quarta-feira, agosto 09, 2017

Um pouco cansado de adiar a vida


O meu nível de bagunça e procrastinação chegou ao ponto de deixar de ser um
charme pessoal que cultivava e com o qual sentava para tomar um suco e rir. Tornou-se um elemento chato, daqueles que insistem em pegar o teu queixo e te forçar a olha para trás, apontando com o dedo cada coisa que deixei passar e agora me persegue.


É muito incômodo perceber quantas coisas boas deixei escapar entre os dedos por não ter tomado certas iniciativas há alguns anos. E é angustiante notar que ainda hoje continuo fazendo isso, agora com novos focos.

Já não quero mais viver para sempre com o antigo nível de bagunça e procrastinação. Ando experimentando como abandoná-lo, ou pelo menos desapegar-me dele. Dei para fazer anotações das coisas que devo fazer (Na verdade, sempre fiz isso, mas nunca ou quase nunca relia as anotações e a demanda de janeiro se arrastava tranquilamente até dezembro…). Além de anotar em papel, baixei um aplicativo no celular e levo para todo lugar estas lembranças de cobranças pessoais.

Deixar para amanhã o que não precisamos fazer hoje é interessante até certo ponto, até certos níveis de consequências. Pouco a pouco, quando decidimos começar a fazer, percebemos quanto já se acumulou. E como todo dia costuma aparecer uma nova demanda, a mudança e o fazer ficam extenuantes. É como falei a um amigo dia desses: “Aim, não tenho nada para dizer que é meu” e de repente, quando somos obrigados a arrumar a casa, mudamos a frase para “caraca, de onde saiu tanta coisa, meu deus?”.


Na verdade, bem que eu queria continuar procrastinando, mas a meia idade vem chegando, o mundo não é mais tão colorido e risonho como antes, a energia e a disposição baixaram e o calor do verão, sugador de minha boa vontade, parece ser agora eterno, mesmo quando estamos sob as chuvas do inverno.

terça-feira, agosto 08, 2017

Artesanias: nicho de madeira pinus para uma estátua do Wolverine


No último final de semana concluí um projeto que havia meses martelava minha cabeça: fazer um nicho de madeira para a nova estátua do Wolverine que chegou lá em casa dia desses. A peça tem uns 28cm e merecia ser exposta mesmo antes ter a bendita estante com porta de vidro que um dia vou fazer.

A ideia era montar algo parecido com este, que fiz em 2015 reaproveitando uma gaveta de mesa de computador. 

Como não sei nada de marcenaria, fiz o recomendado numa situação destas: olhei muitos tutoriais na internet. Pesquisando, pesquisando, pesquisando, fui parar em um  que falava sobre fazer nichos com madeira pinus, a mesma usada em pallets. Gostei da simplicidade do projeto e comecei a apurar o olhar catador de madeira na rua. (Não boto o link porque simplesmente não consegui achar de novo…).

Tanto olhei pros lados que um dia achei um pallet jogado na frente de uma construção ali na avenida Ville Roy. Dei a volta na quadra, bati o cimento do bicho e joguei no porta-malas. Aí veio uma nova pesquisa: como desmontar o pallet sem detoná-lo, já que o pinus é muito frágil.

Acho que a dona Pesquisa do Google ouviu minhas dúvidas mentais e aí, carinhosa, me jogou este vídeo bacana do Canal Oficina de Casa nas sugestões do Youtube. 

Então veio a questão: comprar um pé-de-cabra seria uma boa, né?

Na mesma semana em que olhei esse vídeo fiz uma viagem à cidade de Lethem, ali na Guiana. A ideia era levar o Edgarzinho para passear e talvez comprar bugigangas. Na primeira loja achei estas belezuras por apenas R$ 30:



Os pé-de-cabritos mais lindos que já vi
Foi só chegar em casa e começar a desmontar o pallet. Em seguida veio a parte da medição e do corte. Vou confessar que sou péssimo usando serrote com a necessidade de ser preciso. Isso me levou a fazer uns cortes horríveis e impossíveis de se aproveitar.


