segunda-feira, maio 16, 2005

Promessas


Ela perguntou:
- Mas o que aconteceu conosco? Você não me prometeu ser normal caso um dia tudo terminasse?

Ele respondeu, seco, raivoso:
- Eu não prometi nada! Quem falou nessas bobagens foi você!

Frustrações, rancores e um silencioso afastamento os acompanharam a partir daquele dia.

quinta-feira, maio 12, 2005

Fahrenheit 451, a corrente

Odeio videoquê. Sobretudo se for em festa de aniversário.
Detesto bandas de forró, principalmente as desafinadas.
Tenho urticárias quando me convidam para fazer aqueles "bolões" de dinheiro, dizendo animados que é mais rápido que a poupança.
Mas o que não gosto mesmo é daquelas correntes do bem, do tipo "esta pobre criancinha precisa de sua contribuição ou morrerá em um mês se você depositar grana agora na conta XXXX", do gênero "repasse para sete amigos e me devolva caso você goste mesmo de mim", ou das ameaçadoras: "ou você repassa ou sua sexualidade, sua conta bancária, sua família, seus estudos e seu blog serão seriamente afetados."
Mas, para ficar de bem com a tia Luma, que ameaça processar, devido a uma ameaçadora nota, a Associação dos Índios Blogueiros da Amazônia Legal, Venezuela e Países Adjacentes, da qual sou sócio emérito, e para não desfazer do Alê, dono de um dos primeiros blogs que conheci, vou encarar uma corrente literária que nasceu lá em Portugal, salvo engano.

Mas antes, uma explicação: Fahrenheit 451, segundo demonstrou exaustiva pesquisa no google, é o nome de um filme de François Truffaut no qual rola uma queimação de livros semelhante às épocas mais sombrias da humanidade. O título é uma referência à temperatura em que os livros são queimados. Convertido para Celsius, esta temperatura equivale a 233 graus.


Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Nenhum. Se não pudesse sair, seria queimado como livro,o que, convenhamos, não é o sonho de nenhum livro.

Já alguma vez ficaste perturbado por um personagem de ficção?
Todas as vezes que leio Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez, acontece isso. A saga dos Buendía é perturbadora.

O último livro que compraste?
Dois de uma só vez: Saturno nos Trópicos, do Moacyr Scliar, e o Livro do dessassego, de Fernando Pessoa.

Qual o último livro que leste?
O que é positivismo, João Ribeiro Jr., da Coleção Primeiros Passos. (Viva as obrigações acadêmicas!)

Que livro estás a ler?
Pra valer: História das Idéias Sociológicas, de Parson aos Contemporâneos, de Michel Lallement.
Pendurados na estante: uma coletânea de Pablo Neruda, o primeiro livro do poeta amazonense Thiago de Mello, outra coletânea do poeta Carlos Nejar e os de Pessoa e Scliar. Sem contar um do Che Guevara.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Se a estadia fosse curta, os que nunca li: Ulisses; um exemplar com seleção das melhores poesias de Paulo Leminski e outro de Baudelaire; algo de um escritor da geração beatnik; e Macunaíma.

A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?
Para o e-pistoleiro Avery, que sabe-se lá como arranja tempo para estudar, trabalhar e ler. Para a , que fazia tempo que não passava por aqui e sempre abre seus posts com um texto alheio creditado. O último felizardo será Luiz Valério, que ficou apaixonado pela escritora Ana Miranda e só fala em livros e blogs desde então.

quarta-feira, maio 11, 2005

Comentando os comentários

É surpreendente como a imaginação pode gerar vários finais para um texto. A história de Marisa e João teve de tudo.
Do cheiro nada excitante do alho a uma paixão que atravessou décadas, sentindo o gosto do que (talvez, não se pode afirmar nada) tenha sido a primeira vez do mocinho.
Melhor do que isso é ver como cada redator usa suas referências para traçar o destino do personagem. Para mim, a multiplicidade de versões é o melhor dos posts coletivos.
Mas o comentário off topic do Fabrício me fez perceber que não fui bem claro ao propor esta nova rodada de criação coletiva.
A intenção, não sei se todos entenderam, era criar vários finais para o texto. Ou seja, cada comentário seria uma finalização, diferente da proposta anterior (do mês passado, com Lady Laura e as cantadas do Ismael), que era cada um continuar a história até que o final surgisse naturalmente após dez participações (o naturalmente é ótimo quando pré-determinado, né?)
Bom, está aberto o espaço dos comentários para cada um falar do final do outro e do seu e sugerir uma normatização para posts coletivos do tipo "Faça seu final em um parágrafo" e do gênero "Continue a história por tantos posts".

segunda-feira, maio 09, 2005

Post coletivo II

Continuando as experiências que só a internet pode proporcionar, convido meus amigos a completarem este texto, com mais um parágrafo, escrevendo o final que desejarem.

