quinta-feira, julho 14, 2005

Perfis

Era tão canalha que nem o diabo fazia negócios com ele.

......

Brigavam tanto que quando se encontravam perguntavam um ao outro se estavam de bem ou de mal.


......

Era tão fácil de levar para a cama que acabou como chefe da equipe de testes de uma fábrica de colchões.

.....

Escrevia tão mal que até o bilhete de suicídio ninguém conseguiu compreender.


(P.S.: O post anterior foi parar numa coluna do jornal mais malcriado do sul do Brasil, o megasucesso de vendas Diário do Litoral, no Vale do Itajaí, Santa Catarina. Culpa de Carlotinha Cavalheiro.)

terça-feira, julho 12, 2005

Mala forte

A grana apreendida das malas da Universal do Reino de Deus somente num avião chega aos 10 milhões de reais. O dinheiro é fruto de apenas um culto especial realizado aqui do lado, no Amazonas. Fazendo uns quatro desses por mês, dá para sentir quanto rende por mês a fé e a caridade cristã.

Primeiro era só a mala do publicitário Marcos Valério de Souza abastecendo os partidos aliados do governo. Depois foi o irmão do José Genoíno pego com R$ 200 mil também numa mala e 100 mil dólares numa cueca. Agora foi o pastor/deputado da Universal/PFL. Começo a pensar que depois dos colchões e dos cofres bancários, mala é o melhor lugar para fazer dinheiro render.

Aliás, pelo perfil do dinheiro que voa de um lado ao outro do país em tantas malas, a profissão em alto no momento não é a de pastor de igrejas isentas de impostos, nem a de "agricultor" ligado a parente do presidente nacional do PT e muito menos a de publicitário do governo federal. O negócio é ser fabricante de malas.


FestRock, o final


Se a chuva fez um estrago na sexta e o público não apareceu como esperado na primeira noite do Sesc FestRock, o sábado foi de casa cheia, com o galpão, os corredores e a frente do prédio tomadas por pessoas vestindo roupa preta, muito couro e metal.

Não rolou confronto, apenas um desentendimento rapidamente contornado com a pressão dos próprios músicos sobre os brigões em potencial.

As meninas da banda Pink Rock, vindas de Manaus, deixaram a turma em alta. Pena que a acústica não ajudava muito a entender o que cantavam.
Para quem não agüenta mais ouvir axé, forró e brega, o festival foi uma redenção. Pena que as bandas limitaram-se a fazer cover, tocaram 99% das músicas em inglês e só houve espaço para o rock pesado. Uma ou outra que tocou composições próprias.

Mesmo assim, valeu.

sábado, julho 09, 2005

O rock não é mais como antes...


I Sesc FestRock. 23 bandas de rock tocando no espaço multicultural do Sesc Roraima no sábado e no domingo. É o grande encontro das tribos.

O show ainda não começou. Chove demais na cidade. Zanny e eu ilhados numa lanchonete, esperando o tempo passar e vendo América.

Diz Zanny: vamos embora na chuva mesmo. Estou com frio e ela não vai passar tão cedo.

Digo eu: calma, companheira. Tenha fé. Já vai diminuir.

Meia hora depois, diz Zanny: vai passar quando?

Digo eu: abre teu coração para Jesus, mulher de pouca fé. Já, já, passa.

Uns dez minutos depois saímos correndo debaixo da chuva. A água estava empoçando e cada carro que passava, ondas se formavam, lindas como se estivéssemos à beira do mar... O problema é que havia uma tampa de esgoto pertinho e a Zanny estava querendo vomitar...

No Sesc, a molecada toda de preto, alguns com o rosto pintado, piercings, outros com bandeiras, cantando músicas em inglês com solos de guitarra baterias pulsantes. Tatuadores, roupas de couro e metal. É algo diferente na terra onde tudo termina em forró ou axé sendo cantado por músicos desafinados.

Muito rock. Vocalistas com naipes diferentes, alguns com estilo, outros ainda pegando a manha do palco.

A molecada bebendo suco de laranja e um guitarrista parando a apresentação para dizer que as drogas fazem mal à saúde, que ele usou por 15 anos e quase morre, blá-blá-blá, fazendo do palco um confessionário e sendo muito aplaudido no final.

Definitivamente, o rock não é mais o que era antes. Pelo menos no que trata sobre as drogas entre a juventude. Ainda bem.

