Antes que acabe o mês, uma lembrança: dia 19 de julho fui com a turma de poetas Elimacuxi, Zanny Adairalba e Vitor de Araújo fazer uma intervenção poética no abrigo para venezuelanos migrantes que fica na avenida São Sebastião, bairro Santa Tereza.
Zanny Adairalba, Edgar Borges, Elimacuxi e Vitor de Araújo: poesia no abrigo
Eu, quem me lê e quem me conhece sabe disso, sou mais de colocar as pessoas para falarem poesia do que propriamente ser o falador. Me dá preguiça e desencanto ensaiar a performance. Mesmo assim, quando a Eli me passou mensagem convidando para a intervenção, não tive dúvidas e topei na hora.
Para minha parte, separei uns poemas que havia escrito em portunhol, mexi um pouco para melhorar a sonoridade deles e também falei para a Eli que ia cantar/recitar uma música.
Dito e feito, me arrisquei e meio que cantei pela primeira vez na vida. Bem, na verdade, falei e tentei cantar. Mas não há fraude nisso porque já fui avisando o povo do abrigo sobre não ser cantor.
Escolhi Pedro Navaja, de Ruben Blades, uma música que ouço desde a infância e sempre cantarolo. É meio falada, então achei que não passaria tanta vergonha. Eu acho que não foi. Mas cada um julga conforme seu interesse.
Vou lhes dizer: foi gostoso demais ver o povo cantando a música. Deu uma energizada boa. Tô até pensando em pegar outra música e agregá-la ao meu repertório.
O Sesc Roraima me convidou para gravar um vídeo alusivo ao
Dia do Escritor, comemorado todo 25 de julho. Gravamos na nova biblioteca da
nova sede administrativa, ali no Centro de Boa Vista, na rua Araújo Filho. O
vídeo é esse aí de baixo, recompartilhado no meu canal do Youtube.
Teve também fotinha bonitinha no instagram.
Bacana foi receber esse carinho do Gabriel Alencar, da nova geração de proseadores de Roraima, que republicou a postagem em seu perfil no instagram:
Sim, algumas notas sobre a nova biblioteca do Sesc Roraima:
Nunca havia entrado no local. É uma biblioteca bem espaçosa,
com cinco ou seis vezes mais espaço do que tinha nos tempos do prédio original.
Essa biblioteca – a do prédio original, demolido nos anos 2010 para construção
do atual, bem mais moderno – bem, essa biblioteca era praticamente a minha
segunda casa na adolescência.
Lembro de pegar quase toda manhã minha bicicleta e ir do
bairro Caçari até o Sesc para ler jornal, participar de cursos, fazer
pesquisas, pegar livros emprestados. Vivia tanto no Sesc que as pessoas achavam
que eu trabalhava lá. Na verdade, um dia desses alguém ainda veio me perguntar
em que setor eu trabalhava no Sesc naquela época. Confesso que sonhei várias
vezes com trabalhar no setor de cultural deles e ajudar a desenvolver as ações
na cidade.
Infelizmente, o máximo que consegui naquele tempo foi ser monitor de feiras de
livros e de trânsito. Me corrijo: felizmente tive essas oportunidades. Era essa
grana a que eu guardava para comprar apostilhas e bancar um lanchinho quando já
estava na UFRR, cursando jornalismo. Felizmente também me deram a oportunidade
de conviver e conhecer pessoas fantásticas, como minha comadre Érica Figueredo
e os contadores de histórias Moacir do Monte e Tana Halu, além de outros
artistas da cidade.
Ia tanto na biblioteca do Sesc Centro que já sabia até que também ia. Com alguns trocava
ideias, a exemplo do Francisco, que depois de ter sido deportado da Europa,
veio rodando o Brasil até parar em Roraima e também ser monitor numa feira de
livros (por ele ter trabalhado fantasiado de lobo, o chamava de Chico Lobo).
Foi na biblioteca do Sesc que li minha primeira HQ do Milo
Minara, rei do erotismo. Li um monte de autores (não sei como e quem me deu a
carteirinha de usuário se não era comerciário e não me lembro de nunca pagar
para renovar – mas é capaz de ter feito isso sim, afinal, era lá que pegava
todo livro de literatura que me interessava). De todos esses autores, decorei
uma frase da Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, livro que naquela época
há havia virado filme:
“Se fosse dada ao homem a oportunidade de matar à distância e
sem ser punido, a humanidade não sobreviveria cinco minutos”.
Na verdade, não lembro mais se a frase é exatamente igual,
só que gostei muito à época e a anotei em um caderno.
