segunda-feira, maio 21, 2007

Amores fumantes

Ela perguntou, em tom já visivelmente irritado:

- Você não está mesmo percebendo nada de diferente em mim?

Ele, preparando-se para o pior, respondeu hesitante com outra pergunta:

- Éééé... alguma coisa de maquiagem ou nas roupas?

Mostrando seus cabelos, ela disse:

- Se você prestasse mais atenção em mim, teria percebido que fiz mechas na cor tabaco! Mas você não olha direito!

Para livrar-se de qualquer pena, ele contra-atacou:

- Meu amor, é claro que tinha percebido. Tava só brincando contigo. Vem cá pra te fumar todinha, vem...

quinta-feira, maio 17, 2007

Amor com capuccino


Ela disse, chateada:

- Não consigo esquecer dele. E não é por achá-lo lindo, pela elegância que transborda ou pela forma sempre gentil com que me tratou.
- É pelo sexo então?
- Não. Adorava fazer sexo com ele, mas também adorava ficar apenas sentindo o seu coração bater.
- É pelo dinheiro, pelos presentes?
- Pára com isso. Sou mulher de depender de homem para ter alguma coisa? Sou rica de terceira geração.

Irritado, ele perguntou:

- Pô, então o que é que esse sujeito tem de tão especial?

Suspirando, ela respondeu:

- Ai, acho que é por causa daquele maldito capuccino expresso que ele me entregava na cama todo dia ao acordar...

segunda-feira, maio 14, 2007

Sobre domingos chuvosos



Abrir a janela, ver a água da chuva cair e ouvir música bem baixinho, com pouca luz no quarto, é uma das coisas mais agradáveis que o inverno amazônico me proporciona. Descobri o gosto desse vício/prazer justamente em um domingo, ouvindo o blues “Come Rain or Come Shine”, a última faixa do disco Riding With The King, uma parceria do B.B. King e do Eric Clapton.

Dependendo da música e do que estiver fazendo, o som também me leva a refletir e a relembrar fatos da vida. Neste domingo, chuva lá fora, música latina aqui dentro, leio na revista Caros Amigos um artigo do Ferréz sobre uma biblioteca comunitária em São Paulo enquanto Franco de Vita faz a trilha. Ferréz fala sobre ativismo, envolvimento, Franco canta amores e amizades. Em comum, abordam ações e reações, propostas, sentidos para a existência.

Na essência, ou pelo menos para onde levo meus pensamentos, discutem como eliminar inconformidades e superar seus limites. E eu, inconformado por natureza, preguiçoso por opção, começo a pensar se a vida assim como está é tudo, lembro de conhecidos que fazem do trabalho a bússola de seus dias, transformando os resultados na empresa ou repartição o ponto alto de sua biografia.

Em um giro rápido, esqueço dos outros. O egoísmo e a vaidade são marcas de minha profissão. Penso no meu gosto pela escrita, pelas crônicas, pela expressão de pensamento. E vem o questionamento: por que escrever? Isto é, escrevo por necessidade artística e intelectual, o que inclui fazer algo além da maioria das pessoas, ou por ver o meu nome nos veículos que recebem as minhas colaborações, puro narcisismo?

Sem chegar a nenhuma conclusão, percebo que por dinheiro até hoje não foi. Segundo meus extratos bancários, 11 anos depois de ter publicado o primeiro artigo em um jornal local, ainda não recebi remuneração alguma por uma linha publicada em mais de 10 jornais e sites de Roraima e outras partes do mundo. Se é fama ou cartas dos leitores o que procuro, então alguém deve estar levando os louros e recebendo os e-mails.

Vinte músicas se passam, a chuva cessa e volta, e eu ainda não chego a nenhuma conclusão sobre a real motivação de escrever textos que não se encaixam no exigido pelo cotidiano de minha profissão. O jeito deve ser continuar vivendo e ouvindo músicas no escuro do quarto para tentar achar a resposta.

quinta-feira, maio 10, 2007

Dias no garimpo



Acordamos cedo. A noite foi fria, choveu. Ainda bem que nenhum mosquito apareceu para incomodar. Talvez o frio os espante. Todos já se levantaram, sou o último a deixar a rede. Com uma toalha servindo de casaco, escovo os dentes com água tão gelada como se fosse retirada de uma geladeira.

Venta levemente, a temperatura ambiente mudará em breve, depois que o sol conseguir espantar de vez as nuvens. Por enquanto, frio. Dormir num barracão sem paredes não é muito agradável. O café da manhã é frugal e deve ser engolido rápido, pois as máquinas já estão ligadas.

Juntar e lavar o cascalho, segurar na mangueira e direcionar o jorro para o material. Agora é esperar que desse monte saia uma pedra pelo menos. Parte da produção é dos peões, mas é o chefe quem sempre ganha. Ele leva o produto para a capital, vende pelo melhor preço e repete de novo que a cotação está pior do que na última vez.

Almoçar em menos de cinco minutos, correr para continuar o trabalho, chamar o colega da vez para que ele também corra...

De um acampamento a outro, muitos igarapés represados com a areia de seu próprio leito, cheios de mercúrio. A água, apesar de transparente, não é boa para beber nem tomar banho. A camada vegetal some, sobra o branco da argila e sua asfixiante refração que aumenta o calor do meio-dia.

São 20 horas e ainda há pessoas trabalhando. O trator não pára de juntar material. A cozinheira já terminou a janta, gordurosa, calórica, quem trabalha o dia inteiro sente muita, muita fome. Uns comem nas redes, outros em pé, o restante em bancos improvisados.
Urinar, defecar, escovar os dentes, tomar banho, trabalhar. Não há paredes por aqui. Tudo é feito em contato com a natureza, ao ar livre.

O ouro que sobra nas pequenas cicatrizes do acampamento alimenta o sonho das moedas a mais ou a gorjeta da Guarda Nacional, que parece estar ali só para ser agradada e não ficar desagradável.

Hora de partir, banho rápido usando a própria mangueira de lavagem de material. Atravessamos a savana, deixamos para trás corruptelas, suas casas feitas com latas de querosene e a vila principal. Agora é voar por uma hora e voltar à vida urbana normal.

quarta-feira, maio 09, 2007

segunda-feira, maio 07, 2007

Chegaram as águas de maio

Finalmente o verão amazônico está chegando ao fim. Chove em Boa Vista desde o sábado à noite, com pequenos intervalos para dar um tempo à terra seca, desacostumada às chuvas.
As noites agora ficarão mais frias, nada parecidas com os últimos dias, por exemplo, quando o calor, somado à falta de brisa, parecia asfixiar a cidade. Agora ficará mais fácil de sair no meio da tarde sem sentir a pele queimando.
O inverno é bom para os agricultores plantarem, é bom para pessoas como eu, que ficam de mau humor quando está muito quente. É ruim para quem inventou de fazer casas sobre os lagos que havia na cidade e perto dos igarapés e rios. É ruim também para os agricultores que vivem nas vicinais no interior do Estado. Nesta época, fica difícil transitar nas estradas de barro e escoar a produção.
É bom para passear no intervalo entre uma chuva e outra. É ruim para secar a roupa lavada no final de semana. É bom para namorar debaixo do lençol e tomar chocolate quente. É ruim para namorar no portão.
O inverno é bom para pensar e ouvir música no escuro. É ruim para fazer show ao ar livre.
Mas que tanto, que venham as chuvas com força total. Como bem disse minha avó Maria José, “tava na hora do inverno dar um chute no verão”.

quinta-feira, maio 03, 2007

Teatro em Roraima

Opa, a partir desta sexta tem peça teatral, oficina de iluminação e debate sobre os espetáculos apresentados. É a Caravana Balaio Teatral, que traz a Roraima o grupo de teatro Clowns de Shakespeare, de Natal-RN.


O grupo vai apresentar seis espetáculos, ministrar duas oficinas e participar de dois debates. A turma começou a trabalhar no dia 2 e vai até 6 de maio, em Boa Vista e Iracema, município ao sul do Estado.

O circuito começou pelo município de Iracema, onde o grupo apresentou o espetáculo Fábulas promoveu um debate com o tema Teatro de Grupo Fora do Eixo.

