quarta-feira, dezembro 28, 2005

Crescimento



Ela disse:
- Amorzinho, vamos discutir o nosso relacionamento?

Ele respondeu, surpreso:
- Mas de novo? Toda semana é praticamente a mesma coisa!

Ela explicou sua atitude:
- Olha só: é tudo para o crescimento de nossa relação. Só isso.

Ele, olhando para baixo e sentando-se, resmungou:
- Se é para crescer, devias me chamar para jogar basquete ou vôlei...

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Cenas de Natal


Para o dia 25, o governo estadual prometeu fazer a distribuição de brinquedos para as crianças de famílias carentes. Anunciou isso nas TVs, rádios, jornais e em carros nas ruas.
Os portões do estádio Flamarion Vasconcelos seriam fechados às 8h30, mas desde as 5h30 haveria ônibus rodando pela cidade, catando aqueles que encarassem a fila.
Às 4h30, retornando de uma madrugada de conversa, vinho, água e churrasco na fazenda urbana de Nei Costa, Zanny e eu vimos que já havia fila para receber os mimos do governo.
O governador Ottomar Pinto, que tem o costume de distribuir pintos, biquínis, peixe, iogurte, material de construção e terrenos, chegou às dez horas para fazer a distribuição.
Ao meio-dia, sob o sol forte de um dia de Roraima (só quem esteve aqui, sabe o que isso significa em termos de temperatura e ardência na pele), centenas de pessoas esperavam em frente ao estádio a chance de pegar um ônibus que as levassem de volta aos seus bairros. Aproveitavam a sombra de pequenas árvores para refugiar-se. Sob suas cabeças, as redes serviam de chapéus.
Quando chegava um ônibus, lá estavam crianças e adultos, carregando brinquedos e redes de dormir, empurrando-se para garantir um lugar e o retorno às suas casas.
Na minha cabeça, algo semelhante às cenas de retirantes e vítimas de guerras.
Às 16h, ainda havia pessoas esperando que os ônibus e vans alugadas pelo populista governo roraimense os levassem de volta aos seus bairros.
Mas é claro que também estavam lá famílias de renda maior que a maioria, com seus carros e roupas mais caras, apenas pela mesquinhez de receber algo supostamente dado de graça.
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No mesmo dia 25, a família Borges reuniu-se na maloquinha de minha mãe para um almoço. Se não fosse um comentário solto de meu pai, ninguém teria lembrado que os dois completavam 32 anos de casados. Foi flecha para tudo quanto foi lado.
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Hoje, 26, é dia de comemorar os 14 anos de Sângela, minha afilhada. Amanhã é dia de missa de um mês de morte do irmão da garota. No último 18, o guri completaria 17 anos. O tempo anda e, como disse Sângela, de tudo temos que tirar uma lição ou a vida fica só naquela coisa besta de ser.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Folga fraudada

Era para não trabalhar esta semana e trampar na próxima. Mas cá estou, fazendo serviços como se não houvesse folga nenhuma.

De qualquer forma, bom natal a todos. Até semana que vem.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Um ano lá, um ano aqui



Há um ano, às 16h45, estava em Lima, capital do Peru, entrando em um táxi para dirigir-me a uma estação de embarque da empresa de ônibus Cruz del Sur e viajar até a cidade de Arequipa, a caminho de Machu Picchu.

Passei uma noite e menos de um dia na capital peruana. Olhei pela primeira vez o oceano Pacífico, entrei em igrejas históricas, vi catacumbas cheias de ossos, caminhei no meio de uma cidade cerimonial da tribo Lima, no meio de um bairro residencial, e comi um prato sem gosto em um restaurante vagabundo.

Isso sem contar o péssimo negócio que fiz ao contratar um taxista como guia turístico. E foi um péssimo negócio em dólares.

E hoje, sexta-feira, exatamente um ano depois, estou aqui, numa pesquisa emocionante sobre a loja em que posso comprar latas de tinta por um preço mais baixo.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Imagens de Boa Vista

No sábado, na avenida Jaime Brasil, um dos centros comerciais da cidade, uma mulher com excesso de peso, saia branca curtíssima e botas de couro vermelhas chama a atenção às 10 horas da manhã.


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Um coral formado por 140 crianças e adolescentes indígenas, moradores de comunidades de outro município, apresenta canções em wapichana no Palácio da Cultura durante a 1ª Mostra de Música Canta Roraima. São aplaudidos de pé.
Na frente do palco, uma indiazinha morta de sono, está como se diz no norte, "pescando um tambaqui". Entre um bocejo e uma fechada de olhos, a menina quase dorme enquanto canta.


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A mulher sai da igreja, come um salgadinho, lava as mãos e volta para a missa, demonstrando como é limpinha. A água que tira a sua sujeira, por sinal, é a água benta dos fiéis. É ou não vandalismo religioso?

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Da Série Ouvidos na Rua: o maior cachê do Brasil


O governo estadual promoveu uma feira agropecuária em um parque de exposições que fica nas redondezas de Boa Vista. Além dos bois e carneiros, umas das atrações mais esperadas era o show de Zezé de Camargo & Luciano. A dupla cantou neste domingo à noite.
A vontade do boa-vistense de assisti-los de graça provocou filas literalmente quilométricas, com as pessoas demorando até duas horas para concluir um trecho feito geralmente em 15 minutos. E isso tanto na ida como no retorno.
Por azar, a instalação elétrica da feira não agüentou a produção do show da dupla.
Hoje pela manhã, ao chegar na lanchonete ao lado do trabalho em busca de um café da manhã rápido, ouço os comentários dos freqüentadores:

- Rapaz, os caras receberam R$ 300 mil para tocar na exposição.
- É mesmo? E só conseguiram tocar três músicas por conta do problema da energia.
- Com certeza, é o maior cachê do Brasil. Cem paus por música.
- Estou admirado. Tanto remédio que dava para comprar com esse dinheiro.
- Tá vendo? Quem manda não saber cantar. Tu não é um dos filhos de Francisco...

terça-feira, dezembro 06, 2005

A vida continua

Aos poucos, a rotina volta. Nunca ao normal, isso é impossível, mas volta.
A vida anda e as certezas tornam-se raras. As que sobram, bem, é preciso duvidar se vamos viver muito tempo ou se tudo acaba amanhã.
Enquanto isso, trabalho, muito trabalho. E processo nas costas do Estado, por colocar incapazes nas ruas para tomar conta da insegurança.
Aos poucos vou retomar as visitas aos amigos blogueiros.
Beijos a todos.




quinta-feira, dezembro 01, 2005

Lições


A morte de alguém próximo, além de dor, traz outras lições. Para mim, as mais importantes estão sendo valorizar cada momento passado com a família e perceber que é preciso passar mais tempo com ela.
Outra lição é mais uma confirmação sobre a fragilidade da vida.
Acima de todas elas, confirmo outra: pelos que ficaram e choram, é preciso continuar vivendo, caminhando em frente, mesmo sem saber o que nos espera na próxima esquina. Afinal, escreveu Fernando Pessoa, "viver não é preciso".