Conversas possíveis
Para e inspirado em Orib Ziedson.
- Oi! Tudo bem? Passei alguns meses fora da cidade. Sentiu saudades de mim?
- Não.
................
- Fulana não gosta de ti. Diz que tu és muito arrogante e grosseiro.
- E eu com isso? Dependo dela por acaso?
......................
- E aí, como vão as coisas?
- Quer saber por quê? Tens alguma coisa a ver?
sexta-feira, outubro 15, 2004
quarta-feira, outubro 13, 2004
(Para melhor compreensão, a gerência recomenda ler antes o post do dia 22 de setembro)
Me dê uma cerveja. Hum, muito bom matar a sede nesse calor, né? O senhor é o dono do bar? Bonito estabelecimento. Por acaso o senhor conversou com um rapaz parecido com o desta foto nos últimos dias? Quem sou eu? Eu trabalho para a família desse rapaz. Eles querem saber onde ele está metido. Afinal, há anos que não se tem notícias dele.
O senhor viu? Sim, claro, na foto ele está bem mais novo. Não, se ele falou que mantém contato periódico com a mãe, mentiu. A última vez que a pobre senhora ficou sabendo dele foi há uns oito anos.
Como eu cheguei aqui se ninguém sabe dele há tanto tempo? Ora, eu sou uma detetive muito bem treinada, filiada à Central Única Federal dos Detetives do Brasil - Ltda há vários anos. Venho na cola dele há umas vinte cidades. Já topei com ex-mulheres dele, com ex-patrões, com amigos. Todos têm uma história interessante para contar. Qual é a do senhor?
Como assim o senhor não revela as conversas com outros fregueses? O senhor é padre, por acaso? Desculpe, não quis ofendê-lo. Mas deixa eu adivinhar o que ele falou. Contou que largou os estudos, juntou um dinheirinho e foi rodar o mundo? Que já fez todo tipo de serviço para conseguir o dinheiro da próxima passagem? Certo, certo. Ele só não falou que é herdeiro de uma das maiores fortunas da América Latina, né? Nem tampouco que é considerado um gênio em física quântica pelos maiores doutores de vários países? Ele comentou que conseguiu o doutorado com menos de vinte anos de idade?
É, o homem é tudo isso. E um pouco louco, é claro. Largar os luxos da família para conhecer o mundo da maneira mais dura possível é coisa de quem estudou muito e ficou maluco.
Ele comentou para onde ia? Litoral? Estranho. Pelo jeito dele viajar nos últimos anos, água não deveria ser o próximo destino. Sim, eu tenho um banco de dados,com todas as informações cruzadas. Sei o que gosta de comer e de beber, tenho a média de permanência em cada lugar e...Como? No máximo, sete meses por cidade. Mas é o suficiente para arranjar confusões ou ser amado por todos. Ele é simpático, pelo que me disseram. Bonito eu sei que ele é.
Vai ser um prazer encontrá-lo. Mas me conte mais sobre a conversa que tiveram. Ele falou em algum livro também? Parece que vem com essa idéia há alguns anos. O engraçado é ele reclamar da falta de dinheiro para viabilizar a produção. Como assim o senhor não vai comentar nada? Tá bem, tá bem. Se eu pagar uma rodada para todo o bar, o senhor me diz pelo menos o nome da cidade para onde ele foi?
Me dê uma cerveja. Hum, muito bom matar a sede nesse calor, né? O senhor é o dono do bar? Bonito estabelecimento. Por acaso o senhor conversou com um rapaz parecido com o desta foto nos últimos dias? Quem sou eu? Eu trabalho para a família desse rapaz. Eles querem saber onde ele está metido. Afinal, há anos que não se tem notícias dele.
O senhor viu? Sim, claro, na foto ele está bem mais novo. Não, se ele falou que mantém contato periódico com a mãe, mentiu. A última vez que a pobre senhora ficou sabendo dele foi há uns oito anos.
Como eu cheguei aqui se ninguém sabe dele há tanto tempo? Ora, eu sou uma detetive muito bem treinada, filiada à Central Única Federal dos Detetives do Brasil - Ltda há vários anos. Venho na cola dele há umas vinte cidades. Já topei com ex-mulheres dele, com ex-patrões, com amigos. Todos têm uma história interessante para contar. Qual é a do senhor?
Como assim o senhor não revela as conversas com outros fregueses? O senhor é padre, por acaso? Desculpe, não quis ofendê-lo. Mas deixa eu adivinhar o que ele falou. Contou que largou os estudos, juntou um dinheirinho e foi rodar o mundo? Que já fez todo tipo de serviço para conseguir o dinheiro da próxima passagem? Certo, certo. Ele só não falou que é herdeiro de uma das maiores fortunas da América Latina, né? Nem tampouco que é considerado um gênio em física quântica pelos maiores doutores de vários países? Ele comentou que conseguiu o doutorado com menos de vinte anos de idade?
É, o homem é tudo isso. E um pouco louco, é claro. Largar os luxos da família para conhecer o mundo da maneira mais dura possível é coisa de quem estudou muito e ficou maluco.
Ele comentou para onde ia? Litoral? Estranho. Pelo jeito dele viajar nos últimos anos, água não deveria ser o próximo destino. Sim, eu tenho um banco de dados,com todas as informações cruzadas. Sei o que gosta de comer e de beber, tenho a média de permanência em cada lugar e...Como? No máximo, sete meses por cidade. Mas é o suficiente para arranjar confusões ou ser amado por todos. Ele é simpático, pelo que me disseram. Bonito eu sei que ele é.
Vai ser um prazer encontrá-lo. Mas me conte mais sobre a conversa que tiveram. Ele falou em algum livro também? Parece que vem com essa idéia há alguns anos. O engraçado é ele reclamar da falta de dinheiro para viabilizar a produção. Como assim o senhor não vai comentar nada? Tá bem, tá bem. Se eu pagar uma rodada para todo o bar, o senhor me diz pelo menos o nome da cidade para onde ele foi?
segunda-feira, outubro 11, 2004
12 de outubro.
Enquanto no Brasil, as atenções estão voltadas para as missas em homenagem a Nossa Senhora de Aparecida e para a entrega de presentes às crianças, a América espanhola rememora a chegada oficial dos espanhóis ao continente.
Foi em 1492 que as embarcações de Cristóvão Colombo atracaram na ilha denominada Guanahaní, rebatizada de San Salvador e atualmente ilha de Watling.
Como fariam os portugueses oito anos depois, quando "descobriram" o que hoje chamamos de Brasil, Colombo decretou a ilha como propriedade de um reino além-mar sem consultar seus habitantes, que olhavam admirados o brasão e a cruz, símbolos de seus novos governantes e de sua nova religião.
O resto da história, pelo menos em parte, todo mundo conhece.
Para ilustrar melhor o começo de tudo, uma canção do guatemalteco Ricardo Arjona, do disco Galeria Caribe:
Carabelas
Carabelas cargadas de malos presagios
emisarios de la trampa y de la colonización
tocan tierra provocando un gran naufrágio
cargados de demonios y una nueva religión
pisaron tierra de Guanahaní
bienvenida la desolación.