Pallet desmontado com as minhas novas ferramentas

Comecei usando uma serra de arco e depois passei para o serrote normal...Deu erro em todas...hahahaha



Até a hora de começar a cortar, todo um profissa

Depois que terminei de cortar, um amador nível 10

 Como estava há dias marcando e remarcando uma visita ao meu amigo artesão J.J. Vilela, mestre nas artes dos reaproveitamentos, decidi juntar o útil ao agradável: levei minhas madeiras muito mal cortadas, suportei as zombarias dele e da turma que estava conosco (rir da falta de habilidade é muito bom) e recebi de volta um nicho perfeitamente cortado e montado. E ainda ganhei de brinde a proteção do fundo do nicho. A peça ficou com 37cm de altura e 21cm de largura, dando opção para, no futuro, botar uma lâmpada LED e iluminar a figura. 


Com o Vilela: sorrisos pós-corte e ajustes na madeira mal cortada
Tudo montado, chegou a hora de lixar e preparar para a pintura. Decidi usar spray para ver como ficaria o acabamento (só depois de concluir o processo é que lembrei que uma boa nestes casos é passar massa corrida no pinus para deixar a superfície ainda mai bonita). Não recomendo fazer isso, pois vai quase uma lata de tinta na brincadeira, ainda mais se não tiver aquela demão inicial de tinta.






Antes da pintura


Depois de passar o spray

Depois disso foi só pregar dois “seguradores” (não sei o nome do trocinho) para garantir que o nicho não caia no chão. Aqui cabe lembrar que o outro, por ter sido feito com uma gaveta de MDF, é bem mais leve e só levou um “segurador”. 





Aproveitei e joguei uma mão de tinta spray no primeiro nicho para deixá-lo bem mais bonito. Aí sim, com uma tinta base, vale a pena jogar spray.

Vejam como ficaram os dois na parede de casa: 




O altar dos Wolverines: louvem o carcaju!

Agora estou empolgado e vou tentar fazer um nicho para uma estátua do Batman que tem uns 16 cm e anda bolando pelas mesas da casa...

quarta-feira, agosto 02, 2017

Sobre uma roda de conversa no IFRR explicando como fazer crônicas

Voltei ao Instituto Federal de Roraima (IFRR) no sábado passado (29/07) para falar com alunos do ensino médio sobre a produção de crônicas. 

O convite partiu da professora Ray Rodrigues, que está ministrando, juntamente com a professora Ana Moura, minha antiga colega lá na UERR, um curso de férias de língua portuguesa. A turma com que conversei tinha idades entre 16 e 22 anos.

(Aqui tu vê como foi um outro convite da profxs Ray para abordar outro assunto também lá no IFRR). 


Lendo uma crônica e explicando alguns elementos do texto
Havia me programado para algo rápido, de no máximo 50 minutos e alguma conversa de dez minutos, mas a prolixidade tomou conta de mim e falei das diferenças entre crônica e artigos e outros gêneros, li e fiz análise da estrutura de obras publicadas aqui no blog e uma que saiu no livro do concurso do Sesc DF, pedi para a rapaziada tentar criar crônicas e apresentá-las verbalmente e contei histórias sobre minha vida e a relação que sempre tive com a leitura e a leitura. No final, foram quase duas horas de conversa, histórias e algumas risadas. 




A vez dos alunos




Além de tudo isso, ainda inventei de, para exemplificar abordagens que podem ser feitas num texto, relatar literariamente como foi o meu primeiro beijo. Ah, e consegui que alguns fossem à frente da turma fazer o mesmo. 

Resultado: não fui muito didático nem fui rápido. Mesmo assim, acho que a turma meio que curtiu. Joguei o desafio de fazer uma exposição de crônicas e eles toparam de elaborá-las. Aí, quando tudo estiver Ok, voltarei lá no IFRR para lê-las. As melhores vão ganhar livros. 