.........


Me coma, garotinho,disse Marisa a um estupefato João, 15 anos, filho da vizinha, habitual observador de seus banhos vestida apenas com uma camiseta no quintal.

Anda, Joãozinho, vem aqui, repetiu a mulher, cerca de 30 anos, mãe de um garoto de sete que costumava brincar com o videogame de João.

Vem ou não, perguntou Marisa, levantando o vestido curto e mostrando que estava sem nada por baixo para o pequeno João, que ela havia visto de relance várias vezes observando-a pelos buracos do muro velho e rachado.

Hã, como,não entendi, gaguejou João, sentindo que algo crescia nele e não era nada parecido com coragem ou o medo de ser pego naquele momento por sua mãe, a esperá-lo na casa ao lado.

Você não me queria? Estou aqui, vem, disse a exuberante Marisa, pernas grossas, bunda modelada com muito exercício e um cabelo negro que terminava na cintura.

João, hipnotizado pela visão das nádegas de Marisa, que estava de costas para ele, mãos apoiadas na mesa e o vestido levantado, quase sem ar decidiu encarar o destino com firmeza. Depois daquela tarde, nunca mais seria o mesmo.

quinta-feira, maio 05, 2005

Dicas de bem viver

Para pensar positivo:

O seu dia está ruim? Imagine se você morasse no Iraque...

Para ser empreendedor:

Se a vida só te dá limões, vá vender caipirinha na praia.

terça-feira, maio 03, 2005

Madrugando

Foi assim, ele saiu de manhã.
Nas costas, o cansaço da despedida.
Na boca, o gosto da madrugada.
Antes de fechar a porta,
um olhar para o palco da batalha
E a vontade de contrariar o relógio.
Na saída, a lembrança de jogos,
Suores, olhares, sorrisos,
Promessas e comentários
Não repetíveis em público.
Ficaram para trás a penumbra.
Foi-se com ele a promessa
De mais uma noite para
Entender o destino que
Se escreve prosa pelas
Linhas da poesia.

sábado, abril 30, 2005

Sabadaço na XVI Feira de Livros do Sesc RR



A apresentação de sexta na XVI Feira de Livros do Sesc foi recheada de emoções. Velozes fugitivos de nossos empregos, Nei e eu chegamos cedo ao palácio Latife Salomão, onde rola a movimentação, para montar toda a parafernália necessária. Ainda bem.

Depois do Sesc trocar a CPU, que não tinha placa de fax-modem, disponibilizada para o estande da biblioteca, deu um tilt na conexão telefônica. Mexe aqui, mexe ali, reconfigura parte do computador, concluímos que o melhor seria resumir a apresentação. Nada de internet. Nada de visualizar blogs então. Corremos para o pagefront, fizemos uma página na hora com os tópicos e mandamos ver.

Dividimos as falas e apresentamos. Companheiro da correria, Luiz Valério deu pinta na feira e mandou bem na parte que lhe coube.

Falamos de interatividade, alcance, links, comunidades blogueiras, liberdade de expressão, potencialidades do blog, blá, blá, blá.

Hoje, lamentavelmente o Nei não poderá participar. Seu filhinho inventou de aniversariar justo durante a Feira. E como ele quer muito bem à sua pele e não deseja confusão com sua esposa, passou o dia inteiro carregando cadeiras e mesas para a festança que vai rolar na mansão dos Costa. E o pior é que o coisa não me passou o endereço certo...

quinta-feira, abril 28, 2005



Em 2002, encarei o os 2.875 metros do Monte Roraima. Facinho, facinho para um indiozinho. Neste final de semana, em companhia do Nei, vou encarar a XVI Feira de Livros do Sesc. Vamos escalar, ops..., falar sobre literatura virtual, blogs e coisas do tipo. No bolo, propaganda de graça de um monte de blogueiros. Por isso, caros, publiquem coisas legais para não nos fazer passar vergonha...

