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quinta-feira, fevereiro 20, 2020

Anotações não tão rápidas sobre um fevereiro de esperas e partidas



Depois de dois ou três anos fiz uma viagem para fora do Estado (ir a Lethem, aqui na Guiana, não conta). Fomos em grupo (eu, Zanny, Edgarzinho, Timóteo, Grazi e Liz) para o Espírito Santo e conhecemos a serra, o mar e a zona rural de Vitória. Quer dizer, os Camargo já conheciam, nós não.

Edgarzinho, Timóteo Camargo e eu no projeto Tamar
Zanny Adairalba, Edgarzinho e eu de costas para a Pedra Azul, na Rota do Lagarto, nas montanhas capixabas

Peguei meu diploma de mestre em Letras pela Universidade Federal de Roraima e já dei entrada nos processos de volta ao trabalho e (quem sabe oxalá saia se esse governo Bolsonaro de porcaria não me prejudicar com seus cortes e maldades) progressão por titulação.

Consegui alguém para mexer no telhado da casa e tampar os buracos pelos quais a cada chuva entravam as gotinhas que estavam me fazendo perder o gosto de amar as chuvas. Que venha o próximo inverno.

Sobre o tópico número um: no Espírito Santo pela primeira vez na vida fiz arvorismo (não gostei) e me joguei numa tirolesa (de 700 metros de comprimento e 120 metros de altura). Edzinho me acompanhou nas aventuras. Ele também não curtiu o arvorismo. Ah, e nos hospedamos em um chalé que fica no parque do China, nas montanhas. Foi como amanhecer em outro país, bem mais frio e bem mais rico.

Decidi voltar a me inscrever rotineiramente em concursos literários. E já comecei.

Decidi tocar, pasito a pasito, o projeto do livro de poemas que foi selecionado no edital da Secult de Roraima, edital este que a Secult nunca pagou e talvez nunca pagará. Vou ver se imprimo por conta e faço um lançamento ainda neste semestre ou até julho.

Amanheci neste 20 de fevereiro de 2020 com 73,100 quilos. Em 21 de janeiro de 2019 estava com 80,200 kg. Ou seja, em um ano perdi 7,100 kilinhos. Agora estou vendo de novo a ponta dos meus pés e estou feliz. E acho que ganhei uns meses a mais de vida.

Ah, sobre os benefícios de perder peso: consegui voltar para o número 40 nas calças. Nem sonho em voltar a usar 38, como quando tinha 20 anos, mas estou tão feliz!

Incorporei à minha rotina matutina ir correr na praia do Curupira. Assim aproveito o balneário que tenho tão próximo de casa. Ah, e corro de sunga para aproveitar o sol e ver se bronzeio as coxas, estes pedaços de pele que nunca viram luz nos meus 43 anos de existência.

Continuo acordando muito cedo, às vezes até antes das seis da manhã. Em compensação, quando batem as 22h, 22h30 estou morrendo de sono. Até me conformo, mas estou preocupado com o costume da soneca pós-almoço. Será que vou ficar tonto de sono nas tardes após o meu retorno às labutas trabalhistas? 

Meu velho e guerreiro computador HP da tela gigante que amo deu pau, mandei arrumar, voltou ligando, mas a bateria tá indo pro espaço. Comprei esta semana uma nova. É a segunda já em...sete, oito anos de convivência? Estou aguardando a chegada para continuar usando muito o bichinho. Por enquanto, escrevo com medo do cabo sair e o computador desconectar do nada. 



sexta-feira, abril 19, 2019

Registros sobre o que já ganhei com a literatura


O fato de eu não ser um escritor profissional (minha subsistência é garantida pelo emprego de funcionário público) ou um escritor focado em ser escritor
profissional (passo semanas sem produzir textos literários e meses sem participar de editais, concursos ou prêmios, muito menos submetendo livros a editoras), bem, esses fatos nublam a minha visão sobre o quanto já ganhei escrevendo.

Muitas vezes me perguntaram se a profissão de escritor dava para pagar pelo menos parte das contas, se havia ganhado algo com literatura. De meu suposto lugar de fala, descrito acima, falei que não. Na verdade, ia além, demostrando ingratidão com a vida: respondi várias vezes que nunca ganhei nada escrevendo. Exagerando, errei. Ganhei sim e muito.

