quinta-feira, abril 28, 2005
Em 2002, encarei o os 2.875 metros do Monte Roraima. Facinho, facinho para um indiozinho. Neste final de semana, em companhia do Nei, vou encarar a XVI Feira de Livros do Sesc. Vamos escalar, ops..., falar sobre literatura virtual, blogs e coisas do tipo. No bolo, propaganda de graça de um monte de blogueiros. Por isso, caros, publiquem coisas legais para não nos fazer passar vergonha...
Ah, lá na Feira estaremos criando um blog para o Sesc. O endereço, valendo a partir das 20h de sexta (29 de abril) será www.pocoesdepoesia.blogspot.com . Té lá.
quarta-feira, abril 27, 2005
terça-feira, abril 26, 2005
Da Série Ouvidos na Rua
Na loja de sapatos, as duas vendedoras:
- Então, tu fez o que no final de semana?
- Ai, foi tão bom!
- Conta como foi.
- No sábado, depois do expediente, fui em casa tomar um banho e fui pra casa da minha irmã. Tava tendo um aniversário lá. Passei a tarde toda e um pedaço da noite da turma dela, jogando baralho e dançando. Menina, bebi e comi o tempo todo.
- Caraca, tava bom demais então!
- Meia-noite sumi com um gato que tava na festa. Precisava ver. Lindo. Branquinho, olhos azuis....Ai (suspiro), acordei tarde no domingo...
(E ainda tem gente que reclama da vida. Não sabe aproveitar como a moça, já viu.)
Na loja de sapatos, as duas vendedoras:
- Então, tu fez o que no final de semana?
- Ai, foi tão bom!
- Conta como foi.
- No sábado, depois do expediente, fui em casa tomar um banho e fui pra casa da minha irmã. Tava tendo um aniversário lá. Passei a tarde toda e um pedaço da noite da turma dela, jogando baralho e dançando. Menina, bebi e comi o tempo todo.
- Caraca, tava bom demais então!
- Meia-noite sumi com um gato que tava na festa. Precisava ver. Lindo. Branquinho, olhos azuis....Ai (suspiro), acordei tarde no domingo...
(E ainda tem gente que reclama da vida. Não sabe aproveitar como a moça, já viu.)
segunda-feira, abril 25, 2005
"Jazz é masturbação musical."
Jimmy Rabbitte, empresário da banda The Commitments, aquela do filme ?Loucos pela fama.? Quem nunca assistiu, corra. Está passando desde a semana passada no canal MGM.
"Mustag Sally
Guess you better slow your Mustang down
Mustang Sally, baby?"
Jimmy Rabbitte, empresário da banda The Commitments, aquela do filme ?Loucos pela fama.? Quem nunca assistiu, corra. Está passando desde a semana passada no canal MGM.
"Mustag Sally
Guess you better slow your Mustang down
Mustang Sally, baby?"
quarta-feira, abril 20, 2005
Manifestação no Centro Cívico por conta da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol
Alugaram ônibus para transportar pessoas de graça; fecharam as portas de parte do comércio central; falaram (e como falaram) bobagens nas rádios; acusaram o governo Lula de vende-pátria; clamaram por justiça; alertaram sobre conflitos na reserva; disseram (sem me consultar) que o desejo de todos os roraimenses não era a reserva em área única; aproveitaram a deixa para sair do PT; escreveram sobre cidadania, direitos iguais entre desiguais, falta de compromisso da União com os esquecidos do Norte; teorizaram sobre o troco nas urnas; usaram fitas negras para simbolizar o luto do Estado; publicaram anúncios de página inteira expressando sua revolta; pintaram um futuro negro para Roraima; e como se estivéssemos em outro mundo, avisaram que a economia voltaria a depender do pagamento do funcionalismo público.
Mas ninguém explicou como é que viramos território federal em 1962, passamos a Estado em 1988 e nunca conseguimos superar o discurso de "agora sim, vamos progredir."
Alugaram ônibus para transportar pessoas de graça; fecharam as portas de parte do comércio central; falaram (e como falaram) bobagens nas rádios; acusaram o governo Lula de vende-pátria; clamaram por justiça; alertaram sobre conflitos na reserva; disseram (sem me consultar) que o desejo de todos os roraimenses não era a reserva em área única; aproveitaram a deixa para sair do PT; escreveram sobre cidadania, direitos iguais entre desiguais, falta de compromisso da União com os esquecidos do Norte; teorizaram sobre o troco nas urnas; usaram fitas negras para simbolizar o luto do Estado; publicaram anúncios de página inteira expressando sua revolta; pintaram um futuro negro para Roraima; e como se estivéssemos em outro mundo, avisaram que a economia voltaria a depender do pagamento do funcionalismo público.
Mas ninguém explicou como é que viramos território federal em 1962, passamos a Estado em 1988 e nunca conseguimos superar o discurso de "agora sim, vamos progredir."
terça-feira, abril 19, 2005
Dia do índio em Roraima
Aqui, onde missionários e outros conquistadores fizeram a feira com aldeamentos e escravizações dos indígenas;
onde a história oficial nega que alguma vez houve conflitos durante o processo de ocupação das terras;
onde meninas índias eram (e ainda são) trazidas para as cidades para estudar e viravam domésticas e brinquedinhos sexuais dos patrões;
onde predomina o preconceito contra quem vive nas aldeias;
onde há morte e violência constante no campo;
onde fazendeiros plantam em terras demarcadas mesmo sabendo da ilegalidade do ato e são considerados vítimas;
onde os interesses da maioria chocam-se com os da minoria;
onde a minoria não se entende na hora de definir quais são seus interesses;
onde a elite diz que ser culpada por alguma coisa é estratégia de entreguistas da nação para beneficiar índios que não querem ser isolados;
onde o governador decreta luto oficial de sete dias por conta da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol;
onde a mídia simplesmente ignora quem apóia a demarcação e concede espaços privilegiados a quem a combate;
onde dizem que direitos históricos se confundem com interesses obscuros;
onde todos perguntam para que tanta terra para tão pouco índio;
onde até o vendedor de picolés diz ser contra a demarcação mesmo nunca tendo tido um pedaço de terra na região;
onde o discurso dos direitos da minoria já encheu a paciência;
onde discuti-los é pior do que falar sobre religião e política;
e onde o Estado cancelou todas as programações referentes à data em protesto contra a demarcação;
bem, aqui, eu, como neto de uma macuxi que foi casada com um fazendeiro, vou exigir o meu pedaço de terra, trabalhar com agricultura e ecoturismo e ficar rico. Afinal, eu também tenho direitos!!! Fui!!!!!!!