Esta é a segunda vez que Os Clowns de Shakespeare vêm a Roraima. No ano passado, o grupo participou da II Mostra Sesc de Artes. Este humilde cronista assistiu às apresentações. Muito barulho por quase nada, inspirada na obra de Shakespeare, é totalmente diferente da peça Roda, Chico, peça roteirizada a partir das músicas de Chico Buarque. Uma é comédia e a outra é mais drama. Mas ambas são muito boas e vale assisti-las.


segunda-feira, abril 30, 2007

Escolhas

No grupo de amigos, a pergunta:

- E se vocês pudessem ter todo o sucesso do mundo, com milhares de holofotes apontados para vocês, dizendo que são o máximo e tal, centenas de homenagens pelos serviços prestados à humanidade, como fariam?
- A minha parte eu quero em dinheiro.
- Pra mim, separa umas broas que já tá bom demais.
- Troco por quatro quilos de sexo, drogas e roquenrol.
- Me arranja um iPod e uma som novo pro carro que tá massa.
- Deixa eu dar uns pegas na tua irmã que que me conformo.
- Eu queria ser deputado federal.
- Bom mesmo era encher a cara todo dia sem ficar de ressaca e com o fígado inteiro.
- Dá pra trocar por uma coleção de gibis da Mônica? É pra minha irmãzinha...

quinta-feira, abril 26, 2007

Partículas

O Ensaio Poético Ilustrado de Lindomar Neves Bach ainda não estava lá quando cheguei no bar Carta Roja. Obra independente, bancada pela coragem do autor e o estímulo de conhecidos, foi lançada em um espaço alternativo, numa noite fria, num bairro distante do Centro.
As possibilidades de encontrá-lo por onde costumo andar? Poucas.
Mas hoje, graças a uma gentileza de minha colega Soninha, veio até mim. Aqui, sem autorização do autor, alguns poemas (os mais curtos, é claro, que dá uma preguiça escrever....):

Diva

Menina linda
A calma se contorce
Quando você passa
Minha rua
Aonde nada acontece
É tua..


Razões

O amor é tudo
Que sobrevive
Ao tempo

Esperança de vida
Sem amor
Não existe


Sussurros

Num arrebol
A noite chega
Calando o sol

Moldura

Espera...
Cai a chuva
Mas o sol virá
E a noite ainda demora

O poeta operário
Com o olhar nublado
Molda no imaginário
A sepultura dos seus olhos

O amor tão desejado
A inocência
Na nudez
De um dia ensolarado.

quarta-feira, abril 25, 2007

Mudança


O tempo muda. Até em Boa Vista o sol tem que pedir arrego uma certa hora. A quarta-feira amanheceu nublada, choveu várias vezes durante o dia e no final da tarde um vento frio varria a cidade. Bom para tomar chocolate quente, bom para participar de um lançamento literário como o de hoje à noite, quando o desenhista Lindomar Neves Bach lança seu primeiro livro de poesias, intitulado "Partícula - Ensaio Poético Ilustrado”.




Se um dia qualquer a temperatura baixar até os 24 graus, metade dos roraimenses morrerá por congelamento. Quando bate nos 28, o povo já se empacota todo e diz que está "muito frio".

terça-feira, abril 24, 2007

segunda-feira, abril 23, 2007


Nota mental de segunda


Mudar para um local onde o mês de abril não seja tão quente, mesmo com os órgãos ambientais afirmando que o inverno amazônico já começou...Talvez a Patagônia.

Temperatura de Boa Vista é uma no Climatempo.

Na rua, o lance é bem mais quente, ainda mais que não está ventando...

quinta-feira, abril 19, 2007

Nas Trilhas de Makunaima


Amantes de documentários, fanáticos pela Amazônia, eis a chance de conhecer um pouco mais este pedaço do Brasil. Neste domingo, às 21h, horário de Brasília, a TVE transmite o vídeo “Nas Trilhas de Makunaíma”, produzido pelo jornalista roraimense Tiago Bríglia.




O vídeo faz parte do projeto DocTV, uma iniciativa de várias instituições para fomentar a produção de documentários sobre temáticas regionais em todos os Estados.



O roteiro apresenta a história do personagem mitológico de maior representatividade entre os indígenas do extremo norte do Brasil. A partir de narrativas de índios Ingarikó, Taurepang e Macuxi, são apresentadas as diversas faces de Makunaima - um ancestral guerreiro dos índios de origem ‘Karib’, concebido por algumas etnias como um deus da natureza.


Tiago, de camisa verde, filmando no Monte Roraima


O filme proporciona uma viagem pelos mistérios da lenda e percorre as trilhas do Monte Roraima, uma montanha de 2 bilhões de anos, considerada o templo sagrado onde vive o espírito de Makunaima.


O documentário traz a interpretação de pesquisadores sobre os fundamentos do mito de Makunaima e uma análise crítica sobre o personagem Macunaíma de Mario de Andrade, inspirado no mito indígena que foi registrado pelo etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg em sua obra Vom Roroima Zum Orinoco, quando esteve entre os índios Taurepang (Pemón para os venezuelanos) e Arekuna, em 1911.

quarta-feira, abril 18, 2007

Música de Roraima

Cantores Eliakin Rufino e Neuber Uchôa
apresentam show Damurida no Sesc RR




Durante o show, nesta quinta (19), Dia do Índio, haverá uma exposição da arte naif da artista plástica Carmésia Emiliano. O ingresso custa R$ 10. Estudantes e comerciários com carteira atualizada pagam só cinco pilas.

Para quem nunca ouviu a palavra damorida, trata-se do nome de um apimentado caldo feito pelos índios da região à base de carne de caça (antigamente. Hoje já se aceita carne de gado) ou peixe (quando mais espinhento, melhor).

É preciso cuidado para se deliciar com o prato. Este cronista, na primeira vez que foi saboreá-lo, confundiu uma pimenta olho-de-peixe, redonda e verde, com outro tipo de condimento e mastigou uma delas inteirinha...

Logicamente tive que correr para tomar água e abafar o incêndio bucal. Tirando essa ardente questão, é um dos mais saborosos pratos da culinária indígena.

Ah, além da olho-de-peixe, a damorida leva também pimenta malagueta e jiquitaia, que é uma farinha feita de pimentas moídas. Um espetáculo de ardência.





terça-feira, abril 17, 2007

Abril Vermelho

Integrantes do MST Roraima concluíram hoje uma passeata que veio do município do Cantá, a 35 km de Boa Vista. A sorte dos manifestantes é que o clima ajudou, com um céu nublado e algumas pancadas de chuva. Se fosse em fevereiro, com certeza os casos de insolação e desidratação teriam abalado alguns companheiros.

Já em Boa Vista, os manifestantes fizeram um protesto por mais terra para a reforma agrária e apoio para quem já ganhou o lote. Estiveram em frente à Assembléia Legislativa, bem na praça do Centro Cívico, por volta do meio-dia, o horário de maior pico de trânsito no local e o único onde os deputados dificilmente podem ser encontrados.


Os manifestantes na ponte sobre o Rio Branco, que
separa os municípios do Cantá e Boa Vista

O protesto faz parte de um calendário nacional do MST. As ações do "abril vermelho" lembram o assassinato, em 1996, de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (PA).

Abril Vermelho também é o nome do livro de um escritor peruano chamado Santiago Roncagliolo.





quinta-feira, abril 12, 2007

Deduções fiscais

Impostos governamentais são como pensões alimentícias: não adianta tentar fugir deles. Tem que pagar ou bábáu.


Declaração, para fechar o mês do Imposto de Renda

Frase do filme Encontro Marcado: “só há duas coisas certas na vida: impostos e a morte”. Ou alguma coisa parecida.

quarta-feira, abril 11, 2007

segunda-feira, abril 09, 2007

A música

Ok, há quem não goste do Maná e ainda há quem nunca tenha ouvido falar da banda mexicana. Há também quem acredite que o Acústico MTV e a gravação com o Santana foram as únicas coisas que eles fizeram na vida

Tudo bem. A sete quilômetros da linha fronteiriça, ali na vizinha Santa Elena de Uairén, muitos venezuelanos nunca ouviram falar de muitos nomes famosos no Brasil. São conseqüências da diferença de idiomas e da mania dos programadores de rádio de privilegiar as bandas e cantores anglo-saxões.

Superar as barreiras da língua permite que nos deliciemos com letras como a que está logo aí abaixo. Fher, vocalista do Maná, faz um duo com Juan Luis Guerra, grande nome da música latina. O vídeo é pura poesia e é estrelado por atores de padrão físico diferente de outros vídeos da banda. Bonitos, porém com aparência de gente normal, como eu ou você, e não de modelos.

Quer dizer, bonitos como eu, de acordo com as afirmações de minha mãe, dona Neide.