Esos sueños de estafa y de saqueo
ese gusto por el oro y esas ansias de poder
es el cáncer que aún enferma al heredero
es la historia de una tierra condenada a padecer.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
Enquanto no Brasil, as atenções estão voltadas para as missas em homenagem a Nossa Senhora de Aparecida e para a entrega de presentes às crianças, a América espanhola rememora a chegada oficial dos espanhóis ao continente.
Foi em 1492 que as embarcações de Cristóvão Colombo atracaram na ilha denominada Guanahaní, rebatizada de San Salvador e atualmente ilha de Watling.
Como fariam os portugueses oito anos depois, quando "descobriram" o que hoje chamamos de Brasil, Colombo decretou a ilha como propriedade de um reino além-mar sem consultar seus habitantes, que olhavam admirados o brasão e a cruz, símbolos de seus novos governantes e de sua nova religião.
O resto da história, pelo menos em parte, todo mundo conhece.
Para ilustrar melhor o começo de tudo, uma canção do guatemalteco Ricardo Arjona, do disco Galeria Caribe:
Carabelas
Carabelas cargadas de malos presagios
emisarios de la trampa y de la colonización
tocan tierra provocando un gran naufrágio
cargados de demonios y una nueva religión
pisaron tierra de Guanahaní
bienvenida la desolación.
Esos sueños de estafa y de saqueo
ese gusto por el oro y esas ansias de poder
es el cáncer que aún enferma al heredero
es la historia de una tierra condenada a padecer.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
quinta-feira, outubro 07, 2004
Cenas de bar
Duas da manhã. Éramos quatro, bebendo e ouvindo uma banda tocar velhos clássicos do rock. O balcão estava sujo. Na hora não percebi isso. Mas no dia seguinte, as provas estavam na manga comprida na camisa.
Nos intervalos entre uma música e outra, o burburinho predominava. E o cheiro de fumaça de cigarro industrial e de outros tipos tomava conta do ar. Estava quente. O calor só diminuía a cada cerveja. A necessidade de refrescar-se fazia que todos se aproximassem do nosso pedaço de balcão, congestionando o espaço.
Ele estava perigosa e estrategicamente bem posicionado entre o caixa e os garçons. Com a direita pegava a bebida e com a esquerda pagava. Quando saia do lugar, alguém ficava de guarda. Sempre o mais animado, estranhamente naquela noite era dono de uma calma que poderia ser chamada de melancólica ou perigosa.
Entre nós, as apostas sobre as coisas de sempre subiam. Mulheres para conquistar, garrafas a serem esvaziadas, o corpo da bailarina mais atraente.
E ele, quieto, apenas observando o movimento.
De repente, ela se aproximou do balcão. Vestido curto preto molhado de suor, cabelo longo e castanho, bonita. Cumprimentaram-se. Pareciam velhos amigos. As apostas agora haviam duplicado. Pelo estado de ânimo dele, joguei tudo no lance da conversa não durar mais uma canção.
Conversaram um de frente para o outro por três minutos, o tempo de um velho blues. Ele ainda aparentando distância. Eu, próximo de ganhar a aposta.
No intervalo, ela sussurrou uma frase no ouvido dele e sorriu. Ele respondeu, sorrindo também. Consegui ouvir ele dizendo "não me faz pensar bobagens. Há dias em que o coração de um homem está mais vulnerável que em outros e a cabeça e o corpo não se entendem."
Trocaram olhares e duas novas frases, afastaram-se do balcão, deixaram o bar e eu perdi a aposta.
Duas da manhã. Éramos quatro, bebendo e ouvindo uma banda tocar velhos clássicos do rock. O balcão estava sujo. Na hora não percebi isso. Mas no dia seguinte, as provas estavam na manga comprida na camisa.
Nos intervalos entre uma música e outra, o burburinho predominava. E o cheiro de fumaça de cigarro industrial e de outros tipos tomava conta do ar. Estava quente. O calor só diminuía a cada cerveja. A necessidade de refrescar-se fazia que todos se aproximassem do nosso pedaço de balcão, congestionando o espaço.
Ele estava perigosa e estrategicamente bem posicionado entre o caixa e os garçons. Com a direita pegava a bebida e com a esquerda pagava. Quando saia do lugar, alguém ficava de guarda. Sempre o mais animado, estranhamente naquela noite era dono de uma calma que poderia ser chamada de melancólica ou perigosa.
Entre nós, as apostas sobre as coisas de sempre subiam. Mulheres para conquistar, garrafas a serem esvaziadas, o corpo da bailarina mais atraente.
E ele, quieto, apenas observando o movimento.
De repente, ela se aproximou do balcão. Vestido curto preto molhado de suor, cabelo longo e castanho, bonita. Cumprimentaram-se. Pareciam velhos amigos. As apostas agora haviam duplicado. Pelo estado de ânimo dele, joguei tudo no lance da conversa não durar mais uma canção.
Conversaram um de frente para o outro por três minutos, o tempo de um velho blues. Ele ainda aparentando distância. Eu, próximo de ganhar a aposta.
No intervalo, ela sussurrou uma frase no ouvido dele e sorriu. Ele respondeu, sorrindo também. Consegui ouvir ele dizendo "não me faz pensar bobagens. Há dias em que o coração de um homem está mais vulnerável que em outros e a cabeça e o corpo não se entendem."
Trocaram olhares e duas novas frases, afastaram-se do balcão, deixaram o bar e eu perdi a aposta.
quarta-feira, outubro 06, 2004
Divagações sobre o existir
Existem sentimentos que são um embaraço de pernas, um emaranhado de cabelos, de dedos e toques, olhos e corpos...Porque há sentimentos que se confundem com o nosso próprio eu.
Érica Figueiredo, jornalista e mãe de Bia, afilhada querida.
Quando nos distanciamos de nós mesmos, devemos voltar às nossas origens, porque lá pode estar a resposta que precisamos para o nosso próprio reencontro.
Professor Roberto Ramos, doutor em Ciência Política e reitor da UFRR.
Existem sentimentos que são um embaraço de pernas, um emaranhado de cabelos, de dedos e toques, olhos e corpos...Porque há sentimentos que se confundem com o nosso próprio eu.
Érica Figueiredo, jornalista e mãe de Bia, afilhada querida.
Quando nos distanciamos de nós mesmos, devemos voltar às nossas origens, porque lá pode estar a resposta que precisamos para o nosso próprio reencontro.
Professor Roberto Ramos, doutor em Ciência Política e reitor da UFRR.
quinta-feira, setembro 30, 2004
segunda-feira, setembro 27, 2004
"Setembro
Setembro chegou e o pouco de felicidade que eu guardava se foi em uma mala e uns sapatos na mão."
O Vandré não explicou se foi largado ou não pela namorada ou se é apenas um comentário aleatório sobre a vida.
O fato é que o post no seu blog me lembra que setembro é um péssimo mês para manter a felicidade, seja qual for a área ou motivo.
É claro que sempre há os do contra, lembrando que grandes amores e conquistas profissionais foram obtidas nesta época do ano. Esperar mais o quê dos otimistas?