Tentarei resumir isso a seguir, como uma espécie de registro confessional para que não volte a falar nunca ter recebido nada escrevendo ou trabalhando com contos, crônicas e poemas (essa descrição aqui é para distingui-los dos textos jornalísticos que me sustentam desde o ano de 1998, quando comecei a trabalhar como repórter).

Vamos aos fatos:

1.    Viagens: participei de bienais, feiras de livros, eventos literários e debates sobre política cultural nos estados Amazonas, Amapá, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Em Roraima conheci várias comunidades indígenas e trabalhei nos municípios de Pacaraima, Alto Alegre, Boa Vista, Cantá, São João da Baliza e Bonfim. Quem lê viaja e quem escreve também. 

2.    Plata. Sim, plata. Várias vezes ganhei grana como escritor, como organizador de atividades focadas em literatura, livro eleitura, como parecerista, como palestrante e até apenas como participante. Ganhei algum dinheiro também em concursos, prêmios e editais. Consegui pagar contas, economizar, comprar coisas que estavam faltando para a casa e coisas que queria comprar apenas por querer. A grana da literatura me sustentou ou sustenta? Não, mas já ajudou um bocado.

3.    Trófeus, certificados livros e afins: no momento tudo o que é meu está encaixotado. Em alguma caixa estão esses objetos citados acima, deixando claro que houve retorno do mundo para mim, sim.

4.    Amizades, risadas e bebidas: desde moleque, o ato de escrever (e de ler) sempre trouxe boas pessoas ao meu convívio. Aprendi um bocado com a diversidade de pensamentos que carregavam, ri muito, me emocionei muito. São amigos e parceiros presencialmente perto, alguns bem longe, outros nunca vistos cara a cara, mas sempre disponíveis nas redes digitais. Gente que já me convidou para atividades que renderam boas conversas, renda e conhecimento. Gente boa.

5.     Beijos na boca e na bochecha: considerem que escrevo textos desde a adolescência. Considerem que sempre tive a sorte de tropeçar com gente sensível à arte e à literatura. Considerado e anotado? Então... Beijo na boca é algo que se deve levar em conta na hora de fazer o levantamento daquilo que se ganhou ao longo da carreira. Por sinal, o beijo mais importante foi o que consegui da moça que depois virou minha minha esposa, encantada - digo eu - com as minhas poesias e prosas. Este beijo e atos afins resultaram em meu filho, luz de meus dias, P do meu samba, senhor de mim, dono do beijo na bochecha mais gostoso do mundo.

Então é isso. Eis o resumo de minhas conquistas como escritor e agente cultural da área literária. Se algum leitor um dia tropeçar comigo em algum lugar e me ouvir dizer que nunca ganhei nada como escritor, faça o favor de jogar o link em minha cara.

Obrigado, de nada.

quinta-feira, abril 04, 2019

Diário de um mestrando - 13o mês


14.03.19

Os dias têm sido estupidamente quentes e mal aproveitados neste mês de março.

O calor me acaba, deixa sem vontade de estudar. Só penso em ir para a praia (e não vou). Só penso em sair pedalando pelas avenidas, ir para a praia do Caçari, atravessar as praias e me refrescar, como prêmio de melhor esportista amador, na praia dos Gnomos. Não o faço, ou faço menos do que deveria e quero.







 Todos os dias anoto as metas do dia. Todos os dias volto a anotá-las.

Sim, li alguma coisa (bem menos do que deveria).

Sim, hoje isso muda, com certeza. Tenho reunião com a orientadora, professora Leila Baptaglin. A primeira pós qualificação. Separei alguns pontos para discutir. O ritmo deve voltar ao normal.

O que tenho feito então se não tenho estudado como deveria? Quase nada.

Nem a obra avançou neste mês. Este mês só não se perdeu pois fui passear no Lago do Caracaranã e dormimos debaixo dos cajueiros, pegamos bronze, fortalecemos a amizade com Tim, Grazi e Liz. Até gravei uns vídeos para juntar e publicar no Youtube, mas cadê disposição?



