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terça-feira, junho 24, 2014

Psicologia, poderes mutantes e academia




Diferentemente de João do Santo Cristo, que quando criança só pensava em ser bandido, ainda mais quando de um tiro de soldado o pai morreu, eu pensava em ser psicólogo, ainda mais quando gente bem mais velha vinha conversar comigo buscando soluções para suas vidas confusas e eu conseguir racionalizar e dar-lhes o recado.

Teria sido um bom psicólogo se, quando pós-adolescente, houvesse oferta desse curso em Roraima. Tempos distantes aqueles. De todas as IAS que gostava (filosofia, psicologia, fisioterapia), nada tinha em Roraima. Sobraram-me os cursos por aproximação, pelo gostar. 

Letras ou Comunicação Social? A única universidade daquele tempo no meio do mundo era a UFRR, que publicava um livreto com as ementas e a relação de disciplinas de cada curso. Escolhi jornalismo a um dia de encerrarem as inscrições no vestibular. Tudo pelo nome bonito da disciplina “Comunicação Comunitária”. 

- Vamos falar com as pessoas, nas comunidades? Que legal, pensei, iludido. Nunca rolou, mas as pedras e os meses sim. Formei-me jornalista. O primeiro graduado da família. Mamãe ficou feliz, muito feliz. O vô Borges ficou um orgulho só com a vó Maria. 

Depois, bem depois, buscando ocupar o tempo, fui cursar Antropologia. No meio do curso, mudei para Sociologia. No final da primeira semana de cada semestre, pensava: o que estou fazendo aqui? Já tenho carreira, emprego e estresse suficiente com isso. 

Mesmo assim, continuava, semestre após semestre, greve após greve. Formei-me sociólogo com nota dez no trabalho de conclusão de curso. Histórias de velhos na Jaime Brasil. Curti fazer aquilo. Foi duro, mas consegui. Meu orientador ficou emocionado, quase chorou. Um lindo ele, titulação de mestre tendo a minha idade. Ou era mais novo? Bem, era uma referência para tentar fazer um mestrado. Nunca fiz, nunca consegui. Nem mesmo agora, que poderia, estou conseguindo. Cada um carrega suas pedras e as minhas fazem enormes barreiras a serem transpostas.

Mas do que estava escrevendo mesmo no começo? Ah, sim. Sobre como poderia ter sido um bom psicólogo. Quem sabe? Ainda consigo ouvir bem as pessoas e dar orientações claras a seus questionamentos. Muitas não seguem. Outras pensam, colocam em prática e se dão bem. Ou, pelo menos, ficam melhores que antes. Quer dizer, acho. 

Tenho alguma facilidade para extrair das pessoas o que elas têm de melhor. Basta que me esforce um pouco e supere minha preguiça de conviver e viver. Mas o fato que merece destaque é a capacidade de conseguir o contrário. 

Consigo me surpreender com a minha rapidez em fazer as pessoas destilarem contra mim o que carregam de mais pesado e ruim dentro delas. E faço isso sem querer, inconscientemente, assim, tipo um poder mutante, como aqueles personagens de HQs que depois viram miniaturas e a gente coleciona. 

Rolou semana passada isso. Surto coletivo de raiva e mágoa surgindo inesperadamente no meio da noite pelas estradas digitais da vida. 

Pensei ter perdido esse dom esquisito, mas esqueci a regra básica da mutação: grandes poderes trazem grandes confusões.

quarta-feira, junho 16, 2010

Notas sobre junho (para não esquecer no futuro)


1. A maldita tendinite continua. Acho que vou trocar a mão direita por uma nova. Basta arranjar uma de meu modelo.

2. Quando chove, chove. Quando esquenta, esquenta e muito em BV. O clima está ficando doido.

3. O Brasil jogou ontem com os meus primos da Córeia do Norte. Como os coreanos perderam, o castigo será ter que beber um litro de urânio enriquecido.

4. Edgarzinho deu um susto ontem. Escondeu-se em um guarda-roupa, chamou por mim bem baixinho (papai...), ninguém o viu e todo mundou pirou buscando o moleque. A preta velha Zanny quase morre de pavor tentando encontrá-lo. Eu dei a volta na casa, saí por um portão e entrei pelo outro e nada (Ah, Edgar, se tu estás me ouvindo e não respondes ao meu chamado, vais ver!). Na segunda volta à casa, o encontraram, sorrindo, dentro do armário, comemorando o primeiro grande susto na mãe, pai, tia, prima Elenita e vó Maria José. Ainda bem que dona Neide não estava por lá.

5. Lembre-te: Edgarzinho saiu à noite pelo portão da casa de minha cumadi Érica Figueiredo e me deu um novo susto. Dei-lhe uma chamada. Nâo contei para Zanny.

6. Tenho que caminhar mais para desfazer o perfil de jabulani.

E agora, respeitável público que não comenta nada neste blog, mando do fundo do blog uma postagem que hoje, 16 de junho, completa cinco anos de publicada originalmente:

Verborragia

Cuspiu na minha cara, dei-lhe um soco. A polícia chegou junto, levou os dois. Mas ele não fez nada. É tudo culpa da oposição. É uma intriga para desestabilizar o país. Chamem um substantivo qualquer e verão como ele aceita suborno. Mensadão, corrigiu o nobre deputado, já de olho no meu bolso e passando uma caneta Mont Blanc para assinar o cheque. Obrigado, prefiro ver uma partida de futebol.

Yes, habemus soccer, beach e estivas em geral. O que? Não! Sul-americanos sim, mas latinos, não. Isso é coisa de cucaracho, dizem nossos primos dos EUA. E se é bom para eles, é bom para nós. Ou não? Mas ter economias em dólar é melhor que ser bacana em real. Na real.

