Ditos bem ditos
Afonso Rodrigues de Oliveira * (Publicado originalmente aqui)
“Quando nos amamos de verdade, tudo dá certo”.
Os ditos quando são bem ditos tornam-se benditos. Desde, claro que não os vulgarizemos. Os nordestinos são useiros e vezeiros dos ditos populares. Recentemente o escritor potiguar, Geraldo Queiroz, me mandou um exemplar do seu último livro: “Geringonça do Nordeste – A Fala Proibida do Povo”. Uma beleza de livro. Um verdadeiro glossário de expressões usadas no nordeste. Muitos dos dizeres bem usados atualmente em todas as regiões do Brasil. Mas é muito gostoso você ler expressões, das quais você nem se lembra mais e que muitas vezes nem conhece.
Terça-feira, estávamos na reunião do Fórum de Cultura quando, propositadamente, o roraimense Edgar Borges usou uma expressão muito conhecida pelos nordestinos: “Quem não pode com o pote não pega na rodilha”. Expressão bem oportuna no assunto que se discutia, sobre a provável construção do Teatro Municipal de Boa Vista. Minha mãe usava muito esse dito, sempre que algum de nós extrapolava e cometia uma imprudência. Ela assumia o que fazíamos e simplesmente advertia:
- Quem não pode com o pote não pega na rodilha.
Ontem, pela manhã, eu estava no quintal quando ouvi, lá na oficina do Olímpio, alguém falar pra alguém:
- Em casa de ferreiro, espeto de pau.
Outro dito que minha mãe usava com frequência. Quando, por exemplo, ela achava que meu pai caíra em falta com alguma coisa simples que ele deveria ter feito. Ele era marceneiro. Num dia, ela precisou comprar uma colher-de-pau. Ela chamou meu irmão mais velho, olhou sarcasticamente pro meu pai e ordenou pro meu irmão:
- Vai ali comprar uma colher-de-pau, pequena, pra mexer o mingau, porque em casa de marceneiro o espeto é de ferro.
Prendi-me pra não rir e vi que meu pai fazia o mesmo esforço. Ainda bem, porque, no temperamento dos dois, o assunto banal e corriqueiro era suficiente para uma tremenda ranzinzice.
Você já prestou atenção em como essas coisas aparentemente banais são muito importantes no nosso crescimento? Já viu como é gostoso você se lembrar de tais insignificâncias vindas de ditos populares, de lugares e em horas tão distintos? Isso faz parte do nosso viver. O prazer que senti em ouvir um ditado numa reunião do Fórum de Cultura foi o mesmo que senti ouvindo-o vindo da oficina mecânica. E isso é cultura, senhores candidatos a postos eletivos. Pensem nisso como plataforma em suas campanhas, senão vamos ter que enfrentar o lodo do analfabetismo político e social por mais um longo período na formação dos nossos descendentes. Pense nisso.
* afonso_rr@hotmail.com - 9121-1460
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