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terça-feira, janeiro 14, 2014

Conversas com Edgarzinho: histórias que vovó conta

Por dona Gracineide Borges, avó do Edgarzinho: Coisas do Edgarzinho Ligo para meu filho, e o Edgarzinho, meu neto, atende.

- Oi? Teu pai está em casa?

- Tá, vovó, mas está cochilando!

- Ok.  Eu ligo depois!

Minutos depois, voltei a ligar:

- Oi? Papai ainda está dormindo?

- Não, vovó, está cochilando! Você não sabe que de DIA as pessoas COCHILAM e que de NOITE é que elas DORMEM?

- Sei...(será que eu sabia?!). Depois eu ligo! Kkkk...

segunda-feira, outubro 24, 2011

Dias de Edgarzinho: de declamador a vaqueiro

Seguinte: sou babão com o meu filho, sim. Mas só quando ele respira. Fora isso...

Bem, na verdade, sou bem menos babão que a mãe e os avós de todos os lados. Mas tem coisa que merece ser babada mesmo, como quando ele decide, sozinho, encarar um microfone, pede para arrumarem na sua altura e, mesmo que não se entenda tudo, declama os dois poeminhas que sabe. Foi isso que o Edgarzinho fez na VI Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Roraima. Lá  o Coletivo Arteliteratura Caimbé ajudou a organizar um encontro de cordelistas e poetas entre os dias 18 e 20 de outubro.

Edgarzinho Borges Bisneto, que já havia declamando em um sarau do Sesc, não teve vergonha e mandou várias vezes os versos que sua avó Neide lhe ensinou.





 
 No último sabadão, dia de não fazer nada (um nada que incluiu não ir à feira, o que significa que vai ter pouca comida nesta semana), o moleque montou no Dourado, um “cavalo selvagem que vive na casa do vovô Adair”, como ele diz, referindo-se à parte materna que lhe toca.

A princípio com medo, encarou o perigo como só um índio corajoso o faz. Em poucos minutos já estava segurando na crina apenas com uma mão, levando carona e até guiando o animal.


 Com o avó materno, escritor e ex-fuzileiro Adair J. Santos


 
 Se fosse especular como muita gente boba o faz, diria que esse lance de montaria está “no sangue”: meu avô paterno, o finado Santos Figueira foi vaqueiro, dono de várias fazendas e adorava corridas de cavalos. Meu pai, seu Jucá, foi o único dos trocentos irmãos que ficou na fazenda. Rodava Roraima inteiro em suas montarias e chegou a ser jóquei quando jovem e magro. Dizem que fez seu Santos ganhar muitas apostas.

Seu Adair, avô materno, foi criado em um engenho de Palmares (PE), de propriedade do trisavô e bisavô de Edgarzinho. Desde pequeno montou, costume que passou para todos os filhos do primeiro casamento, de onde vem a mãe do Edgarzinho, dona Zanny. Ela diz que monta bem. Nunca a vi fazer isso. Aliás, ontem ela estava apavorada com o moleque dando uma de ginete.

Eu? Bom, basta dizer que aprendi a andar de bicicleta aos 14 anos. Para não dizer que nunca montei num cavalo, tenho uma foto num carrossel e outra sobre um bicho de verdade, mas só fazendo posse, lá pelos meus 2, 3 anos de vida. Essa é a prova da falibilidade do ditado “tal pai, tal filho”.

quarta-feira, outubro 12, 2011

Sarau da Aldeia Cruviana 2011 – Cultura de todos os povos

No feriado de 5 de outubro, aniversário de 23 anos passados da transformação do Território Federal de Roraima em Estado de Roraima, o Sesc Roraima realizou o sarau café com letras “Da Palavra à Arte”.

O encontro teve poesia e música e fez parte da programação da mostra Aldeia Cruviana - Cultura de todos os povos, realizada de 30 de setembro a 8 de outubro em quatro cidades.








Expus a série Curt@s Histórias e Poesias e declamei um poema. Mas isso não tem importância nenhuma. Bacana mesmo foi a estreia de meu filhotinho Edgarzinho no mundo das artes. O indiozinho mais fofutcho do Norte declamou os versos que sua avó paterna, dona Neide, lhe ensinou e ele adaptou:


“Batatinha quando nasce/ Se esparrama pelo chão/ A mamãe quando me vê/Bota a mão no coração/...E eu sou um campeão”
O outro que ele decorou, mas não falou, é este:
“Eu sou pequeninho/ Do tamanho de um botão/ Carrego papai no bolso/ E mamãe no meu coração/...E eu sou um campeão”

Sim, a rima final é a mesma. =-)
Sim, a segunda poesia não me valoriza muito. =-(
Lamentavelmente, eu estava ajustando a máquina fotográfica e não percebi quando o bebê puxou a mãe pela mão, foi até o espaço da declamação e mandou ver seus versos em público. Perdi a estreia do moleque!

quarta-feira, junho 16, 2010

Notas sobre junho (para não esquecer no futuro)


1. A maldita tendinite continua. Acho que vou trocar a mão direita por uma nova. Basta arranjar uma de meu modelo.

2. Quando chove, chove. Quando esquenta, esquenta e muito em BV. O clima está ficando doido.

3. O Brasil jogou ontem com os meus primos da Córeia do Norte. Como os coreanos perderam, o castigo será ter que beber um litro de urânio enriquecido.