Aqui, onde missionários e outros conquistadores fizeram a feira com aldeamentos e escravizações dos indígenas;
onde a história oficial nega que alguma vez houve conflitos durante o processo de ocupação das terras;
onde meninas índias eram (e ainda são) trazidas para as cidades para estudar e viravam domésticas e brinquedinhos sexuais dos patrões;
onde predomina o preconceito contra quem vive nas aldeias;
onde há morte e violência constante no campo;
onde fazendeiros plantam em terras demarcadas mesmo sabendo da ilegalidade do ato e são considerados vítimas;
onde os interesses da maioria chocam-se com os da minoria;
onde a minoria não se entende na hora de definir quais são seus interesses;
onde a elite diz que ser culpada por alguma coisa é estratégia de entreguistas da nação para beneficiar índios que não querem ser isolados;
onde o governador decreta luto oficial de sete dias por conta da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol;
onde a mídia simplesmente ignora quem apóia a demarcação e concede espaços privilegiados a quem a combate;
onde dizem que direitos históricos se confundem com interesses obscuros;
onde todos perguntam para que tanta terra para tão pouco índio;
onde até o vendedor de picolés diz ser contra a demarcação mesmo nunca tendo tido um pedaço de terra na região;
onde o discurso dos direitos da minoria já encheu a paciência;
onde discuti-los é pior do que falar sobre religião e política;
e onde o Estado cancelou todas as programações referentes à data em protesto contra a demarcação;
bem, aqui, eu, como neto de uma macuxi que foi casada com um fazendeiro, vou exigir o meu pedaço de terra, trabalhar com agricultura e ecoturismo e ficar rico. Afinal, eu também tenho direitos!!! Fui!!!!!!!
sexta-feira, abril 15, 2005
Taí o resultado do post coletivo. Agora, é cada um ler e fazer suas avaliações do conjunto. De preferência, compartilhando.
Posso dizer que nunca havia feito nada parecido. Escrever sempre foi uma ação solitária justamente para não entrar em conflito de idéias. O que imaginava para a história não tem nada a ver com o que resultou. Mas gostei da experiência.
Valeu, caros Ismael, Rah, Luma, Avery, Patrício, Luis Ene, Nanda, Nora e Nei.
Depois fazemos de novo.
.....................
O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.
Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.
Bateu o telefone e ficou esperando nova chamada. Quando atendeu foi logo gritando:- Você não tem nada melhor pra fazer além de incomodar quem está trabalhando? Minha vida era bem melhor antes de você. Quer saber? Vá lamber sabão, junte-se aos Médicos Sem-fronteira ou raspe a cabeça e vire Hare Krishna. Cansei, veja se... mamãe?!
- Não mãe, era brincadeira minha com o pessoal aqui, é claro que estou lembrado de pegar a sua amiga no aeroporto. Inventou qualquer desculpa e desligou rápido antes de se transformar em piada permanente do escritório como o filho da careca hare krishna. Já passava das 19h e era uma boa distância até o aeroporto que ficava fora da cidade. Não sabia por que deixava sua mãe convencê-lo de fazer estes favores desconfortáveis para estranhos. E agora esta maluca telefonando do nada, não havia hora mais inoportuna.
Preparava-se para arrancar para o aeroporto quando o celular tocou. "Te odeio. Mas mesmo. Você nem imagina quanto." Era ela de novo. Ficou a olhar para o ecrã que dava indicação que a chamada terminara. Nem conseguira dizer coisa alguma. Mas agora tinha o seu número...
No caminho do aeroporto torcia para que a amiga de sua mãe fosse ao menos uma loba enxutinha, charmosa. Gostava de mulheres mais velhas, e vez por outra fantasiava um sexozinho com a Malú, amiga de adolescência da mãe. Esperou o telefone tocar novamente, mas nada aconteceu...
O Trânsito devia estar horrível...seria uma boa desculpa para se atrasar na ida para o aeroporto. Mentir é uma habilidade social? Sim. Neste caso. Com a certeza absoluta que ela ainda o amava, senão, não iria se preocupar em dizer tantos "eu te odeio" e ela estaria ali por perto...
Por perto, talvez não seja esta a definição.Ele está dentro dela, preenchia-a as entranhas com amor e carinho e depois exigiu que ela terminasse com esse sentimento.Ela lutava contra ele e contra si.Tentava transformar aquele ódio em amor. E estava conseguindo.
Como não as alternativas não eram muitas, resolveu que aproveitaria ao máximo essa tarefa. subiu no carro e pegou seu cd do 'frank jorge', presente de lady laura, uma ex-amante gaúcha dona de grande cultura musical e grande habilidade no sexo oral. enquanto enfrentava o congestionamento, relembrava do dia que a conheceu em porto alegre, numa festa na casa de um amigo em comum.
Talvez esse fosse o motivo. Tudo dele era imediato e cômodo. E uma mentirinha de vez em quando não ia mudar sua vida. É, quando ela é aceita e impressa pode virar um romance e se é passada na tv, vira novela. Mas como se chamava na vida real? Ele começou com a certeza e acabou na dúvida. Ah, se ela se contentasse com a dúvida, acabaria tudo certo.
Mas não. Ela e suas certezas. Ela e suas grandes aspirações, seus filmes complicados, suas neuroses allenianas. Talvez fosse melhor fingir suicídio e voltar para o único lugar que ela jamais lhe procuraria: aquela aldeia tutsi onde se conheceram. Ali sim, talvez encontrasse a paz. Ou um grupo de hutus enfurecidos.
Quase perdeu a entrada do aeroporto enquanto fingia não estar esperando mais uma vez o telefone tocar. No desembarque não havia muitas pessoas e assim teve certeza que estava muito atrasado, mas favores nem sempre são perfeitos e certamente a tal amiga saberia apreciar sua boa vontade. Em segundos ficou boquiaberto ao perceber sua passageira diante do carro. Não era uma loba, era uma pantera na casa dos trinta.
