Cenas de bar
Duas da manhã. Éramos quatro, bebendo e ouvindo uma banda tocar velhos clássicos do rock. O balcão estava sujo. Na hora não percebi isso. Mas no dia seguinte, as provas estavam na manga comprida na camisa.
Nos intervalos entre uma música e outra, o burburinho predominava. E o cheiro de fumaça de cigarro industrial e de outros tipos tomava conta do ar. Estava quente. O calor só diminuía a cada cerveja. A necessidade de refrescar-se fazia que todos se aproximassem do nosso pedaço de balcão, congestionando o espaço.
Ele estava perigosa e estrategicamente bem posicionado entre o caixa e os garçons. Com a direita pegava a bebida e com a esquerda pagava. Quando saia do lugar, alguém ficava de guarda. Sempre o mais animado, estranhamente naquela noite era dono de uma calma que poderia ser chamada de melancólica ou perigosa.
Entre nós, as apostas sobre as coisas de sempre subiam. Mulheres para conquistar, garrafas a serem esvaziadas, o corpo da bailarina mais atraente.
E ele, quieto, apenas observando o movimento.
De repente, ela se aproximou do balcão. Vestido curto preto molhado de suor, cabelo longo e castanho, bonita. Cumprimentaram-se. Pareciam velhos amigos. As apostas agora haviam duplicado. Pelo estado de ânimo dele, joguei tudo no lance da conversa não durar mais uma canção.
Conversaram um de frente para o outro por três minutos, o tempo de um velho blues. Ele ainda aparentando distância. Eu, próximo de ganhar a aposta.
No intervalo, ela sussurrou uma frase no ouvido dele e sorriu. Ele respondeu, sorrindo também. Consegui ouvir ele dizendo "não me faz pensar bobagens. Há dias em que o coração de um homem está mais vulnerável que em outros e a cabeça e o corpo não se entendem."
Trocaram olhares e duas novas frases, afastaram-se do balcão, deixaram o bar e eu perdi a aposta.
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