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quinta-feira, fevereiro 19, 2015

Como destruir a história de uma cidade no extremo Norte do Brasil


A Diocese de Roraima mandou derrubar o prédio do Hospital Nossa Senhora de Fátima, o  primeiro do estado, construído no começo do século passado. Alegação? As paredes poderiam cair a qualquer momento. Com base nesse argumento conseguiu que a prefeitura de Boa Vista autorizasse o destombamento da edificação e em menos de um mês botou abaixo o que antes era patrimônio histórico. 









A demolição aconteceu na segunda-feira (16), naquele período em que todo mundo está ligado na folga de carnaval. Na terça eu passei por lá à noite. Peguei dois tijolos e levei para casa. Dei sorte, pois as máquinas estavam lá na quarta-feira de cinzas, trabalhando aceleradamente para terminar de apagar a história da cidade. 

Contei para minha avó, nascida e criada em Roraima, que o prédio havia sido demolido. Ela ficou boquiaberta e falou: 

- Meu Deus...Para que fizeram isso? Já pensou no trabalho que deu construir aquilo, ainda mais que antigamente tudo tinha que vir de fora? 

Voltei no outro para ver as ruínas. Vendo as máquinas, me enchi de perguntas:
1)      Com tantas descobertas de técnicas de arquitetura e engenharia, será possível que nenhuma conseguiria segurar as paredes do prédio em pé?

2)      A Diocese não poderia ter buscado recursos ou parcerias que viabilizassem uma ação de recuperação do prédio que ela abandonou e deixou se acabar?
3)      Por que ninguém valoriza a memória histórica da cidade? 

4)      Incompetência e má vontade são requisitos básicos para trabalhar na área do patrimônio histórico e da cultura em Roraima?

5)      Cadê pronunciamento do Conselho Estadual de Cultura, já que o municipal não existe, repudiando a ação da diocese e dando aquela chicotada no poder público por não ter rápida iniciativa que garantisse a manutenção do prédio?

6)      O que aconteceria se os gestores que solicitaram e autorizaram a destombamento, e indiretamente aprovaram a demolição do prédio, fossem governar cidades como Cuzco? Em menos de um ano tudo já estava no chão ou demorava mais um pouco? 

7)      Muitas pessoas talvez não liguem para o patrimônio histórico da cidade, sob a alegação de que se está caindo é melhor derrubar para fazer algo que dê resultados para a vida da população. Estas mesmas figuras serão aquelas que em suas férias viajarão para a Europa e nos passeios nas vielas cheias de casas medievais  vão dizer: já pensou se no Brasil a gente tomasse conta como os europeus?

8)      Qual será o próximo prédio importante a cair?