De sopetão ele se apaixonou. Os olhares se cruzaram e ele sentiu um pulsar forte no peito e o suor frio escorrer por seu rosto ainda rubro. Já não esperava mais um telefonema e nem se lembrava de um passado tão próximo.
- Qual é o número da ficha, que não tenho tempo a perder com filas, baby!
Pensou: "Parece que ela é realmente apressadinha como eu" e estacionando o carro, saiu correndo para se apresentar. Entraram no carro e o telefone tocou. Desligou e disse: "A bateria está fraca". Deu-lhe um sorriso enviesado e ela idem. Pensou: "e aquela tonta a ligar...ah, os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas". Preso nesses pensamentos, sentiu a necessidade de dizer algo: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita. Vai ficar muito tempo?"
Ela olhou-lhe bem no fundo do fundo dos olhos e disse-lhe lentamente: "Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio." Ele sorriu, ia ser um excelente relacionamento.
Sorrindo meio provocador, com mais astúcia do que habilidade, arriscou: - Mas por que você me odeia tanto se ainda nem nos conhecemos direito? - Talvez pela cantada juvenil: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita?!" Faça-me o favor, menino! Eu não sabia que minha amiga tinha um filho tão sem criatividade! Uma decepção! Um rapaz tão bonito!Mas o tiro saíra pela culatra. Se estava decepcionada era porque esperava outra coisa...
Ele se calou, mas ficou observando os gestos dela pelos cantos dos olhos. Notou o momento em que ela pegou o telefone e num movimento suspeito deixou-o cair sobre as suas coxas. Ele ainda tentou pegá-lo, mas não teve tempo.
O telefone havia sido engolido pela abertura das pernas da mulher. Ela o olhou e sorriu maliciosa, perguntando: se tocar, como te achei bonito, apesar de bobinho, deixo você pegá-lo. Ele sorriu, pensando em como seria bom que uma ligação de alguém declarando ódio eterno se repetisse logo, logo.Dirigiu impacientemente, esperando que sua mão ficasse boba quando fosse atender o xingamento.
Posso dizer que nunca havia feito nada parecido. Escrever sempre foi uma ação solitária justamente para não entrar em conflito de idéias. O que imaginava para a história não tem nada a ver com o que resultou. Mas gostei da experiência.
Valeu, caros Ismael, Rah, Luma, Avery, Patrício, Luis Ene, Nanda, Nora e Nei.
Depois fazemos de novo.
.....................
O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.
Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.
Bateu o telefone e ficou esperando nova chamada. Quando atendeu foi logo gritando:- Você não tem nada melhor pra fazer além de incomodar quem está trabalhando? Minha vida era bem melhor antes de você. Quer saber? Vá lamber sabão, junte-se aos Médicos Sem-fronteira ou raspe a cabeça e vire Hare Krishna. Cansei, veja se... mamãe?!
- Não mãe, era brincadeira minha com o pessoal aqui, é claro que estou lembrado de pegar a sua amiga no aeroporto. Inventou qualquer desculpa e desligou rápido antes de se transformar em piada permanente do escritório como o filho da careca hare krishna. Já passava das 19h e era uma boa distância até o aeroporto que ficava fora da cidade. Não sabia por que deixava sua mãe convencê-lo de fazer estes favores desconfortáveis para estranhos. E agora esta maluca telefonando do nada, não havia hora mais inoportuna.
Preparava-se para arrancar para o aeroporto quando o celular tocou. "Te odeio. Mas mesmo. Você nem imagina quanto." Era ela de novo. Ficou a olhar para o ecrã que dava indicação que a chamada terminara. Nem conseguira dizer coisa alguma. Mas agora tinha o seu número...
No caminho do aeroporto torcia para que a amiga de sua mãe fosse ao menos uma loba enxutinha, charmosa. Gostava de mulheres mais velhas, e vez por outra fantasiava um sexozinho com a Malú, amiga de adolescência da mãe. Esperou o telefone tocar novamente, mas nada aconteceu...
O Trânsito devia estar horrível...seria uma boa desculpa para se atrasar na ida para o aeroporto. Mentir é uma habilidade social? Sim. Neste caso. Com a certeza absoluta que ela ainda o amava, senão, não iria se preocupar em dizer tantos "eu te odeio" e ela estaria ali por perto...
Por perto, talvez não seja esta a definição.Ele está dentro dela, preenchia-a as entranhas com amor e carinho e depois exigiu que ela terminasse com esse sentimento.Ela lutava contra ele e contra si.Tentava transformar aquele ódio em amor. E estava conseguindo.
Como não as alternativas não eram muitas, resolveu que aproveitaria ao máximo essa tarefa. subiu no carro e pegou seu cd do 'frank jorge', presente de lady laura, uma ex-amante gaúcha dona de grande cultura musical e grande habilidade no sexo oral. enquanto enfrentava o congestionamento, relembrava do dia que a conheceu em porto alegre, numa festa na casa de um amigo em comum.
Talvez esse fosse o motivo. Tudo dele era imediato e cômodo. E uma mentirinha de vez em quando não ia mudar sua vida. É, quando ela é aceita e impressa pode virar um romance e se é passada na tv, vira novela. Mas como se chamava na vida real? Ele começou com a certeza e acabou na dúvida. Ah, se ela se contentasse com a dúvida, acabaria tudo certo.
Mas não. Ela e suas certezas. Ela e suas grandes aspirações, seus filmes complicados, suas neuroses allenianas. Talvez fosse melhor fingir suicídio e voltar para o único lugar que ela jamais lhe procuraria: aquela aldeia tutsi onde se conheceram. Ali sim, talvez encontrasse a paz. Ou um grupo de hutus enfurecidos.
Quase perdeu a entrada do aeroporto enquanto fingia não estar esperando mais uma vez o telefone tocar. No desembarque não havia muitas pessoas e assim teve certeza que estava muito atrasado, mas favores nem sempre são perfeitos e certamente a tal amiga saberia apreciar sua boa vontade. Em segundos ficou boquiaberto ao perceber sua passageira diante do carro. Não era uma loba, era uma pantera na casa dos trinta.