Para justificar minha aversão a todo setembro, confirmada ano após ano (é quando geralmente volto das férias - folgas no sul-sudeste do País), vamos a mais uma da etapa da auto-proclamada bem-sucedida série Escritos para mulheres especiais:
Primeiro de setembro
Hoje minhas paixões
Vão reencontrar-se
Com seu pares.
Continuarei só,
Perguntando aos passantes
Se viram a estrela brilhante
Do crepúsculo.
Hoje minha história
Perde mais uma personagem
Uma mais que abandona
O palco da minha vida,
Uma co-protagonista
Do teatro mambembe
Praticado por mim.
Hoje estou um pouco
Mais triste,
Um muito mais eu.
Setembro chegou e o pouco de felicidade que eu guardava se foi em uma mala e uns sapatos na mão."
O Vandré não explicou se foi largado ou não pela namorada ou se é apenas um comentário aleatório sobre a vida.
O fato é que o post no seu blog me lembra que setembro é um péssimo mês para manter a felicidade, seja qual for a área ou motivo.
É claro que sempre há os do contra, lembrando que grandes amores e conquistas profissionais foram obtidas nesta época do ano. Esperar mais o quê dos otimistas?
Para justificar minha aversão a todo setembro, confirmada ano após ano (é quando geralmente volto das férias - folgas no sul-sudeste do País), vamos a mais uma da etapa da auto-proclamada bem-sucedida série Escritos para mulheres especiais:
Primeiro de setembro
Hoje minhas paixões
Vão reencontrar-se
Com seu pares.
Continuarei só,
Perguntando aos passantes
Se viram a estrela brilhante
Do crepúsculo.
Hoje minha história
Perde mais uma personagem
Uma mais que abandona
O palco da minha vida,
Uma co-protagonista
Do teatro mambembe
Praticado por mim.
Hoje estou um pouco
Mais triste,
Um muito mais eu.
sexta-feira, setembro 24, 2004
quarta-feira, setembro 22, 2004
Pois é, meu senhor. As coisas não são como parecem. Basta a gente olhar de baixo para cima e tudo muda. É sério. Tem gente estudando isso. Esses doutores da universidade, esse povo que vive com a cara enfiada nos livros. Eu? Não. Eu nunca consegui passar na prova do vestibular. Depois perdi a vontade de estudar. O que fiz? Ah, eu era jovem, tinha umas economias, não gostava da minha cidade e decidi sair pelo mundo.
Passei uns quinze anos viajando por uns três continentes. Sabe aquele filme que passou um dia desses no cinema, aquele do livro, caderno, diário da moto? Então. Não tem aquela parte do deserto que os caras vão caminhando? Eu trabalhei ali pertinho uns cinco meses.
Como, o senhor só assiste jogo de futebol? Ah, mas eu também adoro. Todo domingo vou para um bar ou lanchonete qualquer para ver o campeonato brasileiro. Já foi melhor, sabe? Na Itália eu...sim eu já estive na Itália. Faz muito tempo. Quase que peço a cidadania de lá. Mas briguei com o dono da pizzaria onde trabalhava, quebrei a cara dele e tive de sair fugido do país. Os policiais devem estar me procurando até hoje.
Mas como ia lhe contando...Sim, claro, pode servir mais uma cerveja. Sim, sei que o senhor não tem como ficar só me ouvindo sem vender nada. Me diga, o movimento por aqui é bom? Ah, depende do pagamento do governo para agitar as coisas. Nossa, parece coisa de cidade pequena do interior. Desculpe, não queria ofender o senhor nem a sua cidade. Que legal. O senhor nasceu e se criou aqui, assim como os seus filhos? Poxa, eu não tenho filhos. E da minha família faz uns 18 anos que perdi o contato. De vez em quando ligo para minha mãe para avisar que estou vivo. É verdade. Mãe é uma das melhores coisas do mundo. Bem, não me casei por não encontrar nenhuma mulher que tivesse coragem de me acompanhar nas minhas viagens. Sim, amiguei várias vezes. Teve a Luisa, que era dona de um bar como o senhor. A Matilde era artista, fazia caixinhas de papelão colorido e vendia nas praças. A Joana era professora e escritora. A conheci num coquetel de lançamento de um livro. Tava lá só para filar comida quando começamos a falar sobre música da América Central. Mas eu gostei mesmo foi da Fernanda, balconista de uma farmácia. Adorávamos brincar de doutora e doente.
Mas sabe como é. Tudo se acaba na vida, a estrada chama de novo e a gente tem que seguir os instintos. Acho que eu nasci caminhando, sabe? O que faço aqui? Não, só parei por conta do ônibus. Parece que quebrou uma peça e vamos ficar aqui esta noite. Amanha sigo rumo ao litoral. Dizem que a temporada de pesca tá rendendo um bom dinheiro para quem tem as manhas das redes. É, também fui pescador quando estive no África. Já fiz de tudo na vida para ganhar o dinheiro da passagem do próximo trecho.
Nossa, tá tarde, né? Vou descansar agora naquela pousada da esquina. Não preciso pagar nada? Muito obrigado, senhor. Vou lhe contar mais uma coisa. Quando se chega na minha idade, a gente começa a repensar a história da nossa vida. E eu estou querendo escrever um livro sobre tudo o que vivi. O que o senhor acha?
Passei uns quinze anos viajando por uns três continentes. Sabe aquele filme que passou um dia desses no cinema, aquele do livro, caderno, diário da moto? Então. Não tem aquela parte do deserto que os caras vão caminhando? Eu trabalhei ali pertinho uns cinco meses.
Como, o senhor só assiste jogo de futebol? Ah, mas eu também adoro. Todo domingo vou para um bar ou lanchonete qualquer para ver o campeonato brasileiro. Já foi melhor, sabe? Na Itália eu...sim eu já estive na Itália. Faz muito tempo. Quase que peço a cidadania de lá. Mas briguei com o dono da pizzaria onde trabalhava, quebrei a cara dele e tive de sair fugido do país. Os policiais devem estar me procurando até hoje.
Mas como ia lhe contando...Sim, claro, pode servir mais uma cerveja. Sim, sei que o senhor não tem como ficar só me ouvindo sem vender nada. Me diga, o movimento por aqui é bom? Ah, depende do pagamento do governo para agitar as coisas. Nossa, parece coisa de cidade pequena do interior. Desculpe, não queria ofender o senhor nem a sua cidade. Que legal. O senhor nasceu e se criou aqui, assim como os seus filhos? Poxa, eu não tenho filhos. E da minha família faz uns 18 anos que perdi o contato. De vez em quando ligo para minha mãe para avisar que estou vivo. É verdade. Mãe é uma das melhores coisas do mundo. Bem, não me casei por não encontrar nenhuma mulher que tivesse coragem de me acompanhar nas minhas viagens. Sim, amiguei várias vezes. Teve a Luisa, que era dona de um bar como o senhor. A Matilde era artista, fazia caixinhas de papelão colorido e vendia nas praças. A Joana era professora e escritora. A conheci num coquetel de lançamento de um livro. Tava lá só para filar comida quando começamos a falar sobre música da América Central. Mas eu gostei mesmo foi da Fernanda, balconista de uma farmácia. Adorávamos brincar de doutora e doente.
