O fato de eu não ser um
escritor profissional (minha subsistência é garantida pelo emprego de
funcionário público) ou um escritor focado em ser escritor
profissional (passo
semanas sem produzir textos literários e meses sem participar de editais,
concursos ou prêmios, muito menos submetendo livros a editoras), bem, esses
fatos nublam a minha visão sobre o quanto já ganhei escrevendo.
Muitas vezes me perguntaram
se a profissão de escritor dava para pagar pelo menos parte das contas, se havia ganhado algo com literatura. De meu suposto lugar de fala,
descrito acima, falei que não. Na verdade, ia além, demostrando ingratidão com
a vida: respondi várias vezes que nunca ganhei nada escrevendo. Exagerando,
errei. Ganhei sim e muito.
Tentarei resumir isso a
seguir, como uma espécie de registro confessional para que não volte a falar nunca
ter recebido nada escrevendo ou trabalhando com contos, crônicas e poemas (essa
descrição aqui é para distingui-los dos textos jornalísticos que me sustentam
desde o ano de 1998, quando comecei a trabalhar como repórter).
Vamos aos fatos:
1.
Viagens: participei de bienais, feiras de livros,
eventos literários e debates sobre política cultural nos estados Amazonas,
Amapá, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio
Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Em Roraima conheci várias comunidades indígenas
e trabalhei nos municípios de Pacaraima, Alto Alegre, Boa Vista, Cantá, São
João da Baliza e Bonfim. Quem lê viaja e quem escreve também.
2.
Plata. Sim, plata. Várias vezes ganhei grana
como escritor, como organizador de atividades focadas em literatura, livro eleitura, como parecerista, como palestrante e até apenas como participante. Ganhei
algum dinheiro também em concursos, prêmios e editais. Consegui pagar contas,
economizar, comprar coisas que estavam faltando para a casa e coisas que queria
comprar apenas por querer. A grana da literatura me sustentou ou sustenta? Não,
mas já ajudou um bocado.
3.
Trófeus, certificados livros e afins: no
momento tudo o que é meu está encaixotado. Em alguma caixa estão esses objetos
citados acima, deixando claro que houve retorno do mundo para mim, sim.
4.
Amizades, risadas e bebidas: desde moleque, o
ato de escrever (e de ler) sempre trouxe boas pessoas ao meu convívio. Aprendi
um bocado com a diversidade de pensamentos que carregavam, ri muito, me emocionei
muito. São amigos e parceiros presencialmente perto, alguns bem longe, outros
nunca vistos cara a cara, mas sempre disponíveis nas redes digitais. Gente que
já me convidou para atividades que renderam boas conversas, renda e
conhecimento. Gente boa.
5.
Beijos
na boca e na bochecha: considerem que escrevo textos desde a adolescência. Considerem que
sempre tive a sorte de tropeçar com gente sensível à arte e à literatura.
Considerado e anotado? Então... Beijo na boca é algo que se deve levar em conta na hora de
fazer o levantamento daquilo que se ganhou ao longo da carreira. Por sinal, o beijo mais
importante foi o que consegui da moça que depois virou minha minha esposa, encantada - digo eu - com as minhas poesias e
prosas. Este beijo e atos afins resultaram em meu
filho, luz de meus dias, P do meu samba, senhor de mim, dono do beijo na bochecha mais gostoso do mundo.
Então é isso. Eis o resumo
de minhas conquistas como escritor e agente cultural da área literária. Se
algum leitor um dia tropeçar comigo em algum lugar e me ouvir dizer que nunca
ganhei nada como escritor, faça o favor de jogar o link em minha cara.
Obrigado, de nada.
2 comentários:
Mais do que dinheiro, ganhou pessoas e momentos preciosos. E ganhamos nós com sua sensibilidade e talento.
Sim, os momentos são o que vamos lembrar depois, com certeza. Obrigado pelos gentis elogios. Penso o mesmo de seus textos.
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