do filme Era uma vez no México, El Mariachi enfrenta o General golpista:




Filme teve a gostosona da Selma Hayek no elenco



GENERAL

- ¿Y Carolina?


MARIACHI

- Murió.


GENERAL

- ¿Y tu hija?


MARIACHI

- Murió.


GENERAL

- ¿Y tu?


MARIACHI

- Muerto.


GENERAL

- ¿Y yo?


MARIACHI

- Viviendo bien...


Troca de tiros, El Mariachi acerta o General, aproxima-se do corpo estendido no chão do palácio presidencial, abre a camisa, arranca um colar que pertenceu a sua esposa e diz:


- Cada cosa en su lugar.

Banderas, El Mariachi


quinta-feira, novembro 13, 2008

Parentesco

Índios, samurais,


tudo tem olho puxado,


todos são,



por assim dizer,



a cara dos orientais.






Meu pequeno índio wapichana Pemón

segunda-feira, novembro 10, 2008

Cenas de Boa Vista


I
A moça sorri e gesticula enquanto fala ao telefone. Nem parece que se esconde do sol das duas da tarde na sombra de uma parada de ônibus na avenida Ville Roy.


II
O carro passa acelerado ao lado do vendedor de picolés que atravessa a Ponte dos Macuxis. Às 11h de um dia de verão amazônico, é possível ouvir o homem de origem indígena assobiando uma canção popular enquanto caminha na estrutura sobre o rio Branco.
Ponte dos Macuxis sob o rio Branco, que passa ao lado de Boa Vista, Roraima. (foto: Thiago Orihuela)



III
Alheios ao show de rock que acontece no ginásio à sua frente, os meninos vestidos com roupas pretas cantam e tocam violão às duas da manhã.


IV
O garoto sobe a ladeira do Calungá uma, duas, três vezes, senta no triciclo e desliza rua abaixo rindo e gritando, observado pela irmã, que segura com carinho uma boneca velha.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Tucanos de Honduras no céu de Roraima

Texto de Plínio Vicente da Silva, jornalista radicado por estas bandas desde 1984. Reparem na ausência da palavra “que”, a maldita muleta que todo jornalista acaba uma hora usando.


Não gosto de me gabar, mas fomos eu, Fernando Estrella, a Folha de Boa Vista e o Estadão responsáveis pela construção da Base Aérea. Já contei várias vezes essa história e a Folha já relembrou o fato em uma de suas edições comemorativas. Mas nunca é demais recontá-la, aproveitando agora o gancho das comemorações do 24º aniversário de existência dessa unidade da Força Aérea Brasileira (FAB) em Roraima.


Recém-chegado de São Paulo com a missão de instalar o escritório de correspondente do jornal O Estado de S. Paulo na capital do então Território Federal de Roraima, fui morar no conjunto Caçari. Já mantinha relações profissionais e de amizade com o pessoal da Folha e acabei ganhando um espaço para poder trabalhar, dando em troca minha colaboração ao jornal, vivendo ainda seus primeiros passos.


Boa Vista foi uma grata surpresa a mim e a toda a família. Prisioneiros de um apartamento em condomínio fechado na Paulicéia, meus filhos ganharam a liberdade só encontrada mesmo aqui no lavrado roraimense. Eu, por minha vez, pude finalmente fazer do churrasco domingueiro o lazer jamais me permitido em São Paulo.


Numa dessas manhãs (Maio de 1984) cuidava de acender o carvão da churrasqueira, à sombra de um caimbezeiro no quintal, quando vi quatro Tucanos T-27 passarem sobre minha casa, seguidos de um Hércules C-130. Como sabia de apenas quatro aviões pequenos (o do governo e os táxis-aéreos do comandante Alves, do Robertinho e do lendário Piauí) e não se tratavam de aeronaves da Esquadrilha da Fumaça (as cores eram diferentes), meu faro de repórter disparou o alarme. Liguei para o Estrella e fomos ao Aeroporto Internacional de Boa Vista descobrir o segredo daqueles aviões.


Não havia vigilância policial, nenhuma segurança armada e ninguém impediu nosso acesso ao pátio. Até fomos convidados pelo superintendente da Infraero, Euclydes Monerat, a visitar o interior do Hércules, cuja carga reunia mísseis Piranha, metralhadoras ponto 50, munição e peças de reposição.


Enquanto Estrella fotograva os Tucanos pintados com as cores da Força Aérea e o brasão de Honduras e mais o restante da carga do C-130, fui ao bar do aeroporto e abordei o comandante da esquadrilha, coronel Armínio Gutierrez. Coca-Cola na mão, entregou o jogo. O Brasil vendera oito Tucanos para seu país e aqueles eram os primeiros quatro do lote. Honduras estava em guerra com El Salvador e uma resolução da ONU proibia a venda de armamentos e aviões militares para países localizados em zona de conflito. Para contornar o impedimento, o governo norte-americano negociou com o Brasil a venda dos Tucanos, considerados aviões de treinamento e, portanto, à margem da proibição.



Base Aérea de Boa Vista




Para os leigos vale a explicação: o Tucano tem dois assentos, um para o aluno e outro para o instrutor. Conforme me explicou o comandante, bastava instalar uma metralhadora para o artilheiro, retirar os tanques suplementares nas extremidades das asas, substituindo-os por dois Piranhas, e ele virava um avião de caça anti-guerrilha, pois pode voar a baixa altitude. Ademais, por ser uma aeronave versátil, consegue atirar em alvos móveis a pequenas distâncias, causando estragos em colunas de deslocamento pela selva, como ocorria naquela guerra da América Central.