Mas sabe como é. Tudo se acaba na vida, a estrada chama de novo e a gente tem que seguir os instintos. Acho que eu nasci caminhando, sabe? O que faço aqui? Não, só parei por conta do ônibus. Parece que quebrou uma peça e vamos ficar aqui esta noite. Amanha sigo rumo ao litoral. Dizem que a temporada de pesca tá rendendo um bom dinheiro para quem tem as manhas das redes. É, também fui pescador quando estive no África. Já fiz de tudo na vida para ganhar o dinheiro da passagem do próximo trecho.
Nossa, tá tarde, né? Vou descansar agora naquela pousada da esquina. Não preciso pagar nada? Muito obrigado, senhor. Vou lhe contar mais uma coisa. Quando se chega na minha idade, a gente começa a repensar a história da nossa vida. E eu estou querendo escrever um livro sobre tudo o que vivi. O que o senhor acha?
segunda-feira, setembro 20, 2004
Foi a primeira que viu seu espaço visitado por ela. O que fazia lá, não trabalhava em outro setor da empresa onde raramente havia tempo para visitas sociais? A empresa até que tentava, mas o departamento de Recursos Humanos não era comandado por pessoas capazes o suficiente para implementar uma boa política da excelente vizinhança.
Apertos de mãos, como vai você, como vai o trabalho, nossa que projeto legal, como estamos cansados, vai piorar e outras frases de efeito foram ditas e repetidas. E o diretor do RH ali, supervisionando o intercâmbio entre os setores.
Venha conhecer minha mesa, olha que lindo o meu mouse, pois é não tenho vista para o horizonte, que bacana o teu ar-condicionado, faz um mal para a gripe que você nem imagina, dizia a visita, respondia o visitado.
Pois é vou embora, mas agora que ia te mostrar meu arquivo de piadas, volte sempre que puder, apareça também, falaram os dois, numa tentativa desesperada de retornar aos seus postos de trabalho e de sair do campo de visão da chefia.
E o diretor do RH, ali, explodindo de felicidade com o sucesso de sua política de integração entre os funcionários.
Apertos de mãos, como vai você, como vai o trabalho, nossa que projeto legal, como estamos cansados, vai piorar e outras frases de efeito foram ditas e repetidas. E o diretor do RH ali, supervisionando o intercâmbio entre os setores.
Venha conhecer minha mesa, olha que lindo o meu mouse, pois é não tenho vista para o horizonte, que bacana o teu ar-condicionado, faz um mal para a gripe que você nem imagina, dizia a visita, respondia o visitado.
Pois é vou embora, mas agora que ia te mostrar meu arquivo de piadas, volte sempre que puder, apareça também, falaram os dois, numa tentativa desesperada de retornar aos seus postos de trabalho e de sair do campo de visão da chefia.
E o diretor do RH, ali, explodindo de felicidade com o sucesso de sua política de integração entre os funcionários.
sexta-feira, setembro 17, 2004
Agora que o frio roraimense começa a deslocar-se para outros lugares, nada como uma opinião sobre ele. De Zanny Adairalba, escondida poeta do cotidiano:
Dias frios... cama quentinha, lençóis limpinhos, meia nos pés... (Um computador em algum canto da casa esperando ser usado. Alguém enrolado num cobertor e com uma xícara de chocolate quente à mão, pronto a expor os pensamentos a serem tatuados no universo...) Lápis, papel... letras... frases... histórias...
É... dias frios são deliciosos!!
Dias frios... cama quentinha, lençóis limpinhos, meia nos pés... (Um computador em algum canto da casa esperando ser usado. Alguém enrolado num cobertor e com uma xícara de chocolate quente à mão, pronto a expor os pensamentos a serem tatuados no universo...) Lápis, papel... letras... frases... histórias...
É... dias frios são deliciosos!!
quarta-feira, setembro 15, 2004
As questões do mundo
Todos os seres humanos cobram, querem ou pedem algo de quem os rodeia. Isso é da sua natureza. Agiotas sempre querem mais juros dos credores. Mães exigem dos filhos boas notas no colégio. Filhos querem ser os preferidos dos pais. O governo não se cansa de cobrar e criar impostos. Países pobres imploram o tempo inteiro por ajuda. Líderes, mesmo que não diretamente, querem ser seguidos. Religiosos, fé. Novos amantes, que se abandonem os antigos. Homens e mulheres, fidelidade de seus parceiros. Já alguns filhos de pais separados conformam-se com o pagamento das consultas do analista. Professores, mesmo que nunca demonstrem, cobram atenção. Sobrinhos pedem presentes. Velhos amantes desejam a permanência do outro no leito. Prostitutas se conformam com um rápido gozo do freguês. Garçons, indelicados como só eles, pedem apenas uma gorjeta e os 10% da conta.
Sogros são mais moderados. Exigem apenas o impossível dos genros e noras. Artistas reclamam se não há palmas no final do espetáculo. Ambientalistas cobram respeito ao meio ambiente. Estudantes são despretensiosos e conformam-se em ser aprovados. Políticos exigem ser votados e reeleitos.
Melhores amigos querem compreensão e aceitação. Os traidores, que nunca sejam descobertos ou julgados. Vendedores cobram de São Pedro que sempre faça sol e nunca chova. Chefes exigem apenas lealdade e sacrifício. Grevistas, aumento salarial. Certas empresas, a concordância com a semi-escravização. Governadores pedem, vez ou outra, trégua à oposição. Caloteiros, não ser enganados. Cineastas pedem aos céus salas de cinema cheias e críticas favoráveis. Oradores, o dom de nunca engasgar.
Deus, até ele, cobra dos seus filhos exclusividade na preferência. Solitários sentem-se felizes quando o mundo lhes dá paz. Já os ninfomaníacos são menos exigentes. Muito sexo, com todo mundo, lhes basta. Esposas e namoradas insatisfeitas cobram orgasmos múltiplos. Mulheres sempre pedem ser tratadas com igualdade e receber salários iguais aos dos homens. Estes, por sua vez, querem dividir a conta do jantar e do cinema. Motoristas querem mais agilidade do governo para resolver o problema dos engarrafamentos. O governo só quer ser esquecido. Animadores de auditório querem ser assistidos. Pregadores, ouvidos. Escritores, inspiração.
Todos os seres humanos cobram, querem ou pedem algo de quem os rodeia. Isso é da sua natureza. Agiotas sempre querem mais juros dos credores. Mães exigem dos filhos boas notas no colégio. Filhos querem ser os preferidos dos pais. O governo não se cansa de cobrar e criar impostos. Países pobres imploram o tempo inteiro por ajuda. Líderes, mesmo que não diretamente, querem ser seguidos. Religiosos, fé. Novos amantes, que se abandonem os antigos. Homens e mulheres, fidelidade de seus parceiros. Já alguns filhos de pais separados conformam-se com o pagamento das consultas do analista. Professores, mesmo que nunca demonstrem, cobram atenção. Sobrinhos pedem presentes. Velhos amantes desejam a permanência do outro no leito. Prostitutas se conformam com um rápido gozo do freguês. Garçons, indelicados como só eles, pedem apenas uma gorjeta e os 10% da conta.