De sopetão ele se apaixonou. Os olhares se cruzaram e ele sentiu um pulsar forte no peito e o suor frio escorrer por seu rosto ainda rubro. Já não esperava mais um telefonema e nem se lembrava de um passado tão próximo.
- Qual é o número da ficha, que não tenho tempo a perder com filas, baby!
Pensou: "Parece que ela é realmente apressadinha como eu" e estacionando o carro, saiu correndo para se apresentar. Entraram no carro e o telefone tocou. Desligou e disse: "A bateria está fraca". Deu-lhe um sorriso enviesado e ela idem. Pensou: "e aquela tonta a ligar...ah, os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas". Preso nesses pensamentos, sentiu a necessidade de dizer algo: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita. Vai ficar muito tempo?"
Ela olhou-lhe bem no fundo do fundo dos olhos e disse-lhe lentamente: "Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio." Ele sorriu, ia ser um excelente relacionamento.
Sorrindo meio provocador, com mais astúcia do que habilidade, arriscou: - Mas por que você me odeia tanto se ainda nem nos conhecemos direito? - Talvez pela cantada juvenil: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita?!" Faça-me o favor, menino! Eu não sabia que minha amiga tinha um filho tão sem criatividade! Uma decepção! Um rapaz tão bonito!Mas o tiro saíra pela culatra. Se estava decepcionada era porque esperava outra coisa...
Ele se calou, mas ficou observando os gestos dela pelos cantos dos olhos. Notou o momento em que ela pegou o telefone e num movimento suspeito deixou-o cair sobre as suas coxas. Ele ainda tentou pegá-lo, mas não teve tempo.
O telefone havia sido engolido pela abertura das pernas da mulher. Ela o olhou e sorriu maliciosa, perguntando: se tocar, como te achei bonito, apesar de bobinho, deixo você pegá-lo. Ele sorriu, pensando em como seria bom que uma ligação de alguém declarando ódio eterno se repetisse logo, logo.Dirigiu impacientemente, esperando que sua mão ficasse boba quando fosse atender o xingamento.
quarta-feira, abril 13, 2005
A proposta é seguinte, meus amigos: continuem vocês a história a seguir.
As condições, para não virar uma bagunça, como a vida nas cidades fronteiriças geralmente é, são estas:
1) A cada comentário, o co-escritor terá direito a seis frases, incluindo aqui possíveis falas dos personagens que acrescentar.
2) Se quiser contribuir, mas não quiser colocar seu nome, tudo bem. Só não vale desqualificar as contribuições anteriores.
3) Para que não fique muito extensa ou muito curta, a história será encerrada no décimo comentário. Só peço que não fiquem esperando o décimo para poder participar.
4) Cada co-escritor poderá contribuir duas vezes no máximo. (Eu sei, parece ditatorial, mas só assim podemos controlar os mais afoitos.)
5) Conto com vocês para esta experiência. Beijos a todos.
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O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.
Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.
(Continua nos comentários...)
As condições, para não virar uma bagunça, como a vida nas cidades fronteiriças geralmente é, são estas:
1) A cada comentário, o co-escritor terá direito a seis frases, incluindo aqui possíveis falas dos personagens que acrescentar.
2) Se quiser contribuir, mas não quiser colocar seu nome, tudo bem. Só não vale desqualificar as contribuições anteriores.
3) Para que não fique muito extensa ou muito curta, a história será encerrada no décimo comentário. Só peço que não fiquem esperando o décimo para poder participar.
4) Cada co-escritor poderá contribuir duas vezes no máximo. (Eu sei, parece ditatorial, mas só assim podemos controlar os mais afoitos.)
5) Conto com vocês para esta experiência. Beijos a todos.
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O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.
Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.
(Continua nos comentários...)
segunda-feira, abril 11, 2005
História de uma concursada
Nesta segunda, às 17h, dona Gracineide e outras 1.059 pessoas serão empossadas como funcionários estaduais no ginásio estadual Hélio Campos.
O cargo de dona Gracineide quase lhe escapa. Se não fosse uma cunhada ligar avisando que havia sido convocada, não teria tomado ciência da chamada feita pelo governo.
Dona Neide, como é mais conhecida, está empolgada com a novidade.
Há alguns anos é somente dona-de-casa, esposa de seu Juca, assessora para assuntos médicos de seu pai, gerenciadora das obras de reforma de sua casa e do apertamento do filho, responsável pelo compra de material de uso permanente e administrativo dos dois lares, além de alfabetizadora de pelo menos quatro sobrinhos e criadora de alguns cães bravos que só.
Para relaxar, vai à Venezuela de vez em quando, assiste às novelas da noite e vende produtos dessas empresas que fazem distribuição pelos Correios. Nos intervalos, estudou em casa para o concurso público.
Dona Neide, aos 53 anos, é a viva prova de que o tempo é o senhor esquecido dos recados atrasados.
Depois de muitos anos sem trabalho registrado, ao precisar do número do Pis-pasep, necessário para a lista enorme de documentos e exames médicos exigidos pelo Governo, dona Neide descobriu um recado grampeado na carteira de trabalho pela antiga patroa, Nilze Fligioli, quando deixou Manaus, lá na década de 1970.
A patroa, ao enviar sua carteira de trabalho para Boa Vista, escreveu um bilhete desejando muita sorte no parto e pedindo para procurá-la quando saísse da licença-maternidade. "O seu posto na empresa está aqui em Manaus, esperando por você."
28 anos depois, graças à necessidade criada pela exigência do governo, dona Neide finalmente leu o recado.
E depois ela reclama quando o filho esquece do nome das pessoas.
Nesta segunda, às 17h, dona Gracineide e outras 1.059 pessoas serão empossadas como funcionários estaduais no ginásio estadual Hélio Campos.
O cargo de dona Gracineide quase lhe escapa. Se não fosse uma cunhada ligar avisando que havia sido convocada, não teria tomado ciência da chamada feita pelo governo.
Dona Neide, como é mais conhecida, está empolgada com a novidade.
Há alguns anos é somente dona-de-casa, esposa de seu Juca, assessora para assuntos médicos de seu pai, gerenciadora das obras de reforma de sua casa e do apertamento do filho, responsável pelo compra de material de uso permanente e administrativo dos dois lares, além de alfabetizadora de pelo menos quatro sobrinhos e criadora de alguns cães bravos que só.
