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quarta-feira, agosto 27, 2008

Manhã de julgamento no STF sobre
a reserva indígena Raposa - Serra do Sol


Frases ditas na manhã pelo advogado-geral do União, José Antônio Dias Toffoli, durante o julgamento do caso Raposa-Serra do Sol no Supremo Tribunal Federal (STF), tendo ao fundo a advogada do CIR (Conselho Indígena de Roraima), Joenia Wapichana,com o rosto pintado.



"Eu não sabia que para ser um estado é preciso ser latifundiário", referindo-se à alegação de que sobrariam poucas terras para o Governo do Estado gerenciar.



"Se a terra é da União é muito mais fácil defender fronteiras do que se fosse de particulares", sobre a questão da fragilidade da soberania nacional, argumento muito usado pela turma contrária à demarcação em área contínua.



"Se houver declaração de independência (na reserva) o Estado vai lá e vai agir".



Frases da advogada Joenia Wapichana, argumentando a favor da demarcação em área contínua:




"Que nossos valores culturais e valores espirituais sejam garantidos na aplicação do artigo da Constituição".



"Vivemos há mais de 30 anos (sic) se arrastando, esperando".



"Somos acusado de ladrões, de invasores dentro de nossa própria terra. Somos caluniados e isso tem que ter um fim".



"O que está em jogo são os 500 anos de colonização. Isso é o que está em jogo. Nós temos a nossa economia e isso não é contabilizado pelo Governo do Estado de Roraima. Somos os maiores criadores de gado".



"Circulam anualmente na terra indígena mais de RS 14 milhões".



Manchetes dos jornais nesta quarta-feira (27)




Roraima Hoje





Raposa Serra do Sol

Destino de Roraima nas "mãos" do STF



Folha de Boa Vista


Supremo começa hoje decidir (sic) sobre demarcação da Raposa Serra do Sol



Para saber mais dos lances locais, clica aqui, na Folha de Boa Vista.

Para saber mais dos lances nacionais,que são os que valem mesmo, pode ser no G1



Mas antes de tudo isso ser visto ou lido, o lado pitoresco do dia 27 de agosto:



Edgar: Filho, hoje é um dia histórico e você vai ficar aí, mamando no peito de sua mãe e depois indo dormir?

O indiozinho fica em silêncio, a boca no peito da mãe, o olhar meio perdido.

Edgar: Vamos, filhão, vai ficar aí?

O indiozinho me olha, meio perdido, como a dizer: vai lá e garante a minha parte. Te vira.


No trabalho, a ligação:


Tana Halu: Ei, seu acomodado, consegui um carro. Vamos pra reserva fazer matéria!

Edgar: (Risada) Fala sério. Tenho um monte de coisa para fazer hoje aqui.

Tana Halu: Pára de ser assim. Hoje é um dia histórico e tu vais ficar atrás de uma mesa, escrevendo release?

Edgar: Ei, cara, mas esse aqui é o meu trampo. Se eu estivesse num jornal, eu iria.

Tana Halu: Tu já foi mais ativo. Hoje só quer saber de ganhar teus milhares de reais mensais sem fazer esforço.

Edgar: Pois é...


E na hora do almoço, depois de ouvir a transmissão no trabalho:



Edgar: Vó, a senhora está perdendo a transmissão do julgamento do caso da Raposa!


Vó Maria José: Isso já tá perdido faz tempo, meu filho.


Edgar: Como assim, vó?


Vó Maria José: Isso tudo é coisa de um bando de índio e branco sem-vergonha. Ninguém vai ganhar nada com isso.

sexta-feira, maio 16, 2008

8 notas

  1. Este cronista está na nova edição da revista portuguesa Minguante. Acesse e leia textos que dificilmente vou colocar aqui. O tema da próxima edição é ‘desejo’, seja lá qual for o que você tenha.