Para os interessados, Bendita tu luz está disponível em dezenas de links no YouTube e no Guatevídeos. Neste site também é possível acessar vídeos de outros artistas latinos.

Bendita tu luz

Bendito el lugar y el motivo de estar ahí
bendita la coincidencia.
Bendito el reloj que nos puso puntual
ahí bendita sea tu presencia.
Bendito Dios por encontrarnos en el camino
y de quitarme esta soledad de mi destino.
Bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
desde el alma.
Benditos ojos que me esquivaban,
simulaban desdén que me ignoraba
y de repente sostienes la mirada.
Bendito Dios por encontrarnos
en el camino y de quitarme
esta soledad de mi destino.
Bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada, oh.
Gloria divina de esta suerte,
del buen tino,
de encontrarte justo ahí,
en medio del camino.
Gloria al cielo de encontrarte ahora,
llevarte mi soledad
y coincidir en mi destino,
en el mismo destino.
Épale
Bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada
bendita la luz,
bendita la luz de tu mirada.
Bendita mirada, oh,
bendita mirada desde el alma.
Tu mirada, oh oh,
bendita, bendita,
bendita mirada,
bendita tu alma y bendita tu luz.
Tu mirada, oh oh.
Oh oh, te digo es tan bendita
tu luz amor.
Y tu mirada oh, oh.
Bendito el reloj y bendito el lugar,
benditos tus besos cerquita del mar.
Y tu mirada, oh, oh.
Amor amor, qué bendita tu mirada,
tu mirada amor.

quarta-feira, abril 04, 2007

Céu perigoso em Roraima: três aviões caem

Três aviões tucanos da Força Aérea caíram em Boa Vista nesta tarde de quarta-feira (4). Um deles caiu no meu bairro, o Paraviana, depois de bater numa torre de telefonia celular. Morreu uma pessoa. Outro caiu ao sul da cidade, perto do matadouro. O terceiro foi apenas um pouso forçado perto da BR 174, ao norte de Boa Vista.
Talvez a chuva fortíssima que caiu na cidade tenha alguma culpa. Choveu por cerca de duas horas, a tal ponto que as ruas alagaram e o nível dos igarapés que cortam os bairros subiu muito.

Abaixo, a matéria do repórter Luciano Torres, publicada no site Fonte Brasil:

"Por volta das 13h30 de hoje um Super Tucano A-29 da Aeronáutica caiu na rua Abacateiro, na Praça do bairro Paraviana. O acidente ocorreu após o avião ter colidido com uma torre de telefonia celular. Os dois pilotos da Base Aérea de Roraima que estavam no avião morreram na queda. Conforme testemunhas, o avião permaneceu por cerca de 30 minutos sobrevoando a parte leste de Boa Vista sem poder pousar no Aeroporto devido a forte chuva que encobria o céu. A causa da queda não foi divulgada pela Aeronáutica, mas suspeita-se que os pilotos tenham tentado realizar um pouso de emergência quando colidiram com a torre. Antes da queda os pilotos ejetaram os assentos, mas não sobreviveram por estarem muito próximos do chão. Os corpos foram encontrados em um terreno baldio a cerca de 30 metros da praça onde o avião caiu."




Olha aqui as fotos do Luciano




A torre do Paraviana, com os ferros soltos depois da colisão:








Os agentes de trânsito no local







Outras informações podem ser encontradas nos sites do jornal Folha de Boa Vista e no site Jornal do Rádio.




Up Date: O portal G1 entrou com uma info nova: seriam quatro e não três os aviões caídos.

terça-feira, abril 03, 2007

Histórias de amor e sexo ou sexo e amor



1.Alfredo está agitado, nervoso. Aos seus pais, conta que são as provas que o tem assim. Coitado, anda uma pilha, diz a sua mãe. Alfredo, na verdade, está apaixonado. Não por uma, mas por duas meninas. Uma é da escola, faz a oitava série junto com ele, senta na cadeira em frente, tem um cabelo liso negro lindo, olhos esverdeados e um pouco fechados, parece uma japonesa. Além disso, para ele, é a dona do sorriso mais bonito da cidade.
A outra é a irmã de seu melhor amigo. Alfredo adora ir visitá-lo. Da varanda, entre os vidros da janela, consegue vê-la às vezes dançando na frente do espelho, apenas de calcinha e sutiã. A menina, mais velha que ele, gosta de passear pela casa vestida apenas com uma camiseta. Ah, como Alfredo gosta quando ela se abaixa para pegar algo e ele está por perto.
Alfredo, coitado, só encontra paz quando fica algum tempo sozinho no banheiro ou quando vai se deitar.

2.
André diz não saber o que fazer para ficar em paz. A Paulinha agora quer namorar, já pensou, pergunta a cada novo encontro. Qual o problema se ela é linda, simpática e o deseja? Ora, é justamente esse o problema, quase grita o impaciente André. Eu não quero nada sério, foi ela que me procurou, passou a cantada, insiste nos encontros e agora vem com essa. E aí, o que você pretende fazer, perguntam seus amigos. Por enquanto nada. Eu não quero namorar ninguém agora, só me falta gritar isso na cara dela, mas também não resisto a uma mulher linda, simpática e que me deseja.

3.
Sim, eu sei que parece bobagem, mas que custava, pergunta a quase deprimida Ana Lúcia. Se era para tanto eu não sei, mas, poxa, as pessoas deviam pelo menos argumentar de maneira menos agressiva, continua. E o que houve, que coisa tão horrível aconteceu? Aconteceu que ando toda estressada com os meus dois empregos, a faculdade e o cursinho para o concurso. Por tudo isso não temos muito tempo para namorar e outras coisinhas mais. E quando eu peço para ele me acompanhar da entrada do prédio até minha sala, sabe o que ele me responde: para quê vou entrar se daqui a pouco vou ter que sair? E ainda por cima eu quis um beijo de língua e ele me deu uma bitoca, como se fosse meu namorado há tanto tempo que tivéssemos criado laços fraternos. Onde já se viu isso, preguiça de caminhar 15 metros e ainda por cima preguiça de beijar?

segunda-feira, março 26, 2007

Conversando sobre livros



Bruno Garmatz, um amigo fotojornalista aqui de Roraima, lançou dia desses um livro bem bacana, quase um filho. “Conversando com Guillermo” trata das andanças e aventuras do costarriquense Guillermo Alfaro Garbanzo, hoje com oitenta e dois anos, morando atualmente na Casa do Vovô, um abrigo do governo de Roraima para pessoas da terceira idade.



Guillermo, na década de quarenta, depois de uma desilusão amorosa, resolveu aventurar-se mundo afora, sem rumo definido, apenas com o propósito de conhecer e viver novos lugares e culturas. Perambulou durante quase trinta anos e um dia parou em Roraima, de onde nunca mais saiu.



Durante suas andanças, Guillermo conheceu lugares históricos, pessoas importantes, culturas interessantes e enfrentou muitas dificuldades, mas isso nunca o assustou o suficiente para fazê-lo voltar para casa. Seu espírito aventureiro falava mais alto e assim percorreu quase cento e cinqüenta países.


No livro, escrito como uma grande entrevista, com muitas notas de rodapé para contextualizar os temas, Guillermo, com uma visão crítica, política e social, relata as suas andanças, principalmente pelos países da América do Sul.


O livro, impresso na Editora Comunicare de Curitiba, é ilustrado com 99 imagens, contendo documentos pessoais, fotos e mapas ao longo de suas 262 páginas. Há muitas fotos de Roraima também, incluindo algumas onde este cronista aparece. Costumo dizer ao Bruno que essas são as melhores páginas do livro, hehehe.

Se lhe interessou, contate por aqui o autor e compre 10 livros ou indique ou indique uma livraria para ele colocar os exemplares à venda. Seja um mecenas.

Se você quiser ver fotos de autoria de Bruno, acesse o flog do cara.

quinta-feira, março 22, 2007

Nero e o YouTube

No fim de uma acalorada discussão sobre a história e as conquistas da engenharia romana, surge a dúvida: Nero tacou ou não fogo em Roma? Reacendido o debate, com pesquisas aparecendo no Google e na Wikipedia dando as diferentes versões sobre o caso, vem a frase lapidar:
- Seguinte, tu tava la?
- Claro que não.
- Tu viu alguém tacando fogo na cidade? Tu viu Nero lá, doidão, jogando as tochas nas casas?
- Óbvio que não, né, ô coisa.
- Tu viu alguém filmando e colocando o vídeo no YouTube? Tu conseguiu baixar esse vídeo?
- Não...
- Então como é que tu quer jogar a culpa no coitado do Nero?..


