Depois de uma semana de trabalho, vejam só o que Zanny Adairalba, dona de lugar fixo na série Redatores da Fronteira, ainda é capaz de escrever. (Eu, quando chega a sexta, só atino a pensar que a coisa pode ficar pior.):
Liberdade!! Liberdade!!
Gritei logo ao acordar por meu peito doer
Mal pude vestir-me e corri às ruas
Bati nas portas
Percorri as calçadas
Gritei
Gritei
Ajoelhei-me no paralelepípedo e esperei resposta
A chuva caia
Era forte
A rua deserta
O riso era esperança
A fome
Era de vida
Os sonhos... confusos
Ninguém respondeu
Um poste
...uma lâmpada ainda ligada
o dia acabara de despertar
um lenço à mão
...vermelho
deitei-me ali mesmo
em frente a qualquer coisa
no meio de qualquer lugar
entre a rua e a calçada
os pingos da chuva eram conforto
um silêncio incomum abraçava o cenário
percebi que era o meu dia
meu dia de gritar
de chorar
de construir... assim mesmo...
no meio do nada...
uma resposta para minhas dúvidas
me fiz criança
feto envolvido no útero materno
molhado
medo
mas não um medo covarde
a busca da paz
do equilíbrio
da razão...
um momento como poucos
uma sensação de afogamento
e de emancipação conjugada
a rua de paralelepípedos parece cantiga
de algum compositor buarquiano brasileiro
as lágrimas se misturam com a água vinda do céu
agora menos dolorosas
- liberdade!
... o sussurro de um riso meio louco
- paz!!
... é tudo o que queremos.
A chuva passa de repente...
As pessoas abrem suas portas...
Suas janelas...
Saem de suas casas e ...
Como se fosse música
Dançam felicidade.
Os raios de sol
Iluminam a velha ladeira da rua 19
Parece sonho
Brinquedo de menino
Desenho de graffiti
Uma mão estira a liberdade
Se ergue a verdade
Me levanto diante dela
A essência é companheira do saber
Me encontro e me transbordo de mim mesma
Cálice de vinho raro
Chegada de plenitude
O dia é partícula de eternidade
A vida... criação e criatura
Fruto de um ventre celestial
Livro escrito por anjos carnais
Liberdade.
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