Yo, en el lago Caracaranã (Foto: Zanny Adairalba)




Zanny, acordando debaixo dos cajueiros (Foto: Edgar Borges)


Minha avó completa 93 ou 94 anos na sexta. No sábado tem almoço para comemorar a data. O que isso tem a ver com o Diário de um Mestrando? Tudo. Se não fosse o suporte dela e de meu avó ao longo de quase toda a vida que venho vivendo em Roraima, quem sabe o que teria sido de minha vida acadêmica? Ter um apartamento sem pagar aluguel e almoço pronto todo dia quando se chega do trabalho ou da escola/universidade não é para todos. Assim como não é para todos admitir que nem tudo o que se conquistou foi fruto exclusivo do suor e esforço pessoal.


11h36. Vou parar e ir ajudar a Zanny a preparar o almoço. Me diz o Google que a sensação térmica é de 36 graus centígrados, mas sentindo o bafo quente vindo da rua, acho que é o dobro.


22.03.19 Sexta


São mais de 11h. Dediquei a manhã a tomar café, comer bolacha e buscar finalizar um pedaço da dissertação abordando a cena de Rap local. Esta semana foi de buscas e leituras de comentários em redes como o Youtube e Soundcloud.


O que procurava? Saber quantos rappers atuam em Roraima.
O que achei? Uma quantidade muito acima da esperada. Em dois dias e meio localizei mais de 50 rappers em diversos municípios e algumas produtoras de vídeos, bancas, canais de divulgação...


É uma cena bem mais complexa do que parece. Pode não ter o sucesso comercial e midiático que almeja, mas isso não diminui sua extensão. Sobretudo em um estado como Roraima, no qual, apesar de todo o desenvolvimento acumulado na cena artística cultural, ainda tem muito caminho a ser aberto.


Poderia ter sido uma semana bem mais produtiva, mas ontem bateram no meu carro. Estava parado em uma esquina quando a caminhonete amassou a lataria traseira. O motorista desceu, se comprometeu a pagar, o idiota aqui não pegou os dados pessoais, apenas o telefone e saiu cada um para seu lado. Fiz uns orçamentos, liguei pro sujeito e adivinha: um blá-blá-blá imenso sobre eu estar errado, sobre ele estar certo, sobre como a grana tava curta e que ele poderia me ajudar, mas só em muitas parcelas, sobre tudo ter sido minha culpa, sobre só poder pagar no começo do próximo mês se tudo estiver bem...


Gente...que estresse. Se fosse comigo eu tava agoniado querendo me livrar da pessoa, mandando ela logo ir arrumando o carro. Tudo para me soltar desse peso logo. Infelizmente o mundo não é assim...Resultado: vou mais tarde fazer novos orçamentos para decidir se espero pelo sujeito ou eu mesmo faço isso. O pior é que uma das empresas apontou ser um serviço de pelo menos cinco dias.


Cinco dias sem o carro no lugar onde moro, no calor que está fazendo, com as minhas obrigações? Significa dias de muito estresse e correria, principalmente por ter que levar e pegar o Edgarzinho na escola, que fica a uns seis fucking quilômetros de distância...
Enfim...


Avancemos.


25.03.19 segunda


Em ritmo de segunda-feira. Lendo o e-mail da professora Leila com as definições do que vamos acatar da banca. Dor nos olhos (será que os óculos já venceram?). Muito calor. Preguiça. Seis ou sete xícaras de café e ainda com sono. Pensando no conserto do carro e as implicações de ficar sem veículo morando na periferia (ver, antes de reclamar, o conceito original de periferia, plis). Fiz um poema. Quarta de manhã vem o povo para consertar a cerca do vizinho. O João anda sumido e a obra da varanda parou. Meu pai pegou o carro emprestado ontem e me devolveu quase sem gasolina. O que será que tem mais de bom nesse livro do Umberto Eco que peguei semana passada e até agora não abri? Será que quando as chuvas começarem o meu ânimo vai melhorar? Dor de cabeça. Quero deitar, mas deitar não rende.


Muito tarde da noite:




Participei nesta segunda de uma aula da disciplina Literaturas Amazônicas, ministrada pelo professor Roberto Mibielli, do curso de Letras da UFRR. Troquei ideias com os alunos sobre seis microcontos publicados em redes sociais e uma coletânea. 