Para relaxar, vai à Venezuela de vez em quando, assiste às novelas da noite e vende produtos dessas empresas que fazem distribuição pelos Correios. Nos intervalos, estudou em casa para o concurso público.
Dona Neide, aos 53 anos, é a viva prova de que o tempo é o senhor esquecido dos recados atrasados.
Depois de muitos anos sem trabalho registrado, ao precisar do número do Pis-pasep, necessário para a lista enorme de documentos e exames médicos exigidos pelo Governo, dona Neide descobriu um recado grampeado na carteira de trabalho pela antiga patroa, Nilze Fligioli, quando deixou Manaus, lá na década de 1970.
A patroa, ao enviar sua carteira de trabalho para Boa Vista, escreveu um bilhete desejando muita sorte no parto e pedindo para procurá-la quando saísse da licença-maternidade. "O seu posto na empresa está aqui em Manaus, esperando por você."
28 anos depois, graças à necessidade criada pela exigência do governo, dona Neide finalmente leu o recado.
E depois ela reclama quando o filho esquece do nome das pessoas.
sexta-feira, abril 08, 2005
Depois de uma semana de trabalho, vejam só o que Zanny Adairalba, dona de lugar fixo na série Redatores da Fronteira, ainda é capaz de escrever. (Eu, quando chega a sexta, só atino a pensar que a coisa pode ficar pior.):
Liberdade!! Liberdade!!
Gritei logo ao acordar por meu peito doer
Mal pude vestir-me e corri às ruas
Bati nas portas
Percorri as calçadas
Gritei
Gritei
Ajoelhei-me no paralelepípedo e esperei resposta
A chuva caia
Era forte
A rua deserta
O riso era esperança
A fome
Era de vida
Os sonhos... confusos
Ninguém respondeu
Um poste
...uma lâmpada ainda ligada
o dia acabara de despertar
um lenço à mão
...vermelho
deitei-me ali mesmo
em frente a qualquer coisa
no meio de qualquer lugar
entre a rua e a calçada
os pingos da chuva eram conforto
um silêncio incomum abraçava o cenário
percebi que era o meu dia
meu dia de gritar
de chorar
de construir... assim mesmo...
no meio do nada...
uma resposta para minhas dúvidas
me fiz criança
feto envolvido no útero materno
molhado
medo
mas não um medo covarde
a busca da paz
do equilíbrio
da razão...
um momento como poucos
uma sensação de afogamento
e de emancipação conjugada
a rua de paralelepípedos parece cantiga
de algum compositor buarquiano brasileiro
as lágrimas se misturam com a água vinda do céu
agora menos dolorosas
- liberdade!
... o sussurro de um riso meio louco
- paz!!
... é tudo o que queremos.
A chuva passa de repente...
As pessoas abrem suas portas...
Suas janelas...
Saem de suas casas e ...
Como se fosse música
Dançam felicidade.
Os raios de sol
Iluminam a velha ladeira da rua 19
Parece sonho
Brinquedo de menino
Desenho de graffiti
Uma mão estira a liberdade
Se ergue a verdade
Me levanto diante dela
A essência é companheira do saber
Me encontro e me transbordo de mim mesma
Cálice de vinho raro
Chegada de plenitude
O dia é partícula de eternidade
A vida... criação e criatura
Fruto de um ventre celestial
Livro escrito por anjos carnais
Liberdade.
Liberdade!! Liberdade!!
Gritei logo ao acordar por meu peito doer
Mal pude vestir-me e corri às ruas
Bati nas portas
Percorri as calçadas
Gritei
Gritei
Ajoelhei-me no paralelepípedo e esperei resposta
A chuva caia
Era forte
A rua deserta
O riso era esperança
A fome
Era de vida
Os sonhos... confusos
Ninguém respondeu
Um poste
...uma lâmpada ainda ligada
o dia acabara de despertar
um lenço à mão
...vermelho
deitei-me ali mesmo
em frente a qualquer coisa
no meio de qualquer lugar
entre a rua e a calçada
os pingos da chuva eram conforto
um silêncio incomum abraçava o cenário
percebi que era o meu dia
meu dia de gritar
de chorar
de construir... assim mesmo...
no meio do nada...
uma resposta para minhas dúvidas
me fiz criança
feto envolvido no útero materno
molhado
medo
mas não um medo covarde
a busca da paz
do equilíbrio
da razão...
um momento como poucos
uma sensação de afogamento
e de emancipação conjugada
a rua de paralelepípedos parece cantiga
de algum compositor buarquiano brasileiro
as lágrimas se misturam com a água vinda do céu
agora menos dolorosas
- liberdade!
... o sussurro de um riso meio louco
- paz!!
... é tudo o que queremos.
A chuva passa de repente...
As pessoas abrem suas portas...
Suas janelas...
Saem de suas casas e ...
Como se fosse música
Dançam felicidade.
Os raios de sol
Iluminam a velha ladeira da rua 19
Parece sonho
Brinquedo de menino
Desenho de graffiti
Uma mão estira a liberdade
Se ergue a verdade
Me levanto diante dela
A essência é companheira do saber
Me encontro e me transbordo de mim mesma
Cálice de vinho raro
Chegada de plenitude
O dia é partícula de eternidade
A vida... criação e criatura
Fruto de um ventre celestial
Livro escrito por anjos carnais
Liberdade.
terça-feira, abril 05, 2005
Os blogs na XVI Feira de Livros do Sesc
Nei Costa e este cronista participam nos dias 22, 23 e 24 de abril da XVI Feira de Livros do Sesc, um evento que reúne milhares de crianças, adolescentes e adultos todos os anos e que, pelas inovações de cada edição, é considerado modelo para o Sesc nacional.
Nossa tarefa será apresentar ao distinto público roraimense o conceito de literatura virtual. Durante três dias, teremos um estande, computador e projetor à disposição para exibir blogs e sites que estimulem a leitura e a interatividade.
Serão intervenções rápidas, de 40, 50 minutos, abordando os seguintes temas: o que é literatura virtual? blogs e sites na imprensa; interatividade; montagem de um blog; exemplos de blogs e sites voltados para a literatura infanto-juvenil e adulta; direitos autorais na internet; o perigo da facilidade dos resumos da net; e o texto na net.