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Falando em YouTube e filmes, Alex Pizano produziu o primeiro curta-metragem de Boa Vista. Com o título Dívida Sangrenta, o curta apresenta a disputa de uns mafiosos venezuelanos e guianenses pelo domínio do tráfico de cocaína na cidade.

Para os curisosos, o trailer do filme pode ser encontrado aqui.

Uma reportagem da TV Globo local pode ser vista aqui.

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Dúvida 1: Como é que posta para a janela do vídeo aparecer direto no blog?
Dúvida 2: Desde a mudança para o "new blogger" só consigo vizualizar os comentários indo no site do haloscan. Caso você, querido (a) leitor (a), esteja vendo ou tenha passado por um problema semelhante, passe um e-mail ou me diga pelo sistema de comentários como acabar com esse perrengue.

segunda-feira, março 19, 2007

Discussões de amor


No final da briga, quase certo de que aquele era o fim do relacionamento, ele não resistiu e tentou fazer um último e desesperado apelo para não ser abandonado:

- Meu amor, você quer mesmo me deixar?
- Quero! Sai da minha vida!
- Meu amor, que poderá te fazer feliz e te entender como eu? Eu, que conheço como a palma de minha mão cada estria e celulite de teu corpo?

(Deixo aí o espaço dos comentários para que cada um escreva o final da história: vocês acham que isso é apelo que se faça?)

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19 de março, dia de São José. Reza a tradição católica, herança da colonização nordestina no Estado de Roraima, que neste dia sempre chove. E se chover, é sinal de que o inverno será generoso com os agricultores. Neste ano, quase não acontece, mas choveu às 17h30 em Boa Vista. E assim sempre foi nos anos anteriores, dando ao povo o mesmo crédito que se dá aos serviços de meteorologia.

quinta-feira, março 15, 2007

História de felicidade



O seu coração solitário começava a ficar alegre. Finalmente a mulher amada estava chegando de sua longa viagem. A sua face, eterno nevoeiro que cobre a serra ao amanhecer, parecia agora o sol do meio-dia.

Adeus, tempo de tristeza. Adeus, noites mal dormidas. Até mais ver, amores substitutos, meios amores. Olhava para o céu com ansiedade, esperando vislumbrar no horizonte o avião que traria sua amada. Sorriso aberto, até a postura corporal mudara. Andava ereto, feliz, completo. "Completo, é isso mesmo. É assim que me sinto", contou-me. "Dizem que quem espera, sempre cansa. No meu caso, de tanto quase ficar cansado, alcancei", reforçou. Assim, mudado, realizado, saiu caminhando pelo meio da praça.

terça-feira, março 13, 2007

Eita, consegui...


Conexões ruins ou bloqueadas no trampo e a falta de conexão na casa fazem deste blogueiro um postador vagabundo, sem responsabilidade aparente com a atualização do blog.

As idéias para os textos se acumulam na cabeça. O problema é que não anoto nenhuma e daqui a pouco somem, feito fumaça. Falando em fumaça, sábado vai rolar um festival de reggae em Boa Vista, com participação da banda Guybras, que tem no vocal o negão mais simpático da cidade, Mike Guybras, também organizador do evento. Além dele, haverá apresentações de bandas da Guiana e outras locais. Fumaça? Que associação mais preconceituosa é essa? Associação me lembra o show de rock de sábado passado, na Associação de Moradores do bairro 13 de Setembro, com as bandas Yekuana, Espírito Juvenil e outras.

A mais esperada por mim e pela Zanny foi a que não apareceu: a 24 da Vovó, uma novata, criado por uns garotos do próprio bairro. Não que eu conheça o estilo, mas 24 da Vovó é um nome e tanto. Parecido com uma que está sendo formada por uns moleques do Jóquei Clube: Jeniffer chegou de Fortaleza...
Bá. Já divaguei muito e não postei nada. Vamos ver se o blogger finalmente carregou as fotos que tento há duas semanas postar.






Parque anauá, com o lago ao fundo, no meio do inverno,
balsa que leva os fiéis no dia de São Pedro, durante procissão aquática.


Amanhacer na BR 174, em direção à Venezuela.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Imagens das férias de carnaval.

O monstro do Lago Ness, na versão o índio do laguinho dos rápidos de Kamoiran


Salto La Llovizna, parque homônimo, na cidade venezuelana de Puerto Ordaz, a uns 600 do Brasil.

Visão da estrada da Gran Sabana. Ao fundo, o monte Roraima, ou o Kukenan, perto da tríplice fronteira Brasil-Venezuela-Guiana.


Curvas e morros da estrada da Gran Sabana, a 1.440 metros de altitude, Venezuela.





quinta-feira, fevereiro 15, 2007



Pegando a estrada

Desde 1999 estive sempre presente, a trabalho, em todos os carnavais de Boa Vista. Com conhecimento de causa posso afirmar que cada ano a organização da festa melhora, mas os desfiles sempre oscilam entre o tosco, o horrível e o ridículo.
Por mais que haja grandes repasses de verbas públicas (este ano a Prefeitura e o Governo repassaram R$ 350 mil a quatro escolas) para garantir a entrada das escolas de samba no corredor do samba, o que se apresenta é pífio, sem graça e sem beleza. Fantasias horríveis, sambistas desafinados e sem alegria no rosto, mulheres feias, homens mais feios ainda. Assistir a um desfile de samba em Boa Vista é verdadeiramente uma experiência horripilante sem igual.
Também não há como evitar a risada lendo, vendo ou assistindo reportagens com os presidentes das escolas reclamando todo ano do suposto atraso na liberação dos recursos e dizendo ser esta a razão de não apresentarem um espetáculo bonito. Os presidentes dão todo tipo de desculpas para justificar a falta de ações concretas para fazer um carnaval decente. É tudo culpa da falta de infra-estrutura, dizem. E o público, todo ano, apenas se pergunta: o que fazem com tanto tempo livre e com o dinheiro do repasse que não aparece um bom desfile?
No quesito organização, as escolas de samba perdem feio para as associações folclóricas que se apresentam nos arraiais organizados pelo poder público no meio do ano. As quadrilhas juninas levam beleza, animação, empolgação e garra ao público local e conquistam prêmios em outros estados. É impossível ficar impassível diante das quadrilhas. Se não fosse aquele maldito grito "anarriê!" a toda hora eu até gostaria mais delas.

É por isso que este carnaval, se tudo der certo, vou encarar a estrada e me entocar na Venezuela, curtindo um carnaval regado com rum e a batida dos tambores dos descendentes dos negros antilhanos.


Rumo à terra do Chávez






Feito um aventureiro



quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Depois de mais um tempo sumido, superei a falta de assunto de um dia com a preguiça de outro com post da campanha da BR-Linux para dar uma força à Wikipedia, que anda com as pernas bambas. Quem quiser, também pode participar.



Ajude a manter a Wikipédia no ar - mesmo sem colocar a mão no bolso!
O BR-Linux.org lançou uma campanha para ajudar a Wikimedia Foundation a manter a Wikipédia no ar. Se você puder doar diretamente, é sempre a melhor opção. Mas se não puder, veja as regras da promoção do BR-Linux e ajude a divulgar - quanto mais divulgação, maior será a doação do BR-Linux, e você ainda concorre a um pen drive!


terça-feira, fevereiro 06, 2007

Pontos, vírgulas e declarações

Pensamentos desconexos. Preguiça. Cansaço. Um teclado empoeirado. Cadernos rasgados escondem textos de amor e contas a pagar. 3 de fevereiro de 1991. Dominar a língua é mais difícil que conhecer tua língua. Chegada ao Brasil. Nova vida, novas obrigações. Rock and road. Hablame de ti. Estradas de barro, rodovias de asfalto. Acidentes, previsões, queima de fogos na beira do mar. 16 anos. Muito tempo. Mais vida que a de uma estudante aprovada no vestibular de medicina. São Paulo, São João da Baliza. Alto alegre é o oposto de baixinho desanimado. Fernando Pessoa, Zeca Baleiro, The Same People e Neruda. Mortes familiares. Um, dois, três, quatro, trocentos ódios e amores e desafetos e amigos afastados. Verão infernal. Invernos torrenciais. Alagações, desabrigados e as manchetes com os clichês de sempre.

