Sobre o repasse de R$ 322 mil que a Prefeitura de Boa
Vista fez para a turma das motos
organizar dois dias de festa particular cara no estacionamento de um shopping,
só tenho a dizer três coisas:
1. R$ 322 mil dividido por dois é igual a R$ 161 mil por
dia. Está na média dos repasses para esses eventos. A Marcha para Jesus deste
ano, por exemplo, levou R$ 150 por um único dia.
2. Cada cidade e cada estado têm a gestão cultural que
merecem e pela qual lutam.
3. Para os fazedores de cultura que acham bacana esse tipo
de repasse direto, fica a questão: já pensaram nessa grana repassada pra gente
via editais focados nos segmentos, com bolsas e prêmios para quem apresentasse
as melhores propostas, independente de pressão política ou amizades?
(Sim, isso foi uma indireta para todos os gestores da área
cultural de minha timeline)
Somente meu grupo, que faz ações de baixo custo no segmento
Literatura, com apenas 10% da grana do encontro das motos organizava uns seis
meses de sarau em Boa Vista, distribuía livros de autores regionais, pagava
cachê pros poetas e outros artistas convidados, fortalecia a cena das Letras e
organizava encontros literários que, a médio e longo prazo, trariam mais efeito
para o desenvolvimento sócio-econômico de Boa Vista que meras noites de festa.
Pronto, falei. Boa segunda pós-rock a todos.
Prefeitura fez convênio e liberou verba para 'Encontro Internacional de Motos'.
Presidente do 'Roraima Moto Clube' disse que 'tudo foi feito na legalidade'.
Publicação do convênio foi feita no Diário do Município
(Foto: Reprodução)
O 9º Encontro Internacional de Motos de Alta Cilindrada gerou polêmica nas redes sociais devido a um convênio da Prefeitura de Boa Vista, por meio da Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura (Fetec). O objetivo era repassar recursos financeiros para apoiar o evento, organizado pela 'Associação dos Motociclistas Roraima Moto Clube'. O 'valor total estimativo' era de R$ 332 mil, segundo o extrato de termo de convênio.
Em nota, a prefeitura disse que 'a proposta é fomentar o turismo em Roraima, em especial, na capital'. O presidente do 'Roraima Moto Clube', Cézar Rivas, disse que 'são críticas sem sentido', referindo-se aos comentários contrários ao valor do convênio.
Os shows ocorreram na sexta-feira (16) e sábado (17) no estacionamento de um shopping da cidade e o alto valor dos ingressos para a festa, parcialmente custeada pelo município, causou 'estranheza', segundo Bebeco Pojucam, conselheiro estadual de Cultura.
No Diário Oficial do Município do dia 13 de setembro foi publicado o extrato de convênio entre a Prefeitura de Boa Vista e o Roraima Moto Clube em que foi firmado o repasse de R$ 332 mil para o 9º Encontro Internacional de Motos. A publicação do convênio viralizou na web.
Nas redes sociais, internautas reclamavam do alto preço para assistir ao evento. Para o primeiro dia, conforme divulgado, os ingressos custavam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Na segunda noite, que teve a banda carioca 'O Rappa' como atração principal, o primeiro lote tinha ingressos por R$ 160 (inteira) e R$ 80 (a meia). Para o segundo lote, o valor chegou a R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia).
"Todo repasse para a cultura é bem-vindo. Mas com dinheiro público temos de ter cuidado. Se a prefeitura pagou para o evento acontecer, a entrada deveria ter um valor popular ou gratuito, pois o dinheiro é público. É injusto pagar duas vezes pelo show. A verba investida é nossa. O município investe para divulgar a cidade e atrair turistas. Concordo com o investimento, mas discordo da maneira como é feito", reclama Pojucam, que também é produtor musical.
"Não houve discussão. Ou se aceitava ou não. Cada banda do estado tem um valor e algumas deixaram de tocar porque não teve acordo vantajoso e não ofereceram condições. Se o grupo já tem um valor próprio, não se respeita isso. Pagam uma única quantia para todas as bandas", critica.
Um cantor de Boa Vista disse lamentar o município gastar um valor 'salgado' para trazer uma atração nacional.
"Que traga alguém de fora e dê condições para as pessoas irem ao show. Estavam cobrando R$ 200 na última noite, quando cantou 'O Rappa'. Ainda teve a questão do atraso. Quem pagou para assisitir ao grupo musical, deve reclamar. Não podemos deixar isso acontecer. É bater na nossa cara e beijar", opina o artista, que pediu para não ser identificado.
Embora a maioria dos internautas tenha criticado o alto preço dos ingressos, houve aqueles que defenderam o valor cobrado.
'Moto Clube' diz não querer polemizar
O presidente do 'Roraima Moto Clube', Cézar Rivas, disse estar ciente dos comentários negativos que estão circulando nas redes sociais.
"Entendemos que são críticas sem sentido. O município dispõe de verbas para o turismo e a cultura, aplicando da forma correta. Não vamos polemizar a respeito disso. As pessoas falam e as informações se multiplicam sem conhecimento de causa. Não entraremos neste mérito [polêmica] porque temos a certeza de que fizemos tudo dentro da legalidade", afirma.
Rivas não informou quanto a banda 'O Rappa' recebeu para o show no sábado. Ele disse apenas que irá prestar contas à prefeitura. "Independentemente da polêmica, o evento foi um sucesso", conclui.
Prefeitura diz que convênio foi de R$ 300 mil
Em nota, a Prefeitura de Boa Vista esclareceu que o convênio firmado foi de R$ 300 mil. "A proposta é fomentar o turismo em Roraima, em especial, na capital. O 'Encontro Internacional de Motos de Alta Cilindrada' trouxe turistas de outros estados e países a Boa Vista, movimentando a economia da cidade, com hotéis lotados e restaurantes ocupados", diz a prefeitura.
Sobre os artistas locais, o Executivo municipal destaca ser 'o maior contratante de Roraima, com pagamento de cachê bem acima dos valores aplicados em eventos privados'. Ainda segundo a nota, são contratados artistas para arraial, carnaval, aniversário da cidade, e, recentemente, para o 'Festival dos Pioneiros', sem contar os apoios a diversos eventos na cidade.
A Prefeitura de Boa Vista conclui reforçando ainda que a pessoa que se sentir lesada por atrasos ou outros fatores, pode procurar os órgãos de defesa do consumidor
2 comentários:
Verba cultural? O nosso teatro se arrasta há quase três anos para ser concluído, e nada. Foram construídos dois shopping's em tempo record e mais um hotel. O teatro que deverá servir de estimulo cultural para o Estado vai passar mais um ano no banho maria.
Possivelmente demore mais do que isso para terminarem o teatro.
Acho legal esclarecer que a construção do teatro, de responsabilidade do município, não tem ligação com os shoppings e o hotel, que são da iniciativa privada.
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