Ah, lá na Feira estaremos criando um blog para o Sesc. O endereço, valendo a partir das 20h de sexta (29 de abril) será www.pocoesdepoesia.blogspot.com . lá.

quarta-feira, abril 27, 2005

Da série Apropriações Indébitas

Tem que saber curtir.
O problema é a ressaca.

By Danilo, o Cara, sobre excessos aos finais de semana.

terça-feira, abril 26, 2005

Da Série Ouvidos na Rua

Na loja de sapatos, as duas vendedoras:

- Então, tu fez o que no final de semana?
- Ai, foi tão bom!
- Conta como foi.
- No sábado, depois do expediente, fui em casa tomar um banho e fui pra casa da minha irmã. Tava tendo um aniversário lá. Passei a tarde toda e um pedaço da noite da turma dela, jogando baralho e dançando. Menina, bebi e comi o tempo todo.
- Caraca, tava bom demais então!
- Meia-noite sumi com um gato que tava na festa. Precisava ver. Lindo. Branquinho, olhos azuis....Ai (suspiro), acordei tarde no domingo...


(E ainda tem gente que reclama da vida. Não sabe aproveitar como a moça, já viu.)

segunda-feira, abril 25, 2005

"Jazz é masturbação musical."

Jimmy Rabbitte, empresário da banda The Commitments, aquela do filme ?Loucos pela fama.? Quem nunca assistiu, corra. Está passando desde a semana passada no canal MGM.

"Mustag Sally
Guess you better slow your Mustang down

Mustang Sally, baby?"

quarta-feira, abril 20, 2005

Manifestação no Centro Cívico por conta da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol

Alugaram ônibus para transportar pessoas de graça; fecharam as portas de parte do comércio central; falaram (e como falaram) bobagens nas rádios; acusaram o governo Lula de vende-pátria; clamaram por justiça; alertaram sobre conflitos na reserva; disseram (sem me consultar) que o desejo de todos os roraimenses não era a reserva em área única; aproveitaram a deixa para sair do PT; escreveram sobre cidadania, direitos iguais entre desiguais, falta de compromisso da União com os esquecidos do Norte; teorizaram sobre o troco nas urnas; usaram fitas negras para simbolizar o luto do Estado; publicaram anúncios de página inteira expressando sua revolta; pintaram um futuro negro para Roraima; e como se estivéssemos em outro mundo, avisaram que a economia voltaria a depender do pagamento do funcionalismo público.

Mas ninguém explicou como é que viramos território federal em 1962, passamos a Estado em 1988 e nunca conseguimos superar o discurso de "agora sim, vamos progredir."

terça-feira, abril 19, 2005

Dia do índio em Roraima

Aqui, onde missionários e outros conquistadores fizeram a feira com aldeamentos e escravizações dos indígenas;
onde a história oficial nega que alguma vez houve conflitos durante o processo de ocupação das terras;
onde meninas índias eram (e ainda são) trazidas para as cidades para estudar e viravam domésticas e brinquedinhos sexuais dos patrões;
onde predomina o preconceito contra quem vive nas aldeias;
onde há morte e violência constante no campo;
onde fazendeiros plantam em terras demarcadas mesmo sabendo da ilegalidade do ato e são considerados vítimas;
onde os interesses da maioria chocam-se com os da minoria;
onde a minoria não se entende na hora de definir quais são seus interesses;
onde a elite diz que ser culpada por alguma coisa é estratégia de entreguistas da nação para beneficiar índios que não querem ser isolados;
onde o governador decreta luto oficial de sete dias por conta da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol;
onde a mídia simplesmente ignora quem apóia a demarcação e concede espaços privilegiados a quem a combate;
onde dizem que direitos históricos se confundem com interesses obscuros;
onde todos perguntam para que tanta terra para tão pouco índio;
onde até o vendedor de picolés diz ser contra a demarcação mesmo nunca tendo tido um pedaço de terra na região;
onde o discurso dos direitos da minoria já encheu a paciência;
onde discuti-los é pior do que falar sobre religião e política;
e onde o Estado cancelou todas as programações referentes à data em protesto contra a demarcação;
bem, aqui, eu, como neto de uma macuxi que foi casada com um fazendeiro, vou exigir o meu pedaço de terra, trabalhar com agricultura e ecoturismo e ficar rico. Afinal, eu também tenho direitos!!! Fui!!!!!!!

