quarta-feira, abril 13, 2005

A proposta é seguinte, meus amigos: continuem vocês a história a seguir.
As condições, para não virar uma bagunça, como a vida nas cidades fronteiriças geralmente é, são estas:
1) A cada comentário, o co-escritor terá direito a seis frases, incluindo aqui possíveis falas dos personagens que acrescentar.
2) Se quiser contribuir, mas não quiser colocar seu nome, tudo bem. Só não vale desqualificar as contribuições anteriores.
3) Para que não fique muito extensa ou muito curta, a história será encerrada no décimo comentário. Só peço que não fiquem esperando o décimo para poder participar.
4) Cada co-escritor poderá contribuir duas vezes no máximo. (Eu sei, parece ditatorial, mas só assim podemos controlar os mais afoitos.)
5) Conto com vocês para esta experiência. Beijos a todos.

....................................................................

O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.

Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.

(Continua nos comentários...)

segunda-feira, abril 11, 2005

História de uma concursada

Nesta segunda, às 17h, dona Gracineide e outras 1.059 pessoas serão empossadas como funcionários estaduais no ginásio estadual Hélio Campos.
O cargo de dona Gracineide quase lhe escapa. Se não fosse uma cunhada ligar avisando que havia sido convocada, não teria tomado ciência da chamada feita pelo governo.
Dona Neide, como é mais conhecida, está empolgada com a novidade.
Há alguns anos é somente dona-de-casa, esposa de seu Juca, assessora para assuntos médicos de seu pai, gerenciadora das obras de reforma de sua casa e do apertamento do filho, responsável pelo compra de material de uso permanente e administrativo dos dois lares, além de alfabetizadora de pelo menos quatro sobrinhos e criadora de alguns cães bravos que só.
Para relaxar, vai à Venezuela de vez em quando, assiste às novelas da noite e vende produtos dessas empresas que fazem distribuição pelos Correios. Nos intervalos, estudou em casa para o concurso público.
Dona Neide, aos 53 anos, é a viva prova de que o tempo é o senhor esquecido dos recados atrasados.
Depois de muitos anos sem trabalho registrado, ao precisar do número do Pis-pasep, necessário para a lista enorme de documentos e exames médicos exigidos pelo Governo, dona Neide descobriu um recado grampeado na carteira de trabalho pela antiga patroa, Nilze Fligioli, quando deixou Manaus, lá na década de 1970.
A patroa, ao enviar sua carteira de trabalho para Boa Vista, escreveu um bilhete desejando muita sorte no parto e pedindo para procurá-la quando saísse da licença-maternidade. "O seu posto na empresa está aqui em Manaus, esperando por você."
28 anos depois, graças à necessidade criada pela exigência do governo, dona Neide finalmente leu o recado.
E depois ela reclama quando o filho esquece do nome das pessoas.

sexta-feira, abril 08, 2005

Depois de uma semana de trabalho, vejam só o que Zanny Adairalba, dona de lugar fixo na série Redatores da Fronteira, ainda é capaz de escrever. (Eu, quando chega a sexta, só atino a pensar que a coisa pode ficar pior.):


