Tive a alegria de mediar a edição de novembro do Café com Letras, evento promovido pelo Sesc Roraima.
O encontro foi realizado segunda (27), no Teatro Jaber Xaud, com a participação dos escritores Franklin Carvalho e Mário Rodrigues, ganhadores do Prêmio Sesc de Literatura 2016 nas categorias Romance e Conto.
A conversa foi muito bacana, abordando desde as temáticas das obras até o processo de redação dos textos. Que venham outros eventos literários assim, com gente bacana que traz novos conhecimentos para quem quiser ouvir.
Acordo mais cedo do que o normal. Hoje o dia tem umas tensões especiais e isso afeta meu sono. Preparo um pão com queijo e um capuccino, tomo meu café da manhã e vou navegar nas redes.
São 6h13 ainda e leio na TL que uma idosa vendedora ambulante de origem venezuelana foi espancada e roubada no Centro da cidade.
6h13. Tão cedo e já começo a lacrimejar de angústia, pensando que diabos de cidade é esta, com gente tão má sentindo-se à vontade para agredir os estrangeiros e tratá-los como lixo.
Bem mais tarde, depois de encarar o motivo da tensão especial, abro os jornais na internet para fazer as leituras de rotina.
Abre site, fecha site, tropeço com este título da Folha de Boa Vista:
“ESTRANGEIROS NAS RUAS
Prefeitura começa apreender produtos e a coibir venezuelanos nos semáforos”.
Meu estômago já começa a se revirar.
Lembro que ontem à noite havia fotografado a manchete do mesmo jornal (essa foto abaixo) e pensado: caraca, a prefeita de Boa Vista não age muito diferente do prefeito de São Paulo, aquele a quem muitos chamam de fascista: vai usar tudo o que puder de leis e códigos burocráticos para manter a cidade asséptica, dificultar a vida dos venezuelanos e garantir o voto da galera que está odiando o fluxo migratório.
Só não achei que faria isso tão rápido. Um dia divulga que não se pode vender nos sinais, citando o ilustre desconhecido código de posturas e no outro já manda fazer a limpeza social, intimidando o pessoal com os guardas municipais e apreendendo os produtos que garantem o pão na mesa de um monte de gente que não está em Boa Vista porque queria estar, mas porque precisa.
Tudo para ficar bem diante dos eleitores, essa pura gente brasileira, que ignora suas próprias histórias de migração em busca de melhores condições de vida.
Que tipo de gente é essa que não tem empatia com os menos favorecidos e pede que os tirem das ruas pois se sentem incomodados com a sua presença? Que tipo de políticos são esses que atendem estes pedidos?
Não sei o que me traz mais desalento: se essa parcela da população ou os dirigentes da cidade, pois, salvo engano, a Prefeitura de Boa Vista não tem uma política de inclusão para os migrantes.
Salvo engano, não está apoiando as ações que o Estado e um monte de organizações com CNPJ e
sem CNPJ estão realizando. Pelo contrário, entrou com ações judiciais para livrar-se de atuar com elas e só oferece atendimento em saúde e vagas nas escolas porque seria demais deixar de ofertá-lo, mas não se furta a reclamar disso todas as vezes que pode.
Sem nenhum medo de engano e parafraseando seu slogan, a prefeitura não está trabalhando para cuidar das pessoas que decidiram vir de outro país para morar em Boa Vista.
Vai se aferrar a questões orçamentárias para fugir dessa responsabilidade até quando?
Que tipo de cidade é esta?