Pensamentos ainda desconexos. Sesc. úsica. Versos. Fotografias. Índios e reservas. Xenofobia. Corrupção. Insetos. Gafanhotos nos campos, verdes dólares nos campos. Assunção ou queda. Soul, bossa, praia e folhas de coca do Peru. José Maria Emazabel, Eduardo Oxford, Vitória Mota Cruz, Gonçalves Dias, UFRR, IBPEX. Crônicas diárias, árduas, paridas.

Malocas, histórias, igarapés, cantos. Serras e lavrados. Chaparros são caimbés, negritas são neguinhas, catiras são loiras, cerveza es la Polar. Salsa brava, salsa erótica. Movimento estudantil. Bocas. Beijos. Mãos. Corpos. Olá. Adeus. A Deus e ao homem. Cursos. Discursos. Ah, Fidel! Pampeiros. Dureza. Blogs. Correios.

25 de maio. 26 de dezembro. Afilhadas. Cumadis. Damorida. Vinho de buriti. Açaí. Roraimeira. Guaraná no Maryvaldo. Roubos. Reencontros. Recomeços. Praça da República, Plaza Central, Praça Ayrton Senna. Rock in the jungle, mister. Avenida Beira-mar. Férias na Ilha. Cuzco. À deriva no Amazonas. Pela via das dúvidas encontram-se certezas. Trilhas no mato, aventuras urbanas, descobertas amorais. Concursos, sorteios e algumas premiações.

E se tudo isso não passasse de um sonho que nunca existiu, fugaz como tudo o que se faz à noite, sem destino certo ou hora de partida? E se tudo não fosse separado por pontos ou por uma vírgula mal colocada? E se em vez de uma interrogação houvesse um sinônimo afirmativo, prepotente, vaidoso e, quem sabe, paciente de um psiquiatra, embebedando-se de prozac e outras sete maravilhas artificiais? Dá-lhe então uma noite perdida, sem endereço certo para reclamar as conseqüências. Bá! Que se f*#%$ as conseqüências e os inconseqüentes. Quem deve que pague e quem não puder que se esconda, assim gritou o sábio naquele boteco imundo à beira do rio antes da batida policial. E nada mais se leu naquele espaço no tal dia atípico, quente e pós-carnavalesco.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Conseqüências cirúrgicas

Pode acontecer de um dia surgir a necessidade de fazer uma cirurgia bucal. Algo simples, de fácil recuperação. Mas sabe como é, cirurgias sempre trazem conseqüências, têm aquele prazo de recuperação até o corpo esquecer-se do procedimento invasivo.

Primeiro vem o corte do bisturi, depois os pontos, fechando com o inchaço e o hematoma. Um espetáculo. É algo mais ou menos assim: você entra bonitinho no consultório e quando chega em casa parece uma versão pop do chupa-cabra.

No outro dia, a boca inchada não deixa você falar ou comer direito. Eis então que o verdadeiro problema surge. Já pensou se justo para aquela manhã estava prevista a apresentação do projeto de inovação científica que certamente seria aprovado pelos seus chefes e os investidores, resultando em aumento considerável de seu salário e talvez uma participação como sócio da empresa?

Pior: depois de chegar em casa, querendo repousar um pouco, a sua namorada liga e quer discutir a relação. Você tenta murmurar que aquela não é uma boa hora, que a cirurgia te deixou meio baqueado, mas ela está intransigente. Quer discutir agora os pontos do namoro, diz que você não lhe dá mais atenção, que prefere ficar em silêncio a dialogar, ameaça terminar tudo se você não detalhar como vai ser o novo você no namoro. E você, desesperado e exasperado, articula frases guturais, tenta garantir a namorada e os pontos estourando....

De repente sua mãe, velhinha e meio cega, chega em casa, trazendo um prato de lasanha. O microondas não está funcionando e o gás acabou, por isso o almoço vai rola frio. A massa dura talvez machuque a boca, mas como articular essas frases no ouvido da mãe, se ela também está um pouco surda? O jeito é gesticular, afastar o prato, negar-se a comer.
Mas para que isso, pergunta mamãe, acusando-te de ser um filho desnaturado, mal-agradecido, desses que não dão valor a uma boa lasanha feita com carinho. Mas se fosse daquela tua namorada, aposto que comias, arremata a magoada velhinha.

Forçado pelas circunstâncias, você engole uns pedacinhos da comida, deixa a mamãe feliz e vai escovar os dentes. Hum...escovar os dentes sugere abrir a boca, passar a escova pelos dentes, língua, palato... mas e se bater no machucado, como vai ser? Será que é melhor ficar com o bafão, evitar o risco da pancadinha ou fazer a limpeza, como os bons costumes da casa orientam? Optas pelas limpeza, a porcaria da escova bate nos pontos, a boca incha e você, que já não estava bonito, parece ter saído de uma briga de rua com 10 pessoas. Apanhou muito, é claro, mas precisava ver como os caras ficaram.

Ficaram rindo de ti, né, do mesmo jeito que teus amigos do trabalho quando você ligou e disse que não poderia ir, pois precisava repousar. Um desses mais engraçadinhos ainda perguntou se era operação de fimose ou tinha alguma coisa a ver com exames de toque. E o pior é que nem à merda você pôde mandar, já que a palavra exige uma abertura maior da boca e não é bom correr riscos com os pontos. Mas deixa o inchaço diminuir para todo mundo saber com quantos bisturis se faz uma operação.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Conversando


Daí a menina liga para o trabalho do namorado e diz:

- Ai, amor, estou tão cansada...
- Meu amor, se é por falta de dica, eu te ajudo: vai dormir, pô!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Da série "Usei teu texto sim, e daí?", um pouco de Avery Veríssimo, que deixou Belizonte e está nesta semana em Manaus (AM), a caminho de Roraima.

Totem 2

Numa cantina italiana, oito amigos discutem a vida pós-estouro da bolha da blogosfera. A discussão já dura uma hora e estamos num momento impreciso da cronologia, pois que no virtual esta frase tem a mesma (val)idade que esta e enquanto isso não se sabe mais com quem está a palavra. A mistura de discursos exige uma tomada de providência. Resolvo assumir a parada, embora sem nenhuma intenção de encerrar o assunto.

- Não, não, interrompi. Acho que vivemos algo parecido com a transição da literatura para o cinema e daí para a televisão. Da mesma forma que as pessoas passaram a ler menos com o audiovisual, o hipertexto passou a ser desprezado se se mantém apenas como texto. Os internautas deste século querem ver, ouvir. Viajar em sensações programadas, ser conduzidos pela grade de opções da rede, como telespectadores dos programas de domingo à tarde.

- É, mas isso não é de todo verdade, diz Leãdro Wojak. O cinema, por exemplo, já foi tido como destruidor da literatura, mas não conseguiu fazer isso, e nem era essa sua intenção. Assim como a televisão não destruiu o cinema. As mídias podem conviver umas com as outras, tranqüilamente.

- Sim, mas isso não explica a queda brutal de audiência do meu blog, ri Edgar Borges.

- É que você é um ciberdissidente, gargalha Vandré Fonseca, reconhecendo logo depois a própria condição de publicador bissexto.

- O problema é que a gente não ocupa bem esse território anárquico do ciberespaço. Nós temos que avançar, rapaziada, entrar de sola nas outras formas de sociabilidade, com áudio, vídeo e o escambau, propõe um empolgado Israel Barros.

- Rapaz, não tenho certeza disso. Falta afetividade. Em vários lugares a territorialidade é importante. E não falo só do Acre. Em Guarulhos, não há campanha na TV. A eleição se decide com santinho e cartazete na rua. Ao mesmo tempo, a política é exercida de forma cada vez menos territorial e mais virtual. Portanto acho que é a possibilidade de falar, isso mesmo, simplesmente falar, que vai garantir nossa sobrevivência, atesta um messiânico Maurício Bittencourt.

- Mas isso só aumenta a dispersão, avalia Nei Costa. A internet é um punhado de lixo, muitas vezes reciclado, a maior parte inútil. Garimpar algo bom é tão difícil quanto garimpar mesmo. Por isso é que temos de instigar o povo a assumir os media.

- Falas como um comunicólogo, meu caro. O que todos nesta mesa, de certa forma, são, observo.

- E o corporativismo, onde fica? Não é assim não, qualquer um metendo o bedelho na nossa mais-valia?, grita Rogério Christofoletti, posando de sindicalista radical.

- Ó pá, mas que diabos vocês estão a dizer? Blogue é edição. Blog é edição. Blogging is editing. Mesmo, Avery, que um bandalho como tu, armado em chico esperto na terra da pavórnia, venha a dizer o contrário. E peçamos algo para comer, decreta Luís Ene.

