quinta-feira, novembro 08, 2007
Cenas de novembro
terça-feira, outubro 23, 2007
Também foram muito quentes, principalmente no final de semana. Nada recomendável passar pela minha cabana nesses dias. Parecia Manaus, com aquela sensação insuportável de que a pele está gosmenta por conta do suor
E então, de repente, na segunda e terça-feira começa a cair uma chuvinha aqui, uma chuvinha ali. De um minuto para o outro, porém, o mundo pareceu desabar.
Choveu na tarde desta terça na capital de Roraima.
Quase não consigo entrar no trabalho. Lamentavelmente, foi só quase.
Choveu no sentido mais exagerado da palavra, com raios, trovões, ruas alagando, carros a baixa velocidade na avenida Ville Roy e muita gente olhando espantada para o céu, perguntando-se: “que diabos é isso, chover assim nesta época?”.
Dizem até que choveu granizo. Eu já acho que um dos muitos raios que caíram hoje fez pipocar um areal qualquer e os grãos espantaram o povo.
Isso confirma minha teoria: quando começa a fazer muiiiiiiiiitoooooooo calor em Boa Vista, é sinal de que vai cair chuva. Já a havia comprovado em outros meses, mas nunca na primeira parte do verão.
Parecia que estávamos em junho, quando o inverno amazônico está a mil.
Pelo menos hoje a cidade não vai anoitecer quente.
terça-feira, outubro 09, 2007
Quinta-feira, show morno e sem graça com o Flávio Venturini.
Sexta-feira, 19 anos de criação do estado de Roraima.
50 pampeiros esperando abastecer no posto de combustível instalado a 40 metros da fronteira com a Venezuela.
Uma hora na fila dos turistas esperando para encher o tanque com a gasolina venezuelana a 1.400 bolívares.
Um real comprando 2.030 bolívares.
Santa Elena de Uairén lotada de brasileiros comprando eletro-eletrônicos com preço de puerto libre.
Santa Elena, definitivamente, a cidade de praia dos boa-vistenses.
Congestionamento nas ruas, soldados controlando o trânsito armados com fuzis.
Chuva na Gran Sabana...
De repente, acabam os bolívares dos cambistas e há filas nos bancos para sacar mais dinheiro.
Viagem de retorno lenta. Despacito, pero seguro.
Cansaço.
Queda na cama. E assim se vai a sexta, sem casamento do Luciano na Igreja Matriz, sem show da Elba Ramalho no parque Anauá.
quarta-feira, outubro 03, 2007
No supermercado, enquanto espero pela mãe do indiozinho, um pai observa o filhinho terminar de mexer nos brinquedos que estão na prateleira. Daí, o moleque enche o pulmão e fala:
- Pelo poderes de Grayskull!!! Eu tenho a força!!!!
He-Man, o bombado dos 80's
Na fração de segundo em que lembro dos comerciais da TV Globo mostrando a nova versão do He-Man, com os personagens Gato Guerreiro e Esqueleto bem mais definidos que no desenho original, o pai se encarrega de corrigir o guri, de não mais de três anos:
- Mas filho, essa espada é de pirata, não é do He-Man.
- Não?, pergunta espantada a criança, enquanto devolve a espada e a troca por outra.
- E essa, pai, é do He-Man?
- Também não, filho. Essa é de ninja.
- Mas serve do mesmo jeito, pai.
Coitado do novo He-Man. Ainda não conseguiu chegar às prateleiras dos supermercados para ocupar mentes e almas de crianças e o bolso dos adultos como o fez na década de 1980.
A turma do cara
Os interessados em ver a abertura do desenho, com as cenas clássicas do Pacato sendo transformado no Gato Guerreira, podem clicar aqui que vão parar direto no YouTube. Enquanto não aprendo a deixar a tela do vídeo dentro do próprio blog, vai assim mesmo.
quinta-feira, setembro 27, 2007
Paixões afiadas
Depois de passar semanas negando, não teve como esconder que estava amando. E era uma paixão feroz, daquelas que deixam marcas, que arroxeiam.