sexta-feira, abril 15, 2005

Taí o resultado do post coletivo. Agora, é cada um ler e fazer suas avaliações do conjunto. De preferência, compartilhando.
Posso dizer que nunca havia feito nada parecido. Escrever sempre foi uma ação solitária justamente para não entrar em conflito de idéias. O que imaginava para a história não tem nada a ver com o que resultou. Mas gostei da experiência.
Valeu, caros Ismael, Rah, Luma, Avery, Patrício, Luis Ene, Nanda, Nora e Nei.
Depois fazemos de novo.


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O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.

Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.

Bateu o telefone e ficou esperando nova chamada. Quando atendeu foi logo gritando:- Você não tem nada melhor pra fazer além de incomodar quem está trabalhando? Minha vida era bem melhor antes de você. Quer saber? Vá lamber sabão, junte-se aos Médicos Sem-fronteira ou raspe a cabeça e vire Hare Krishna. Cansei, veja se... mamãe?!

- Não mãe, era brincadeira minha com o pessoal aqui, é claro que estou lembrado de pegar a sua amiga no aeroporto. Inventou qualquer desculpa e desligou rápido antes de se transformar em piada permanente do escritório como o filho da careca hare krishna. Já passava das 19h e era uma boa distância até o aeroporto que ficava fora da cidade. Não sabia por que deixava sua mãe convencê-lo de fazer estes favores desconfortáveis para estranhos. E agora esta maluca telefonando do nada, não havia hora mais inoportuna.

Preparava-se para arrancar para o aeroporto quando o celular tocou. "Te odeio. Mas mesmo. Você nem imagina quanto." Era ela de novo. Ficou a olhar para o ecrã que dava indicação que a chamada terminara. Nem conseguira dizer coisa alguma. Mas agora tinha o seu número...

No caminho do aeroporto torcia para que a amiga de sua mãe fosse ao menos uma loba enxutinha, charmosa. Gostava de mulheres mais velhas, e vez por outra fantasiava um sexozinho com a Malú, amiga de adolescência da mãe. Esperou o telefone tocar novamente, mas nada aconteceu...

O Trânsito devia estar horrível...seria uma boa desculpa para se atrasar na ida para o aeroporto. Mentir é uma habilidade social? Sim. Neste caso. Com a certeza absoluta que ela ainda o amava, senão, não iria se preocupar em dizer tantos "eu te odeio" e ela estaria ali por perto...

Por perto, talvez não seja esta a definição.Ele está dentro dela, preenchia-a as entranhas com amor e carinho e depois exigiu que ela terminasse com esse sentimento.Ela lutava contra ele e contra si.Tentava transformar aquele ódio em amor. E estava conseguindo.

Como não as alternativas não eram muitas, resolveu que aproveitaria ao máximo essa tarefa. subiu no carro e pegou seu cd do 'frank jorge', presente de lady laura, uma ex-amante gaúcha dona de grande cultura musical e grande habilidade no sexo oral. enquanto enfrentava o congestionamento, relembrava do dia que a conheceu em porto alegre, numa festa na casa de um amigo em comum.

Talvez esse fosse o motivo. Tudo dele era imediato e cômodo. E uma mentirinha de vez em quando não ia mudar sua vida. É, quando ela é aceita e impressa pode virar um romance e se é passada na tv, vira novela. Mas como se chamava na vida real? Ele começou com a certeza e acabou na dúvida. Ah, se ela se contentasse com a dúvida, acabaria tudo certo.

Mas não. Ela e suas certezas. Ela e suas grandes aspirações, seus filmes complicados, suas neuroses allenianas. Talvez fosse melhor fingir suicídio e voltar para o único lugar que ela jamais lhe procuraria: aquela aldeia tutsi onde se conheceram. Ali sim, talvez encontrasse a paz. Ou um grupo de hutus enfurecidos.