- Só se for agora, atalha Leãdro, ávido por umas saltenhas chilenas das que têm na Vila Madalena. Saltenhas!

- Chico Esperto, como é que é isso?

- É comida italiana, italiana, grita o Vicenzo.

- Então mande mais algumas biras, grita Edgar.

- Você não era assim, diz Nei.

- Ô vida dura.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Sobre o horizonte

Não há obstáculos no horizonte de minha cidade. O pôr-do-sol é alaranjado, vivo, quente. Um espetáculo. Na pressa, muitos ignoram a sua beleza. Quem dirige fica mais preocupado com o carro à sua frente. Quem vai de carona, olha para os lados. Ciclistas estão mais ocupados evitando atropelamentos e outros obstáculos nas ruas. Usuários de ônibus querem chegar rápido aos bairros da zona oeste e tomar um banho para voltar a sair ou então ficar na sala, vendo novelas que tratam de outra realidade.

Não há muitos prédios com mais de quatro andares em minha cidade. A lei não permitia, a cultura popular alegava solo arenoso e impróprio. A lei agora permite. Conjuntos habitacionais e prédios residenciais são o novo horizonte do mercado imobiliário. Até o poder público dará a sua contribuição. O horizonte do cerrado talvez suma.
Não se dá muita importância ao horizonte de minha cidade. Quem chega, estranha a falta de muitos prédios, estranha que haja avenidas largas e arborizadas. Quem já vive aqui há muito tempo se acostumou e não levanta mais a cabeça, prefere óculos e boné para olhar o chão.
No verão, o horizonte sempre tem uma nuvem que sai da terra. Costumes antigos de brancos e índios, falta de educação moderna. Queimadas em nome da lavoura ou da limpeza. O cerrado arde, os animais fogem ou morrem. Os idosos e as crianças reclamam da fumaça. A natureza morre, o horizonte fica manchado.

À noite, quando se chega do norte, Boa Vista é uma imensa linha de luz que surge depois de um pequeno morro. Da BR 174, a pequena capital de Roraima parece abrir-se àquele que se aproxima. Na linha do fim do mundo, abaixo da linha do Equador, mais perto da Guiana e da Venezuela que de qualquer grande cidade brasileira, no meio do lavrado, há um horizonte de dúvidas e esperanças sobre o presente e o futuro.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Estudando lembranças


Estou fazendo um trabalho sobre memória, coletando recordações de idosos sobre o cotidiano de Boa Vista. Nunca fiz nada parecido, nunca havia lido sobre a parte teórica de entrevistar pessoas e conseguir delas relatos sobre como era a sua vida quando jovens.

Tenho que ler Agnes Heller, Éclea Bosi e Michael de Certeau para começar. Já passei pela primeira, estou com Bosi. Gosto do que leio, é instigador, quase poético.

De repente, não sei como, viajo para 1992, volto para 1990, retorno a 1992/93, relembrando cenas aparentemente desconexas, mas que se relacionam e trazem à minha mente meninas das quais gostei quando era um garotinho de 13, 14 anos.

Lembro de um beijo dado com os rostos entre os vidros da janela da sala de aula, lembro que a prima da garota beijada deixou de falar comigo, lembro que era ela quem eu de fato queria beijar; ela o sabia, mas a outra se adiantou...
Uma era loira e outra tinha cabelos negros. Todos estávamos na sétima série. Logo depois fui embora da cidade. No primeiro ano que passei no Brasil, a catira, que é como chamamos na Venezuela as mulheres loiras, morreu atropelada. 

Um ano depois, quando fui visitar minha antiga cidade, fui na casa da morena deixar meus pêsames e ela não foi cortês comigo, pediu que fosse embora se já havia terminado, parece que ainda estava chateada comigo. Qual é o nome dela, meu Deus? Só me lembro que era branca, também faz aniversário no dia 4 de junho, como eu e era prima de um grande colega meu à época. Putz, como é que o cara se chamava mesmo?.. Juan Carlos Gonzales, me relembra uma anotação em um velho caderno.

Lembro de outra menina da sétima série. Lembro que a olhava demoradamente, apesar de lembrar que sempre olhava um monte de garotas demoradamente. Aliás, timidez é uma porcaria. A gente só olha; conversar, que é bom, nada. Quando tentamos, que conversa ridícula costuma sair. Essa menina era morena clara, cabelos claros, irmã de um colega desses que a gente encontra na praça de cidades pequenas para conversar sobre o nada. Qual era o nome deles?

Lembro que nos primeiros anos em que estava morando aqui, me contaram que ela havia sido atropelada. Ela e a menina loira que me beijou pela janela da sala de aula estavam juntas no acidente. Três anos depois de ter vindo morar aqui, nos encontramos na rua da Alcaldia de Guasipati. Ela lembrou do meu nome. Eu, apenas de seu rosto. Trocamos duas palavras e tchau. 

Aliás, sempre fui horrível para guardar nomes. Mesmo o daquelas meninas que me chamaram a atenção quando eu era um moleque que se encantava a cada semana por uma pessoa diferente.

sábado, dezembro 23, 2006

Sobre esse feliz Natal e Próspero Ano Novo


Por muito tempo não gostei das festas natalinas. Essa história de ''feliz ano novo", "tudo de bom para você no ano que chega" e "o novo ano é uma oportunidade de recomeçar" não me empolgava. Acho que fiquei assim quando era um moleque, morador da Venezuela. Um primeiro de janeiro qualquer, depois das festas com muita comida, bebida, risadas e votos de prosperidade, acordei cedo para ir dar uma volta na praça da cidade.

Na minha casa, os restos da alegria: pratos e copos sujos, minha mãe dormindo, o silêncio da ressaca. Nas ruas, trabalhadores de plantão, muitas garrafas de cerveja, casas fechadas e um sol forte. Esse passeio me fez pensar que o mundo não muda apenas pela força de um voto que se repete todo ano de maneira mecânica, que a pobreza de uns continuará a mesma e as dificuldades ou maus hábitos de outros também. O simbolismo do Natal e do ano novo havia morrido naquele momento em mim, à época um guri de 11 ou 12 anos de idade.

A cada virada de ano, a mesma falta de empolgação com as festas tomava conta de mim. Sabe essa história de todo mundo se abraçar e desejar mil coisas boas quando chega a meia-noite? Bá, pura hipocrisia, desculpa para fingir que gostamos uns dos outros, depois que passamos o ano todo brigando e ignorando as necessidades do próximo.

Daí, em 2004, passei o Natal em um ônibus, atravessando o altiplano boliviano, sem nenhum conhecido por perto. Depois de quatro dias viajando de ônibus e trem, cheguei na casa de minha amiga Carla, em Floripa. Na virada do ano, reunido com a família dela, o jantar, as risadas, a queima dos fogos na avenida Beira-mar, o surgimento de uma nova percepção sobre este período do ano.

Onze meses depois, quando a PM matou meu primo, um natal sombrio se aproximava. A família fez força e juntos superamos a tristeza, reforçada por ser dezembro o mês em que o moleque aniversariava. Dessa perda, da dor, veio um ganho: o simbolismo do Natal e do ano novo recobrou sua força. Abraçar meus pais, beijar meus avós, desejar (do fundo do coração) que os meus amigos tenham sempre um ano melhor que o presente, torcer por todos, esse é o grande presente desta época do ano.

Que venham as festas e fique a força para superar desafios e conquistar um outro mundo a cada dia, refletindo sobre como melhorar a nossa conduta e sobre como alcançar os nossos objetivos. Feliz 2007 para todos os que lerem esta crônica, feliz 2007 para todos os que acreditam que podemos sorrir mesmo quando tudo parece perder o sentido, feliz 2007 para quem acredita que o ano novo começa sempre a cada manhã.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Coisas para lembrar do dezembro de 2006

Caos nos aeroportos
15 anos de minha afilhada
fichamentos para a monografia
Exames médicos
Compra do novo som
Calor, muito calor
Poucas postagens no blog
Começo da coluna mundo web no jornal do Nei
Ligeira engordada
II Mostra Canta Roraima
Morte de meu ex-sogro
Viagens ao interior do estado
Enanitos Verdes e Maná no Youtube
Gastos com presentes e lembranças para a família

terça-feira, dezembro 12, 2006

Kd tu?