P.S.: Terminei de escrever às 13h24, hora local. E ainda chovia na cidade, claro que com menos intensidade. É culpa da pouca fé da Zanny.

quinta-feira, julho 07, 2005

Um ano



Num ritmo cada mais corrido de trabalho, lembrei que há exatamente um ano, em 7 de julho de 2004, a dois dias do aniversário do município de Boa Vista, entrava no mundo dos blogs a primeira postagem do Crônicas do Fronteira.

Muchas gracias, Avery, por ter me ajudado a entrar neste mundo. Como sempre, fico te devendo.

Nesses doze meses, idade aproximada a que tinha quando bati essa fotinha aí, uma pá de coisas aconteceu na vida deste cronista.

Rapidamente, para ilustrar a inspiração para alguns textos aqui publicados, vai aí uma lista rápida de alguns fatos relevantes:

1) Três viagens à Venezuela.
2) Uma ao Peru, com passagem pela Bolívia, com direito a chá de coca.
3) Dois semestres concluídos no curso de Sociologia e mais dois pela frente para sair desse perrengue.
4) Algumas pessoas incomodadas com o conteúdo do Crônicas.
5) Muito calor, muita chuva.
6) Duas bikes roubadas.
7) Algumas amizades criadas e outras quebradas.
8) Um aumento salarial com a correspondente duplicação de responsabilidades.
9) Alguns shows de rock, música latina e outros gêneros.
10) Algumas bocas.
11) Uma namorada que criou coragem para mostrar o que escreve e decidiu tornar-se blogueira.
12) Raivas, risadas e etc. e tal.
13) Um computador pessoal que vive pifado.
14) Pequeno e irritante aumento da massa corporal.
15) Vocês.

Para comemorar, festas, bebidas, gandaia? Nãããooo. Uma prova, a última do semestre, justo das 20h às 22h. Se estudei? Nãããooo.
Vou deixar as comemorações para esta sexta,nesse evento aí, ô, desse cartaz aí embaixo.
A todos os que apareceram por aqui nos últimos 12 meses, valeu.



segunda-feira, julho 04, 2005

Resumos da vida


O que os dois queriam era uma simples noite de sexo, mas alguma coisa deu errado. Casaram, tiveram filhos, pagaram a hipoteca de uma casa e ficaram bravos quando a filha mais velha decidiu largar os estudos para ser cantora numa banda de reggae chamada Os filhos de Maria Joana.

sábado, julho 02, 2005


O tempo sem luz

...E as luzes se apagavam enquanto o som diminuía.
As mulheres chamavam as suas crianças
E os homens largavam suas amantes.
Os padres oravam pelos demônios
Que ao lado dos mortais deliciavam-se
Com garrafões cheios de vinho.
O pecado parecia ser a ante-sala da
Da alegria mundana alojada naquela igreja.
A profanação seria lembrada como a maior de todas e os
Seus protagonistas cultuados como lendas por vários povos
E muitas gerações.

(Escrito na metade da década de 1990, quando ainda estava no ensino médio)

quinta-feira, junho 30, 2005

TV Câmara, duas da manhã, horário de Brasília

Às vezes, a insônia tem suas gratificações. Conhecer mais um pouco o Legislativo, via TV Câmara, é uma delas. Na sessão da madrugada de quinta-feira, quando os deputados tentavam votar a aprovação de uma medida provisória enviada às 19h pelo Governo para dar um crédito extraordinário de R$ 299 milhões para o Ministério da Defesa e para a rubrica "Encargos Financeiros da União".
Discurso vem, discurso vai, o Severino quase dormindo, me saem os deputados com esta conversa, às 1h58, horário de Brasília, depois que alguém perguntou ao presidente da Câmara quanto tempo ele ia deixar o painel em aberto para votação.

Severino Cavalcanti: Até as 3 horas.

Dep. Alberto Goldman (líder do PSDB): Presidente, nunca vi deixar o painel em aberto por mais de uma hora para votação.

Severino, o rei do baixo clero: Era preciso que o senhor visse. Eu sou a primeiro!

(Plano geral, os deputados falam e o som é captado pelos microfones.)

Roberto Freire (presidente do PPS): Isso é uma falta de respeito com os deputados.

Severino, cabra macho: Eu não preciso de seu respeito. Nunca precisei.