Ladeado pelas professoras Ana Moura e Ray Rodrigues, ladeadas pela turminha do IFRR


A minha sensação é de que a vida não está muito legal com todo o contexto dessas reformas tira-direitos que estão sendo implementadas pelo governo Temer e seus aliados. Estes momentos ajudam a relaxar e criar breves momentos de felicidade. Por isso topo e curto participar deles.

sexta-feira, julho 07, 2017

Fui selecionado no 7º Concurso Microcontos de Humor de Piracicaba 2017


Recebi hoje um e-mail avisando que tive o microconto "Pedido" selecionado pela comissão julgadora do 7º Concurso Microcontos de Humor de Piracicaba 2017.  

Junto com outros 99, "Pedido" vai integrar a coletânea do concurso, que será disponibilizada em formato digital, para download gratuito. É a minha segunda seleção neste concurso. A outra foi em 2013 e você pode ler o texto aqui.

Neste ano foram 509 textos enviados de 23 estados brasileiros e também do exterior (Estados Unidos, Japão, Holanda e Portugal). Como regra básica, todos deviam ter, no máximo, 140 caracteres. 

O roraimense Aldenor Pimentel, que hoje mora em Minas Gerais, também foi selecionado. A relação completa de selecionados pode ser conferida aqui

A comissão julgadora foi composta por André Bueno de Oliveira (escritor e poeta), Anderson Brongna (escritor, contador de histórias e graduado em artes), Carmelina Toledo Piza (escritora, contadora de histórias, mestre em educação), Sandra Sanchez Baldessin (graduada e pós-graduada em Letras, consultora, revisora, crítica literária e professora de literatura) e William Hussar (cartunista, crítico de arte e representante do Salão Internacional de Humor de Piracicaba).

Confere o meu conto: 

Pedido

Já morrendo, mainha me falou:

- Filhinho...

- Sim?

- Não case com qualquer uma não, viu...

Concordei. Casei foi com João, meu grande amor.


quinta-feira, julho 06, 2017

Mais uma participação em um rap: Poeta da favela, do Big Berg


O rapper Big Berg, que morava aqui em Boa Vista e agora está pelas bandas de Florianópolis, me convidou novamente para fazer uma participação especial em uma de suas músicas 

(A nossa primeira parceria, só para lembrá-los, foi em Tempo ao tempo, gravada em junho de 2016. Essa história e a gravação podem ser conferidos aqui.)

O novo som do Berg intitula--se Poeta da Favela e tem um refrão que curti desde a primeira vez que o ouvi cantar, ali num evento do Coletivo Macu-X no bairro Asa Branca. 

Se vocês compararem a primeira gravação com a minha participação nesta, verão que já estou mais firme na leitura (acho), apesar de não ser todas essas coca-colas todas.

O trecho faz parte de um poema que havia escrito dias antes do convite do Berg. Mostrei e ele aceitou. Daí fiquei treinando um monte de vezes, gravei no celular com três diferentes entonações e mandei pro magrão rapper escolher.

E assim ressurgiu uma parceria, superando os milhares de quilômetros que separam Boa Vista de Santa Catarina. 

Dá um play e compartilha, comenta, espalha pros amigos, me manda convite para beber e comer. Tamoaí, abertos a parcerias.


terça-feira, julho 04, 2017

Diálogos sobre vida, poesia e arte na escola estadual Camilo Dias

Junho foi cheio das conversas com estudantes e professores. Teve lá o encontro com o pessoal da escola Oswaldo Cruz e depois com os futuros jornalistas formados pela UFRR.

Na última sexta-feira do mês(30/06), no pós-feriado, acompanhando as poetas Elimacuxi e Zanny Adairalba, participei do festival literário da escola estadual Camilo Dias, zona oeste de Boa Vista. 

