Dona Maria foi um dos suportes fundamentais que tive em minha juventude, garantindo que pudesse estudar, comer e dormir com tranquilidade.
Se não fosse ela, talvez nem morasse aqui, talvez não fosse jornalista, com certeza tudo teria bem diferente em minha vida.
A vó nasceu na beira do rio Uraricoera, descendente de um espanhol e uma filha de soldado da borracha que plantavam tabaco naquela região
Veio para Boa Vista ainda pequena, logo depois de ter ficado órfã. Cresceu ali na área central da cidade, numa casinha pertinho de onde fica a loja Brinquedos, na avenida João Pereira Melo, entre a Getúlio Vargas e a Sebastião Diniz.
Dali descia para pegar água no rio Branco. Tempos diferentes, sem água encanada nem energia elétrica, muito menos botijão de gás para agilizar a preparação da comida.
Dona Maria já me disse várias vezes, quando apareço com o papo dos tempos antigos: não sente nenhuma saudade da época do fogão à lenha.
Foi embora bem jovem do que hoje é Roraima e antes era Território Federal do Rio Branco. Acompanhava o marido, seu Edgar Borges Ferreira, que a conheceu logo após ele chegar do Pará. Pelo que me conta, do primeiro encontro ao casamento foi rápido, menos de um ano.
Dona Maria José e seu Borges |
Sobre como surgiu esse encantamento dos velhinhos, bati um papo uma vez com o seu Borges. Aqui tu confere a linda resposta que ele me deu.
Dona Maria morou na beira do rio Tocantins, voltou para o território, trabalhou como costureira a vida toda, em casa e ensinando em locais como a União Operária.
Teve cinco filhos tidos e adotados, tomou conta de casa, sempre acordando cedo, dando bronca, aconselhando-nos todo dia, seus filhos, netos e bisnetos, a sermos bons para o mundo e a não olhar apenas para o nosso próprio umbigo.
Boa parte da parte boa de meu caráter devo ao convívio com a dona Maria. Com ela e seu Borges aprendi na prática cotidiana o poder do amor familiar, da generosidade com os seus e do respeito aos outros.
De dona Maria só tenho uma reclamação: fuma desbragadamente.
O vício vem da infância, quando acendia os cigarros para a minha bisavó.
A gente aguenta e reclama sempre do cheiro de fumaça. Ela reclama que nunca vou comprar cigarros para ela.
E assim vamos vivendo. Afinal, nem tudo são flores na relação avó e neto, né?
Um comentário:
Gostei! Parabéns! Saudades da família.
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