Freire: Nunca teve! Nunca teve desde a época do (fala confusa, não consigo entender. Os dois são pernambucanos e devem ter uma história pregressa.).

Goldman pega o microfone e responde ao Severino, em tom de quem um dia pretende voltar a ser situação: Vou me lembrar disso.

Aí desliguei a TV, frustrado por não ver os meus parlamentares ali, de madrugada, votando matérias importantíssimas para o futuro do País.

segunda-feira, junho 27, 2005

Da série Ouvidos na rua: Roqueiros adolescentes


Na maioria das vezes, a adolescência é uma fase fantástica. Outras vezes é assustadora. Hormônios explodindo, pressão social, acne, o primeiro beijo de língua, o vestibular chegando, a vontade de conquistar o mundo ou simplesmente dormir até tarde sem ninguém perturbar.
A adolescência, na maioria das vezes, é também uma fase de falta de dinheiro. E isso é muito ruim se você quer ver um show de rock, por exemplo, e não tem a grana da entrada, criando cenas como a de sábado, quase às 23h.

- Quanto é?, pergunta o rapazinho, magro, cabeludo, camiseta preta, roqueiro total.
- Cinco reais, responde a mocinha que estava vendendo os ingressos.
- Aceita carteirinha?
- Hum...hum..., tá bom, responde a garotinha, com um sorriso amarelo.
O guri paga, pega o troco e vai saindo quando a mocinha pergunta pelo documento.
- E tem que mostrar?
- Claro!, diz a vendedora, rindo do meu sorriso.
- Ô, táqui, mas não tem foto...
- Hum...vê lá com o rapaz da entrada para ver se tu podes entrar, orienta a mocinha, com expressão de quem não acredita no que está ouvindo.

Se o guri entrou, não sei. Mas na saída do show havia uns 20 do mesmo naipe, só esperando liberarem a entrada.

terça-feira, junho 21, 2005

Mais um post coletivo do gênero ?dê continuidade ao que os outros escreveram?, no qual o desafio é manter uma mínima linha de coerência com o post anterior. As condições são estas:

1) Cada co-escritor terá direito a duas participações, intercaladas com outras três dos demais participantes.
2) Se quiser contribuir, mas não quiser colocar seu nome, tudo bem. Só não vale desqualificar as contribuições anteriores.
3) Para que não fique muito extensa ou muito curta, a história será encerrada no 12° comentário. Só peço que não fiquem esperando o décimo para poder participar.
4) Lembrem-se da curva literária necessária para poder, de fato, encerrar a história no número de comentários definido. Da outra vez (13.04.05), quase virou a história sem fim.
5) Beijos a todos. Semana que vem fazemos outro do tipo faça você mesmo o seu final.




Uma noite de lazer


Júlio é contador, 42 anos. Trabalha sempre mais do que é recomendável e mesmo assim o retorno financeiro é pouco. É um atleta de final de semana, quando se reúne com alguns amigos do bairro para jogar bola no campo de chão batido.

Roberta é a mulher de Júlio, três anos mais jovem. Professora em duas escolas de ensino fundamental. É mãe de Augusto e Francisco. Não bastassem as crianças do colégio, tem que segurar a energia sem limite de seus filhos, que parecem nunca cansar.

Júlio adora futebol. Hoje, 21 de junho, ele vai sair um pouco mais cedo do trabalho, comprar queijo e presunto para fazer uns tira-gostos, umas cervejinhas, mandar as crianças brincar na vizinha e ligar a TV para ver um programa especial sobre a conquista do tri-campeonato de futebol no México.

Roberta conseguiu uma folga da escola. Quer chegar em casa, tomar um belo banho, talvez receber uma massagem de Júlio e dormir depois da novela, que ela sempre gostou de assistir.

O problema é que a novela e o especial de futebol vão passar no mesmo horário. E nenhum deles vai abrir mão de seu prazer.

segunda-feira, junho 20, 2005

Pesquisa do Instituto Crônicas

Alguém quer brincar de post coletivo?

Caso sim, a preferência é por aqueles em que vão complementando a história em até dez participações ou pelo tipo "escreva sua continuação e final de uma só vez sem ligar para os outros?"

sexta-feira, junho 17, 2005

Preocupações


Daniel, empresário rico, poderoso, habituê das colunas sociais da região, morre de medo de que algum que algum pedófilo vagabundo se aproveite de Jéssica, sua linda filhinha de 13 anos.

