O meu nível de bagunça e procrastinação chegou ao ponto de deixar de ser um
charme pessoal que cultivava e com o qual sentava para tomar um suco e rir. Tornou-se um elemento chato, daqueles que insistem em pegar o teu queixo e te forçar a olha para trás, apontando com o dedo cada coisa que deixei passar e agora me persegue.
É muito incômodo perceber quantas
coisas boas deixei escapar entre os dedos por não ter tomado certas
iniciativas há alguns anos. E é angustiante notar que ainda hoje
continuo fazendo isso, agora com novos focos.
Já não quero mais viver para sempre
com o antigo nível de bagunça e procrastinação. Ando
experimentando como abandoná-lo, ou pelo menos desapegar-me dele.
Dei para fazer anotações das coisas que devo fazer (Na verdade,
sempre fiz isso, mas nunca ou quase nunca relia as anotações e a
demanda de janeiro se arrastava tranquilamente até dezembro…).
Além de anotar em papel, baixei um aplicativo no celular e levo para
todo lugar estas lembranças de cobranças pessoais.
Deixar para amanhã o que não
precisamos fazer hoje é interessante até certo ponto, até certos
níveis de consequências. Pouco a pouco, quando decidimos começar a
fazer, percebemos quanto já se acumulou. E como todo dia costuma
aparecer uma nova demanda, a mudança e o fazer ficam extenuantes. É
como falei a um amigo dia desses: “Aim, não tenho nada para dizer
que é meu” e de repente, quando somos obrigados a arrumar a casa,
mudamos a frase para “caraca, de onde saiu tanta coisa, meu deus?”.
Na verdade, bem que eu queria
continuar procrastinando, mas a meia idade vem chegando, o mundo não
é mais tão colorido e risonho como antes, a energia e a disposição
baixaram e o calor do verão, sugador de minha boa vontade, parece
ser agora eterno, mesmo quando estamos sob as chuvas do inverno.