Sendo assim, convido todos os queridos navegantes a contribuírem com o nosso trabalho, enviando links interessantes sobre algum dos temas.
Podem ser deixados na caixa dos comentários ou enviados para os nossos endereços. Correspondência para Edgar aqui. Para o Nei, aqui.
Ah, também vamos divulgar os nossos amigos, no mais puro estilo demagógico: para meus conhecidos tudo, para quem não conheço e não gosto, nada. É, nós somos bons, mas também sabemos ser maus.
segunda-feira, abril 04, 2005
Vivendo a história
Parece título dos programas do History Chanel, né? Mas é somente uma confirmação de que estamos contemplando momentos históricos, daqueles que daqui a 20 anos serão estudados ou relembrados por pesquisadores ou reportagens sobre o início do século XXI.
Quer ver como a história está passando diante de nossos olhos?
Onde você estava na sexta-feira passada, 1° de abril, quando foi anunciada a morte do Papa João Paulo II?
Onde você estava quando Lula ganhou a eleição presidencial, levando o PT a comandar o mesmo país que o recusou durante várias campanhas?
E na manhã do ataque às Torres Gêmeas, o 11 de setembro?
E quando começaram os bombardeios ao Afeganistão e ao Iraque, você estava fazendo o que mesmo?
E na eleição do Severino, o rei boquirroto do baixo clero parlamentar, você estava onde, alheio à desgraça que estava acontecendo?
Alguém lembra onde viu pela primeira vez a notícia dos gafanhotos de Roraima, do afastamento do governador roraimense Flamarion Portela por acusações de corrupção, da morte dos garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia? Da reeleição de George W. Bush? Do lançamento dos mega-sucessos O Senhor dos Anéis e Matrix?
E no último grande show de rock de sua cidade?
É a história, passando bem em frente aos nossos olhos despreocupados.
Parece título dos programas do History Chanel, né? Mas é somente uma confirmação de que estamos contemplando momentos históricos, daqueles que daqui a 20 anos serão estudados ou relembrados por pesquisadores ou reportagens sobre o início do século XXI.
Quer ver como a história está passando diante de nossos olhos?
Onde você estava na sexta-feira passada, 1° de abril, quando foi anunciada a morte do Papa João Paulo II?
Onde você estava quando Lula ganhou a eleição presidencial, levando o PT a comandar o mesmo país que o recusou durante várias campanhas?
E na manhã do ataque às Torres Gêmeas, o 11 de setembro?
E quando começaram os bombardeios ao Afeganistão e ao Iraque, você estava fazendo o que mesmo?
E na eleição do Severino, o rei boquirroto do baixo clero parlamentar, você estava onde, alheio à desgraça que estava acontecendo?
Alguém lembra onde viu pela primeira vez a notícia dos gafanhotos de Roraima, do afastamento do governador roraimense Flamarion Portela por acusações de corrupção, da morte dos garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia? Da reeleição de George W. Bush? Do lançamento dos mega-sucessos O Senhor dos Anéis e Matrix?
E no último grande show de rock de sua cidade?
É a história, passando bem em frente aos nossos olhos despreocupados.
sexta-feira, abril 01, 2005
O clima e a cultura - uma teoria feita ao som de reggae
Desde os tempos áureos da civilização grega, passando por todos impérios da humanidade, teorizou-se sobre a influência da clima e da geografia no desenvolvimento das sociedades. Com esse discurso, que favorecia geralmente os seus autores, legitimaram-se a escravidão, a conquista e o colonialismo de grupos menos complexos.
Posteriores mudanças paradigmáticas nas ciências sociais apontaram para outros fatores para explicar as diferenças entre os povos. Falou-se muito em evolucionismo, (alguém se lembra aí da conversa das raças?) difusionismo cultural e um monte de outras teorias. Hoje, sabe-se que não o clima não determina a cultura. Quem diz isso são os grandes estudiosos das ciências sociais.
Mas...
Deixa estar que na quinta-feira, antes do show do Cidade Negra aqui em BV (que fica em Roraima e não em Rondônia, como o Toni Garrido gritou no começo da apresentação, para corrigir-se lá pelo final), surgiu uma nova teoria aplicável somente a este pedacinho de Brasil.
Aqui, as movimentações artísticas incomuns influenciam o clima.
Vamos às explicações:
Do nada, depois de um dia absurdamente quente, desabou uma chuvarada espantadora. Assim, de repente, como se estivéssemos na época do inverno amazônico. A sexta-feira, ainda bem, amanheceu nublada.
Fato isolado? Não.
Em janeiro, mês de vacas ainda mais magríssimas no que se refere a teatro, shows e coisas do tipo em Boa Vista, grupos de Manaus e do Rio de Janeiro vieram à cidade trazendo teatro, dança e música erudita durante dois finais de semana. Trouxeram junto chuvas e queda na temperatura habitualmente alta nesta época do ano (e no restante também, para que ninguém se engane).
Se houvesse somente o show do Cidade Negra de atração nesta semana, talvez o clima continuasse igual.
Mas nesta sexta-feira tem um show da Banda Impacto Latino no Sesc Roraima, apresentando covers de bandas e cantores latinos. No sábado e no domingo, é a vez da banda Mr. Jungle, da qual fiz parte como assessor de imprensa, apresentar-se no teatro Carlos Gomes. Ou seja, é muita coisa boa em poucos dias. Tenho medo que neve ou aconteça uma catástrofe durante este período. Qualquer coisa, minha coleção de gibis deve ser entregue ao meu priminho Lucas quando ele estiver consciente de tudo o que gastei comprando e preservando as HQs.
Desde os tempos áureos da civilização grega, passando por todos impérios da humanidade, teorizou-se sobre a influência da clima e da geografia no desenvolvimento das sociedades. Com esse discurso, que favorecia geralmente os seus autores, legitimaram-se a escravidão, a conquista e o colonialismo de grupos menos complexos.
Posteriores mudanças paradigmáticas nas ciências sociais apontaram para outros fatores para explicar as diferenças entre os povos. Falou-se muito em evolucionismo, (alguém se lembra aí da conversa das raças?) difusionismo cultural e um monte de outras teorias. Hoje, sabe-se que não o clima não determina a cultura. Quem diz isso são os grandes estudiosos das ciências sociais.