A sorte dela era sua pele morena, menos sensível às marcas que se destacam nas moças brancas depois de uma sessão amorosa mais exaltada.
Para seu azar, entretanto, sua melanina estava dissolvida na mistura do pai negro e a mãe branca. Sendo assim, as marcas da paixão eram visíveis no seu ombro direito naquela manhã de quinta, expondo-a às piadas e perguntas indiscretas dos colegas.
Obviamente, nada que a faça desistir de seu amor de unhas mal cortadas e dentes afiados.
quarta-feira, setembro 19, 2007
O que já foi da III Mostra Sesc Macuxi de Artes
A abertura da III Mostra Sesc Macuxi de Artes foi muito bonita. Dezenas de pessoas fizeram uma passeata da Praça das Águas até o Sesc Centro. Havia capoeiristas, como o pessoal do grupo Angola Palmares; músicos, atores, dançarinos de quadrilha, cirandeiros, o pessoal da Banda Municipal e a bateria da escola de samba Praça da Bandeira, homens em pernas de pau.
Esse povo todo fez uma festa em frente ao Sesc. Depois vieram os primos índios e apresentaram duas danças indígenas, fazendo uma grande confraternização entre a cultura branca e a cultura dos primeiros habitantes de Roraima.
Da programação de sábado só peguei a comédia Nós, Perdidos, da Cia. Malandro é o Gato, que está sendo apresentada desde o ano passado.
No domingo, por estar vendo a intervenção de dança da Cia. Máster Class, feita na Praça das Águas, perdi o espetáculo Botequim de Samba, no palco do Sesc. Quando Zanny e eu chegamos, até as cadeiras já haviam sido retiradas.
Segunda-feira tive a grata surpresa de me deliciar com a peça “Compassos em Silencio”, do Grupo Locombia Teatro de Andanzas, uma trupe formada por um casal e o filho de 5 ou 6 anos. Mímica, música, interação com o público, poesia do silêncio...Adoro clowns. Nessa de interagir, até eu fui levado ao palco pelos atores, nascidos na Colômbia (atenção à inversão de sílabas para criar o nome do grupo).
Terça foi noite do encontro poético Declamando Eliakin Rufino, poeta roraimense de grande destaque. Dezenas de alunos da Fundação Bradesco, amigos, atores convidados e fãs ocuparam o pequeno espaço da biblioteca Afonso Rodrigues de Oliveira para ouvir e falar poesias do Eliakin, autor de vários livros.
Depois da poesia entrar na veia, foi a vez de pegar a fila para assistir à peça “Capitu - Memória Editada”, do Grupo Delírio Cia. de Teatro, de Curitiba-PR. Os atores vieram a Roraima inseridos no projeto Palco Giratório e mandaram muito bem. É um senhor espetáculo, inspirado no livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.
No começo da apresentação houve um blecaute na cidade e tiveram que parar, pois não queriam que o público ficasse ouvindo uma rádionovela em vez de uma peça de teatro. Mas esse contratempo não impediu que, ao retorno da energia, recomeçassem e encantassem o público com a performance. Amanhã eles voltam a subir no palco, mostrando a história de Bentinho, Capitu e as porcarias que o homem faz quando fica cego de ciúmes. Se você, como eu, nunca leu a obra, clica aqui e baixa o livro de graça.
A movimentação das artes continua...
19/09 quarta
8h às 12h - Oficina de Confecção e Manipulação de Fantoches com Tarsis Magalhães e Agda Maira. Espaço IX
14h às 18h - Oficina “A Criação Cênica”, com o Grupo Delírio Cia. de Teatro, de Curitiba-PR, do Projeto Palco Giratório.Espaço III
19h - “Videobrasil” Mostra - programa dos vídeo-arte premiados no 16º Festival Internacional de Linguagem Eletrônica. Programa 3: Prêmios de Realização. Espaço III
19h30 - Pensamento Giratório Painel sobre a relação da obra Dom Casmurro com a cena..Capitu - Memória Editada é inspirado na obra de Dom Casmurro, de Machado de Assis. Participação Grupo Delírio Cia. de Teatro e Dr. Rui Guilherme- Espaço II
21h - Espetáculo “O Santo Inquérito”, da Cia Arteatro, de Boa Vista-RR. Espaço I
22h - “Luau Cultural”. Encontro no Porto da Marina Meu Caso, no bairro São Pedro.