Ouço nos canais de música da Sky a balada Eyes Whithout a Face e me pergunto: por onde andará Billy Idol?
Converso com amigos sobre clássicos da música pop, sobre trilhas de novelas e lembro do Rick Astley, outro sumido.
Será que os dois viraram produtores musicais, executivos de outros ramos empresariais ou simplesmente engordaram e abriram uma revenda de automóveis ou decidiram criar cavalos?
Do Vanilla Ice, alguém dá notícia? São poucos os estouros do final dos anos 1980 e começo dos 90 que conseguiram chegar na memória coletiva dos anos 2000. Os que chegaram, marcaram o nome da obra e não o seu próprio, como o intérprete de Ghostbusters, tema do filme Os Caça-fantasmas. Ah, você não lembra ou nunca soube? Tranqüilo, eu só sei pela legenda do canal de áudio. É Ray Parker Jr., primo distante do Peter Parker, mais conhecido como Homem-Aranha.
E o Vinicius Cantuária, que outro grande sucesso além de ?Só você? conseguiu emplacar nos últimos anos? ?Meu pensamento voa de encontro ao teu...?.
E você, sente falta de qual artista?

segunda-feira, dezembro 04, 2006


Diários da bicicleta


Então... para aqueles persistentes visitantes, que tantas mensagens deixaram e tantas vezes pensaram no que teria acontecido com este cronista, um fugitivo de suas atribuições blogueiras de escrever e ler com mais regularidade, vai aqui um pouco das aventuras de um índio acima do Equador.

A ultima postagem para valer foi o microconto da porta fechada, postada em primeiro de setembro, há mais de dois meses. Em tópicos, algumas das praias visitadas nestes dias:

- Mudei de emprego e de salário. Agora sou um jornalista a serviço da Universidade Estadual de Roraima.
- Entrei na fase da monografia. Fiz o projeto em duas semanas após o começo do meu ultimo semestre de sociologia na Universidade Federal de Roraima, arranjei o orientador que queria e empaquei na resenha e apresentação de um livro da Agnes Heller.
- Agora viajo quase toda semana para o interior do Estado. Fico surpreso com o que vejo em cada município, tanto para bem como para mal.
- Tirando o Lula, nenhum dos candidatos em que votei na eleição ganhou.
- Participei da comissão julgadora das composições inscritas na II Mostra de Música Canta Roraima, uma realização da Prefeitura de Boa Vista e do Sesc.
- Reaproveitei textos do Crônicas e os publiquei no Overmundo. Também escrevi algumas colaborações para divulgar na agenda do site o que se faz de arte por estas bandas de Boa Vista.
- Me inscrevi no 10º Concurso de Poesia do Sesi e não classifiquei, mas pelo menos fiquei feliz vendo a Zanny recebendo uma premiação na categoria escrita.
- Completamos aqui na oca dos Borges um ano da morte de meu primo (detalhes nos arquivos de novembro de 2005)
- Engordei um pouco...
- Cortei um pouco o cabelo...
- Não vejo há tempos minha afilhada Bia...
- Instalei um som com mp3 no carro e baixei 700 megas de música latina da net...
- Amigos foram embora, outros engravidaram e alguns resolveram entrar no MSN para conversar desde a Venezuela...

Assim, de supetão, é mais ou menos isso. Prometo pelo menos ser um ser semanal.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Ando vivo...

ainda que pareça o contrário.

Trabalhando muito, estudando muito, descansando pouco.

Pronto para voltar.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Vingança

De repente, no meio de mais uma confusão, ela disse:

- Ponha-se para fora! Nunca mais quero te ver!


Ele foi, mas levou a chave da porta e trancou por fora.

(E você, o que faria?)

terça-feira, agosto 29, 2006

Ponto e contraponto


A morena Zanny Adairalba participou no final de semana de um evento promovido pela entidade Nós Existimos, que congrega diversos movimentos sociais. Zanny foi convidada para declamar uma poesia, mas a timidez não deixou.
Para suprir a falta de coragem de encarar o palco, convidou o músico George Farias para a leitura do texto.
George foi além e musicou o poema. Mas a morena não estava sabendo disso e tomou um susto ao ouvir a canção, a sua primeira composição mostrada em público.

A letra do poema é esta:

Vôo

Queria ser pássaro
Voar nas alturas
Romper as barreiras
Pousar nos lavrados
Planar sobre os campos
- Aroma de matos!
Subir as colinas
Banhar-me em seus lagos
Meus sonhos e encantos
Deixar na passagem
Ser ponto na imagem
De interrogação

- Que faz esta ave
tão livre no espaço
colhendo os pedaços
de tanta emoção?

- Que faz esta ave
de cor de alegrias
bailando nos dias
de minha canção?


Eu, para não ficar muito sério, dediquei ao seu poema estes singelos versos:

Queria ser menino
solto no campo
alegria no coração.
Queria ser menino
com boa pontaria
e um estilingue na mão.


(Zanny ficou deveras emocionada com a minha homenagem...)

sexta-feira, agosto 25, 2006

textos velhos resgatados do fundo do baú digital, apenas para não fechar a semana na mesma postagem. Este aqui tem pelo menos uns três anos.

Conselhos

Acredite no destino ou na vontade
Dos homens de fé.
Lute e tente ser o melhor
Conquiste mundos, multidões, sucesso.
Viva como um rei, seja divino.
E com tudo isso acontecendo
Lembre-se a cada manhã
Caro amigo ou cruel oponente:
Todo amor acaba
E aquilo que em tudo te atrai
Uma manhã qualquer só te distrai.
Vá à lua ou passe as férias na praia
Beba até cair ou faça campanha contra
As guerras no Oriente Médio.
Execute a sua vontade e esqueça dos outros
Só porque é sempre assim:
Todo amor acaba
E aquilo que em tudo te atrai
Uma manhã qualquer só te distrai.

terça-feira, agosto 22, 2006

Vida na floresta amazônica



Serras ao norte, cerrado no centro e floresta tropical ao sul. Essas são as coberturas vegetais do estado de Roraima. A mais fria das regiões é na fronteira com a Venezuela, acima dos 1.000 metros de altitude, com um clima que varia de 10 0C a 27 0C.

Estas fotos foram batidas durante uma visita com a minha turma de Sociologia à vila de Campos Novos, um assentamento no meio da floresta do município de Iracema, sul de Roraima. A vila foi criada há dez anos e tem cerca de mil habitantes. Fica a uns 140 quilômetros da capital do Estado, Boa Vista.

Foi no meio da mata que os intrépidos alunos-pesquisadores estiveram buscando conhecimento. Essa aqui é uma das trilhas abertas pelos agricultores para chegar até suas propriedades e escoar a produção. Observe o tamanho das árvores.

Sem sucesso, a floresta parece querer resistir ao desmatamento. É surpreendente sair de uma área de mata fechada e surgir no meio de um capinzal, com o sol a pino.

Nas vicinais, sobrevivendo com muito trabalho e sem o conforto da energia elétrica, os agricultores vivem em casas de palha e de madeira.

No inverno, as picadas viram lamaçais e dificultam o escoamento. Em alguns pontos, a lama engole a metade da perna. Noutros, como nesse, parecem uma trilha de rali, pronta para engolir a sandália de desavisados como este cronista.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Ele já está chegando. Vem dia sim, dia não.
Às vezes fica por dois, três dias, some, parece que nunca mais voltará.
De repente, ele amanhece esparramado, à vontade, faz da sua presença uma constante.
Às vezes fica o final de semana inteiro e some na segunda de manhã, mas antes das dez já está de volta, tocando, sentido, visto.
À noite, não deixa ninguém dormir tranqüilo. Fica ali, mexendo, provocando, fazendo suar, suar, suar...
Parece que setembro é o seu mês.
Quando setembro chegar, ele não sairá mais daqui. Talvez tire férias no ano que vem, lá por abril, maio, mas enquanto isso vai trabalhar muito. Até com mais intensidade que neste ano.
Maldito verão amazônico...

terça-feira, agosto 15, 2006

Queda

Tua ver
da

de dói.
Tua men

tira
também.
Foge d

aqui.
Foge
e re

nega
tudo
o
que
um dia te ofereci.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Em tempos de pouca inspiração literária, fotos de Boa Vista

Se bem que postar as fotos demora mais que postar texto....mas tudo bem.

Este é um dos principais monumentos da cidade: a Estátua do Garimpeiro. Fica bem no centro de Boa Vista. Poucas crianças nasceram e cresceram aqui sem bater uma foto com ele ao fundo. Eu tenho várias...