A matéria e as fotos foram bater na redação do Estadão e viraram manchete simultaneamente com a Folha de Boa Vista. A repercussão foi imediata. O Departamento de Estado norte-americano negou a transação, o Itamaraty desconversou, a Embraer silenciou e eu acabei indo parar no quartel do 2º Batalhão Especial de Fronteira (precursor da atual 1ª Brigada de Infantaria de Selva) para, a “convite” do comandante, coronel Mirócem, prestar esclarecimentos ao Serviço Nacional de Informação, o temido SNI. Dois agentes vieram de Manaus com a missão de descobrir como eu tivera acesso a um segredo militar muito bem guardado na Embraer em São José dos Campos (SP) e vazado num distante e solitário aeroporto da Amazônia.


Pude lhes dizer apenas ter-me valido de duas armas para descobrir a presença dos aviões: meus olhos, reveladores dos Tucanos passando sobre minha casa, e o instinto natural da curiosidade, cujo cultivo recomendo a todo repórter por se tratar de ferramenta de trabalho. Ele me levou considerar a estranheza daqueles objetos sobrevoando Boa Vista na manhã de um dos meus domingos.


Depois da reportagem e toda a repercussão causada dentro e fora do Brasil, o ministro da Aeronáutica, brigadeiro Délio Jardim de Matos, de quem tive o privilégio de ser amigo e de quem merecia respeito ainda antes de eu vir para Roraima, determinou a construção da Base Aérea de Boa Vista. Portanto, paternalismo à parte, não me resta dúvida: eu, Fernando Estrela, a Folha e o Estadão somos, sim, personagens da história dessa importante organização militar sediada em Roraima.


Plínio Vicente da Silva

segunda-feira, novembro 03, 2008

O XI Femurr está chegando



O Governo do Estado divulgou nesta segunda-feira (3) a relação das músicas que vão concorrer no XI Femurr (Festival de Música de Roraima). Depois de milhares de anos, o festival volta a ser realizado, desta vez nos dias 20, 21 e 22 de novembro, no Forrodromo do Parque Anauá, aqui mesmo em Boa Vista. Exatamente 106 músicas foram inscritas. Do bolo todo, saíram essas aqui:

01 Indefesos ( Kleber Barbosa Gomes – Boa Vista)


02 Muralhas ( Carlos Alberto Gomes – São Paulo)


03 Branco No Samba ( Kleber Barbosa Gomes – Boa Vista)


04 Um Reska ( Isaias da Silva – Boa Vista)


05 Pétalas Delirantes (Jose Maria de Souza Garcia – Boa Vista)


06 Segredeiro (Jose Maria de Souza Garcia – Boa Vista)


07 Rock Na Maloca (Galdino Pinho – Boa Vista)


08 Um Lugar (Renato Bassilee – Amazonas)


09 Rorainopolitano (Raimundo Nonato de Albuquerque Lima – Rorainópolis/RR)


10 Roraimeriar ( Josué Rodrigues Da Costa – Rorainópolis/RR)


11 Mameluca Malemolência ( Elias Venâncio/João Carlos Wandenberg – Boa Vista)


12 Mil Maneiras ( Filomeno De Sousa Filho – São Luiz do Anauá/RR)


13 Me Chamo, Seu Amor ( Handerson Cruz – Boa Vista)


14 Outros Brasis ( Roberto Dibo e Eliakin Rufino – Amazonas)


15 Sombras De Um Grande Amor ( Ana Claudia Batista Lima Souza – Boa Vista)


16 Sendeiro ( Airton Vieira – Boa Vista)


17 Baby Dream ( Airton Vieira – Boa Vista)


18 Eu, Você E O Violão ( Jair de Medeiros – Boa Vista)


19 Anjo Louco (Lucevilson Araujo de Sousa – Amazonas)


20 Curumins ( Raimundo Chermont/Ana Alves - Amapá)



Essa aqui foi a galera que escolheu as composições:


Onésimo de Souza Cruz Neto (secretário-adjunto de Estado), Marco Aurélio Porto Fonseca (produtor musical e servidor do Governo Estadual), Joelmir Guimarães de Souza (cantor), Rosângela Queiroz Batista (assessora da secretaria que está promovendo o evento), João Pojucan Pinto Souto Maior Filho (produtor musical) e Dalva Honorato de Souza Dias (sei quem é não).

Comentário 1: a premiação é das boas. R$ 10 mil para o primeiro colocado e R$ 5 mil para o segundo.

Comentário 2: Jose Maria de Souza Garcia é mais conhecido como Zeca Preto, um dos ícones da música regional.

Comentário 3: na música 14, Eliakin Rufino aparece como sendo do Amazonas, mas é morador a vida toda de Boa Vista, Roraima.

Comentário 4: Airton Vieira mora em Pacaraima, na fronteria, e lançou disco dia desses, o “Nós”. Eu comprei.

Comentário 5: Handerson Cruz, ou Handy, também lançou um CD neste ano, o “Versos”. Muitoooooo bom, por sinal.

Comentário 6: Galdino Pinho é um professor amalucado que comanda a banda A Coisa.