Liberdade!! Liberdade!!
Gritei logo ao acordar por meu peito doer
Mal pude vestir-me e corri às ruas
Bati nas portas
Percorri as calçadas
Gritei
Gritei
Ajoelhei-me no paralelepípedo e esperei resposta
A chuva caia
Era forte
A rua deserta
O riso era esperança
A fome
Era de vida
Os sonhos... confusos
Ninguém respondeu
Um poste
...uma lâmpada ainda ligada
o dia acabara de despertar
um lenço à mão
...vermelho
deitei-me ali mesmo
em frente a qualquer coisa
no meio de qualquer lugar
entre a rua e a calçada
os pingos da chuva eram conforto
um silêncio incomum abraçava o cenário
percebi que era o meu dia
meu dia de gritar
de chorar
de construir... assim mesmo...
no meio do nada...
uma resposta para minhas dúvidas
me fiz criança
feto envolvido no útero materno
molhado
medo
mas não um medo covarde
a busca da paz
do equilíbrio
da razão...
um momento como poucos
uma sensação de afogamento
e de emancipação conjugada
a rua de paralelepípedos parece cantiga
de algum compositor buarquiano brasileiro
as lágrimas se misturam com a água vinda do céu
agora menos dolorosas
- liberdade!
... o sussurro de um riso meio louco
- paz!!
... é tudo o que queremos.
A chuva passa de repente...
As pessoas abrem suas portas...
Suas janelas...
Saem de suas casas e ...
Como se fosse música
Dançam felicidade.
Os raios de sol
Iluminam a velha ladeira da rua 19
Parece sonho
Brinquedo de menino
Desenho de graffiti
Uma mão estira a liberdade
Se ergue a verdade
Me levanto diante dela
A essência é companheira do saber
Me encontro e me transbordo de mim mesma
Cálice de vinho raro
Chegada de plenitude
O dia é partícula de eternidade
A vida... criação e criatura
Fruto de um ventre celestial
Livro escrito por anjos carnais
Liberdade.

terça-feira, abril 05, 2005

Os blogs na XVI Feira de Livros do Sesc



Nei Costa e este cronista participam nos dias 22, 23 e 24 de abril da XVI Feira de Livros do Sesc, um evento que reúne milhares de crianças, adolescentes e adultos todos os anos e que, pelas inovações de cada edição, é considerado modelo para o Sesc nacional.

Nossa tarefa será apresentar ao distinto público roraimense o conceito de literatura virtual. Durante três dias, teremos um estande, computador e projetor à disposição para exibir blogs e sites que estimulem a leitura e a interatividade.

Serão intervenções rápidas, de 40, 50 minutos, abordando os seguintes temas: o que é literatura virtual? blogs e sites na imprensa; interatividade; montagem de um blog; exemplos de blogs e sites voltados para a literatura infanto-juvenil e adulta; direitos autorais na internet; o perigo da facilidade dos resumos da net; e o texto na net.

Sendo assim, convido todos os queridos navegantes a contribuírem com o nosso trabalho, enviando links interessantes sobre algum dos temas.

Podem ser deixados na caixa dos comentários ou enviados para os nossos endereços. Correspondência para Edgar aqui. Para o Nei, aqui.

Ah, também vamos divulgar os nossos amigos, no mais puro estilo demagógico: para meus conhecidos tudo, para quem não conheço e não gosto, nada. É, nós somos bons, mas também sabemos ser maus.

segunda-feira, abril 04, 2005

Vivendo a história

Parece título dos programas do History Chanel, né? Mas é somente uma confirmação de que estamos contemplando momentos históricos, daqueles que daqui a 20 anos serão estudados ou relembrados por pesquisadores ou reportagens sobre o início do século XXI.
Quer ver como a história está passando diante de nossos olhos?
Onde você estava na sexta-feira passada, 1° de abril, quando foi anunciada a morte do Papa João Paulo II?
Onde você estava quando Lula ganhou a eleição presidencial, levando o PT a comandar o mesmo país que o recusou durante várias campanhas?
E na manhã do ataque às Torres Gêmeas, o 11 de setembro?
E quando começaram os bombardeios ao Afeganistão e ao Iraque, você estava fazendo o que mesmo?
E na eleição do Severino, o rei boquirroto do baixo clero parlamentar, você estava onde, alheio à desgraça que estava acontecendo?
Alguém lembra onde viu pela primeira vez a notícia dos gafanhotos de Roraima, do afastamento do governador roraimense Flamarion Portela por acusações de corrupção, da morte dos garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia? Da reeleição de George W. Bush? Do lançamento dos mega-sucessos O Senhor dos Anéis e Matrix?
E no último grande show de rock de sua cidade?
É a história, passando bem em frente aos nossos olhos despreocupados.