20/09 quinta
14h às 18h - Oficina “Iniciação a Técnicas Teatrais”, com Cia Arteatro, de Boa Vista-RR, na Escola Estadual Maria Nilce Macedo, no bairro Cauamé
15h - Apresentação de Filme do projeto “A escola vai ao Cinema”, na Escola Estadual Maria Nilce Macedo, no bairro Cauamé.
19h30 - Mesa Redonda “Artes Cênicas em Roraima: produção e distribuição, com a participação do secretário de Educação e Cultura, Luciano Fernandes Moreira, do presidente da Fetec, Osmar Marques da Silva Junior, do diretor regional do Sesc, Kildo de Albuquerque Andrade, do presidente da Fetearr, Marcelo Peres, e representante dos grupos de dança, Isabel Santos. Espaço III
19h30 - Espetáculo de dança “Cultura Popular”, da Cia Máster Class, de Boa Vista-RR. Espaço II
20h30 - Espetáculo “Capitu Memória Editada”, do Grupo Delírio Cia. de Teatro, de Curitiba-PR, do Projeto Palco Giratório. Espaço I
21/09 sexta
8h às 12h - Oficina de Confecção e Manipulação de Fantoches, com Tarsis Magalhães e Agda Maira. Espaço IX
14h às 18h - Oficina “Iniciação a Técnicas Teatrais”, com a Cia Arteatro, de Boa Vista-RR, na Escola Estadual Maria Nilce Macedo, no bairro Cauamé.
18h às 21h - Oficina de Dança Clássica da Índia “Odissi”, com o Grupo Locombia Teatro de Andanzas, de Barranquilha-COL. Espaço X
15h - Apresentação de Filme do projeto “A escola vai ao Cinema” em escola estadual.
19h30 - Espetáculo de dança “Três em 1”, da Cia Aura de Dança, de Boa Vista-RR. Espaço II
21h - Espetáculo teatral “Assim é, se lhe parece '', com Yandra Firmino, de Cuiabá-MT. Espaço I
22/09 - sábado
8h às 12h/14h às 18h - Oficina: Interpretação do Ator para o Movimento Interno e Ação Total, com Yandra Firmino. Espaço III
10h - Intervenção teatral com da Cia Malandro é o Gato, na Jaime Brasil.
17h - Abertura do Overdoze
17h - Abertura
17h às 18h - Oficina de Desenho para Crianças, com Marcelo Santa Isabel. Espaço III
18h às 19h - Oficina de Skate para Crianças, com Marcelo Santana Azevedo. Espaço II
19h - Apresentação da Orquestra e do Coral Infanto-Juvenil do Sesc. Espaço I
Feira de Artesanato e vendas de comidas típicas. Espaço II
Sessões do Conto com Você “Contos da Meia Noite” e “Contos Sensoriais”. Espaços III e VI.
Apresentações musicais: Espaços I, II e VII
21h - Show do Clã Caboco. Espaço I
Poesias na Madrugada. Espaço VIII
Apresentação do vídeo “Quem tem Medo de Arte Moderna?. Espaço III
Miscelânea de Espetáculos, performances, esquetes, fragmentos de espetáculos, leitura dramática, música, cinema e artes plásticas. Espaços I e II
Bar da Canja Cultural (poesia, voz e violão). Espaço VI
Apresentações musicais Regionais, Reggae e Rock. Espaço II
5h - Encerramento da Mostra.
sexta-feira, setembro 14, 2007
Daqui a pouquinho começa a III Mostra Sesc Macuxi de Artes. Até o dia 22, quem gosta de arte não terá o que reclamar em Boa Vista. Haverá teatro, dança, música, debates, exposições, oficinas e mostra de cinema, com a participação de grupos e artistas locais e nacionais.
A agitação começa às 19h, com o Caldeirão Cultural, reunindo na Praça das Águas, centro da Cidade, todos os artistas que vão participar da Mostra. Da praça, sairão em cortejo até o Sesc Centro, local onde serão realizadas as atividades até o próximo sábado. Serão quatro quadras de caminhada.