Acho sempre enriquecedor ouvir as interpretações dos acadêmicos. Me surpreendem. Na atividade de hoje, até o meu filho jogou na roda a sua interpretação de um dos textos. Foi bacana.


Abaixo dois dos textos que limos:

DESFECHO

"E a comeria de novo, sem duvidar um segundo", disse, retirando-se da mesa e deixando só o cheiro da cereja no ar.


INDECISO

E aí ela disse "vem!".
Fiquei naquela: "vou, não vou, vou, não vou...".
Quando decidi ir, ela já estava em outro lugar.
Fiquei, apenas a vontade e a frustração me acompanhando.



27.03.19 quarta

Estou uma preguiça só. Ando puro esse meme aí:




Na verdade não é preguiça, é concentração pouca. Ontem ainda fiz algo para apresentar esta semana à orientadora. Agora de manhã deveria já estar fazendo a segunda coisa que me pediu, pelo menos parte dela para fingir que estou super me esforçando, mas não consigo começar.


O pior é que ontem de madrugada, logo antes de dormir, mil ideias bacanas apareceram para escrever essa parte que agora não sei por onde começar. Fiz até um plano de tomar café e banho mais cedo, sentar e agilizar tudo antes que o povo que ainda não chegou em cada chegasse.
São 8h38 e acho que estou cansado.


Estou, creio, no limite do desconforto provocado pelo calor, pela rotina, pelos inúmeros probleminhas que aparecem sugando a grana que não tenho mais.
Até poemas ando fazendo. Dirão os acadêmicos: em vez de fazer ciência, tái: fazendo textinho poético.


Desse jeito vou acabar...Vou acabar nada. Vou continuar. Partiu agora ativar a playlist de jazz instrumental. Nunca falha na hora de ajudar o cérebro a se aprumar.


15h23 - Fiz algo. Não fiz completo, mas fiz. Custou. Bem muito. Para fazer, sacrifiquei o cochilo. Não está UAU, mas vale algo. E foi quase 85% do que precisava por enquanto. Então tá valendo. Espero. Espero não levar reprimenda da profe por conta de minha aparente procrastinação. Agora é tomar banho e vamos numa reunião de pais e mestres. Afinal, temos várias identidades ao longo do dia.


31.03.19 Domingo




Entre calor e acompanhando mais uma etapa da obra infinita estou desde sexta. Sem condições de sentar e ler alguma coisa para o mestrado.

...................

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sexta-feira, junho 09, 2017

Conquistando as piscinas naturais da Serra Grande

Hoje vou falar de uma ecoaventura que fiz nos distantes dias 20 e 21 de maio deste longo ano de 2017. Preparem-se para acompanhar cada gota de suor que soltei na jornada. 

O eco-passeio exigiu um bocado de esforço físico: em companhia de cinco amigos subi a Serra Grande, uma montanha que fica no município do Cantá (RR) e que há muito tempo queria encarar.

Esta minha ecotrip (acho que acabaram os termos aos quais consigo adicionar “eco”) começou com o convite do casal Timóteo e Graziela Camargo. Com eles e Ricardo “Biro” Guimarães, Júlio Fraulob e Marcelo Engelhardt encarei uma trilha e pedras escorregadias no meio da mata até conquistar (olhe aí a petulância do trilheiro) a Serra Grande. Ou pelo menos, mais da metade dela, bem na parte que interessa, com as piscinas que parecem infinitas e uma cachoeira delícia de tomar banho e bater fotos.

 A caminhada começou no sítio Água Fria, que fica na zona rural da vila Serra Grande Dois. Para chegar nesse lugar saímos de Boa Vista, pegamos a BR 401 e entramos na RR 206, passamos pela sede do município do Cantá (a 32 km de BVB) e avançamos mais uns 20 ou 30 km em estrada de picarra e terra batida. 

Sítio Água Fria, o começo de tudo

A divisão


Depois que dividimos as coisas de uso comum para carregar nas mochilas, começamos a caminhar. Logo de cara tivemos que atravessar um igarapé. Como não queria molhar os tênis logo nos primeiros 20 metros da jornada, avancei pela margem um pouco e passei pulando pedras. 


