domingo, outubro 16, 2011

Convidado para o Rio, mas só chego se for boiando

Os tempos andam difíceis. Ou quiçá não, talvez seja eu que ando vendo muito prejuízo no decorrer de uma vida que anda normal sob o ponto de vista da maioria. Caramba, o que estou escrevendo não faz muito sentido.  Nunca fui com textos labirínticos. Posso escrever tão mal que ninguém vai entender, mas não o faço propositadamente.

Enfim, o negócio é o seguinte: a situação tá preta (às favas o politicamente correto) lá na minha maloca (às favas parte 2 o politicamente correto). A grana ficou curta demais para muita demanda, as dores geradas pelos problemas na coluna não arredam pé, não vejo perspectivas de  melhoria, estou ficando velho etc. etc.

Ok, tirando a parte da velhice, para tudo pode se encontrar um jeito de melhorar. Possivelmente as sessões de RPG que comecei semana passada me deixem melhor, o que me possibilitaria voltar a encarar por mais tempo os computadores. Isso traria de volta minha capacidade de passar horas escrevendo, função da qual tiro minha renda, e garantiria um extra lá na baixada onde me escondo. Sim, eu sei, coisa de pessoa sem espírito empreendedor ficar pensando em trabalhar como jornalista. Poderia abrir uma empresa de qualquer coisa e botar os outros para fazer isso, mas...

O fato é que os tempos andam difíceis e as alegrias são poucas. E quando chegam, parecem que só trazem mais decepção. Foi o caso de um e-mail que recebi da Funarte há uns dias, informando que fui selecionado para participar do I Encontro Funarte de Políticas para as Artes, que vai rolar de 8 a 10 de novembro no Rio de Janeiro. 


MESA DE BOAS PRÁTICAS II
 

DATA: 10 de novembro
SALA: Sala Portinari, 2º andar
HORÁRIO: 14h às 16h

 Projeto Caminhada Arteliteratura – leitura, arte e alegria nos Territórios da Cidadania
Edgar Borges, Coletivo Arteliteratura Caimbé

Grupo Uirapuru – Orquestra de Barro
Tercio Araripe, Grupo Uirapuru

Oficina Permanente de Teatro e Circo
Vania Rocca, Casa do Menor São Miguel Arcanjo

Ser Tão Teatro: núcleo de pesquisa continua e difusão da arte teatral
Christina Streva, Diretora artística e fundadora do Coletivo Ser Tão Teatral

 Numseikitem: teatro quase mudo
Murilo Cesca e Lucas Baumer, Cia. Nuseikitem

Mediador: Elaine Grosmann, CEACEN/Funarte




A seleção não se baseou no meu charme indígena, no meu sotaque venezuelano ou nas fotos de meu filhotinho lindo. Foi fruto da análise do trabalho “Projeto Caminhada Arteliteratura – leitura, arte e alegria nos Territórios da Cidadania”, texto que me tirou umas boas horas de descanso depois que cheguei do Amapá. Como um dos selecionados ano passado com a Bolsa Funarte de Circulação Literária, falaria sobre o projeto na mesa de boas práticas II, lá no Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio de Janeiro.

Olha, vou te confessar, quando comecei a ler o email na tela de meu celular, fiquei feliz. Poxa, nunca apresentei nada em um evento parecido, para uma platéia de várias partes do Brasil (aliás, nunca apresentei nada em canto nenhum). Falaria do projeto, do Coletivo Arteliteratura Caimbé, da importância de desenvolver ações literárias em áreas indígenas.

Falaria, no pretérito, é o tempo certíssimo do verbo. Ao ler o final do e-mail, vi que hospedagem, deslocamentos e alimentação correm por minha conta se quiser ir. Tivesse chegado esse e-mail em julho não haveria problema. Mas a vida não é justa. Chegou agora, depois de ter pego várias pancadas financeiras em todos os bolsos de minhas calças, sem exceção.

Bom, como um não sempre está garantido para quem pede, decidi arriscar e falar com a chefia maior do local onde trabalho. Diria que fui convidado pela Funarte e Ministério da Cultura (enfatizando bem esses nomes, para encorpar a frase) para um encontro muito importante para a cultura local e pediria a passagem e diárias. Rá! Como eu sempre digo: o “não” sempre é garantido e o “sim” é lucro. Adivinha, curioso leitor, o que ganhei?




Te matei de curiosidade com esses espaços a mais entre um parágrafo e outro, né? Claro que peguei um “não” como resposta. Obviamente muito justificado e tal, o que não diminuiu minha decepção. Em não sei quanto tempo trabalhando nesta instituição, só fui pedir apoio duas vezes, para duas chefias diferentes. Nas duas peguei o “não” como resposta.

Um e outro colega me disse para tentar com algum parlamentar pelo menos a passagem. Sinceramente? Já não curto pedir de meu local de trabalho, quanto mais de um parlamentar. Se ganho a passagem, fica fechado um acordo implícito para sempre elogiá-lo mesmo quando tiver certeza de que o mesmo está fazendo algo muito ruim para a sociedade. Aí não cola.

Resumindo, aqui estou eu, convidado para um evento muito importante e sem plata para me bancar nele. Meu nome já está na programação oficial divulgada no site da Funarte e minha desilusão já está publicada neste blog, lincada no facebook e divulgada via Twitter. Acho que inconscientemente espero que os acessos ao blog compensem minha frustração.  ;-)

Há uma leve chance de ir. Mais leve que ir, é verdade. Depende de dois fatores interligados diretamente. Se rolar, rolou. Se não, bem feito para mim que não estudei o suficiente para ganhar um bom dinheiro todo mês, que declaro imposto de renda e que não tenho parentes importantes.

4 comentários:

Jonas Banhos disse...

Edgar meu mano, fico feliz por vc ter sido selecionado para compartilhar saberes com as gentes do Sul maravilha, tão desconhecedoras de nossas reais realidades, de nossos povos originários sem exotismo, coletivos e movimentos culturais verdadeiramente independentes, sem ligações com políticos de plantão ou não.
Daqui do Amapá, fico na torcida pra que esse pouquinho de esperança que resta, se transforme em passagem e diárias necessárias pra que vc aporte na cidade maravilhosa e lá, fale por nós!!!
Vai dar certo meu amigo!!!

abçs fraternos,

Jonas Banhos

jacinta santos disse...

Sei bem o sabor da sensação que vc está sentindo, tive um trabalho aceito em um Congresso que acontece de dois em dois anos e por motivo igual ao seu o evento está acontecendo e aqui estou eu... só na vontade... XVIII Congresso Brasileiro dos Professores de Francês‏

Edgar Borges disse...

Jonas, vamos tentando até o último momento. Índio que é índio só deita na rede depois de caçar.


Jacinta: é, tia, esse é o preço de ganhar pouco. Quem mandou a gente não estudar?

Cia Numseikitem disse...

Será um prazer dividir a mesa contigo. Estamos na mesma situação. Mas a causa é importante meu amigo. Bora lá que teremos bons ouvintes. rs
Abraço