Entre outros, estão confirmados para o cortejo o Grupo Locombia Teatro de Andanzas, a Banda Municipal de Boa Vista, a Bateria da Escola de Samba Praça da Bandeira com porta Bandeira e Mestre Sala e diversos Grupos Folclóricos.
A III edição da mostra tem o apoio da Fundação de Educação, Ciência e Cultura de Roraima (Fetec). Além de muitos espetáculos, será estimulada a formação profissional dos artistas, que poderão participar de oficinas, debates, palestras, mesa redonda e intercâmbios de metodologias de trabalho.
Este blogueiro participará como declamador (mais como leitor, na verdade) de uma poesia do escritor Eliakin Rufino e como auxiliar na Mesa Redonda “Artes Cênicas em Roraima: produção e distribuição”, da qual participação o secretário de Educação e Cultura, Luciano Fernandes Moreira; o presidente da Fetec, Osmar Marques da Silva Junior; o diretor regional do Sesc, Kildo de Albuquerque Andrade; o presidente da Fetearr, Marcelo Peres; e a representante dos grupos de dança, Isabel Santos.
Veja a programação de hoje até segunda, quando espero ter tempo para atualizar este blog:
14/09 sexta-feira (Abertura - Caldeirão Cultural)
19h - Concentração de artistas envolvidos na Mostra e comunidade para cortejo da Praça das Águas até a frente do Sesc Centro.
Retalhos culturais com apresentação do Grupo Locômbia Teatro de Andanzas, Banda Municipal de Boa Vista, sob o comando do Maestro Moisés Português tocando marchinhas, Bateria da Escola de Samba Praça da Bandeira com porta Bandeira e Mestre Sala e Grupos Folclóricos.
20h - (Sesc Centro)
Pronunciamento do diretor regional do SESC, Kildo de Albuquerque. Apresentação do texto de Abertura. Espaço II
20h30 - Apresentação da Dança do Parixara, com os índios Wapixana da Maloca Canauanin, do município de Cantá-RR. Espaço II
21h - Inauguração da exposição “Arte Indígena - do Artesanato às Artes Plásticas”, apresentando a arte dos povos indígenas de Roraima. Curadoria de Irmânio de Magalhães, da Artezanos (Espaço IV).
15/09 - sábado
10h - Intervenção teatral na Feira do Produtor, com grupo Criart Teatral (Boa Vista-RR)
14h às 18h -Oficina do Projeto Dramaturgia Leituras em Cenas. Espaço III
18h30 - Espetáculo de Dança Infantil “O Baú do Poeta”, da Escola de Dança Cristina Rocha, de Boa Vista-RR. Espaço I
20h30 - Espetáculo “Nós, Perdidos”, da Cia Malandro é o Gato, de Boa Vista-RR. Espaço I
16/09 domingo
19h - Espetáculo teatral infanto-juvenil “Em Busca de um Desejo”, do grupo Criart, de Boa Vista-RR. Espaço I
20h30 - Espetáculo de dança “Botequim do Samba”, do Grupo Harmonia e Ritmo, de Boa Vista-RR. Espaço I
19h30 -Intervenção com a Cia Máster Class, de Boa Vista-RR, na Praça das Águas.
quinta-feira, setembro 06, 2007
De 9 a 11 de setembro, grupos teatrais roraimenses vão apresentar textos do dramaturgo russo Anton Tchekhov e da brasileira Hilda Hilst, poeta, dramaturga e ficcionista.
As apresentações fazem parte do projeto Dramaturgia: Leituras em Cena, desenvolvido pelo Sesc Roraima em parceria com o Sesc Nacional. São o resultado da oficina “Análise do texto Dramático e Técnicas de Leitura Encenada” dirigida a diretores e atores teatrais de Roraima.
O coquetel de abertura acontece no sábado, mas os grupos só sobem ao palco no domingo (9), indo até terça-feira (11), sempre às 20h, no Espaço Multicultural Sesc Centro, com entrada franca.