Sogros são mais moderados. Exigem apenas o impossível dos genros e noras. Artistas reclamam se não há palmas no final do espetáculo. Ambientalistas cobram respeito ao meio ambiente. Estudantes são despretensiosos e conformam-se em ser aprovados. Políticos exigem ser votados e reeleitos.
Melhores amigos querem compreensão e aceitação. Os traidores, que nunca sejam descobertos ou julgados. Vendedores cobram de São Pedro que sempre faça sol e nunca chova. Chefes exigem apenas lealdade e sacrifício. Grevistas, aumento salarial. Certas empresas, a concordância com a semi-escravização. Governadores pedem, vez ou outra, trégua à oposição. Caloteiros, não ser enganados. Cineastas pedem aos céus salas de cinema cheias e críticas favoráveis. Oradores, o dom de nunca engasgar.
Deus, até ele, cobra dos seus filhos exclusividade na preferência. Solitários sentem-se felizes quando o mundo lhes dá paz. Já os ninfomaníacos são menos exigentes. Muito sexo, com todo mundo, lhes basta. Esposas e namoradas insatisfeitas cobram orgasmos múltiplos. Mulheres sempre pedem ser tratadas com igualdade e receber salários iguais aos dos homens. Estes, por sua vez, querem dividir a conta do jantar e do cinema. Motoristas querem mais agilidade do governo para resolver o problema dos engarrafamentos. O governo só quer ser esquecido. Animadores de auditório querem ser assistidos. Pregadores, ouvidos. Escritores, inspiração.
segunda-feira, setembro 13, 2004
Meio-dia e meia
No restaurante, Aurélio come apressadamente. Tem de voltar à empresa para acelerar a entrega de um relatório de atividades e começar a escrever um projeto. Entre uma garfada e outra, pensa nas paisagens que viu numa revista de viagens. Como ele gostaria fazer os passeios que os jornalistas descrevem. Mas Aurélio não tem dinheiro suficiente para viajar. Além disso, a pensão das duas filhas leva boa parte de seu salário. Sua única opção de lazer fora da rota casa-trabalho é a banca de revistas do tio, que o deixa folhear as novas edições.
A um quilômetro, Fátima prepara-se para sair dos braços do namorado. Quase esquecia do almoço de família marcado para hoje. Se não bastasse estar um pouco atrasada, nunca aprendeu a maquiar-se em motéis. Para ela, as luzes nunca estão bem posicionadas. Certa vez perguntou a um empreiteiro se iluminação era item menor nestes projetos. Depois do último beijo, sai do quarto e vai para o restaurante. Pelo celular, avisa ao marido que está chegando e culpa o trânsito pelo atraso.
No banco de uma praça, Nina e Mateus terminam as anotações do diário de viagem. Já são 15 estados visitados desde que caíram na estrada. Ainda têm duas semanas para viajar. Calculam que dará tempo para chegar na estréia do grupo teatral dos amigos. A viagem os ajudou a ficar mais próximos, acreditam. As anotações serão fundamentais na redação de vários artigos para o jornal de sua cidade natal e, quem sabe, de um livro. Agora, porém, é hora de comer, não de sonhar.
Na calçada do restaurante, Aurélio espera o carro que vai levá-lo para o trabalho quando vê Fátima chegar. "Essa aí deve ter tudo o que quer, sem precisar preocupar-se com horários. Que inveja", pensa.
Fátima passa sem notá-lo, questionando-se se vale a pena ficar sem tempo para si, ocupada com o marido, a casa, o namorado e a gerência da loja de roupas. "Acho que chegou a hora de pensar em mim. Vou fazer como esses garotos, que não têm tanta responsabilidade e são felizes".
Nina e Mateus, parados em frente ao restaurante, contam o dinheiro para saber se poderão almoçar hoje. Dá para encarar o preço. Vamos almoçar, decidem.
Enquanto isso, novas histórias procuram o seu espaço nas mesas do restaurante.
No restaurante, Aurélio come apressadamente. Tem de voltar à empresa para acelerar a entrega de um relatório de atividades e começar a escrever um projeto. Entre uma garfada e outra, pensa nas paisagens que viu numa revista de viagens. Como ele gostaria fazer os passeios que os jornalistas descrevem. Mas Aurélio não tem dinheiro suficiente para viajar. Além disso, a pensão das duas filhas leva boa parte de seu salário. Sua única opção de lazer fora da rota casa-trabalho é a banca de revistas do tio, que o deixa folhear as novas edições.
A um quilômetro, Fátima prepara-se para sair dos braços do namorado. Quase esquecia do almoço de família marcado para hoje. Se não bastasse estar um pouco atrasada, nunca aprendeu a maquiar-se em motéis. Para ela, as luzes nunca estão bem posicionadas. Certa vez perguntou a um empreiteiro se iluminação era item menor nestes projetos. Depois do último beijo, sai do quarto e vai para o restaurante. Pelo celular, avisa ao marido que está chegando e culpa o trânsito pelo atraso.
No banco de uma praça, Nina e Mateus terminam as anotações do diário de viagem. Já são 15 estados visitados desde que caíram na estrada. Ainda têm duas semanas para viajar. Calculam que dará tempo para chegar na estréia do grupo teatral dos amigos. A viagem os ajudou a ficar mais próximos, acreditam. As anotações serão fundamentais na redação de vários artigos para o jornal de sua cidade natal e, quem sabe, de um livro. Agora, porém, é hora de comer, não de sonhar.
Na calçada do restaurante, Aurélio espera o carro que vai levá-lo para o trabalho quando vê Fátima chegar. "Essa aí deve ter tudo o que quer, sem precisar preocupar-se com horários. Que inveja", pensa.
Fátima passa sem notá-lo, questionando-se se vale a pena ficar sem tempo para si, ocupada com o marido, a casa, o namorado e a gerência da loja de roupas. "Acho que chegou a hora de pensar em mim. Vou fazer como esses garotos, que não têm tanta responsabilidade e são felizes".
Nina e Mateus, parados em frente ao restaurante, contam o dinheiro para saber se poderão almoçar hoje. Dá para encarar o preço. Vamos almoçar, decidem.
Enquanto isso, novas histórias procuram o seu espaço nas mesas do restaurante.
sexta-feira, setembro 10, 2004
quarta-feira, setembro 08, 2004
A debutante
A Universidade Federal de Roraima comemora 15 anos nesta semana. Lá se vão oito anos desde que entrei pela primeira vez numa sala do Campus do Paricarana para estudar Jornalismo.
Mas o primeiro contato com a UFRR foi mesmo em 1993, quando fui professor, por algumas semanas, de um projeto de alfabetização de adultos desenvolvido pela instituição. Nunca ficou bem claro se tinha direito a receber algum trocado. Na dúvida, deixei de lado.
Depois de formado, fui professor durante um semestre, lecionando três disciplinas. Na sala, antigos colegas e uma pirralhada hoje quase toda graduada.