Gringo, eu? Não. Globalizado, antenado, pós-moderno. Tucano? Petista? Ah, pára com isso, eu sou é brasileiro. Eu sou o melhor de meu país, me ensinou um publicitário. Sou cidadão, sim. Não, esse papo de ecologia, respeito aos direitos das minorias e desenvolvimento sustentável é coisa de reacionário, de quem está vendendo a nação para o estrangeiro. Eu quero é progresso e se for preciso derrubar umas árvores, que mal tem?

Ei, esconde esse jornal e essa revista e não deixa ninguém ver a reportagem mostrando que passei a mão naquela grana. O que diriam de mim, senhor? Perdoa esses pecadores que insistem em xeretar a vida alheia. Aliás, se falar mal de algum amigo vai ter. Vai rolar a festa. Ok, separa um filetinho, muito bem. Vamos, sempre em frente.

quarta-feira, julho 15, 2009

Fim

No último momento pensou em tudo o que poderia ter feito. Comparou com as suas realizações, acrescentou os momentos de felicidade e somou.
Que se danassem a dor e o desconforto de morrer idoso e doente na cama de um hospital. Sua vida havia sido bem vivida.

sexta-feira, maio 22, 2009

No rumo dos cinco anos blogando

(Da Série Remember)


O post aí completa dois anos neste sábado. Seu Borges abateu-se muito desde aquele maio em que escreveu essa resposta. Coisas da idade, coisas naturais.
Fica aí então mais esse texto de anos passados enquanto não chega a festa da meia década do Crônicas de Fronteira.

Histórias de amor familiares

Quarta-feira, Maio 23, 2007

Edgar Borges Ferreira, meu avô, é um poeta que nunca fez poesias. Eis a resposta escrita dele à minha pergunta sobre o começo do namoro com minha avó, dona Maria José, na segunda metade da década de 1940. Se alguém me arranjar descrição melhor para um começo de relacionamento, pago um sorvete.
Edgar Neto: como começou o namoro de vocês?
Edgar Avô: um primeiro olhar de reconhecimento; um segundo olhar mais desembaraçado; um terceiro olhar totalmente correspondido; um aperto de mãos e a explosão da paixão.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Como criar um filho

Definir as regras de criação de um filho não é fácil. Qualquer deslize e você o terá no divã do psicoanalista, na mesa do bar ou no banco dos réus argumentando que a forma como foi criado é responsável pelos seus problemas juvenis ou adultos.

É por isso que sempre gostei de ouvir histórias de criação. A mais recente é a do fotografo Orib Ziedson e seu filho Gabriel, que tem cerca de 10 anos.

Ziedson conta que o guri vai quatro vezes por semana às aulas do projeto Arte Jovem do Sesi, onde tem aulas de um monte de coisas, como música, teatro e não sei mais o quê. Além disso,
Gabriel, que às vezes carrega a mesma cara de mal-humorado do pai, tem aulas de caratê à noite (por isso o jovem faixa amarela também é um dos líderes da turminha).

Como eu mesmo gostaria de ter estudado um instrumento musical quando era mais jovem mas a minha mãe, por N motivos, não me matriculou, elogiei a iniciativa do Orib de estimular o guri a fazer tantas atividades.

Orib me diz que, mesmo com as críticas da avó materna do Gabriel alegando um possível stress do moleque, é partidário do seguinte estilo de vida:

- Eu fui criado sabendo que criança deve fazer o que os pais querem. Se o Gabriel vai ser vagabundo depois que crescer é problema dele, mas enquanto estiver comendo de meu pirão, é do meu jeito: arte, estudos e esporte. Disso ele não vai poder reclamar.

Dona Maria José, minha avó, pensa da mesma forma: criança, velho e soldado deve obedecer determinações superiores. Por isso já está decidido o que farei quando o meu filho nascer: sendo
indiazinha ou indiozinho, terá uma criação exemplar, sem as molezas dos meninos brancos.

Para começar, já defini a regra número 1: aprendeu a caminhar e está com fome? Muito bem, pegue o arco e a flecha e vá caçar ou coletar.

Agora só falta combinar com a mãe a aplicação do AC (Ato de Criação) 1.

segunda-feira, maio 07, 2007

Chegaram as águas de maio

Finalmente o verão amazônico está chegando ao fim. Chove em Boa Vista desde o sábado à noite, com pequenos intervalos para dar um tempo à terra seca, desacostumada às chuvas.
As noites agora ficarão mais frias, nada parecidas com os últimos dias, por exemplo, quando o calor, somado à falta de brisa, parecia asfixiar a cidade. Agora ficará mais fácil de sair no meio da tarde sem sentir a pele queimando.
O inverno é bom para os agricultores plantarem, é bom para pessoas como eu, que ficam de mau humor quando está muito quente. É ruim para quem inventou de fazer casas sobre os lagos que havia na cidade e perto dos igarapés e rios. É ruim também para os agricultores que vivem nas vicinais no interior do Estado. Nesta época, fica difícil transitar nas estradas de barro e escoar a produção.
É bom para passear no intervalo entre uma chuva e outra. É ruim para secar a roupa lavada no final de semana. É bom para namorar debaixo do lençol e tomar chocolate quente. É ruim para namorar no portão.
O inverno é bom para pensar e ouvir música no escuro. É ruim para fazer show ao ar livre.
Mas que tanto, que venham as chuvas com força total. Como bem disse minha avó Maria José, “tava na hora do inverno dar um chute no verão”.