Célis Regina, Marcelli Grécia Wottrich e Graziela Camilo vão dirigir os espetáculos.
O projeto estimula a prática da leitura de textos teatrais e a difusão de textos inéditos ou consagrados da dramaturgia nacional e mundial.
segunda-feira, setembro 03, 2007
“Você é sociável e divertido”
(contra todos os que dizem o contrário)
Novo blog, com fins pediátricos:
Histórias de um índio velho e seu filho
segunda-feira, agosto 27, 2007
Definir as regras de criação de um filho não é fácil. Qualquer deslize e você o terá no divã do psicoanalista, na mesa do bar ou no banco dos réus argumentando que a forma como foi criado é responsável pelos seus problemas juvenis ou adultos.
É por isso que sempre gostei de ouvir histórias de criação. A mais recente é a do fotografo Orib Ziedson e seu filho Gabriel, que tem cerca de 10 anos.
Ziedson conta que o guri vai quatro vezes por semana às aulas do projeto Arte Jovem do Sesi, onde tem aulas de um monte de coisas, como música, teatro e não sei mais o quê. Além disso,
Gabriel, que às vezes carrega a mesma cara de mal-humorado do pai, tem aulas de caratê à noite (por isso o jovem faixa amarela também é um dos líderes da turminha).
Como eu mesmo gostaria de ter estudado um instrumento musical quando era mais jovem mas a minha mãe, por N motivos, não me matriculou, elogiei a iniciativa do Orib de estimular o guri a fazer tantas atividades.
Orib me diz que, mesmo com as críticas da avó materna do Gabriel alegando um possível stress do moleque, é partidário do seguinte estilo de vida:
- Eu fui criado sabendo que criança deve fazer o que os pais querem. Se o Gabriel vai ser vagabundo depois que crescer é problema dele, mas enquanto estiver comendo de meu pirão, é do meu jeito: arte, estudos e esporte. Disso ele não vai poder reclamar.
Dona Maria José, minha avó, pensa da mesma forma: criança, velho e soldado deve obedecer determinações superiores. Por isso já está decidido o que farei quando o meu filho nascer: sendo
indiazinha ou indiozinho, terá uma criação exemplar, sem as molezas dos meninos brancos.
Para começar, já defini a regra número 1: aprendeu a caminhar e está com fome? Muito bem, pegue o arco e a flecha e vá caçar ou coletar.
Agora só falta combinar com a mãe a aplicação do AC (Ato de Criação) 1.
sexta-feira, agosto 17, 2007
Esse pessoal de cidade, acostumado a muito conforto trazido pela ciência do homem branco, acaba por ficar um pouco molenga. Falta-lhes um muito da fibra indígena. Até para ter um filho precisam de mil e uma coisas.
Já nós, índios, não temos tantos caprichos assim. Se é para ter um filho, tem-se um filho até no intervalo entre uma caçada e outra.
A história da minha chegada ao mundo é mais ou menos essa. Contam os mais velhos da família que quando nasci meus pais estavam em uma aldeia pemón, visitando nossos parentes índios no sul da Venezuela. Era por volta do meio-dia, o seu Juca estava pescando e dona Neide tinha acabado de colocar a panela no fogo para aquecer a água e iniciar o preparo da damorida.
Ao sentir as primeiras contrações, dona Neide mandou uma menina chamar meu pai e depois entrou na cabana. Quando o (naquela época) jovem índio chegou, esbaforido, com a vara de pesca numa mão e os peixes na outra, eu, apesar de ter nascido com oito meses, já havia tomado meu primeiro banho e estava mamando tranqüilo.
Minha mãe, índia nova, formosa, cheia de energia, ainda teria reclamado da demora de seu Juca em trazer o pescado. Comeram a damorida, beberam um cadinho de caxiri e foram dormir la siesta. Eu, o indiozinho, herdeiro das tradições, já fiquei por ali, tranqüilo, dormindo sobre o tapete de palha no canto da cabana, sentindo o calor da fogueira.
Depois de um tempo, voltamos à cidade dos brancos e seus costumes estranhos, como o resguardo de não sei quantos dias para a mulher enfraquecida pelo parto e o impedimento de comer um monte de coisas.