- Se alguém tocar nela, eu mato!

Agora que Jéssica ganhou corpo e cresceu, Daniel anda tão preocupado com isso que na noite passada broxou com uma garotinha de 12 anos que contratou para fazer sexo oral nele.

quinta-feira, junho 16, 2005

Verborragia

Cuspiu na minha cara, dei-lhe um soco. A polícia chegou junto, levou os dois. Mas ele não fez nada. É tudo culpa da oposição. É uma intriga para desestabilizar o país. Chamem um substantivo qualquer e verão como ele aceita suborno. Mensadão, corrigiu o nobre deputado, já de olho no meu bolso e passando uma caneta Mont Blanc para assinar o cheque. Obrigado, prefiro ver uma partida de futebol.

Yes, habemus soccer, beach e estivas em geral. O que? Não! Sul-americanos sim, mas latinos, não. Isso é coisa de cucaracho, dizem nossos primos dos EUA. E se é bom para eles, é bom para nós. Ou não? Mas ter economias em dólar é melhor que ser bacana em real. Na real.

Gringo, eu? Não. Globalizado, antenado, pós-moderno. Tucano? Petista? Ah, pára com isso, eu sou é brasileiro. Eu sou o melhor de meu país, me ensinou um publicitário. Sou cidadão, sim. Não, esse papo de ecologia, respeito aos direitos das minorias e desenvolvimento sustentável é coisa de reacionário, de quem está vendendo a nação para o estrangeiro. Eu quero é progresso e se for preciso derrubar umas árvores, que mal tem?

Ei, esconde esse jornal e essa revista e não deixa ninguém ver a reportagem mostrando que passei a mão naquela grana. O que diriam de mim, senhor? Perdoa esses pecadores que insistem em xeretar a vida alheia. Aliás, se falar mal de algum amigo vai ter. Vai rolar a festa. Ok, separa um filetinho, muito bem. Vamos, sempre em frente.

quarta-feira, junho 15, 2005

Coisas de Roraima

Sem imaginação para criar ficção, a realidade me diverte.

Ottomar Pinto, governador do Estado pela terceira vez, brigadeiro, pai zeloso de uma deputada estadual que é líder do governo na Assembléia, vai à rádio reclamar que um outro deputado está desrespeitando a sua rebenta na tribuna do Legislativo.

Nos microfones, Ottomar pede respeito e usa de velhas histórias para mostrar o que acontece com quem que não respeita os outros.

"...Esse parlamentar, cujo nome mencionei, estou indignado, porque ele ofendeu moralmente uma filha minha, faltou a ele o mínimo decoro, tem que se respeitar a filha dos outros. Eu não sei se o companheiro dela não vai revidar. Deputado só tem imunidade na tribuna, na rua vale tudo, de maneira que é preciso ele tomar cuidado. Eu tinha um tio que foi deputado logo depois da Revolução de 30, Souza Filho, deputado pelo sertão. Esse meu tio costumava usar peixeira na cintura e era um cara do verbo terrível. Ele ofendeu num discurso lá em Tiradentes, um gaúcho, Simões Lopes. Quando o filho do Simões entrou no plenário, foi atrás dele. Começou uma discussão e meu tio puxou um punhal. O filho do Simões puxou um trabuco e atirou nele. Agora Sousa Filho está lá no túmulo, no cemitério de Petrolina. Então, é preciso entender que não se pode descer ao nível das ofensas pessoais..."

O velho brigadeiro, entretanto, nega na imprensa escrita que suas afirmações sejam ameaças.
Seriam apenas exemplos de fatos acontecidos muito tempo atrás. Uma reação de pai, esclarece.

segunda-feira, junho 13, 2005

Depois do dia dos namorados

Manhã de segunda, mais ou menos 8h40, muito atrasado para o trabalho (ainda bem que não há rigidez excessiva sobre isso e sim sobre o que produzimos), vejo no banco da praça um casal jovem conversando.
Ainda não esquentou (meio-dia o sol estará de um jeito que a pele arde em poucos segundos), o que lhes possibilita conversar tranqüilos.
Estão afastados e não se olham diretamente. Parecem falar sobre algo muito sério, penso enquanto atravesso a rua. Mas que coisa! Ontem foi dia dos namorados e o casal (se é que são um casal) parece estar numas de mau humor!
Será que um dos dois não ganhou presente, beijo, ligação ou sexo de qualidade? Será que um dos dois tem mais de um amor e trocou o cartão?
Será que depois do jantar de ontem, decidiram que o melhor era cada um ir para seu lado, já que ela não agüenta mais comer sanduíche neste dia?
Ou será que estão discutindo um retorno depois de um estratégico afastamento de uma semana, o que os poupou de gastar dinheiro com presentes ou lembranças?
Será que era cobrança do aluguel ou dívidas de jogo?