Mas...
Deixa estar que na quinta-feira, antes do show do Cidade Negra aqui em BV (que fica em Roraima e não em Rondônia, como o Toni Garrido gritou no começo da apresentação, para corrigir-se lá pelo final), surgiu uma nova teoria aplicável somente a este pedacinho de Brasil.
Aqui, as movimentações artísticas incomuns influenciam o clima.
Vamos às explicações:
Do nada, depois de um dia absurdamente quente, desabou uma chuvarada espantadora. Assim, de repente, como se estivéssemos na época do inverno amazônico. A sexta-feira, ainda bem, amanheceu nublada.
Fato isolado? Não.
Em janeiro, mês de vacas ainda mais magríssimas no que se refere a teatro, shows e coisas do tipo em Boa Vista, grupos de Manaus e do Rio de Janeiro vieram à cidade trazendo teatro, dança e música erudita durante dois finais de semana. Trouxeram junto chuvas e queda na temperatura habitualmente alta nesta época do ano (e no restante também, para que ninguém se engane).
Se houvesse somente o show do Cidade Negra de atração nesta semana, talvez o clima continuasse igual.
Mas nesta sexta-feira tem um show da Banda Impacto Latino no Sesc Roraima, apresentando covers de bandas e cantores latinos. No sábado e no domingo, é a vez da banda Mr. Jungle, da qual fiz parte como assessor de imprensa, apresentar-se no teatro Carlos Gomes. Ou seja, é muita coisa boa em poucos dias. Tenho medo que neve ou aconteça uma catástrofe durante este período. Qualquer coisa, minha coleção de gibis deve ser entregue ao meu priminho Lucas quando ele estiver consciente de tudo o que gastei comprando e preservando as HQs.
quarta-feira, março 30, 2005
Hábitos
Ela perguntou:
Se te encontro e te descubro, onde estará então o encanto da surpresa?
Ele calou, como ela havia previsto.
terça-feira, março 29, 2005
Meia história de uma noite completa
Foi lá pelas duas da manhã, contou-me. Havíamos bebido cada um três copos de tequila, duas margueritas, três cervejas e dançado como loucos na festa de aniversário de uma moça amiga dos dois. A nossa adrenalina estava lá em cima.
Trabalhávamos no mesmo prédio. Eu no térreo, ela no primeiro andar. Na verdade, nunca pensei que isso fosse acontecer, confessou. Mas bateu uma coragem daquelas quando vi como o seu vestido preto balançava durante as danças, que pensei: é hoje ou nunca, completou.
Pena que foi só uma vez, disse, melancólico. O nome? Não, não posso dizer. Só quero compartilhar de leve uma história, não fofocar, reclamou, indignado com minha curiosidade.
Depois daquela noite, fingimos que nada havia acontecido e continuamos trabalhando normalmente, cada um em seu setor, continuou.
Quer dizer...(expressão de dúvida) agora que penso no caso, depois de misturar tequila, margueritas e cervejas, será que aconteceu mesmo ou imaginei tudo aquilo?
segunda-feira, março 28, 2005
quarta-feira, março 23, 2005
Da série Redatores da Fronteira, produção antiga de Zanny Adairalba para ilustrar uma semana estranha de chuvas em Boa Vista. Aos frequentadores, boa semana santa.
Texto para alguém numa tarde chuvosa
Encosto na vidraça, olho pela janela de minha sala... aqui de cima o mundo parece pequeno. O enorme vidro, molhado, me traz a sensação dos banhos de chuva da infância. Não eram prédios sofisticados, como os que vejo agora, que decoravam meus dias ... casas humildes, por trás das calçadas quebradas... ruas razoavelmente grandes e alguns paralelepípedos incompletos. As ladeiras eram nossas belas corredeiras... e brincávamos como se o mundo nos pertencesse.
Barcos corajosos, feitos de papéis, enfrentavam a fúria das águas que quase sempre os levavam para um pequeno bueiro. Quando não, eram seqüestrados por gigantes malfeitores que, mais cedo ou mais tarde, se arrependiam do ato e os devolviam aos seus destinos. A chuva continua a cair... volto a encontrar meu presente. Os prédios... tudo parece tão pequenino! Não vejo nenhuma criança a brincar. (suspiro suave) - O Rio de Janeiro não era de todo tão mau!
Obs..: Acho que a sala é aquela (enorme) do primeiro texto que te mandei.
Obs.1: Acho que hoje, não estarei no bar onde os poetas se encontram. Devo iniciar algum livro... ou ligar pra ti e ficar falando horas a fio.
Texto para alguém numa tarde chuvosa
Encosto na vidraça, olho pela janela de minha sala... aqui de cima o mundo parece pequeno. O enorme vidro, molhado, me traz a sensação dos banhos de chuva da infância. Não eram prédios sofisticados, como os que vejo agora, que decoravam meus dias ... casas humildes, por trás das calçadas quebradas... ruas razoavelmente grandes e alguns paralelepípedos incompletos. As ladeiras eram nossas belas corredeiras... e brincávamos como se o mundo nos pertencesse.
Barcos corajosos, feitos de papéis, enfrentavam a fúria das águas que quase sempre os levavam para um pequeno bueiro. Quando não, eram seqüestrados por gigantes malfeitores que, mais cedo ou mais tarde, se arrependiam do ato e os devolviam aos seus destinos. A chuva continua a cair... volto a encontrar meu presente. Os prédios... tudo parece tão pequenino! Não vejo nenhuma criança a brincar. (suspiro suave) - O Rio de Janeiro não era de todo tão mau!
Obs..: Acho que a sala é aquela (enorme) do primeiro texto que te mandei.
Obs.1: Acho que hoje, não estarei no bar onde os poetas se encontram. Devo iniciar algum livro... ou ligar pra ti e ficar falando horas a fio.
segunda-feira, março 21, 2005
Relatos de um final de semana de março
Sábado foi dia de São José para os católicos.
Foi o fim do verão também.
E das primeiras aulas de final de semana do semestre 2005.1 da universidade.
Diz a tradição que no dia de São José sempre chove.
No meu bairro caíram somente algumas gotinhas. Mas o dia foi nublado, para compensar.