Esta foi a segunda ocasião em que visito a escola. A primeira foi há alguns anos, também falando sobre literatura. Daquela vez foi com a turma da Máfia do Verso.


Zanny Adairalba falando sobre como começou a fazer poesia

Elimacuxi contando sua história com literatura

Aluna da escola apresentando seu gosto artístico

Com a professora Mayner Amorim, nossa anfitriã na escola Camilo Dias


Nesta visita, durante quase duas horas conversamos sobre vida, arte e sonhos com os adolescentes.

Para animar a tarde, também os estimulamos a apresentar suas criações artísticas. Saiu um mini sarau com direito a paródias, poemas próprios, análise de letras de músicas de vários ritmos e risadas, muitas risadas.







O convite partiu da professora Mayner Amorim, que me contou ser uma frequentadora das edições do Sarau da Lona Poética. O Festival Literário está sob a coordenação da professora Marcélia Nicácio Lopes e terá seu encerramento agora na primeira quinzena de julho. Já passei a dica para a professora Mayner: bota todo mundo para cantar e declamar que ficará mais bonito tudo.




segunda-feira, julho 03, 2017

Uma conversa na UFRR sobre ativismo cultural e literatura com futuros jornalistas



Estive semana passada na Universidade Federal de Roraima (UFRR) batendo um papo com alunos do curso de jornalismo sobre minha história como ativista cultural e escritor.





O convite foi feito pelo professor Timóteo Camargo, que neste semestre está repassando aos meninos as manhas das técnicas de jornalismo, entre elas como construir notícias e reportagens.

A atividade foi no dia 28.06 e durou quase duas horas, dividida entre a palestra e a sessão perguntas e respostas, formato entrevista coletiva.

Esqueci de falar lá no dia, mas a sala 140 do bloco 1, onde rolou a atividade me recebeu muitas vezes como aluno quando fiz a graduação. Voltar para lá como palestrante foi bacana.

A foto projetada em meu rosto é um dos registros das atividades do Coletivo Caimbé, do qual faço parte, em terras indígenas de Roraima, especificamente na comunidade Ilha, da Terra Indígena São Marcos.



segunda-feira, junho 26, 2017

Falando de arte e literatura na escola Oswaldo Cruz






Passei uma manhã gostosa no último sábado (24), participando como convidado do primeiro Sarau de Arte e Literatura da escola estadual Oswaldo Cruz, no centro de Boa Vista. 

Tive a companhia das poetas Elimacuxi, Sony Ferseck e do cantor Neuber Uchôa. Falamos no pátio da escola para cerca de 100 alunos sobre a nossa arte, vida e literatura. O sarau foi a culminância do projeto Literatura e Arte Roraimense, coordenado pelo professor Francisco C S Silva.





A organização do evento pediu aos alunos que escolhessem um texto ou música de autoria dos convidados para fazer a leitura e cantar. Foi bonito ver a meninada lendo o Sem Grandes Delongas. 







Havia me planejado para ler dois poemas, mas optei por fazer uma leitura interativa de Autopsicografia, chamando a turma para repetir em voz alta as palavras finais de cada quadra do texto de Fernando Pessoa. 





Aquele momento em que quase todos olham para a câmera errada (ou certa...)



No final do evento fiquei conversando e tirando fotos com a turma e quando me dei conta já havia perdido a damorida que estavam servindo. Fiquei na vontade... 

quinta-feira, junho 22, 2017

Desabafos acadêmico-musicais da quinta à noite


Sabe, neste momento eu deveria estar focado no trabalho que tenho que fazer para ser aprovado na disciplina lá do mestrado em Antropologia Social que fiz este semestre como aluno especial, mas não. 

Estou aqui (são 20h15 da quinta 22 de junho) ouvindo há horas versões e versões da música Costumbres, que ficou famosa na interpretação da cantora Rocío Durcal. A lista que me aparece no Spotify de gente que a regravou é tão diversa que não tenho como resistir.