  1. Coisas que somente como professor poderia viver: ser “obrigado” a ceder a minha aula de Técnicas e Gêneros Jornalísticos para uma palestra de Ricardo Kostcho, repórter e ex-assessor de comunicação do presidente Lula, e depois ir comer carneiro com ele, meu chefe Damião Marques e uma equipe da Folha de S. Paulo que estava havia 10 dias na reserva Raposa-Serra do Sol. Boas histórias e a certeza de que, se me esforçar muiiiiiiiiiiito, ainda posso ser um bom repórter.
  2. Uma nuvem de mais ou menos uns 10 km cobriu de chuva ontem à noite a cidade.
  3. A semana de trabalho continua: entrevistas e edições no sábado.
  4. Semana que vem: novas edições a fazer.
  5. Há mulheres que marcam pela feiúra. Outras que marcam pelo cheiro.
  6. Tentei, tentei e tentei, mas o haloscan parece não querer mesmo aparecer no blog.
  7. Músicas do Maná que sintetizam o que sinto pelo cabeção aí embaixo: “Eres mi religión” e “Bendita tu luz”. Se você nunca ouviu, baixa no You Tube ou busca a letra.


Meu pequeno índio

terça-feira, maio 13, 2008

Conversa reservada



- Ah, Edgar, me conta aí, descendente de índios, qual é a tua posição nesse negócio da reserva Raposa-Serra do Sol?
- Bicho...depende...
- Como assim, depende do que? Tu é a favor ou contra a demarcação em área contínua?
- Olha, eu sei que os índios têm direito, que são 500 anos apanhando no Brasil e uns 300 e poucos pegando porrada por aqui, que os caras estavam aqui antes de todo mundo.
- E então?
- Mas sair todo mundo? Até os descendentes de mãe índia com pai branco?
- Hum...
- É claro que citar esses exemplo só fortalece a causa de quem pretende entrar no bolo e não sair para não ter seus interesses econômicos atingidos.
- Traduz.
- Seguinte: arrozeiro não está preocupado com o filho de dona Maria que vai ser impedido pelo Conselho Indígena de Roraima de ficar na reserva. Tá preocupado com os seus interesses, com manter a propriedade e tal.
- Mas os caras produzem, geram emprego, pagam impostos, estão aí há trocentos anos. Eles têm direito a ficar lá, Edgar!
- Claro, mas todos estão recebendo indenização. O lance é que ninguém se agrada do valor.
- E então, vão ter que sair como todo mundo?
- Eles fazem tudo isso que tu falou, mas também tem isenção por décadas de alguns impostos, pagam mais ou menos 30% a menos em tudo que compram, se forem da cooperativa dos produtores, poluem pra caramba...E além disso, o arroz aqui não é tão barato como deveria ser.
- É o preço do progresso.
- Não, negão. Eu não vou bancar a vida mansa de ninguém que compra tudo com subsídio e ainda tira onda de coitado.
- Mas tu não acha que ficar ninguém naquele tanto de terra, só os índios e os padres e o pessoal das ONGs, é um perigo? Tem até avião dos gringos voando na região para fazer o mapeamento dos minérios e ninguém faz nada! É a internacionalização da Amazônia!
- Mermão, já começou faz tempo. Os mesmos políticos que chiam por conta da reserva nunca se coçaram antes para reverter esse processo e são os primeiros a bater palma quando chegam os estrangeiros prometendo comprar terras e fazer indústria. Qual é a diferença de fazer reserva indígena onde o branco não entra e dar terra para o gringo onde a gente também não vai entrar?
- Mas é diferente. A gente vai ser invadido e tu não se decide.
- Invasão fizeram os índios na fazendo do prefeito de Pacaraima. E pegaram bala para deixar de serem apressados. O STF não tá julgando o caso? Pra que fazer furdunço?
- Pois é, né? Mas e aí, de que lado tu tá?
- Bicho, nem os índios se entendem nessa briga e tu vai querer que eu tenha uma opinião definitiva?
- Mas tem que ter, Edgar. É a soberania do País o que está em jogo! Todo mundo já se decidiu!
- Sei: metade odeia os arrozeiros e todos os que moram lá e não são índios. A outra acha que a terra vai ser entregue às ONGs assim que sair o último branco e mestiço.
- Pois é, mas e tua opinião?
- Velho, em qualquer um dos casos eu não vou pegar um naco de terra. Então, deixa rolar. A história vai dizer que lado estava certo: os pró ou os contra a reserva em área contínua.