Primeiras puladas sobre as pedras


A umidade estava bem alta e logo comecei a suar muito. Sorte que tinha uma garrafa de água congelada comigo e isso ia matando a sede. O caminho começou fácil, mas logo foi ficando complicado, com troncos no meio da trilha e muitas pedras para pular e subir usando mãos e pernas. Me lembrou a etapa final da subida ao monte Roraima, que encarei há muitos anos, no auge de minha forma física, e na qual fiz “crec” no joelho esquerdo na descida. 


Primeiros passos na trilha


Primeiro terço: o cansaço já está batendo



Abaixa que tem árvore no meio

Pula que tem pedra pra subir


Mãos e pés na subida


Como o ritmo da turma estava bem puxado, houve momentos em que me faltou fôlego. Coisas da idade (naqueles dias indo para os 40, agora tendo 41) e do sedentarismo (naqueles dias caminhando cinco km por noite e passando uma semana sem fazer nada). 

A sorte é que cada momento apareciam córregos para pegar água bem gelada e jogar no rosto, aliviando a agonia do cansaço e o calor da mata fechada. E foi no meio da mata que almoçamos paçoca com banana e suco de cajá (ou taperebá, não lembro mais. Só lembro que serviu para recuperar forças e descansar). 


Almocinho no restaurante Trilha da Serra




Como estamos na temporada das chuvas, há muitas oportunidades para refrescar-se no meio do caminho, dando um mergulho para espantar o calor ou apenas pegando água para molhar o rosto. 


Subimos usando GPS, mas a certa altura saímos da rota e fomos parar no pé de uma parede gigante de pedra. Quando vi aquilo pensei: caraca...será que dá para subir isso sem escorregar? Por sorte, lá no topo (amplia a foto que dá para ver a silhueta do povo) estavam duas pessoas. Começamos a falar com elas na base do grito, perguntando se a trilha era por ali e elas responderam que não, que dava numa cachoeira, mas que não era o caminho correto. Demos meia volta e entramos na trilha correta, eu aliviado pela subida em vão que não fizemos…



Sente o tamanho da pedra que ainda bem que não subimos. Lá, na altura da nuvem, estavam duas pessoas

No meio dessas subidas que nunca acabavam, há percursos no meio do leito de pedra do rio que só aparece no inverno. Dele já dá para ver o rio Branco às nossas costas.

O rio Branco lá trás...e ainda tem chão (ou rio) para subir



Leito do rio que se forma na época das chuvas


Escultura de pedras perto da chegada


Finalmente, depois de sair de 110 metros de altitude e fazer quase quatro horas e 3,15 Km de caminhada, finalmente chegamos ao nosso destino, a 514 metros.  Mas não sem antes pular por cima de mais pedras para não molhar os tênis nos riachos e escorregar várias vezes por conta do limo no caminho. 


O gráfico mostrando nosso trajeto

No ponto de chegada, entre 10 e 20 pessoas já estavam instaladas em redes e barracas e tomando banho nas piscinas naturais mais altas. Por isso, depois de montar acampamento, descemos um pouco a serra e tomamos banho em outro ponto. Ainda bem que a visão de “piscina no horizonte infinito” também se via nelas. A água fria que desce do topo da serra nos ajudou a recobrar as energias e ficar muito bem. No meu caso, acrescentei muito alongamento para evitar dores musculares no dia seguinte. 


Piscina do infinito, uma das recompensas por tanto esforço

Tinha dois tipos de peixinhos na piscina. Como subiram é o mistério

Pose zen deste cronista, para ficar blasé na fotos




 Fizemos a montagem das barracas em dois pontos bem próximos: numa ficamos eu, Graziela e Timóteo. Debaixo da outra lona abrigaram-se Júlio, Marcelo e Biro. Nessa montamos o fogão e a iluminação a base de lâmpadas LED alimentadas por uma bateria de motocicleta, garantindo iluminação padrão “casa” para a janta (pão com linguiça frita), o mate e a conversa. O espaço ficou tão bom que o povo das vizinhanças veio esquentar água com a gente e lá pelas 23h rolou até um momento comunitário. 





Antes da noite chegar e depois do banho, fomos curtir o final da tarde na pedra, vendo o sol iluminar o lavrado, o rio Branco e colorir de laranja a mata da serra. Fiz algumas fotos e aí a bateria de meu celular acabou, mas não antes de enviar lá de cima umas fotos via Whastapp para casa.