sexta-feira, abril 01, 2005

O clima e a cultura - uma teoria feita ao som de reggae

Desde os tempos áureos da civilização grega, passando por todos impérios da humanidade, teorizou-se sobre a influência da clima e da geografia no desenvolvimento das sociedades. Com esse discurso, que favorecia geralmente os seus autores, legitimaram-se a escravidão, a conquista e o colonialismo de grupos menos complexos.
Posteriores mudanças paradigmáticas nas ciências sociais apontaram para outros fatores para explicar as diferenças entre os povos. Falou-se muito em evolucionismo, (alguém se lembra aí da conversa das raças?) difusionismo cultural e um monte de outras teorias. Hoje, sabe-se que não o clima não determina a cultura. Quem diz isso são os grandes estudiosos das ciências sociais.
Mas...
Deixa estar que na quinta-feira, antes do show do Cidade Negra aqui em BV (que fica em Roraima e não em Rondônia, como o Toni Garrido gritou no começo da apresentação, para corrigir-se lá pelo final), surgiu uma nova teoria aplicável somente a este pedacinho de Brasil.
Aqui, as movimentações artísticas incomuns influenciam o clima.
Vamos às explicações:
Do nada, depois de um dia absurdamente quente, desabou uma chuvarada espantadora. Assim, de repente, como se estivéssemos na época do inverno amazônico. A sexta-feira, ainda bem, amanheceu nublada.
Fato isolado? Não.
Em janeiro, mês de vacas ainda mais magríssimas no que se refere a teatro, shows e coisas do tipo em Boa Vista, grupos de Manaus e do Rio de Janeiro vieram à cidade trazendo teatro, dança e música erudita durante dois finais de semana. Trouxeram junto chuvas e queda na temperatura habitualmente alta nesta época do ano (e no restante também, para que ninguém se engane).
Se houvesse somente o show do Cidade Negra de atração nesta semana, talvez o clima continuasse igual.
Mas nesta sexta-feira tem um show da Banda Impacto Latino no Sesc Roraima, apresentando covers de bandas e cantores latinos. No sábado e no domingo, é a vez da banda Mr. Jungle, da qual fiz parte como assessor de imprensa, apresentar-se no teatro Carlos Gomes. Ou seja, é muita coisa boa em poucos dias. Tenho medo que neve ou aconteça uma catástrofe durante este período. Qualquer coisa, minha coleção de gibis deve ser entregue ao meu priminho Lucas quando ele estiver consciente de tudo o que gastei comprando e preservando as HQs.

quarta-feira, março 30, 2005

Hábitos



Ela perguntou:
Se te encontro e te descubro, onde estará então o encanto da surpresa?

Ele calou, como ela havia previsto.

terça-feira, março 29, 2005

Meia história de uma noite completa



Foi lá pelas duas da manhã, contou-me. Havíamos bebido cada um três copos de tequila, duas margueritas, três cervejas e dançado como loucos na festa de aniversário de uma moça amiga dos dois. A nossa adrenalina estava lá em cima.

Trabalhávamos no mesmo prédio. Eu no térreo, ela no primeiro andar. Na verdade, nunca pensei que isso fosse acontecer, confessou. Mas bateu uma coragem daquelas quando vi como o seu vestido preto balançava durante as danças, que pensei: é hoje ou nunca, completou.

Pena que foi só uma vez, disse, melancólico. O nome? Não, não posso dizer. Só quero compartilhar de leve uma história, não fofocar, reclamou, indignado com minha curiosidade.

Depois daquela noite, fingimos que nada havia acontecido e continuamos trabalhando normalmente, cada um em seu setor, continuou.