Já falei para a Zanny: se ela fosse ter o indiozinho nas aldeias ianomâmis, o moleque ia nascer no meio da selva, onde teria o cordão umbilical cortado com uma folha de árvore. Nada de muito tecnológico, com certeza, mas eficiente até hoje. E o moleque ainda seria mais saudável que muito menino de branco.
Mas ela insiste em quebrar as tradições de minha família e ter um filho no hospital, com anestesia e um monte de médicos. Coisas de mulher criada na cidade dos brancos.
segunda-feira, agosto 13, 2007
Passamos a vida toda tentando demarcar o nosso território, querendo que as pessoas reconheçam o nosso valor e pelo menos saibam o nosso nome.
Matamos um leão a cada dia, fazemos pós-graduações, escrevemos livros, fazemos grandes trapaças, lideramos revoluções espirituais, obtemos enormes conquistas.
Usamos até crachás para facilitar a vida dos desmemoriados. Colocamos o nosso nome em caixa alta na mesa, no e-mail e no adesivo do carro para garantir o processo.
Brigamos com os nossos colegas de aula quando trocam o nosso nome e tentam nos sacanear com apelidos. Pronunciamos com um quê de irritação as letras de nosso nome quando alguém pergunta pela segunda vez ou o escreve errado.
Daí, quando chegamos à vida adulta, com um nome relativamente conhecido pelo menos entre um pequeno círculo de amigos, vemos que nada disso vale a pena.
Perdemos a nossa identidade para uma coisinha que ainda não nasceu ou que está recém nascida. Para os amigos, viramos simplesmente "o pai de Fulano" e a "mãe de Sicrana".
O que compensa é que um dia talvez possivelmente o mesmo vai acontecer com eles.
terça-feira, julho 24, 2007
sexta-feira, julho 13, 2007
Diz a revista da semana passada: "a partir dos 30 anos, o peso das pessoas aumenta de 0,5 a 1 kilo por ano."
Fazendo contas simples: como já estou um pouco acima do que considero meu peso normal e tenho apenas 1,64 m de altura, a previsão é que devo chegar aos 41 com 79 kg ou 74 kg, considerando o registro atual.
Resultado: nada melhor que continuar indo todo dia à academia. Faz bem pros joelhos.
quarta-feira, julho 11, 2007
No mês do rock, Boa Vista está cheia de motivos e shows para celebrar. Nos dias 13, 14 e 15 será realizado o maior evento de rock brasileiro acima da Linha do Equador: é o III Roraima Sesc Fest Rock, com 29 bandas participantes, entre as locais e as representantes da Venezuela, do Amazonas e de Rondônia.
Parte das bandas vai apresentar suas próprias composições, sedimentando um trabalho que já tem algum tempo em gestação e é muito discutido: evoluir do simples cover para o rock autoral, fortalecendo a cena local.
Ou seja, rock não vai faltar neste restante de mês. Para o próximo já tem homenagem a Raul Seixas e outros eventos sendo preparados.
sexta-feira, julho 06, 2007
quem gosta deste blog
Pois não é que o Crônicas da Fronteira chega neste sábado, 7 de julho, ao seu terceiro aniversário, cheio de gás e algumas dívidas, mas disposto a correr alguns quilômetros a mais para servir como canal de expressão deste blogueiro índio?
Escrever por três anos neste blog tem sido uma experiência de aprendizagem contínua. Gostei de algumas muitas coisas que escrevi, refleti sobre outras e concluí que não valia a pena tê-las publicado, conheci pessoas de muito talento e disposição para usar a blogosfera como veículo de comunicação, ganhei alguns elogios e colecionei críticas construtivas e destrutivas.
São 324 postagens sobre os mais diversos assuntos, com 22.069 acessos do dia 12 de julho de 2004 até as 16h14 do dia 6 de julho de 2007, conforme o contador, sendo 53 da Argentina, 74 da Venezuela e 488 dos Estados Unidos.