Sou desses que ouve repetida e alucinadamente as músicas que o tocam. É a minha droga (Às vezes, penso o que seria de mim se usasse narcóticos e gostasse. Talvez ficasse o dia todo chapado...). 

A música agora é outra, uma do CD el Trem de Los Regresos, de Yordano. 

Fiz uma lista de outros sons que gosto e botei para tocar enquanto vou me desapegando de Costumbres. É um processo lento esse de abandonar as músicas. Teve uma noite que passei umas duas ou três horas ouvindo tudo que o aplicativo tem relacionado à Sweet Child O'mine (A tara começou depois que vi o filme Capitão Fantástico e a versão que a família retratada canta lá. Achei linda e recomendo. Vi o filme em HD lá no youtube mesmo. Além disso, tem as meninas cantoras super lindas de se ver também).

Agora é outro o som: vem de Franco de Vita Vuelve em primera fila, os acústicos que as gravadoras fazem com os cantores que gravam em espanhol.

Viro o rosto e o caderno com as anotações me encara. O rascunho base está entre meus braços, querendo, precisando, clamando para ser editado. Meu pescoço dói, tá chovendo e tudo o que não queria era ter que fazer isso, mas a culpa é minha, que não fui pra cima de um mestrado quando era jovem, disposto, com tempo e sem tanta gente para dar atenção. 

(Vou até dar uma olhada boa nesse "disposto" aí...talvez tire...afinal, disposição nunca foi meu forte. Procrastinação sim.)

Alguém canta agora uma versão de Rocket Man. Conhece, leitor ou leitora deste blog que insiste em sobreviver na era das redes sociais sem modernizar-se? Descobri essa música no final de uma temporada da série Californication. A dor do Hank Moody foi toda traduzida naquela cena ambientada com esta música. 

Deus, quantas apostilas espalhadas na mesa! Tenho que extrair os conceitos que me interessam de cada uma,  lincar isso com a ideia que tive de analisar os caras do rap roraimense e fazer um ensaio basicão de sei lá quantas páginas. Nada denso, nada difícil, eu sei, mas...

Quem sabe de suas dores é quem as carrega. Talvez depois que edite e comece a escrever a parada flua...Talvez...

Nem devia estar aqui, mas meio que precisava desabafar essa minha ansiedade por não avançar no trabalho da disciplina. Terça ainda tenho que apresentar um resumo dos conceitos e a linha metodológica que vou adotar para escrever o troço. Ou seja, agora é uma corrida contra o tempo. 

Preciso aprovar nessa disciplina. Se o fizer, serão 60 horas a menos quando um dia aprovar em um dos mestrados que vou disputar. Também serão 60 horas a mais para apresentar como capacitação lá no RH do trabalho...

Sério que tu ainda não foi pesquisar o som que tava ouvindo no começo do texto? Qual é teu problema com música romântica em espanhol? São bem melhores que as anglo-saxãs para representar um coração partido, te garanto.

Bem, vou desligar aqui e me concentrar. Quem sabe pelos menos a edição inicial do texto não acontece hoje, né?

sexta-feira, junho 09, 2017

Conquistando as piscinas naturais da Serra Grande

Hoje vou falar de uma ecoaventura que fiz nos distantes dias 20 e 21 de maio deste longo ano de 2017. Preparem-se para acompanhar cada gota de suor que soltei na jornada. 

O eco-passeio exigiu um bocado de esforço físico: em companhia de cinco amigos subi a Serra Grande, uma montanha que fica no município do Cantá (RR) e que há muito tempo queria encarar.

Esta minha ecotrip (acho que acabaram os termos aos quais consigo adicionar “eco”) começou com o convite do casal Timóteo e Graziela Camargo. Com eles e Ricardo “Biro” Guimarães, Júlio Fraulob e Marcelo Engelhardt encarei uma trilha e pedras escorregadias no meio da mata até conquistar (olhe aí a petulância do trilheiro) a Serra Grande. Ou pelo menos, mais da metade dela, bem na parte que interessa, com as piscinas que parecem infinitas e uma cachoeira delícia de tomar banho e bater fotos.