Aliás, desde sexta-feira à tarde, deliciosas nuvens cinzas cobriam Boa Vista.
Voltando à tradição, antigamente os agricultores esperavam a chuva de São José para plantar o milho que colheriam para fazer as comidas das festas juninas. Coisas de um estado que já foi mais rural e preso a superstições religiosas.
Depois da aula de sábado, entrei numa livraria procurando um livro de teorias sociológicas.
Checa se tem, quando chega mesmo, valeu, vou esperar a ligação que o preço pela internet é quase o mesmo, fiquei olhando o acervo.
Daí vem a seguinte cena:
A vendedora:
- Oi, posso perguntar uma coisa? O senhor já trabalhou no Sesc alguma vez?
Eu:
- Já, faz muito tempo.
A vendedora:
- Ah, então é de lá que lhe conheço.
Eu:
- Mas faz muito tempo mesmo, coisa de anos. Como prestador de serviços em eventos.
A vendedora:
- Isso! Eu era criança e me lembro de você numa dessas mostras que o Sesc faz sobre trânsito.
Eu, achando-me o sujeito mais velho do mundo, forçando a memória e resgatando:
- Acho que era "Sinal verde para a vida". Fizemos no Objetivo e numa outra escola.
A vendedora:
- Não. Foi na minha escola. Eu estava quieta e você me olhou sorrindo e disse: "ei, estás muito séria. Sorri para mim,vai."
Eu, lembrando de quando a verba ganha nas mostras do Sesc me ajudava a bancar as apostilhas da universidade:
- Isso foi em 1997! Mas não me lembro de ter sido feita em outra escola.
A vendedora:
- É isso mesmo. Eu lembro de você.
Eu, pensando no que fazer:
- ...
A vendedora:
- Poxa, bom lhe ver.
Eu, pensando nos eventos Brincando nas Férias e Feira de Livros, quando atendíamos mais de 300 crianças por dia:
- ...
Quis, mas não perguntei o seu nome, o que havia feito de sua vida, se dirigia bem, se estava estudando, se a livraria pagava bem. 0Só fiquei pensando em como um sorriso e uma frase haviam ficado gravados na memória daquela jovem por sete anos.
Deu até vontade de ser gentil com todas as pessoas e dizer bom dia todos os dias, como me recomendou uma amiga certa vez.
Ainda bem que passou logo.
quinta-feira, março 17, 2005
quarta-feira, março 16, 2005
Coisas pessoais de março de 2005
Foi a manchete de um dos jornais locais hoje:
"Ex-presidiário é executado com um tiro fatal na cabeça"
Aí, alguém me diz: se foi executado, o tiro foi fatal, né, não?
Eu, tonto de tanto trabalho e cheio de coisas para fazer, balanço a cabeça e digo: "acho que sim. Assim como é natural que alguém morra depois de apanhar muito no pelourinho e seja deixado sem assistência médica."
No dia anterior....
Segundo dia de aula na Universidade Federal. Droga de curso de sociologia que nunca termina. Comparando, pelo tempo que investi, já estava formado da outra vez.
Em três anos também já havia decorado o nome de meus colegas de sala. Agora, pouco a pouco, aprendo o nome dos atuais. Tem o.... e a...., a....., ih, acho que ainda não aprendi todos.
Mas o nome dos professores do curso já estou quase decorando.
Contudo, isso não me preocupa mais. Posso colocar a culpa no histórico familiar. Dona Maria, minha avô, contou-meu que em 1988 lecionou corte e costura durante dois meses para uma moça cujo nome nunca conseguiu decorar. Quer dizer, a coisa pode estar nos genes. Certo?
Ou pode ser culpa do calor. Afinal, dois terços do ano torramos sob um sol inclemente, bom para as plantações de soja e arroz (alta produtividade por hectare, dupla ou tripla safra, muitas toneladas exportadas e coisas do tipo), mas insuportável para os humanos. Há dias em que a pele arde.
Andar nos quentes corredores da universidade, suado, depois de um dia de trampo e de pedalar algo como dois ou três quilômetros a partir de meu local de trabalho, não ajuda muito a ter preocupação por aprender o nome dos meus companheiros de estudo.
Mas também é só aqui que o reitor da universidade te dá uma mata-leão e pergunta como você está e como foi tua viagem para o Peru.
Ou pelas bandas de vocês também se faz isso?
Foi a manchete de um dos jornais locais hoje:
"Ex-presidiário é executado com um tiro fatal na cabeça"
Aí, alguém me diz: se foi executado, o tiro foi fatal, né, não?
Eu, tonto de tanto trabalho e cheio de coisas para fazer, balanço a cabeça e digo: "acho que sim. Assim como é natural que alguém morra depois de apanhar muito no pelourinho e seja deixado sem assistência médica."
No dia anterior....
Segundo dia de aula na Universidade Federal. Droga de curso de sociologia que nunca termina. Comparando, pelo tempo que investi, já estava formado da outra vez.
Em três anos também já havia decorado o nome de meus colegas de sala. Agora, pouco a pouco, aprendo o nome dos atuais. Tem o.... e a...., a....., ih, acho que ainda não aprendi todos.
Mas o nome dos professores do curso já estou quase decorando.
Contudo, isso não me preocupa mais. Posso colocar a culpa no histórico familiar. Dona Maria, minha avô, contou-meu que em 1988 lecionou corte e costura durante dois meses para uma moça cujo nome nunca conseguiu decorar. Quer dizer, a coisa pode estar nos genes. Certo?
Ou pode ser culpa do calor. Afinal, dois terços do ano torramos sob um sol inclemente, bom para as plantações de soja e arroz (alta produtividade por hectare, dupla ou tripla safra, muitas toneladas exportadas e coisas do tipo), mas insuportável para os humanos. Há dias em que a pele arde.
Andar nos quentes corredores da universidade, suado, depois de um dia de trampo e de pedalar algo como dois ou três quilômetros a partir de meu local de trabalho, não ajuda muito a ter preocupação por aprender o nome dos meus companheiros de estudo.
Mas também é só aqui que o reitor da universidade te dá uma mata-leão e pergunta como você está e como foi tua viagem para o Peru.
Ou pelas bandas de vocês também se faz isso?
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