Quase perdeu a entrada do aeroporto enquanto fingia não estar esperando mais uma vez o telefone tocar. No desembarque não havia muitas pessoas e assim teve certeza que estava muito atrasado, mas favores nem sempre são perfeitos e certamente a tal amiga saberia apreciar sua boa vontade. Em segundos ficou boquiaberto ao perceber sua passageira diante do carro. Não era uma loba, era uma pantera na casa dos trinta.

De sopetão ele se apaixonou. Os olhares se cruzaram e ele sentiu um pulsar forte no peito e o suor frio escorrer por seu rosto ainda rubro. Já não esperava mais um telefonema e nem se lembrava de um passado tão próximo.

- Qual é o número da ficha, que não tenho tempo a perder com filas, baby!

Pensou: "Parece que ela é realmente apressadinha como eu" e estacionando o carro, saiu correndo para se apresentar. Entraram no carro e o telefone tocou. Desligou e disse: "A bateria está fraca". Deu-lhe um sorriso enviesado e ela idem. Pensou: "e aquela tonta a ligar...ah, os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas". Preso nesses pensamentos, sentiu a necessidade de dizer algo: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita. Vai ficar muito tempo?"

Ela olhou-lhe bem no fundo do fundo dos olhos e disse-lhe lentamente: "Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio." Ele sorriu, ia ser um excelente relacionamento.

Sorrindo meio provocador, com mais astúcia do que habilidade, arriscou: - Mas por que você me odeia tanto se ainda nem nos conhecemos direito? - Talvez pela cantada juvenil: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita?!" Faça-me o favor, menino! Eu não sabia que minha amiga tinha um filho tão sem criatividade! Uma decepção! Um rapaz tão bonito!Mas o tiro saíra pela culatra. Se estava decepcionada era porque esperava outra coisa...

Ele se calou, mas ficou observando os gestos dela pelos cantos dos olhos. Notou o momento em que ela pegou o telefone e num movimento suspeito deixou-o cair sobre as suas coxas. Ele ainda tentou pegá-lo, mas não teve tempo.

O telefone havia sido engolido pela abertura das pernas da mulher. Ela o olhou e sorriu maliciosa, perguntando: se tocar, como te achei bonito, apesar de bobinho, deixo você pegá-lo. Ele sorriu, pensando em como seria bom que uma ligação de alguém declarando ódio eterno se repetisse logo, logo.Dirigiu impacientemente, esperando que sua mão ficasse boba quando fosse atender o xingamento.

quarta-feira, abril 13, 2005

A proposta é seguinte, meus amigos: continuem vocês a história a seguir.
As condições, para não virar uma bagunça, como a vida nas cidades fronteiriças geralmente é, são estas:
1) A cada comentário, o co-escritor terá direito a seis frases, incluindo aqui possíveis falas dos personagens que acrescentar.
2) Se quiser contribuir, mas não quiser colocar seu nome, tudo bem. Só não vale desqualificar as contribuições anteriores.
3) Para que não fique muito extensa ou muito curta, a história será encerrada no décimo comentário. Só peço que não fiquem esperando o décimo para poder participar.
4) Cada co-escritor poderá contribuir duas vezes no máximo. (Eu sei, parece ditatorial, mas só assim podemos controlar os mais afoitos.)
5) Conto com vocês para esta experiência. Beijos a todos.

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O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.

Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.

(Continua nos comentários...)