 A caminhada começou no sítio Água Fria, que fica na zona rural da vila Serra Grande Dois. Para chegar nesse lugar saímos de Boa Vista, pegamos a BR 401 e entramos na RR 206, passamos pela sede do município do Cantá (a 32 km de BVB) e avançamos mais uns 20 ou 30 km em estrada de picarra e terra batida. 

Sítio Água Fria, o começo de tudo

A divisão


Depois que dividimos as coisas de uso comum para carregar nas mochilas, começamos a caminhar. Logo de cara tivemos que atravessar um igarapé. Como não queria molhar os tênis logo nos primeiros 20 metros da jornada, avancei pela margem um pouco e passei pulando pedras. 


Primeiras puladas sobre as pedras


A umidade estava bem alta e logo comecei a suar muito. Sorte que tinha uma garrafa de água congelada comigo e isso ia matando a sede. O caminho começou fácil, mas logo foi ficando complicado, com troncos no meio da trilha e muitas pedras para pular e subir usando mãos e pernas. Me lembrou a etapa final da subida ao monte Roraima, que encarei há muitos anos, no auge de minha forma física, e na qual fiz “crec” no joelho esquerdo na descida. 


Primeiros passos na trilha


Primeiro terço: o cansaço já está batendo



Abaixa que tem árvore no meio

Pula que tem pedra pra subir


Mãos e pés na subida


Como o ritmo da turma estava bem puxado, houve momentos em que me faltou fôlego. Coisas da idade (naqueles dias indo para os 40, agora tendo 41) e do sedentarismo (naqueles dias caminhando cinco km por noite e passando uma semana sem fazer nada). 

A sorte é que cada momento apareciam córregos para pegar água bem gelada e jogar no rosto, aliviando a agonia do cansaço e o calor da mata fechada. E foi no meio da mata que almoçamos paçoca com banana e suco de cajá (ou taperebá, não lembro mais. Só lembro que serviu para recuperar forças e descansar). 


Almocinho no restaurante Trilha da Serra




Como estamos na temporada das chuvas, há muitas oportunidades para refrescar-se no meio do caminho, dando um mergulho para espantar o calor ou apenas pegando água para molhar o rosto. 


Subimos usando GPS, mas a certa altura saímos da rota e fomos parar no pé de uma parede gigante de pedra. Quando vi aquilo pensei: caraca...será que dá para subir isso sem escorregar? Por sorte, lá no topo (amplia a foto que dá para ver a silhueta do povo) estavam duas pessoas. Começamos a falar com elas na base do grito, perguntando se a trilha era por ali e elas responderam que não, que dava numa cachoeira, mas que não era o caminho correto. Demos meia volta e entramos na trilha correta, eu aliviado pela subida em vão que não fizemos…



Sente o tamanho da pedra que ainda bem que não subimos. Lá, na altura da nuvem, estavam duas pessoas

No meio dessas subidas que nunca acabavam, há percursos no meio do leito de pedra do rio que só aparece no inverno. Dele já dá para ver o rio Branco às nossas costas.

O rio Branco lá trás...e ainda tem chão (ou rio) para subir



Leito do rio que se forma na época das chuvas


Escultura de pedras perto da chegada


Finalmente, depois de sair de 110 metros de altitude e fazer quase quatro horas e 3,15 Km de caminhada, finalmente chegamos ao nosso destino, a 514 metros.  Mas não sem antes pular por cima de mais pedras para não molhar os tênis nos riachos e escorregar várias vezes por conta do limo no caminho. 