Para manter a mente na ativa enquanto não penso num projeto legal de pós, voltei à UFRR como aluno de Sociologia. (estou no aguardo de uma lei que me permita ser presidente da república. Afinal, se o FHC pôde, eu também quero. Pelo menos de sindicato).
Na universidade, ganhei amigos, conquistei desafetos, tive amores de todos os tipos, fiz política estudantil, ajudei a fazer protestos e organizar eventos culturais. Também percebi um misto de vergonha e senso de justiça nos olhos dos alunos e professores quando o Governo Federal enviou interventores para assumir o lugar de reitores suspeitos de cometer irregularidades ou quando vestibulares foram cancelados por confirmação de fraude.
Participei de duas eleições para a escolha de reitor; de algumas dezenas de assembléias discentes e docentes; de greves e paralisações. Tive aula com professores bons e medíocres, fui colega de gente aplicada e relaxada, entendi muito sobre a arte de ouvir para aprender.
Graças à universidade, tenho uma profissão (Deus sabe o que seria ou onde estaria hoje sem ela) e me sustento honestamente.
Graças à universidade, compreendo parte do mundo que me rodeia e percebo a dialética como um processo interno que deságua na modificação da realidade.
Em resumo, fiz amor e fiz a guerra na universidade. E se o tempo voltasse, faria tudo de novo, fazendo a balança pender um pouco mais para o amor, claro, que é mais gostoso.
A Universidade Federal de Roraima comemora 15 anos nesta semana. Lá se vão oito anos desde que entrei pela primeira vez numa sala do Campus do Paricarana para estudar Jornalismo.
Mas o primeiro contato com a UFRR foi mesmo em 1993, quando fui professor, por algumas semanas, de um projeto de alfabetização de adultos desenvolvido pela instituição. Nunca ficou bem claro se tinha direito a receber algum trocado. Na dúvida, deixei de lado.
Depois de formado, fui professor durante um semestre, lecionando três disciplinas. Na sala, antigos colegas e uma pirralhada hoje quase toda graduada.
Para manter a mente na ativa enquanto não penso num projeto legal de pós, voltei à UFRR como aluno de Sociologia. (estou no aguardo de uma lei que me permita ser presidente da república. Afinal, se o FHC pôde, eu também quero. Pelo menos de sindicato).
Na universidade, ganhei amigos, conquistei desafetos, tive amores de todos os tipos, fiz política estudantil, ajudei a fazer protestos e organizar eventos culturais. Também percebi um misto de vergonha e senso de justiça nos olhos dos alunos e professores quando o Governo Federal enviou interventores para assumir o lugar de reitores suspeitos de cometer irregularidades ou quando vestibulares foram cancelados por confirmação de fraude.
Participei de duas eleições para a escolha de reitor; de algumas dezenas de assembléias discentes e docentes; de greves e paralisações. Tive aula com professores bons e medíocres, fui colega de gente aplicada e relaxada, entendi muito sobre a arte de ouvir para aprender.
Graças à universidade, tenho uma profissão (Deus sabe o que seria ou onde estaria hoje sem ela) e me sustento honestamente.
Graças à universidade, compreendo parte do mundo que me rodeia e percebo a dialética como um processo interno que deságua na modificação da realidade.
Em resumo, fiz amor e fiz a guerra na universidade. E se o tempo voltasse, faria tudo de novo, fazendo a balança pender um pouco mais para o amor, claro, que é mais gostoso.
sexta-feira, setembro 03, 2004
Atendendo a pedidos, mais uma da série "Escritos para mulheres especiais."
Perguntas no mar
A manhã surge no convés do navio e
A mesma pergunta de todos os dias é refeita:
Que estranho som é este que nos persegue e enfeitiça,
Que nos prende e libera a seu gosto, canto de sereia invisível?
As ondas, nas quais deslizam barcos aventureiros,
Balançam indiferentes ao nosso esforço e suor.
Somos corsários, piratas, descobridores.
Somos caçadores na terra prometida, habitamos o além-mar.
Navegamos em águas profundas, tememos apenas o horizonte,
Lá onde o oceano termina, lá na casa dos deuses.
O sol ergue-se soberano, acorda os ventos, clareia o céu,
As velas se agitam e nenhum pássaro pousa nos mastros.
Teremos um dia sem tormentas, sem surpresas,
Bem longe de um porto seguro, sem gaivotas para espantar.
O dia termina para novamente a lua reinar suprema
E, de novo, ninguém descobre que canto é este,
Que domina marinheiros sem pátria ou razão
E os impulsiona a conquistar reinos abissais
Respirando com dificuldade e fazendo-os perguntar-se:
Que águas são estas que escorrem pelas nossas mãos?
Que sete mares são estes, agitados e pacíficos,
Neste sul e norte afastados por um ponto cardeal qualquer?
Perguntas no mar
A manhã surge no convés do navio e
A mesma pergunta de todos os dias é refeita:
Que estranho som é este que nos persegue e enfeitiça,
Que nos prende e libera a seu gosto, canto de sereia invisível?
As ondas, nas quais deslizam barcos aventureiros,
Balançam indiferentes ao nosso esforço e suor.
Somos corsários, piratas, descobridores.
Somos caçadores na terra prometida, habitamos o além-mar.
Navegamos em águas profundas, tememos apenas o horizonte,
Lá onde o oceano termina, lá na casa dos deuses.
O sol ergue-se soberano, acorda os ventos, clareia o céu,
As velas se agitam e nenhum pássaro pousa nos mastros.
Teremos um dia sem tormentas, sem surpresas,
Bem longe de um porto seguro, sem gaivotas para espantar.
O dia termina para novamente a lua reinar suprema
E, de novo, ninguém descobre que canto é este,
Que domina marinheiros sem pátria ou razão
E os impulsiona a conquistar reinos abissais
Respirando com dificuldade e fazendo-os perguntar-se:
Que águas são estas que escorrem pelas nossas mãos?
Que sete mares são estes, agitados e pacíficos,
Neste sul e norte afastados por um ponto cardeal qualquer?
quarta-feira, setembro 01, 2004
Conversas de rua
Rita - E aí, Betânia, tudo bem?
Betânia - Tudo bem o quê, sua traíra?
Rita - Ih, que foi? Que trairagem tu acha que fiz contigo?
Betânia - Tu trairou legal comigo que tô sabendo.
Rita - Fala logo aí.
Betânia - Tô sabendo que tu deu uns pegas no Marcelo.
Rita - Aí, dei mesmo. Qualé então, tu não tem namorado?
Betânia - Tenho, mas tu sabe que o Marcelo é meu marmita. Sacanagem da tua parte.
Rita - Putz, tinha esquecido disso. Quer dizer que tu ainda dá uns pegas nele também?
Betânia - De vez em quando, só pra relaxar.
Rita - Ô, amiga, desculpa. Juro que não faço mais isso.
Betânia - Jura mesmo? Tem que respeitar a carne que os outros comem, pô!
Rita - Juro que sim, amiga.
Betânia - Então tá perdoada. Ei, tu já viu aquele gatinho parado ali perto do poste?
Rita - Mô lindão, né? E aí, vamu dá um chega nele?
Betânia - Só ser for agora!
Rita - E aí, Betânia, tudo bem?