segunda-feira, abril 11, 2005

História de uma concursada

Nesta segunda, às 17h, dona Gracineide e outras 1.059 pessoas serão empossadas como funcionários estaduais no ginásio estadual Hélio Campos.
O cargo de dona Gracineide quase lhe escapa. Se não fosse uma cunhada ligar avisando que havia sido convocada, não teria tomado ciência da chamada feita pelo governo.
Dona Neide, como é mais conhecida, está empolgada com a novidade.
Há alguns anos é somente dona-de-casa, esposa de seu Juca, assessora para assuntos médicos de seu pai, gerenciadora das obras de reforma de sua casa e do apertamento do filho, responsável pelo compra de material de uso permanente e administrativo dos dois lares, além de alfabetizadora de pelo menos quatro sobrinhos e criadora de alguns cães bravos que só.
Para relaxar, vai à Venezuela de vez em quando, assiste às novelas da noite e vende produtos dessas empresas que fazem distribuição pelos Correios. Nos intervalos, estudou em casa para o concurso público.
Dona Neide, aos 53 anos, é a viva prova de que o tempo é o senhor esquecido dos recados atrasados.
Depois de muitos anos sem trabalho registrado, ao precisar do número do Pis-pasep, necessário para a lista enorme de documentos e exames médicos exigidos pelo Governo, dona Neide descobriu um recado grampeado na carteira de trabalho pela antiga patroa, Nilze Fligioli, quando deixou Manaus, lá na década de 1970.
A patroa, ao enviar sua carteira de trabalho para Boa Vista, escreveu um bilhete desejando muita sorte no parto e pedindo para procurá-la quando saísse da licença-maternidade. "O seu posto na empresa está aqui em Manaus, esperando por você."
28 anos depois, graças à necessidade criada pela exigência do governo, dona Neide finalmente leu o recado.
E depois ela reclama quando o filho esquece do nome das pessoas.

sexta-feira, abril 08, 2005

Depois de uma semana de trabalho, vejam só o que Zanny Adairalba, dona de lugar fixo na série Redatores da Fronteira, ainda é capaz de escrever. (Eu, quando chega a sexta, só atino a pensar que a coisa pode ficar pior.):


Liberdade!! Liberdade!!
Gritei logo ao acordar por meu peito doer
Mal pude vestir-me e corri às ruas
Bati nas portas
Percorri as calçadas
Gritei
Gritei
Ajoelhei-me no paralelepípedo e esperei resposta
A chuva caia
Era forte
A rua deserta
O riso era esperança
A fome
Era de vida
Os sonhos... confusos
Ninguém respondeu
Um poste
...uma lâmpada ainda ligada
o dia acabara de despertar
um lenço à mão
...vermelho
deitei-me ali mesmo
em frente a qualquer coisa
no meio de qualquer lugar
entre a rua e a calçada
os pingos da chuva eram conforto
um silêncio incomum abraçava o cenário
percebi que era o meu dia
meu dia de gritar
de chorar
de construir... assim mesmo...
no meio do nada...
uma resposta para minhas dúvidas
me fiz criança
feto envolvido no útero materno
molhado
medo
mas não um medo covarde
a busca da paz
do equilíbrio
da razão...
um momento como poucos
uma sensação de afogamento
e de emancipação conjugada
a rua de paralelepípedos parece cantiga
de algum compositor buarquiano brasileiro
as lágrimas se misturam com a água vinda do céu
agora menos dolorosas
- liberdade!
... o sussurro de um riso meio louco
- paz!!
... é tudo o que queremos.
A chuva passa de repente...
As pessoas abrem suas portas...
Suas janelas...
Saem de suas casas e ...
Como se fosse música
Dançam felicidade.
Os raios de sol
Iluminam a velha ladeira da rua 19
Parece sonho
Brinquedo de menino
Desenho de graffiti
Uma mão estira a liberdade
Se ergue a verdade
Me levanto diante dela
A essência é companheira do saber
Me encontro e me transbordo de mim mesma
Cálice de vinho raro
Chegada de plenitude
O dia é partícula de eternidade
A vida... criação e criatura
Fruto de um ventre celestial
Livro escrito por anjos carnais
Liberdade.

terça-feira, abril 05, 2005

Os blogs na XVI Feira de Livros do Sesc



Nei Costa e este cronista participam nos dias 22, 23 e 24 de abril da XVI Feira de Livros do Sesc, um evento que reúne milhares de crianças, adolescentes e adultos todos os anos e que, pelas inovações de cada edição, é considerado modelo para o Sesc nacional.

Nossa tarefa será apresentar ao distinto público roraimense o conceito de literatura virtual. Durante três dias, teremos um estande, computador e projetor à disposição para exibir blogs e sites que estimulem a leitura e a interatividade.

Serão intervenções rápidas, de 40, 50 minutos, abordando os seguintes temas: o que é literatura virtual? blogs e sites na imprensa; interatividade; montagem de um blog; exemplos de blogs e sites voltados para a literatura infanto-juvenil e adulta; direitos autorais na internet; o perigo da facilidade dos resumos da net; e o texto na net.

Sendo assim, convido todos os queridos navegantes a contribuírem com o nosso trabalho, enviando links interessantes sobre algum dos temas.