A recompensa: o lavrado todo à vista, com o rio Branco em primeiro plano. 

Parece foto posada, mas estávamos mesmo curtindo a visão


Julio, Marcelo, Edgar, Timóteo, Graziela e Biro

Sente a luz linda que tínhamos nessa tarde


O sorriso na cara de quem já escorregou muito na subida
 Quando escureceu e os insetos começaram a incomodar, voltamos para as barracas e providenciamos a janta. Choveu um pouco e quando passou decidimos voltar para a pedra para tomar vinho e ouvir música nas caixas de som com bluetooth que o grupo levou. 

Preparando o jantar


Do ponto onde estávamos, víamos à noite os carros saírem de Mucajaí e atravessarem os 50 km da BR 174 rumo a Boa Vista, cuja iluminação se projetava por detrás da serra. Como era sábado, deduzi que o povo estava vindo curtir as baladas na capital. 


Os demais trilheiros foram chegando e daqui a pouco a roda tinha umas quinze pessoas conversando e ouvindo música. O bom momento, com muito vento frio, acabou quando recomeçou a chover, parando logo em seguida. Como já estava bem tarde, fui deitar e parte do povo ficou celebrando a natureza. 


As chuvas voltaram de madrugada, minha rede começou a molhar dos lados, deixando-me à procura da melhor posição para voltar a dormir. Na verdade, só ficou seca a parte do meio. Até o lençol molhou na brincadeira e não parava de chover, molhando tudo ainda mais… A noite mal dormida foi o grande momento ruim do passeio.

Quando amanheceu, lanchamos, tomei banho e lá pelas 9h, 9h30, começamos a descer. Sabe aquele ditado de “para baixo todo santo ajuda”? Pura conversa. Quase todo mundo escorregou e se ralou um pouco na descida. 

Como estava bem úmido, suei bem mais do que na subida. A certa parte, minha pernas tremiam pelo esforço e os tornozelos e joelhos começaram a doer...quando encontrávamos uma parte reta para caminhar, agradecia pelo descanso. Como já estava indo para casa, nem me preocupava mais em pular as partes com riacho. Passava direto. 

Tirando a chuva me incomodou à noite e esse cansaço, não tenho nada de ruim para contar. Valeu muito a pena sair do conforto de casa para curtir a Serra Grande na companhia desse grupo bom de pessoas. 

(É claro que nessa semana não fiz nada de exercícios, dando tempo para que as pernas se recuperassem.)

quinta-feira, março 16, 2017

Crônicas de viagem: passando o Carnaval 2017 na Gran Sabana



Fim de tarde na  Gran Sabana
Como adiantei na última postagem, depois de falar sobre minhas frustrações carnavalescas, chego agora com um relato da viagem que, juntamente com um grupo querido de amigos, fiz para a região da Gran Sabana, ali na Venezuela.


A ideia de não passar o Carnaval aqui em Boa Vista começou a germinar em janeiro. Talvez a única coisa que me parasse aqui na cidade fosse ir ver o Bloco do Mujica, na esperança de ter uma noite carnavalesca como a de 2016, quando a turma deu duas voltas na avenida e rolou uma chuva linda no começo da segunda, espantando um calor que durava semanas já.




Entretanto, as probabilidades da chuva rolar novamente justamente no show do Mujica eram bem pequenas. Melhor partir pro interior e fazer algo diferente, fiquei pensando.




A primeira ideia foi fazer uma jornada até as serras do Uirumutã, no extremo norte de Roraima, passando uns dias explorando as cachoeiras da região mais fria e alta do estado. Mas a estrada para lá é ruim que só, meu carro é pequeno e a conta familiar ia ser bem alta no final. 


Veio a intenção de ir para a serra do Tepequém, à esquerda da BR 174 sentido norte. Cachoeiras, natureza e um festival de jazz eram a pedida. Só que para ir lá o povo já fica ligado bem antes de janeiro. Resultado: todas as pousadas que procuramos (aqui já pensando com os amigos o que faríamos no carnaval) estavam cheios ou com os valores das diárias um pouco acima da altura da serra.





