Tínhamos
todas as opções do mundo, mas escolhemos justamente navegar placidamente em
mares de raiva. Optamos por não olhar para as nossas responsabilidades, por evitar
críticas fundamentadas, estudadas, refletidas, analisadas.
Optamos por
esquecer que acima de nós havia uma outra categoria de pessoas com mais poder,
mais dinheiro, mais voz e outros interesses que não os nossos.
Optamos por
ouvi-las e segui-las, sem atentar que seus destinos não eram os nossos e que seus
alertas de “perigo” e “basta disso” eram um canto da sereia que levaria nosso barco
às pedras e o deles ao porto.
Tínhamos
tanto amor para espalhar, para postar e respostar, mas optamos por sermos ínfimos,
maledicentes, por entrar em listas pedindo que fechassem as portas da casa que
sempre adoramos quando nos éramos os visitantes, os estranhos, reis em outros
lugares.
Nem todos
fomos assim, é verdade. Houve quem não gritasse ódio e sim berrasse amor,
fraternidade, entendimento, compreensão, empatia e outras coisas consideradas
bobagens.
Houve quem mantivesse isso e houve quem apenas falasse, sem nunca ter
agido com amor, que já bastava de tanto carinho para os outros, que estava na
hora de ser carrancudo, odioso, opressor, mesquinho e outros adjetivos
confundidos com moralidade, patriotismo e cuidados com os da terra.
Houve quem
falasse em meritocracia enquanto bebia algo caro sentado na cadeira de couro
que ganhou de sua família, de seu esquema financeiro corrupto e corruptor, de
seu padrinho político...
Houve quem falasse em religião como motivo mais do que
justo para não aceitar o diferente e ouve quem usasse a religião como motivo mais
do que justo para apontar sua língua bifurcada contra o diferente.
Claro, houve
muitos que amaram, que abraçaram, que criticaram o alvo certo, mas continuaram
ajudando. E houve também quem foi ler mais, ouvir mais, conversar mais, lembrar
mais de si e de seu passado (ou do passado de seus antepassados) para entender
que a história é cíclica e o mundo dá voltas por ser redondo – nunca plano,
apesar da insistência.
Uns tinham
todas as opções do mundo e optaram por gritar em vez de abraçar.
Outros
(ainda bem que havia bem em outros) também tinham todas as opções do mundo e
escolheram a empatia, a ajuda, o entendimento de que amar só os próximos e os
conhecidos não faz sentido e de que o mundo é muito grande para alguém insistir
em ser pequeno e achar isso uma grandeza.