Quer dizer...(expressão de dúvida) agora que penso no caso, depois de misturar tequila, margueritas e cervejas, será que aconteceu mesmo ou imaginei tudo aquilo?

segunda-feira, março 28, 2005

Citações deterministas


Disse o traficante cristão ao consumidor em tratamento:

Do pó viestes e ao pó voltarás.

quarta-feira, março 23, 2005

Da série Redatores da Fronteira, produção antiga de Zanny Adairalba para ilustrar uma semana estranha de chuvas em Boa Vista. Aos frequentadores, boa semana santa.


Texto para alguém numa tarde chuvosa



Encosto na vidraça, olho pela janela de minha sala... aqui de cima o mundo parece pequeno. O enorme vidro, molhado, me traz a sensação dos banhos de chuva da infância. Não eram prédios sofisticados, como os que vejo agora, que decoravam meus dias ... casas humildes, por trás das calçadas quebradas... ruas razoavelmente grandes e alguns paralelepípedos incompletos. As ladeiras eram nossas belas corredeiras... e brincávamos como se o mundo nos pertencesse.
Barcos corajosos, feitos de papéis, enfrentavam a fúria das águas que quase sempre os levavam para um pequeno bueiro. Quando não, eram seqüestrados por gigantes malfeitores que, mais cedo ou mais tarde, se arrependiam do ato e os devolviam aos seus destinos. A chuva continua a cair... volto a encontrar meu presente. Os prédios... tudo parece tão pequenino! Não vejo nenhuma criança a brincar. (suspiro suave) - O Rio de Janeiro não era de todo tão mau!

Obs..: Acho que a sala é aquela (enorme) do primeiro texto que te mandei.
Obs.1: Acho que hoje, não estarei no bar onde os poetas se encontram. Devo iniciar algum livro... ou ligar pra ti e ficar falando horas a fio.

segunda-feira, março 21, 2005

Relatos de um final de semana de março

Sábado foi dia de São José para os católicos. 
Foi o fim do verão também. 
E das primeiras aulas de final de semana do semestre 2005.1 da universidade. Diz a tradição que no dia de São José sempre chove. 
No meu bairro caíram somente algumas gotinhas. Mas o dia foi nublado, para compensar. 
Aliás, desde sexta-feira à tarde, deliciosas nuvens cinzas cobriam Boa Vista. Voltando à tradição, antigamente os agricultores esperavam a chuva de São José para plantar o milho que colheriam para fazer as comidas das festas juninas. Coisas de um estado que já foi mais rural e preso a superstições religiosas. 
Depois da aula de sábado, entrei numa livraria procurando um livro de teorias sociológicas. 
Checa se tem, quando chega mesmo, valeu, vou esperar a ligação que o preço pela internet é quase o mesmo, fiquei olhando o acervo. 
Daí vem a seguinte cena: A vendedora: 
- Oi, posso perguntar uma coisa? O senhor já trabalhou no Sesc alguma vez? 
Eu: - Já, faz muito tempo. 
A vendedora: - Ah, então é de lá que lhe conheço. 
Eu: - Mas faz muito tempo mesmo, coisa de anos. Como prestador de serviços em eventos. 
A vendedora: - Isso! Eu era criança e me lembro de você numa dessas mostras que o Sesc faz sobre trânsito. 
Eu, achando-me o sujeito mais velho do mundo, forçando a memória e resgatando: - Acho que era "Sinal verde para a vida". Fizemos no Objetivo e numa outra escola. 
A vendedora: - Não. Foi na minha escola. Eu estava quieta e você me olhou sorrindo e disse: "ei, estás muito séria. Sorri para mim,vai." 
Eu, lembrando de quando a verba ganha nas mostras do Sesc me ajudava a bancar as apostilhas da universidade: - Isso foi em 1997! Mas não me lembro de ter sido feita em outra escola. 
A vendedora: - É isso mesmo. Eu lembro de você. 
Eu, pensando no que fazer: - ... 
A vendedora: - Poxa, bom lhe ver.
 Eu, pensando nos eventos Brincando nas Férias e Feira de Livros, quando atendíamos mais de 300 crianças por dia: - ... 
Quis, mas não perguntei o seu nome, o que havia feito de sua vida, se dirigia bem, se estava estudando, se a livraria pagava bem. 0Só fiquei pensando em como um sorriso e uma frase haviam ficado gravados na memória daquela jovem por sete anos. 
Deu até vontade de ser gentil com todas as pessoas e dizer bom dia todos os dias, como me recomendou uma amiga certa vez. 
Ainda bem que passou logo.

quinta-feira, março 17, 2005

Discussão

Ele disse:
Quer saber? F*&@-$#!!!!