Se vocês tivessem visto um casal conversando seriamente hoje pela manhã, o que teriam pensado?

sexta-feira, junho 10, 2005

Comerciais da Fronteira

A morena Zanny Adairalba estréia no mundo dos blogs com o Pétalas. O nome é inspirado na letra de uma música que fizemos junto com o violonista Cláudio Moura. Quer dizer, eu ditei, o Cláudio musicou e a Zanny anotou...


O arraial da Prefeitura de Boa Vista termina domingo. Olha como é trabalhar até de madrugada para fazer a cobertura on-line da festa. Como diz a Rah, rapadura é doce, mas não é mole não.

quarta-feira, junho 08, 2005

Convicções

Ele resmungou:

- Estou cansado da vida que levo.

Ela concordou:

- Uhum...

Ele acrescentou:

- E estou mais gordo também.

Ela percebeu o déja vu:

- Ei, tu falou isso, desse mesmo jeito, há uns dois anos.

Ele, olhando para o horizonte, respondeu:

- Viu como não sou volúvel e mantenho minhas posições?

segunda-feira, junho 06, 2005

Mondo TV

Fez o negócio de sua vida: trocou sua alma por um sistema Sky + e viveu até os 95 anos tendo acesso de graça ao paper-view. O que aconteceu depois do enterro ninguém sabe.

(Inspirado no comentário do Patrício no post anterior.)

sexta-feira, junho 03, 2005

Mondo cane

Ele disse:
Bah, guria, para que tanto aperreio. Não é melhor assumir que a idade nos torna cínicos
como as pessoas que detestávamos há alguns anos?

Ela argumentou:
Mas e os sonhos, onde vão ficar?

Ele respondeu:
Vende. Conheço um cara que paga bem por restos de inocência.

quarta-feira, junho 01, 2005

Histórias de índio: estudos


A lembrança mais antiga que tenho da escola é a da professora Sônia pegando o meu gibi (em português) com uma historinha do Scooby Doo. A vaca nunca devolveu.
Quando era criança, toda tarde passava na emissora estatal Venezolana de Television, canal 8, um programa infantil comandado por uma mulher estúpida que sempre cantava algo parecido com ?estudar, estudar, vamos todos estudar?.
Cada vez que a música começava, pulava em direção ao aparelho para desligá-lo ou abaixar o volume. Caso contrário, dona Neide não perdoava: mandava parar tudo e ir estudar. Hoje sei que ela era uma vítima dos mass media, mas à época ainda não tinha noção da carga ideológica dos programas de TV.
Na Venezuela, a nota máxima é 20. Minha obrigação de filho único era bater, no mínimo, 18, e, nestes casos, preparar-me para compensar essa nota lá na frente. Uma vez, na terceira série (ou tercer grado), tirei 12....Alguém já apanhou por nota baixa?
Quando vim morar de vez no Brasil, cansado de ver meus colegas do Liceu encaminhando-se na vida nos cursos técnicos oferecidos em cidades próximas à minha, descobri que meus anos de leitura de Homem-Aranha, Mônica, Pato Donald e outras revistas em português não iam me adiantar muito.
A chegada foi num domingo e na segunda lá estava numa sala da oitava série da escola Vitória Mota Cruz, apanhando da história, da gramática e da literatura. Sabe-se lá como, em poucos meses já estava sendo escolhido como o aluno com a melhor redação da turma. Sinal de que o ensino público é uma droga.
Depois veio o ensino médio, a universidade, o trabalho, novamente a universidade, o trabalho, o blog...
Nessa história, só tenho certeza de duas coisas: mesmo sendo o único daquela turma da Venezuela que se formou, ler Seleções do Reader's Digest não ajuda em nada.
A outra é que não adianta ser rato de livros. Se não houver vivência, nem todo o conhecimento da legendária biblioteca de Alexandria fará diferença na vida.