Betânia - Tudo bem o quê, sua traíra?
Rita - Ih, que foi? Que trairagem tu acha que fiz contigo?
Betânia - Tu trairou legal comigo que tô sabendo.
Rita - Fala logo aí.
Betânia - Tô sabendo que tu deu uns pegas no Marcelo.
Rita - Aí, dei mesmo. Qualé então, tu não tem namorado?
Betânia - Tenho, mas tu sabe que o Marcelo é meu marmita. Sacanagem da tua parte.
Rita - Putz, tinha esquecido disso. Quer dizer que tu ainda dá uns pegas nele também?
Betânia - De vez em quando, só pra relaxar.
Rita - Ô, amiga, desculpa. Juro que não faço mais isso.
Betânia - Jura mesmo? Tem que respeitar a carne que os outros comem, pô!
Rita - Juro que sim, amiga.
Betânia - Então tá perdoada. Ei, tu já viu aquele gatinho parado ali perto do poste?
Rita - Mô lindão, né? E aí, vamu dá um chega nele?
Betânia - Só ser for agora!
segunda-feira, agosto 30, 2004
Juliana, a rainha da folia
Como é feito todos os anos, o prefeito da emergente cidade de Santa Rita dos Aparecidos, reeleito e feliz, planeja um carnaval que traga muitas divisas para o município, levantando as economias dos empresários e alegrando os foliões, que esquecem de todas as dívidas, provações, incompetências, filhos, esposas e maridos durante alguns bons e mundanos dias. A primeira providência é escolher um rei e uma rainha. Afinal, assim reza a tradição: um gordo alegre e uma morena faceira e com samba no pé devem receber a chave da cidade.
Nas escolas de samba, agitação é palavra de ordem. Os presidentes encomendam aos olheiros que caprichem no serviço e lhes tragam a mais bela das sambistas, seja ela escolhida entre as meninas da própria escola, seja entre as freqüentadoras dos clubes de pagode. Na escola Avenida da Central, a procura é frenética, afinal está em jogo não apenas a honra conquistada por uma das suas componentes de reinar na folia, mas o bicampeonato carnavalesco.
Cinco morenas são examinadas ao som da bateria. Juliana, cabelos cacheados, lábios carnudos, pernas torneadas, sorriso fácil e cintura-de-mola é a escolhida. Tem pela frente um desafio, pois as outras escolas não deixaram por menos nas indicações.
No dia da escolha, muito nervosismo. Juliana arrebata o título de rainha sem muitos problemas. Samba com alegria e desperta a paixão de vários espectadores, que oscilam entre os galanteios rudes (gostosa, tu é a mulher que mamãe sonhou para mim), os mais ou menos (nossa, namora comigo e te dou minha vida) e os metidos a poeta (tua beleza me desnorteia, linda mulher que flutua enquanto dança).
Mas Juliana não dá bola a ninguém. Ela já tem o seu homem. Isso até descobrir que ele a estava traindo com a rainha da bateria. Aí, enraivecida, promete vingança no meio da folia. Sorte do irmão do rei Momo, um repórter fotográfico escalado pela organização para acompanhá-lhos em todas as festas. Haviam se conhecido durante a visita que todas as candidatas fizeram ao prefeito. Simpatizaram logo de cara. Na primeira noite de carnaval, fuga dupla para uma praia do rio Piná. Vinho, queijo, beijos... Assim correu o mundo até a quarta-feira de cinzas, quando as obrigações do malvado mundo real separaram os novos amantes e cada um voltou a seus respectivos amores. Do velho carnaval da reeleição, sobraram apenas lembranças, uma fotografia e silêncio sobre o romance. Mas eles, lá no fundo, esperam ansiosos pela micareta, onde velhas paixões costumam esquecer tudo durante mundanas horas.
(Publicado originalmente no carnaval de 2001, no extinto semanário A Tribuna do Estado de Roraima)
Como é feito todos os anos, o prefeito da emergente cidade de Santa Rita dos Aparecidos, reeleito e feliz, planeja um carnaval que traga muitas divisas para o município, levantando as economias dos empresários e alegrando os foliões, que esquecem de todas as dívidas, provações, incompetências, filhos, esposas e maridos durante alguns bons e mundanos dias. A primeira providência é escolher um rei e uma rainha. Afinal, assim reza a tradição: um gordo alegre e uma morena faceira e com samba no pé devem receber a chave da cidade.
Nas escolas de samba, agitação é palavra de ordem. Os presidentes encomendam aos olheiros que caprichem no serviço e lhes tragam a mais bela das sambistas, seja ela escolhida entre as meninas da própria escola, seja entre as freqüentadoras dos clubes de pagode. Na escola Avenida da Central, a procura é frenética, afinal está em jogo não apenas a honra conquistada por uma das suas componentes de reinar na folia, mas o bicampeonato carnavalesco.
Cinco morenas são examinadas ao som da bateria. Juliana, cabelos cacheados, lábios carnudos, pernas torneadas, sorriso fácil e cintura-de-mola é a escolhida. Tem pela frente um desafio, pois as outras escolas não deixaram por menos nas indicações.
No dia da escolha, muito nervosismo. Juliana arrebata o título de rainha sem muitos problemas. Samba com alegria e desperta a paixão de vários espectadores, que oscilam entre os galanteios rudes (gostosa, tu é a mulher que mamãe sonhou para mim), os mais ou menos (nossa, namora comigo e te dou minha vida) e os metidos a poeta (tua beleza me desnorteia, linda mulher que flutua enquanto dança).
Mas Juliana não dá bola a ninguém. Ela já tem o seu homem. Isso até descobrir que ele a estava traindo com a rainha da bateria. Aí, enraivecida, promete vingança no meio da folia. Sorte do irmão do rei Momo, um repórter fotográfico escalado pela organização para acompanhá-lhos em todas as festas. Haviam se conhecido durante a visita que todas as candidatas fizeram ao prefeito. Simpatizaram logo de cara. Na primeira noite de carnaval, fuga dupla para uma praia do rio Piná. Vinho, queijo, beijos... Assim correu o mundo até a quarta-feira de cinzas, quando as obrigações do malvado mundo real separaram os novos amantes e cada um voltou a seus respectivos amores. Do velho carnaval da reeleição, sobraram apenas lembranças, uma fotografia e silêncio sobre o romance. Mas eles, lá no fundo, esperam ansiosos pela micareta, onde velhas paixões costumam esquecer tudo durante mundanas horas.
(Publicado originalmente no carnaval de 2001, no extinto semanário A Tribuna do Estado de Roraima)
quinta-feira, agosto 26, 2004
Investigación de primer mundo
En la plaza Bolívar, de Guasipati. De repente, se para el carro de la policia y se bajan los agentes, pistolas en puño, apuntando a los tres jovenes.
- ¡Manos p´árriba!
- Que pasó?
- ¡Manos p´arriba, péguense a la pared! ¡Documentos!
- Aquí están, pero que pasa, señor policía?
- De quien es aquel carro?
- Que carro?
- Aquel que está parao en la esquina.
- No sabemos.
- Como no sabem? No es de ustedes? Ustedes no estaban en la esquina?
