Uiramutã é um município roraimense que tem a população predominantemente indígena e rural, a 279 km da capital Boa Vista, encravado no meio da Terra Indígena Raposa - Serra do Sol.
O acesso se dá saindo de Boa Vista pela BR 174 em direção à Venezuela, dobrando à direita na RR 202 e seguindo em frente por uma estrada com muitos km de piçarra, pontes quebradas e muitos, muitos buracos, desses que quebram carros e ônibus.
Nunca havia estado na região, apesar de ter parentes com casa lá. Motivo? Jamais ia meter um carro meu nessa buraqueira que todos me descreviam.
Acabei indo lá no dia 17 de março para acompanhar uma equipe da Universidade Estadual de Roraima que foi discutir a implantação de um curso de graduação na comunidade indígena Flexal, à qual se chega virando à esquerda 20 km antes de entrar em Uiramutã.
A viagem de ida foi em um ônibus da UERR, juntamente com alunos da instituição que foram convidados para visitar a comunidade e conhecer a região.
Passamos pela antiga comunidade indígena Surumu, hoje chamada Barro, praticamente uma vila, com cerca de mil habitantes. Lá se parou para olhar a beleza do rio Surumu, seco pelo verão rigoroso.
O povo tomando banho e eu aproveitando a capitiana, rede feita com couro de bovinos |
Depois foi a vez de parar na comunidade indígena do Contão, bem no meio do lavrado e às margens do rio Cotingo, que estava muito seco.
Essa mancha é o leito de pedra |
Lei de trânsito? Que lei? |
Um dos sustos na ida: o micro engatou em um desvio da estrada e a turma botou força |
Chegamos em Uiramutã por volta das 21h, depois de sete ou oito horas de viagem. A cidade não estava tão fria quanto esperava, mas isso mudou depois que uma chuva caiu.
Sempre me impressiona o alcance da tecnologia e das marcas (lembro que o geógrafo Milton Santos tinha um termo para isso, mas esqueci qual era): a cidade tem posto do Bradesco, comércio de todos os tipos, bares e casas com TV por assinatura, gente que para no sábado à noite para ver lutas de MMA, moleques filhinhos de papai com seus carrões curtindo a noite e por aí vai. Ou seja, mesmo sendo o município com a maior população indígena em Roraima, não ficou nada livre desse processo de publicidade e marketing tão peculiar ao capitalismo.
Parabólica, camará! |
Ruas da serra. Sente o charme da iluminação pública |
Numa cidade onde os nativos são bilíngues, o mercadinho acertou ao colocar seu nome em português e macuxi |
Descida a caminho da comunidade do Flexal. Isso no inverno fica uma maravilha |
Domingo amanhecido, tocamos para a comunidade do Flexal mas antes paramos na cachoeira Urucá, coisa mais linda de ser ver e cansativa de chegar. Não sei se foi a idade ou o despreparo físico, mas as pernas em certa hora bambearam na subida e a respiração ficou pesada. Mesmo assim, o banho que tomei na água fria da cachoeira valeu o esforço. Me lembrou a subida ao Monte Roraim, há alguns milhares de anos e uns três ou cinco quilos a menos.
A beleza da cachoeira, já na volta do banho, respirando antes de continuar... |
Daqui nasce a queda da cachoeira |
Quase comprei esta casa, mas pensei que seria muito trabalhoso percorrer todo dia mais de 300 km para ir trabalhar. Além do mais, não há vizinho para pedir açúcar |
Comunidade Flexal |
A cabelo das índias é uma das coisas mais bonitas que conheço |
Depois que fiz a foto percebi que os meninos do Flexal ficaram na pose de banda juvenil |
A volta foi bem mais rápida. Vim numa picape e chegamos em duas, três horas, na UERR Boa Vista. O povo que veio no busão chegou no outro dia, às 7h, graças aos pneus que estouraram no meio da estrada.