O gráfico mostrando nosso trajeto

No ponto de chegada, entre 10 e 20 pessoas já estavam instaladas em redes e barracas e tomando banho nas piscinas naturais mais altas. Por isso, depois de montar acampamento, descemos um pouco a serra e tomamos banho em outro ponto. Ainda bem que a visão de “piscina no horizonte infinito” também se via nelas. A água fria que desce do topo da serra nos ajudou a recobrar as energias e ficar muito bem. No meu caso, acrescentei muito alongamento para evitar dores musculares no dia seguinte. 


Piscina do infinito, uma das recompensas por tanto esforço

Tinha dois tipos de peixinhos na piscina. Como subiram é o mistério

Pose zen deste cronista, para ficar blasé na fotos




 Fizemos a montagem das barracas em dois pontos bem próximos: numa ficamos eu, Graziela e Timóteo. Debaixo da outra lona abrigaram-se Júlio, Marcelo e Biro. Nessa montamos o fogão e a iluminação a base de lâmpadas LED alimentadas por uma bateria de motocicleta, garantindo iluminação padrão “casa” para a janta (pão com linguiça frita), o mate e a conversa. O espaço ficou tão bom que o povo das vizinhanças veio esquentar água com a gente e lá pelas 23h rolou até um momento comunitário. 





Antes da noite chegar e depois do banho, fomos curtir o final da tarde na pedra, vendo o sol iluminar o lavrado, o rio Branco e colorir de laranja a mata da serra. Fiz algumas fotos e aí a bateria de meu celular acabou, mas não antes de enviar lá de cima umas fotos via Whastapp para casa.

A recompensa: o lavrado todo à vista, com o rio Branco em primeiro plano. 

Parece foto posada, mas estávamos mesmo curtindo a visão


Julio, Marcelo, Edgar, Timóteo, Graziela e Biro

Sente a luz linda que tínhamos nessa tarde


O sorriso na cara de quem já escorregou muito na subida
 Quando escureceu e os insetos começaram a incomodar, voltamos para as barracas e providenciamos a janta. Choveu um pouco e quando passou decidimos voltar para a pedra para tomar vinho e ouvir música nas caixas de som com bluetooth que o grupo levou. 

Preparando o jantar


Do ponto onde estávamos, víamos à noite os carros saírem de Mucajaí e atravessarem os 50 km da BR 174 rumo a Boa Vista, cuja iluminação se projetava por detrás da serra. Como era sábado, deduzi que o povo estava vindo curtir as baladas na capital. 


Os demais trilheiros foram chegando e daqui a pouco a roda tinha umas quinze pessoas conversando e ouvindo música. O bom momento, com muito vento frio, acabou quando recomeçou a chover, parando logo em seguida. Como já estava bem tarde, fui deitar e parte do povo ficou celebrando a natureza. 


As chuvas voltaram de madrugada, minha rede começou a molhar dos lados, deixando-me à procura da melhor posição para voltar a dormir. Na verdade, só ficou seca a parte do meio. Até o lençol molhou na brincadeira e não parava de chover, molhando tudo ainda mais… A noite mal dormida foi o grande momento ruim do passeio.

Quando amanheceu, lanchamos, tomei banho e lá pelas 9h, 9h30, começamos a descer. Sabe aquele ditado de “para baixo todo santo ajuda”? Pura conversa. Quase todo mundo escorregou e se ralou um pouco na descida. 

Como estava bem úmido, suei bem mais do que na subida. A certa parte, minha pernas tremiam pelo esforço e os tornozelos e joelhos começaram a doer...quando encontrávamos uma parte reta para caminhar, agradecia pelo descanso. Como já estava indo para casa, nem me preocupava mais em pular as partes com riacho. Passava direto. 

Tirando a chuva me incomodou à noite e esse cansaço, não tenho nada de ruim para contar. Valeu muito a pena sair do conforto de casa para curtir a Serra Grande na companhia desse grupo bom de pessoas. 

(É claro que nessa semana não fiz nada de exercícios, dando tempo para que as pernas se recuperassem.)