Podem ser deixados na caixa dos comentários ou enviados para os nossos endereços. Correspondência para Edgar aqui. Para o Nei, aqui.

Ah, também vamos divulgar os nossos amigos, no mais puro estilo demagógico: para meus conhecidos tudo, para quem não conheço e não gosto, nada. É, nós somos bons, mas também sabemos ser maus.

segunda-feira, abril 04, 2005

Vivendo a história

Parece título dos programas do History Chanel, né? Mas é somente uma confirmação de que estamos contemplando momentos históricos, daqueles que daqui a 20 anos serão estudados ou relembrados por pesquisadores ou reportagens sobre o início do século XXI.
Quer ver como a história está passando diante de nossos olhos?
Onde você estava na sexta-feira passada, 1° de abril, quando foi anunciada a morte do Papa João Paulo II?
Onde você estava quando Lula ganhou a eleição presidencial, levando o PT a comandar o mesmo país que o recusou durante várias campanhas?
E na manhã do ataque às Torres Gêmeas, o 11 de setembro?
E quando começaram os bombardeios ao Afeganistão e ao Iraque, você estava fazendo o que mesmo?
E na eleição do Severino, o rei boquirroto do baixo clero parlamentar, você estava onde, alheio à desgraça que estava acontecendo?
Alguém lembra onde viu pela primeira vez a notícia dos gafanhotos de Roraima, do afastamento do governador roraimense Flamarion Portela por acusações de corrupção, da morte dos garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia? Da reeleição de George W. Bush? Do lançamento dos mega-sucessos O Senhor dos Anéis e Matrix?
E no último grande show de rock de sua cidade?
É a história, passando bem em frente aos nossos olhos despreocupados.

sexta-feira, abril 01, 2005

O clima e a cultura - uma teoria feita ao som de reggae

Desde os tempos áureos da civilização grega, passando por todos impérios da humanidade, teorizou-se sobre a influência da clima e da geografia no desenvolvimento das sociedades. Com esse discurso, que favorecia geralmente os seus autores, legitimaram-se a escravidão, a conquista e o colonialismo de grupos menos complexos.
Posteriores mudanças paradigmáticas nas ciências sociais apontaram para outros fatores para explicar as diferenças entre os povos. Falou-se muito em evolucionismo, (alguém se lembra aí da conversa das raças?) difusionismo cultural e um monte de outras teorias. Hoje, sabe-se que não o clima não determina a cultura. Quem diz isso são os grandes estudiosos das ciências sociais.
Mas...
Deixa estar que na quinta-feira, antes do show do Cidade Negra aqui em BV (que fica em Roraima e não em Rondônia, como o Toni Garrido gritou no começo da apresentação, para corrigir-se lá pelo final), surgiu uma nova teoria aplicável somente a este pedacinho de Brasil.
Aqui, as movimentações artísticas incomuns influenciam o clima.
Vamos às explicações:
Do nada, depois de um dia absurdamente quente, desabou uma chuvarada espantadora. Assim, de repente, como se estivéssemos na época do inverno amazônico. A sexta-feira, ainda bem, amanheceu nublada.
Fato isolado? Não.
Em janeiro, mês de vacas ainda mais magríssimas no que se refere a teatro, shows e coisas do tipo em Boa Vista, grupos de Manaus e do Rio de Janeiro vieram à cidade trazendo teatro, dança e música erudita durante dois finais de semana. Trouxeram junto chuvas e queda na temperatura habitualmente alta nesta época do ano (e no restante também, para que ninguém se engane).
Se houvesse somente o show do Cidade Negra de atração nesta semana, talvez o clima continuasse igual.
Mas nesta sexta-feira tem um show da Banda Impacto Latino no Sesc Roraima, apresentando covers de bandas e cantores latinos. No sábado e no domingo, é a vez da banda Mr. Jungle, da qual fiz parte como assessor de imprensa, apresentar-se no teatro Carlos Gomes. Ou seja, é muita coisa boa em poucos dias. Tenho medo que neve ou aconteça uma catástrofe durante este período. Qualquer coisa, minha coleção de gibis deve ser entregue ao meu priminho Lucas quando ele estiver consciente de tudo o que gastei comprando e preservando as HQs.