Lamentavelmente, a volta rápida não se traduziu em alegria: em vez de ir direto para a maloca, decidi comprar uma caixa de sorvete para a família e balinhas de chocolate para o Edgarzin.
Por conta disso, desviei para uma outra avenida depois de tentar comprar em um posto de combustível perto da UERR.
Daí poderia ter parado na casa de minha avó, mas já estava tudo fechado. Até pensei parar no apertamento e baixar umas coisas do carro mas fiquei com medo do sorvete descongelar.
“Melhor ir para casa”, pensei. Melhor tivesse parado em qualquer lugar.
Logo adiante, no cruzamento da principal avenida do bairro com uma ruazinho que escoa parte do trânsito, um imbecil avançou as duas faixas da pista dupla, passou pela área do canteiro central, avançou o que eu chamo de quarta faixa (contando a partir do encontro das vias) e me encontrou na borda da quinta, já desesperadamente tentando frear para não ter o carro batido.
Deu nisso:
Não houve ferimentos, o cara disse que não viu a placa de sinalização e que por isso avançou, combinamos de passar na seguradora no outro dia, meti o carro na oficina já por conta dele mas tive que arcar com o custo do aluguel de um veículo para não ficar a pé no meio do verão ardente amazônico.
Resultado: umas três ou quatro semanas que me custaram mais de dois mil reais em aluguel e um som quebrado cujo custo não vou conseguir nunca repassar para a seguradora, já que as lojas de som desta minha terra querida não conseguem fazer um laudo atestando que o aparelho foi danificado na batida.
Quem disse que viajar não tem emoção depois que a gente chega em casa?
P.S.: o meu antigo gol foi batido do lado esquerdo, também por um motorista idiota que alegou não ter vista a placa de “Pare” (Veja uma foto aqui). O atual carrinho pegou a pancada do lado direito, com o cara alegando a mesma coisa. Estou com medo do ângulo da próxima pancada.
Lamentavelmente, a volta rápida não se traduziu em alegria: em vez de ir direto para a maloca, decidi comprar uma caixa de sorvete para a família e balinhas de chocolate para o Edgarzin.
Por conta disso, desviei para uma outra avenida depois de tentar comprar em um posto de combustível perto da UERR.
Daí poderia ter parado na casa de minha avó, mas já estava tudo fechado. Até pensei parar no apertamento e baixar umas coisas do carro mas fiquei com medo do sorvete descongelar.
“Melhor ir para casa”, pensei. Melhor tivesse parado em qualquer lugar.
Logo adiante, no cruzamento da principal avenida do bairro com uma ruazinho que escoa parte do trânsito, um imbecil avançou as duas faixas da pista dupla, passou pela área do canteiro central, avançou o que eu chamo de quarta faixa (contando a partir do encontro das vias) e me encontrou na borda da quinta, já desesperadamente tentando frear para não ter o carro batido.
O número 1 era eu indo para casa e o 2 foi o motorista idiota avançando geral e me acertando no X |
Deu nisso:
Não houve ferimentos, o cara disse que não viu a placa de sinalização e que por isso avançou, combinamos de passar na seguradora no outro dia, meti o carro na oficina já por conta dele mas tive que arcar com o custo do aluguel de um veículo para não ficar a pé no meio do verão ardente amazônico.
Resultado: umas três ou quatro semanas que me custaram mais de dois mil reais em aluguel e um som quebrado cujo custo não vou conseguir nunca repassar para a seguradora, já que as lojas de som desta minha terra querida não conseguem fazer um laudo atestando que o aparelho foi danificado na batida.
Quem disse que viajar não tem emoção depois que a gente chega em casa?
P.S.: o meu antigo gol foi batido do lado esquerdo, também por um motorista idiota que alegou não ter vista a placa de “Pare” (Veja uma foto aqui). O atual carrinho pegou a pancada do lado direito, com o cara alegando a mesma coisa. Estou com medo do ângulo da próxima pancada.