Saiu na Folha de Boa Vista de hoje
O coordenador-geral da Frente de Proteção Yanomami e Ye'kuana, da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Catalano, criticou ontem um dos principais símbolos de Roraima, o monumento ao Garimpeiro, na Praça do Centro Cívico. Ele disse que a estátua seria uma apologia ao crime e que, por isso, vai propor a demolição do monumento.
Já havia lido algumas pessoas propondo a derrubada da
Estátua do Garimpeiro por conta disto, por conta daquilo, blá, blá, blá. Mas
foi a primeira vez que li alguém com
cargo público fazer a proposta.
Quer saber? Sou a favor de que permaneça aí. Se quando foi
erguida tinha um significado, hoje adquiriu outro. É a lembrança do que não
devemos louvar, mas também faz parte do imaginário de várias gerações.
Eu mesmo tenho fotos feitas nele quando menino. Meu filho
tem e recomendo a todo boa-vistense que leve seu filho para lá fazer a fotinha
clássica com o garimpeiro ao fundo.
Quer derrubar "o que não nos representa"?
Taca bomba no Monumento aos Pioneiros (havia índios aqui
ocupando o espaço.No máximo, os brancos foram invasores), derruba a Igreja
Matriz (a igreja católica, em certa fase e com certas atitudes, ajudou na
opressão dos nativos), deixa cair a Casa da Cultura (opa, isso já está sendo
feito) que abrigava os dirigentes vindos de fora para comandar a região; demole
a Fazenda São Marcos e o que resta do Forte São Joaquim (ah, não, peraí. Isso
já está acontecendo naturalmente e é bem feito, afinal, foi lá que os primeiros
invasores firmaram seu controle no vale do Rio Branco).
Todas essas construções tem dualidades no que representam.
Vão refletir sobre isso antes de mexer com a coitada da estátua e apoiem as
ações contra a mineração ilegal.
Beijos na bateia.
UP DATE em 11.12.14
Texto publicado no Facebook pela poeta e professora de História Elimacuxi a respeito da proposta de demolição:
UP DATE em 11.12.14
Texto publicado no Facebook pela poeta e professora de História Elimacuxi a respeito da proposta de demolição:
Há poucos dias ministrei um minicurso sobre monumentos em Boa Vista e a violência discursiva de alguns deles sobre os indígenas. É preciso saber que a memória social é elemento essencial na composição da identidade e se forma sempre numa arena de disputas. Querer destruir um monumento central da cidade, como o Garimpeiro, é um ato político marcado pelo interesse de manipulação da memória coletiva, assim como também foi esse interesse que levou Helio Campos a erigi-lo, tantos anos atrás.
Eu escrevi parte da história de nosso estado baseando-me nos monumentos, que são importantes documentos históricos. Num estado como o nosso, onde não há arquivo público, onde tudo se apaga e a história é tratada como se fosse propriedade de uns poucos detentores de documentação, a proposta de demolição do Garimpeiro, feita por um representante dos interesses indígenas, não auxilia em nada no debate por uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais respeitosa dos direitos (bem como da memória e da identidade) dos demais.
Ministrei o minicurso por crer que não é demolindo os monumentos que se construirá uma nova consciência, mas demonstrando sua importância enquanto documentos vivos da história de exclusão e violência contra os indígenas daqui.
Não é destruindo obra de arte e patrimônio que se abrem novos caminhos. Conhecimento e amor é que mudam o mundo.