Por aqui, já escrevi sobre quase tudo, a saber:
Sexo
Romance/amor
Guerra do Iraque
Gente bêbada
Viagens à Venezuela, Peru, São Paulo, Floripa e não sei que outras cidades
Amigos
Lúpulo com cevada
Música (todos os estilos)
Orkut
Garimpo
Coisas de Roraima
Dificuldades com o Haloscan
Sociologia
Jornalismo
UFRR
UERR
Amigos
Memórias
Reservas indígenas
Política local
Trabalho
Férias
Casais alegres, ranzinzas e tristes
Outros blogs
Blogagens coletivas
Poemas
Etc., etc...
O primeiro post foi este aqui:
Quarta-feira, Julho 07, 2004
O Casal
- Me beija?
- Não.
- Por quê?
- Não tô afim.
- Me abraça?
- Não.
- Por quê?
- Tás muito suada.
- Coça minhas costas?
- Não.
- Por quê?
- Tão cheia de areia.
- Então, tá. Mas, ô, sexo, nem pensar.
- Por quê?
# Edgar Borges @ 10:37 AM
Agora, vou lá fora que parece que alguém está disposto a pagar a festa do terceiro aniversário.
terça-feira, julho 03, 2007
Elizabeth está que arde de paixão. Hoje, sacio minha sede de ti, Luizão, pensa enquanto beija o rapaz. Para Elizabeth, a noite até agora está quase perfeita. A festa com a turma do trabalho correu bem, a troca de presentes compensou o investimento no perfume para a moça da recepção e o jantar foi ótimo.
Mas Elizabeth deseja mais da noite. Anseia lamber cada pedaço do Luizão, que apesar do nome é baixo e magrinho. Luizão, Luizão, me mostra de onde você tirou esse apelido, voa a frase pela cabeça de Elizabeth.
Beth tira a sua roupa enquanto dança ouvindo os Beatles tocando Love me do. Ela gosta do Luizão desde que o moço começou a trabalhar como assistente administrativo na empresa. Beth acha as mãos de Luizão lindas e seu queixo másculo. Quando o rapaz passa carregando algumas pastas, ela fica olhando a sua bunda, imaginando como seria apalpá-la.
É, Luizão, hoje tu escapas de um raio, mas não de mim, pensa Beth, tomando mais uma taça de vinho e avançando para a cama vestida apenas de perfume e desejo. Sobe no colchão com um movimento diagonal e a luz do abajur joga sombra em seu bumbum, o sonho de consumo de muitos solteiros e casados dos prédios onde vive e trabalha.
Luizão deve estar que nem se agüenta também, feito eu, pensa Elizabeth, louca para beijar, morder, arranhar e fazer com o moço qualquer outra ação imoral que venha a lhe passar pela mente.
Beth esfrega seu desejo nas pernas de Luizão e sobe, preparando-se para ações mais íntimas quando percebe um certo, hummm, desânimo, para chamá-lo assim, no moço.
Parece que a auto-estima anda baixa por aqui, pensa sarcasticamente Beth, disposta a fazer uma terapia rápida para solucionar os problemas do rapaz e assim tocar a noite a contento.
Mas Beth, pobre Beth, talvez não sacie sua fome hoje. É que Luizão, empolgado com a festa e com a quase certeza de uma noite de paixão garantida com Elizabeth, acabou comemorando antes da hora a vitória do jogo ainda não jogado. Resumindo, entornou demais as copas, misturou muita cerveja com alguma vodka e um pouco de vinho e agora, tsc, tsc, surge bêbado e em magnífico ronco na frente de Beth.
Pobre Beth, ela hoje escapa de um raio, mas não de ir dormir com fome e com sede. E ainda corre o risco de Luizão vomitar a sua cama. Afinal, ninguém sabe o que e como pode sair dessa mistureba alcoólica.
sábado, junho 16, 2007
quarta-feira, junho 13, 2007
A revista online Minguante completa um ano de micronarrativas e aborda nesta edição o tema “celebração”.
Apresentado a ela pelo Avery, surjo contentemente nesta edição como colaborador.
Os editores já lançaram o tema da próxima edição (espelhos) e esperam colaborações. Quem quiser, vá lá e saiba como participar.