Ela respondeu:
Como é?

Ele repetiu, furioso:
F*&@-$#!!!!

Calmamente, ela retrucou:
Olha, se você vai me xingar, seja pelo menos homem de fazê-lo sem usar essas escritas de histórias em quadrinhos. Tá bem?

quarta-feira, março 16, 2005

Coisas pessoais de março de 2005

Foi a manchete de um dos jornais locais hoje:
"Ex-presidiário é executado com um tiro fatal na cabeça"
Aí, alguém me diz: se foi executado, o tiro foi fatal, né, não?
Eu, tonto de tanto trabalho e cheio de coisas para fazer, balanço a cabeça e digo: "acho que sim. Assim como é natural que alguém morra depois de apanhar muito no pelourinho e seja deixado sem assistência médica."

No dia anterior....

Segundo dia de aula na Universidade Federal. Droga de curso de sociologia que nunca termina. Comparando, pelo tempo que investi, já estava formado da outra vez.
Em três anos também já havia decorado o nome de meus colegas de sala. Agora, pouco a pouco, aprendo o nome dos atuais. Tem o.... e a...., a....., ih, acho que ainda não aprendi todos.
Mas o nome dos professores do curso já estou quase decorando.
Contudo, isso não me preocupa mais. Posso colocar a culpa no histórico familiar. Dona Maria, minha avô, contou-meu que em 1988 lecionou corte e costura durante dois meses para uma moça cujo nome nunca conseguiu decorar. Quer dizer, a coisa pode estar nos genes. Certo?
Ou pode ser culpa do calor. Afinal, dois terços do ano torramos sob um sol inclemente, bom para as plantações de soja e arroz (alta produtividade por hectare, dupla ou tripla safra, muitas toneladas exportadas e coisas do tipo), mas insuportável para os humanos. Há dias em que a pele arde.
Andar nos quentes corredores da universidade, suado, depois de um dia de trampo e de pedalar algo como dois ou três quilômetros a partir de meu local de trabalho, não ajuda muito a ter preocupação por aprender o nome dos meus companheiros de estudo.
Mas também é só aqui que o reitor da universidade te dá uma mata-leão e pergunta como você está e como foi tua viagem para o Peru.
Ou pelas bandas de vocês também se faz isso?

segunda-feira, março 14, 2005

Cronista temporariamente sem histórias reais

ou ficcionais para contar some na maior

Da redação

Os leitores do site www.edgarb.blogspot.com estavam assim, meio de banda, com a falta de novas histórias no Crônicas da Fronteira. As reclamações iam da falta de atualização à péssima vontade de Edgar em responder os comentários ou visitar outros blogs, como mandam os bons costumes do cyberuniverso.


"É um folgado. Mô segunda-feira e nada de atualizar o blog. Deve estar de ressaca. E olha que não foi na minha cantina. É isso que me deixa mais irritado", declarou Nei Costa, chefe da Cosa Nostra em Boa Vista.

Blogueira de longa data, assídua visitante do Crônicas e mineirinha comedora de queijo com breja, Luma pisa no calo e quebra tudo: "na real, o Edgar nunca me enganou. Já havia reparado que só atualizava no máximo três vezes por semana. Mesmo assim, estou preocupada com o seu sumiço."

Nossa equipe de reportagem entrou em contato com o Avery, mas ele mandou avisar que estava desfrutando da brisa que bate em sua varanda e por isso não iria comentar o sumiço. "Só sei que fui um dos principais incentivadores do rapaz. Agora, o que ele faz com o domínio não é problema meu. Mas vou mandar uma epístola para ela", afirmou o pesquisador e cybernavegante inveterado.