Parei de ir tanto na biblioteca depois que comecei a trabalhar no
jornal O Diário, em 1998, e tive meus dias ocupados pela rotina de quem não é dono dos
meios de produção. Ou seja, trabalha de manhã e de tarde e ainda de tarde (sim, de
tarde) e de noite vai estudar para ter um diploma que permita continuar trabalhando
de manhã e de tarde. Quando fui para a comunicação social da Prefeitura de Boa Vista, em 1999 ou 2000, não recordo agora, abandonei de vez espaço durante o dia e só aparecia quando tinha evento, tipo Café Com Letras ou Overdoze.
Não lembro quando, mas sei que antes de 2007 (conforme vi numa citação aqui nesta postagem falando de um evento do próprio Sesc)
a biblioteca do Sesc Centro recebeu o
nome do escritor Afonso Rodrigues de Oliveira, uma linda homenagem em vida ao
cronista e romancista que a gente chama carinhosamente de Mestre Afonso (recentemente
li uma obra dele, por sinal).
Falei disso para o povo que agora trabalha lá e
dei a dica: valeria a pena colocar uma plaquinha com esse nome na porta do
espaço.
Tenho outras memórias na biblioteca, mas agora não quero falar
delas. Daria um livro.
03.06.19 Segunda Teve reunião do colegiado do PPGL nesta manhã. Tava marcado para 8h30, mas o povo começou a chegar bem depois. Os corredores do bloco 1 estavam, como sempre, tomados por mosquitos malignos sugadores até das nossas almas se vacilar. Além de muitos, são agressivos. Agora são 16h06, está chovendo, faço aniversário amanhã, já inseri na dissertação a etnografia do show R3 que rolou sábado. Falta acrescentar, pelas minhas metas diárias, umas infos lá na parte que fala sobre as característica do Rap. 15.06.19 Sábado 9h38. Está chovendo. Tem umas goteiras na varanda de trás e vez ou outra pinga alguma gota no forro acima de minha cabeça no escritório. Tenho um medo de que aconteça um vazamento e inunde o cômodo... O que rolou neste mês, além do meu aniversário no dia 4: - Mandei meu material para a professora Leila analisar. Ela me devolveu e cá estou desde o começo da semana trabalhando na análise da quarta letra do MC Frank D'Cristo. - Tenho sentido dores nas costas. Culpa da cadeira. - Neste mês não teve reunião presencial com a orientadora. Isso não afetou nada por enquanto. Nesta análise em andamento estou puxando um pouco mais para o uso dos socioletos/idioletos na letra (depois vou definir que conceito uso) - Tenho um prazo pessoal para mandar a nova parte até dia 21. Acho que vai dar tranquilo. Daí vou trabalhar na complementação do meu "censo" da turma rapper em Roraima. Mais tarde vai rolar a primeira edição do Sarau da Lona Poética em 2019. Passei esta semana trabalhando nisso. Eu gosto, mas me incomoda gostar de algo que me dá trabalho. Alguém podia organizar tudo e me chamar só para levar os louros e dar uma de MS, vulgo mestre de saraus. Sonho meu... 30.06.19 domingo
O Sarau da Lona Poética aconteceu e foi bacana, com aquela força crescente de toda edição e muitas poesias bonitas e fortes sendo declamadas. Esse meu trabalho com o Coletivo Caimbé é internamente paradoxal: adoro promover esse momentos geradores de felicidade e satisfação e ao mesmo tempo acho que poderia estar tentando algo mais capitalisticamente produtivo, gerando grana para a casa. Sim, poderia buscar apoio financeiro em empresas ou poder público, mas...Gente, que preguiça desse povo, de bater nas portas e ver todo mundo de cara fechada, de ter que pedir, pedir, pedir...Até tentei dia desses com um vereador conhecido, mas não rolou. Enfim...em agosto vamos fazer outro. Se quiser ver como foi o de julho, vai aqui, no blog do coletivo.
Foi um mês lentamente produtivo. Tinha uma página de metas e quase todas foram cumpridas, como apontam os rabiscos rabiscando as anotações rabiscadas:
Disse lentamente porque não corri contra o tempo. Deixei fluir o ritmo de trabalho. Mandei meu material para a professora analisar, avancei na pesquisa sobre quem integra a cena do Rap local, conversando com a galera e acrescentando nomes à lista. Lentamente é ruim, diriam alguns com espírito de coach. Prefiro lembrar de uma vez em que o carro deu problemas vindo lá do interior da Venezuela e não conseguia acelerar sem que o mesmo aquecesse. Estávamos no meio da selva, literalmente, com um carro passando a cada 40 ou 50 minutos pela estrada. Decidi fazer o que toda pessoa sensata faria: sabendo que ainda faltavam uns 600 km para chegar em casa, fui na maciota, em velocidade tartaruga, sem aquecimento. Nasceu daí meu slogan preferido para momentos em que a pressa pode ser inimiga da conclusão: despacito, pero seguro. Vem, julho, vem! #################### Obrigado pela leitura da 17a edição do Diário de um Mestrando. Para ler as anteriores, basta clicar AQUI. Abraços.