Ficou a Gran Sabana, na fronteira do Brasil com a Venezuela como opção carnavalesca. E que bom que ficou. Quando bateu a tarde de sábado de carnaval, atravessamos eu, Zanny e Edgarzinho uns 200 km de lavrado roraimense rumo à Serra de Pacaraima. No caminho, uma parada de praxe no Km 100 para comprar paçoca e esticar as pernas.



Paçoca na mão






Casinha da montanha
Lá, na casinha mais linda da montanha, já estavam Timóteo, Grazi e Liz esperando pela gente. No outro dia chegaram Filipe, Natasha e a pequena Isabela. 



Na segunda, trocamos nossos reais por bolívares (pegamos as novas cédulas em circulação e com isso diminuímos o volume nas carteiras) e abastecemos no posto de combustível que fica a uns 40 metros da fronteira do Brasil com a Venezuela (com a gasolina sendo vendida a R$ 1,50 o litro, acabaram as intermináveis filas que atrasavam a vida de todo mundo que ia visitar a Gran Sabana).


Amanhecer na rua da casinha da Montanha

Carros abastecidos e bolívares nas carteiras, atravessamos a cidade de Santa Elena de Uairén rumo ao acampamento de Manakachi, distante aproximadamente 180 km da fronteira. Tirando a perturbação do Edgarzinho, que a cada 100 metros perguntava se já estávamos chegando, tudo correu bem no percurso, que tem paisagens muito bonitas, inclusive a visão do Monte Roraima e outros tepuys no horizonte.

Troncal 10, a rodovia que corta a Gran Sabana



Manakachi estava lotado dos viajantes venezuelanos e alguns poucos brasileiros. O nível do rio estava um pouco mais baixo do que quando estivemos lá pela última vez, possibilitando explorar umas partes novas em seu leito de pedra e água bem gelada.

Aummmm....




Fazendo pilhas de pedras em Manakachi

 Quando chegou a noite, instalamos o que o guarda florestal chamou de “pequeno circo” e fizemos uma roda para rir e conversar sentindo frio (coisa rara em Boa Vista), além de beber cerveja e vinho comendo pão com linguiça e jogar “dica”. Tudo isso ouvindo as playlists que o Timóteo e o Filipe haviam baixado do Spotify.  A temperatura chegou aos 18 graus centígrados. Para quem vive num clima sempre acima dos 30º, isso é quase neve.







O circo: lâmpadas de led, churrasqueira e risadas



Lá pela meia-noite decidimos levantar acampamento e irmos para o hotel que fica na frente do trecho conhecido com Rápidos de Kamoirán. Como já havíamos feito a reserva de tarde, conseguimos descansar de boa nos quartos alugados e quentinhos (diária de 20 mil bolívares, equivalente a R$ 20, 00 no câmbio paralelo da fronteira).
 
As únicas coisas ruins do nosso quarto foram não ter tomada para carregar o celular e o chuveiro, que não tem água quente e é fraco demais para molhar rapidamente um corpo inteiro. Como eu não consigo encarar um dia sem tomar banho, a opção quando amanheceu foi entrar no rio, rezar para não congelar e gritar a cada mergulho.


Rápidos de Kamoirán


Depois do banho, tomamos café, abastecemos no posto na frente do hotel (botei uns 15 ou 20 litros e paguei algo como 150 ou 200 bolívares, equivalente, no máximo, a 20 centavos de real) e partimos para conhecer uma cachoeira citada por um conhecido que encontrei no hotel.


A entrada para a outra cachoeira, cujo nome não lembro, fica a uns 5 ou 10 km dos Rápidos de Kamoirán. Tem que sair da troncal 10 e percorrer uns 900 metros. A estradinha é tranquila até para carros baixos como o meu. 



Tomamos banho nela, brincamos um pouco e partimos para almoçar em Santa Elena, jantar em Pacaraima, dormir na casinha da montanha da família TimGraziLiz Camargo e, no outro dia, depois de comer panquecas, voltar para casa. 

Liz e Edgarzinho: panqueca com mel
  
Esse foi o carnaval de 2017. Uma delícia de dias passados em boa companhia, sentindo frio, comendo muito (minha barriga que o diga, rindo muito e fazendo planos para uma nova volta, lá por abril ou maio deste ano.


Se curtiu o relato, mas quer saber mais sobre essa viagem, deixa tua pergunta nos comentários. Sempre respondo.


Abraços viajantes.