A equipe de reportagem gastou dinheiro pra caraca afim de tentar achar o folgado do Edgar. Ligou até para os produtores do filme Inimigo de Estado pedindo emprestado aquele sistema loucão de fiscalização espacial, mas os caras pediram muitas garantias.

"Tão loucos. Imagina que vou hipotecar meu carro pra achá-lo. Aliás, quem foi mesmo que pautou meus repórteres pra fazer isso", interrogou Luiz Valério, editor do Linha de Frente, antes de quebrar a cabeça de seu chefe de redação.

A solução foi pagar uma extra para uns policiais de folga do serviço. Em dois tempos, os eficientes funcionários estavam com a localização do cronista. ?A casa é até bonitinha, mas se fosse eu mandava pintar de outra cor?, comentou um dos investigadores.

Edgar foi encontrado deitado numa rede, na casa de um parente. Questionado pelos repórteres sobre os motivos do sumiço, olhou para os profissionais, fez cara de sono e disse que o estavam desconcentrando. "Hoje tô muito cansado. Passei o dia inteiro vendo esse caracol andar na varanda. Agora quero descansar, meu rei, que estressei e o dia foi muito quente", bocejou, antes de avisar que ia tirar um cochilo no quarto. "Lá tem ar, sabe? É mais gostoso."

Com seu estilo mordaz, Ismael diz que ficou sabendo tarde da procura. Não fosse isso, teria colocado em seus comentários ácidos de toda segunda-feira. "Já vi blogueiros fazendo coisa pior. Deve ser o clima. Mas até abril deve voltar a chover", disse o dono de O Malfazejo.

A internautas que pretendam processar Edgar pelo consumo vão de impulsos eletrônicos, Rah, sua advogada, avisa das praias do Nordeste: "não se metam com o bichinho, não. Vão caçar encrenca com outra advogada, por favor. Se largar o meu coco, vocês vão ver."

Flogueira das mais gatonas da rede e correspondente de O Diarinho, jornal mais malcriado do mundo, Carlotinha Cavalheiro diz ser da mesma gangue da Rah. "Não se metam com meu indiozinho. Quem tocar no filho único de dona Neide e tio postiço do Bê, vai levar uns muque nos chifres."

quinta-feira, março 10, 2005

As aventuras de Chicão

A cantada


Chicão - Tenho algo para te dizer. Quando você está perto, não consigo deixar de notar a tua presença. Há algo em ti que te faz diferente, que chama a atenção e te destaca no meio de qualquer grupo de pessoas. Enfim, é impossível não te perceber.
Maria - Nossa! (suspiro) E o que é, Chiquinho?
Chicão - Teu mau hálito...

quarta-feira, março 09, 2005

Sob o sol

Pulsa intermitente, no peito do homem,
Legítima fúria de animal acuado.
Sob o sol das quatro da tarde
Chora no corpo da amante.
Dúvidas passam na cabeça do homem.
É fantasia maligna ou crueldade real?
Desvario da idade, garrafas a mais,
Efeito das marés ou do orgulho do possuir?
O medo cresce
Tomando membros e tronco do homem ajoelhado
Na poça de lama tingida de vermelho.
O vento traz mensagens
De espíritos vingativos e traiçoeiros.
O homem não as entende
É só tristeza o que forma as suas lágrimas.
Agora, a justiça deve ser concluída,
Murmuram fantasmas.
Esqueça felicidades passadas,
Risos, beijos, promessas.
Esqueça tudo o que disseram sobre amor,
Seja o divino, o próprio ou o dedicado aos outros.
Esqueça a beleza do amanhecer depois de uma noite de paixão,
Sussurram no seu ouvido zombeteiros deuses.
O vazio toma conta dos pensamentos do homem
E as palavras perdem o sentido original.
Agora tudo está fora de alcance
E pode ser visto apenas de relance.
Então, com apenas um movimento,
Rápido, brusco, surpreendente,
O homem consegue sua paz.
Pulsa, sufocando o ambiente,
Permanente e estranha paz sob o sol das quatro.