4. Edgarzinho deu um susto ontem. Escondeu-se em um guarda-roupa, chamou por mim bem baixinho (papai...), ninguém o viu e todo mundou pirou buscando o moleque. A preta velha Zanny quase morre de pavor tentando encontrá-lo. Eu dei a volta na casa, saí por um portão e entrei pelo outro e nada (Ah, Edgar, se tu estás me ouvindo e não respondes ao meu chamado, vais ver!). Na segunda volta à casa, o encontraram, sorrindo, dentro do armário, comemorando o primeiro grande susto na mãe, pai, tia, prima Elenita e vó Maria José. Ainda bem que dona Neide não estava por lá.

5. Lembre-te: Edgarzinho saiu à noite pelo portão da casa de minha cumadi Érica Figueiredo e me deu um novo susto. Dei-lhe uma chamada. Nâo contei para Zanny.

6. Tenho que caminhar mais para desfazer o perfil de jabulani.

E agora, respeitável público que não comenta nada neste blog, mando do fundo do blog uma postagem que hoje, 16 de junho, completa cinco anos de publicada originalmente:

Verborragia

Cuspiu na minha cara, dei-lhe um soco. A polícia chegou junto, levou os dois. Mas ele não fez nada. É tudo culpa da oposição. É uma intriga para desestabilizar o país. Chamem um substantivo qualquer e verão como ele aceita suborno. Mensadão, corrigiu o nobre deputado, já de olho no meu bolso e passando uma caneta Mont Blanc para assinar o cheque. Obrigado, prefiro ver uma partida de futebol.

Yes, habemus soccer, beach e estivas em geral. O que? Não! Sul-americanos sim, mas latinos, não. Isso é coisa de cucaracho, dizem nossos primos dos EUA. E se é bom para eles, é bom para nós. Ou não? Mas ter economias em dólar é melhor que ser bacana em real. Na real.

Gringo, eu? Não. Globalizado, antenado, pós-moderno. Tucano? Petista? Ah, pára com isso, eu sou é brasileiro. Eu sou o melhor de meu país, me ensinou um publicitário. Sou cidadão, sim. Não, esse papo de ecologia, respeito aos direitos das minorias e desenvolvimento sustentável é coisa de reacionário, de quem está vendendo a nação para o estrangeiro. Eu quero é progresso e se for preciso derrubar umas árvores, que mal tem?

Ei, esconde esse jornal e essa revista e não deixa ninguém ver a reportagem mostrando que passei a mão naquela grana. O que diriam de mim, senhor? Perdoa esses pecadores que insistem em xeretar a vida alheia. Aliás, se falar mal de algum amigo vai ter. Vai rolar a festa. Ok, separa um filetinho, muito bem. Vamos, sempre em frente.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Grávido na cidade

Esse pessoal de cidade, acostumado a muito conforto trazido pela ciência do homem branco, acaba por ficar um pouco molenga. Falta-lhes um muito da fibra indígena. Até para ter um filho precisam de mil e uma coisas.

Já nós, índios, não temos tantos caprichos assim. Se é para ter um filho, tem-se um filho até no intervalo entre uma caçada e outra.

A história da minha chegada ao mundo é mais ou menos essa. Contam os mais velhos da família que quando nasci meus pais estavam em uma aldeia pemón, visitando nossos parentes índios no sul da Venezuela. Era por volta do meio-dia, o seu Juca estava pescando e dona Neide tinha acabado de colocar a panela no fogo para aquecer a água e iniciar o preparo da damorida.

Ao sentir as primeiras contrações, dona Neide mandou uma menina chamar meu pai e depois entrou na cabana. Quando o (naquela época) jovem índio chegou, esbaforido, com a vara de pesca numa mão e os peixes na outra, eu, apesar de ter nascido com oito meses, já havia tomado meu primeiro banho e estava mamando tranqüilo.

Minha mãe, índia nova, formosa, cheia de energia, ainda teria reclamado da demora de seu Juca em trazer o pescado. Comeram a damorida, beberam um cadinho de caxiri e foram dormir la siesta. Eu, o indiozinho, herdeiro das tradições, já fiquei por ali, tranqüilo, dormindo sobre o tapete de palha no canto da cabana, sentindo o calor da fogueira.

Depois de um tempo, voltamos à cidade dos brancos e seus costumes estranhos, como o resguardo de não sei quantos dias para a mulher enfraquecida pelo parto e o impedimento de comer um monte de coisas.

Já falei para a Zanny: se ela fosse ter o indiozinho nas aldeias ianomâmis, o moleque ia nascer no meio da selva, onde teria o cordão umbilical cortado com uma folha de árvore. Nada de muito tecnológico, com certeza, mas eficiente até hoje. E o moleque ainda seria mais saudável que muito menino de branco.

Mas ela insiste em quebrar as tradições de minha família e ter um filho no hospital, com anestesia e um monte de médicos. Coisas de mulher criada na cidade dos brancos.