- Si, pero ni lo habíamos visto.
- Dónde tu vives?
- En la Vuelta Del Diablo...
- Nunca te vi por aqui. Tu vives aquí mismo?
- Si.
- Y tu? Vives aquí también?
- Si.
- Bueno, súbanse los tres al carro ahora.
- Pero por qué?
- Coño, súbanse. ¡Los estoy mandando!
- Pero por qué?
- ¡Que te subas,chico!
(Os policiais continuam apontando suas armas enquanto todos entram no camburão. Seis quadras depois, na delegacia, o comandante fala com eles)
- O sea, que ninguno de ustedes es el dueño del carro?
- No, señor, nosotros no tenemos carro.
- Y que hacían paraos en la esquina de la plaza?
- Hablando...
- Y qué, no trabajan?
- Somos estudiantes.
- Ah, OK, estudiantes.
- Y por qué nos trajeron?
- Es que un tipo amenazó de muerte a un señor y estaba vestio como ustedes, con una camisa azul, una gorra como la tuya y un blue jeans.
- Pero no somos nosotros, señor.
- Bueno, es que ustedes eran sospechosos. Y además, estaban paraos cerca del carro.
(entram vários policiais com um homem algemado)
- Lo cogimos, comandante. Lo encontramos cerca de la plaza.
- Bueno, muchachos, ahora que probamos que ustedes no amenazaron a nadie, pueden irse. Compórtense bien, OK? Y no se pongan así. Ustedes saben que ese es el trabajo de la policía. Váyanse tranquilos.
terça-feira, agosto 24, 2004
Um coral formado por120 crianças de 6 a 14 anos apresentando-se no parlatório da Universidade Federal de Roraima durante o V Painel Internacional de Regência Coral é algo comum, esperado até, tendo em vista o tipo de evento.
Mas o coral, bem afinado e levemente nervoso na que foi sua primeira apresentação, é especial. Para começar, apresenta suas músicas em dois idiomas. Os ensaios, apenas nos finais de semana, são feitos nas aldeias indígenas Tabalascada, Malacacheta e Canauanim, a mais de 20 quilômetros de asfalto, piçarra e muita lama ou poeira, de acordo com a época do ano, de Boa Vista.
Além disso, o regente do coral e seus alunos têm em comum algo mais do que o gosto pela música. Todos são wapixana, uma das etnias historicamente vítimas do que parte da sociedade roraimense costuma chamar de convivência harmoniosa entre índios e não-índios (Por convivência harmoniosa, entenda-se uma relação de subalternidade na qual a força do branco predomina).
Cristino Pereira dos Santos é o responsável pelo coral, nascido a partir de uma ação autônoma que ele chamou de Projeto Canto Indígena. Há seis meses, todos os sábados ele deixa Boa Vista para ir ao município do Cantá e ensinar música às crianças. O professor conta que a ansiedade de alguns alunos é tanta que vários começam a rondar o salão de aula uma hora antes das lições começarem, às 8h.
Os frutos começam a ser colhidos. Na estréia, o coral apresentou canções próprias e cantos tradicionais na língua materna e em português. Vestidos com saias de palha, com acompanhamento de um violão e de um violino, o coral já tem sua solista, uma chimeba (menina) que se apresentou apenas com a palha de buriti e tinta de urucum cobrindo seu corpo.
A cantoria em língua nativa, além da preservação de sua cultura, representa um trabalho de valorização da auto-estima dos indígenas. Quando algumas famílias migram para as áreas urbanas, os mais novos costumam negligenciar a herança que carregam em troca de uma integração mais rápida com a nova sociedade da qual fazem parte.
Até o final de ano, conta Cristino, o projeto deve ampliar seu alcance, consolidando o coral, um grupo de violonistas e um grupo de composição musical. Tudo isso tendo como única ajuda oficial 20 litros de gasolina mensais doados pela Funai (Fundação Nacional do Índio).
Segundo o professor, seu trabalho é motivado por ter consciência que "a cultura muda a mentalidade das pessoas e que o governo não dá isso porque assim consegue controlar a gente". Uma platéia formada em parte pelos filhos da própria sociedade que ignora as necessidades dos indígenas, em parte por pessoas sensíveis à causa destes povos, além dos pais das crianças e alunos do louvável projeto de licenciatura Insikiram, mantido pela UFRR, aplaudiu a disposição do professor e seus alunos em demonstrar que 500 anos de sofrimento e exclusão é um tempo insuficiente para acabar com o orgulho de ser índio.
Mas o coral, bem afinado e levemente nervoso na que foi sua primeira apresentação, é especial. Para começar, apresenta suas músicas em dois idiomas. Os ensaios, apenas nos finais de semana, são feitos nas aldeias indígenas Tabalascada, Malacacheta e Canauanim, a mais de 20 quilômetros de asfalto, piçarra e muita lama ou poeira, de acordo com a época do ano, de Boa Vista.
Além disso, o regente do coral e seus alunos têm em comum algo mais do que o gosto pela música. Todos são wapixana, uma das etnias historicamente vítimas do que parte da sociedade roraimense costuma chamar de convivência harmoniosa entre índios e não-índios (Por convivência harmoniosa, entenda-se uma relação de subalternidade na qual a força do branco predomina).
Cristino Pereira dos Santos é o responsável pelo coral, nascido a partir de uma ação autônoma que ele chamou de Projeto Canto Indígena. Há seis meses, todos os sábados ele deixa Boa Vista para ir ao município do Cantá e ensinar música às crianças. O professor conta que a ansiedade de alguns alunos é tanta que vários começam a rondar o salão de aula uma hora antes das lições começarem, às 8h.
Os frutos começam a ser colhidos. Na estréia, o coral apresentou canções próprias e cantos tradicionais na língua materna e em português. Vestidos com saias de palha, com acompanhamento de um violão e de um violino, o coral já tem sua solista, uma chimeba (menina) que se apresentou apenas com a palha de buriti e tinta de urucum cobrindo seu corpo.
A cantoria em língua nativa, além da preservação de sua cultura, representa um trabalho de valorização da auto-estima dos indígenas. Quando algumas famílias migram para as áreas urbanas, os mais novos costumam negligenciar a herança que carregam em troca de uma integração mais rápida com a nova sociedade da qual fazem parte.
Até o final de ano, conta Cristino, o projeto deve ampliar seu alcance, consolidando o coral, um grupo de violonistas e um grupo de composição musical. Tudo isso tendo como única ajuda oficial 20 litros de gasolina mensais doados pela Funai (Fundação Nacional do Índio).
Segundo o professor, seu trabalho é motivado por ter consciência que "a cultura muda a mentalidade das pessoas e que o governo não dá isso porque assim consegue controlar a gente". Uma platéia formada em parte pelos filhos da própria sociedade que ignora as necessidades dos indígenas, em parte por pessoas sensíveis à causa destes povos, além dos pais das crianças e alunos do louvável projeto de licenciatura Insikiram, mantido pela UFRR, aplaudiu a disposição do professor e seus alunos em demonstrar que 500 anos de sofrimento e exclusão é um tempo insuficiente para acabar com o orgulho de ser índio.
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