(publicado originalmente há muito tempo no Zhuada)

terça-feira, março 08, 2005

No Dia Internacional da Mulher, com todas as suas motivações históricas, sócio-econômicas e culturais, com todas as pessoas escrevendo belos poemas e loas, só me resta escrever isto:

Desejo do fundo de meu coração que todas as mulheres que são casadas, namoradas, amantes ou caçadoras tenham uma boa sessão de amor neste dia.
Desejo que nenhum chefe brigue com elas;
Desejo que tenham aumento de salário;
Desejo que possam comer o quanto quiserem de seu adorado chocolate sem medo de engordar;
Desejo que o biquíni as deixe mais bonitas;
Desejo que a autoconfiança as leve até onde quiserem chegar;
Desejo que se quebre o pulso de todos os homens que batem em mulheres;
E que a coragem de denunciar agressores tome conta das mulheres agredidas.

sábado, março 05, 2005

Da série Ouvidos na rua


Declarações a respeito de confiança e amizade, por duas adolescentes pedalando em uma só bicicleta.

- Ô, sua traíra, tu trairou comigo.
- Não, não. Nada a vê essa parada.
- Trairou sim. Mô trairagem que tu fez.

(E viva a flexibilidade da linguagem oral.)

sexta-feira, março 04, 2005

Latinidade

Uma amiga disse-me certa vez que todas as canções latinas eram de dor-de-cotovelo. Exageros descontados, é certo que por conta disso, separei alguns trechos de músicas de vários estilos para ver se a teoria bate.
Da Colômbia, Juan Pablo Valencia, compositor de vallenato, gravado por Carlos Vives, teorizando sobre confiança e amizades:

Como Dios en la tierra no tiene amigos
como uno no tiene amigos anda en el aire

O guatemalteco Ricardo Arjona, apesar de ser um romântico full time, também faz outros tipos de letra, questionando o que alguns chamam de imperialismo e outros de integração:

Las barras y las estrellas se adueñan de mi bandera
y nuestra libertad no es otra cosa que una ramera
y si la deuda externa nos robó la primavera
al diablo la geografía se acabaron las fronteras.

Outra aqui, para aqueles que gostam de ajudar e ser ajudados:

no es bueno el que te ayuda
sino el que no te molesta


Abrindo passagem para o romantismo de Shakira Mebarak:

cuántas veces he intentado
enterrarte en mi memoria
y aunque diga ya no más
es otra vez la misma historia
porque este amor siempre sabeh
acerme respirar profundo
ya me trae por la izquierda
y de pelea con el mundo


E para suas pragas jogadas contra aquele que a trocou por outra:

cuando las arrugas le corten la piel
y la celulitis invada sus piernas
volverás desde tu infierno
con el rabo entre los cuernos
implorando una vez más


E agora, um canto do panamenho Rubén Blades contra a opressão:


¿Adónde van los desaparecidos?
Busca en el agua y en los matorrales.
¿Y por qué es que se desaparecen?
Porque no todos somos iguales.
¿Y cuándo vuelve el desaparecido?
Cada vez que los trae el pensamiento.
¿Cómo se le habla al desaparecido?
Con la emoción apretando por dentro.

(Essa aqui é cantada pela banda Maná no Acústico MTV)

quarta-feira, março 02, 2005

Ando mais prosa que verso.
Correndo contra o tempo e perdendo sempre.
Ando mais verão que chuva.
Ou menos face que pensamento.
Menos letra que imaginação.
Se não ando, me arrasto.
E caio, e me lambuzo.
Enlameio.
Afogo.
E ressuscito.
Para nada.
Então...
Ando, apenas.