sexta-feira, janeiro 19, 2018

Crônica sobre um filme, economia e algo de pessimismo

Ontem foi quinta-feira, se acaso você está chegando aqui numa data bem
Créditos: http://bit.ly/2BezGZG 
distante desta postagem. Fui dormir hoje, sexta, lá pela uma da manhã, depois de terminar de ver o filme A Grande Aposta (The Big Short, no título original), obra inspirada em um livro que mostra a movimentação de uma turma da bolsa de valores que sacou que ia rolar um crash violentíssimo no mercado imobiliário estadounidense no ano de 2008. É um bom filme, meio confuso se você não tiver nenhuma intimidade com termos desse mundo das ações, mas nada que atrapalhe seu acompanhamento, visto que há personagens e legendas explicando alguns conceitos mostrados. 


2008 foi o ano em que o Edgarzinho nasceu. Dia dez de janeiro. Completou dez anos agora, em 2018, já senta no banco da frente do carro e não entende muito de economia, mas já economiza (às vezes) a mesada que recebe e me faz perguntas regularmente sobre coisas como a diferença entre o cartão de crédito e o de débito.

Eu li naquela época sobre o estouro da bolha imobiliária, soube que afetou a economia norte-americana e que isso repercutiu em outros países, mas nunca me interessei muito por ela. O filme de ontem (ou de hoje, se você está acessando mesmo na sexta-feira em que estou publicando isto) me forçou a relembrar as coisas que lia espontaneamente sobre esse tipo de acontecimento econômico, uma das minhas conclusões e a de especialistas: quando você peneira bem o significado das notícias, acaba percebendo que os donos do capital nunca perdem. 

Não tem nada de delírio comunista ou socialista nisso. É economia básica: quem se quebra é o correntista, o cara que fez o empréstimo, o cara que de repente queria fazer um empréstimo e agora não vai mais encarar. Os banqueiros, os donos do capital, sempre saem tranquilos. É o capitalismo que se garante às custas do dinheiro pago pelo contribuinte, que fica irritado e começa a rosnar quando há manifestações e alguma vidraça de banco é quebrada, levando aquilo para o lado pessoal, como se o Bradesco ou Itaú ou sei lá quem se importasse em baixar os juros do cartão, por exemplo.

Voltando ao filme: fiquei pensando nele um bocado de tempo depois que deitei. Isso não acontecia havia muito tempo. Costumo parar para ver filmes e séries somente depois das 21h. Aí conecto o notebook na TV e fico lá, ocupando minhas horas com diversão audiovisual. Mas sou desses que se desconecta do que viu em poucos minutos. Até porque como é sempre tarde, basta encostar a cabeça no travesseiro que já estou dormindo. Mas ontem não foi assim. Fiquei remoendo cenas do filme e misturando elas com lembranças de leituras.

Me deu uma tristeza por quem é vítima no Brasil dos 323,7%% ao ano dos juros no cartão e tem outros tipos de dívidas impagáveis no banco por motivos não fúteis (As dívidas fúteis, como as criadas por comprar roupas caras, celulares e idiotices do tipo, são merecidamente complicadoras). Fiquei pensando na droga de país que nós, os pobres, os classe média remediados, os sem renda além daquela que é fruto de ir todo dia ao trabalho, os que achavam que o mundo ia ficar um pouquinho melhor, estamos deixando para os nossos filhos. Me deu uma tristeza tão grande que não consigo sequer (d)escrever bem isso.  

Talvez minha melhor ação ontem tivesse sido escolher um filme de aventura ou uma série qualquer em vez de um filme um pouco mais cabeça. Mas aí hoje, quando terminei de vê-lo, já era tarde. 

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