Essa é a fachada do Estádio Flamarion Vasconcelos, inaugurado na década de 70 pelo governo militar. O Canarinho é o palco dos cláááássicos do futebol da terceira divisão local....


E esta é uma mostra do grafitte local.


segunda-feira, agosto 07, 2006

Interatividade


É difícil ser justo


(Complete a frase com versos, manifestos, filosofias ou exemplos)

quarta-feira, agosto 02, 2006

Boa Vista Shows


Fora os botecos de sempre com as mesmas horríveis bandas de forró, há semanas em que não acontece nenhum show em Boa Vista. E então, de repente, tudo explode. Agora, com a proximidade da seca e a diminuição progressiva das chuvas, as bandas e cantores voltam a ocupar espaço na night macuxi.

No final de semana passado, por exemplo, foi realizado o II Roraima Sesc Fest Rock, o maior festival do estilo em Roraima. 23 bandas se apresentaram de sexta a domingo no espaço multicultural do Sesc Centro, várias delas com repertório formado por músicas próprias, muito diferente do ano passado, quando a proposta autoral foi tímida. Bandas de Manaus (AM), a Pink Rock, e da Guiana, a Brutus, também deram o ar de seu rock em BV.

As fotos e o histórico das bandas podem ser conferidos aqui. Comentários e algumas entrevistas com as bandas podem ser conferidos aqui.

Na mesma sexta em que começou o Sesc Fest Rock, o cantor Neuber Uchoa lançou o seu mais novo CD, com o título ?Eu preciso aprender a ser pop?. Daí, como trabalhei até tardão, tive de escolher entre começar a noite no roquenrol ou na batida amazônica do Neuber. Já rolou um desencontro.

E agora, nesta sexta-feira (4), novamente o público vai ter de escolher e alguém vai perder nessa história. Na mesma noite, o Sesc promove um show com Helen Abad, uma professora de música que agora vai encarar os palcos com um repertório de MPB.
No mesmo horário, 21h, os roqueiros da Mr. Jungle fazem um show no teatro Carlos Gomes para lançar o seu single demo. E apenas para confundir mais a cabeça do público, Geraldo Azevedo (yes!) e Guilherme Arantes (arg!) apresentam-se no Iate Clube da cidade. Tudo ao mesmo tempo de agosto.

Na outra semana, a segunda edição do ano do projeto Sonora Brasil em Roraima traz o grupo curitibano Banza, para única apresentação no dia 11 de agosto no Espaço Multicultural Sesc Centro. No dia 13, é a vez dos Titãs tocarem no Iate Clube.

O problema agora é tempo e grana para comprar tanto ingresso.

Up date

Ahã, eu sabia que algo estava faltando. No sábado, a banda Garden comemora dez anos de estrada com um especial de O Rappa. No domingo, a Prefeitura de Boa Vista e o Sesc Roraima lançam o CD do projeto Canta Roraima (postei sobre ele em dezembro do ano passado), com 18 músicas, incluindo cantigas indígenas, rap e outros ritmos.

E onde estarei eu às 8h da manhã de sábado e domingo? Nas aulas da pós, feito um bom índio, até as 20h, pelo menos. Ou seja, nada de descanso para poder ir relaxado aos shows.

Up date 2

Às 20h deste sábado (5) começa a temporada de músicas eruditas do segundo semestre de 2006. Depois de apresentar-se com grande sucesso no 26º Festival de Música de Londrina (PR), a Orquestra de Câmara da Prefeitura de Boa Vista realiza novos concertos no Centro de Informações Turísticas da Intendência, localizado na Orla Taumanan, bem em frente ao rio Branco.

segunda-feira, julho 31, 2006

Prevenção


De repente, no meio do café da manhã, ele perguntou:

- Ei, tu teve um orgasmo ontem, não foi?

Ela ficou estática, chocada com o questionamento, e respondeu:

- Que tipo de pergunta é essa?

Ele, olhando para o seu pedaço de cuzcuz, disse:

- Nada não, é que passou no rádio que hoje é dia do orgasmo. E como tu gosta de ganhar presente por tudo, só quero te avisar que se tu teve um orgasmo ontem, te contenta com ele, que hoje estou cheio de serviço.

terça-feira, julho 25, 2006

Refrão

Quando estava indo embora, ela disse:

- Gostei da noite. Quando quiser me ver de novo, liga neste número.

Ele, encabulado, preso à sua ética pessoal, respondeu, temeroso:

- Até que gostaria, mas você é a namorada de meu melhor amigo. E se perdermos o controle e algo a mais rolar?

Ela o olhou no fundo dos olhos, suspirou e cochichou em seu ouvido:

- Não quero parecer insensível, mas o que os olhos não vêem, o coração não sente. E se um não quiser, dois não se enrolam.

quarta-feira, julho 19, 2006

Lições da vida após a visita da morte


Nunca se perca de quem você gosta.

De vez em quando, ligue para uma pessoa amiga e diga-lhe o quanto gosta dela.

Sorria mais de quem só quer viver sério.

Ame. Ame nem que seja uma ave, mas ame e demonstre.

Viva o dia. E se for o seu perfil, a noite também.

Reúna-se de vez em quando com pessoas queridas e inteligentes. Faz bem à alma e ao cérebro.

Procure entender como é o outro, o desconhecido, e descubra novos matizes da existência.


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Agora, também brincando no Overmundo.

segunda-feira, julho 17, 2006

Justificativas de índio

O blog está completamente às traças, com as baratas fazendo a festa e devorando os bits de cada texto. Ando trabalhando muito. Não estou reclamando disso. Pelo contrário, estou na melhor fase profissional da minha relativamente curta vida.

Ando meio sem vontade de escrever. Falta a dose certa de inspiração e gana de transpiração. Ando meio seleção brasileira, na real. Não são problemas pessoas. Aliás, se há algo do que posso me alegrar é da falta de grandes problemas pessoais. Nisso sou bem diferente de todas as pessoas que me rodeiam. Cada uma tem um drama para contar ou resolver. Eu, no máximo, me preocupo (quando lembro) da falta de um tema para a monografia.

Acho que é a saudade da aldeia, de pescar de noite no rio, brigar com jacaré, de ficar na rede quieto para evitar chamar a atenção do Canaimé, de acordar cedo para ir caçar...Ops, peraí, saudosismo não. Também não era tudo isso de bom a vida na maloca.
Bom, talvez seja só preguiça, sem tanta filosofia ou elucubrações. Por isso não escrevi nada no dia 7 de julho, quando o Crônicas da Fronteira completou dois anos de existência, ou no dia 9, quando meu querido município, Boa Vista, chegou ao 116º aniversário.

Para não deixar a poeira tomar conta do blog, resolvi colocar um texto tolo rabiscado no caderno entre as 22h e as zero horas, depois de uma aula de segunda ou quinta-feira.

Visitas? Assim que estiver mais folgado vou retribuir todas. Pode ser hoje ou amanhã. Quem sabe o que a vida nos guarda para daqui a algumas horas?
Beijos índios a todos.




Mão no queixo, silêncio.
A parede branca, mesa bagunçada.
Memórias, papéis velhos.
Maio se esvai, águas chegam.
Como se fala da inquietação?

Fotos, conchas do mar, canetas
Objetos e outras mil coisas se valor.
Notícias velhas, contas de energia.
É muito fácil pintar a inquietação.

Uma mosca, um copo d?água, calor.
Palavras para ler e guardar.
Um caminho sem sinalização de volta.
Uma foto do presente
Como escritores definem inquietação?

Jazz no canal de áudio.
Músicas com gaitas escocesas falam de rosas.
Substantivos, adjetivos, desconstruções gramaticais.
Traduções, induções, possessões.
Para quê tanta inquietação?

quarta-feira, julho 12, 2006

Ocupado.
Volte amanhã.
O dono manda avisar que vai grudar um cartaz de poesia.
Ou quem sabe um bilhete com uma prosa.
A leitura será (espera-se) boa.

segunda-feira, julho 03, 2006

Texto do Sérgio, mais um acertador do bolão do Crônicas da Fronteira, sobre um jogo da copa de 1998, muito semelhante ao de sábado. E com uma pitada de teoria da conspiração.

Porque Voltamos

...E naquela tarde ele já se sentira mal, os amigos ficaram apreensivos, e logo vazou...A equipe adversária soube, e um dos jogadores, que era seu amigo, ligou preocupado pra concentração...Não quiseram dar mais detalhes... "comeu um doce e passou mal..."...Só isso, mas foi o bastante...Era sexta-feira e provavelmente Saulinho não jogaria no domingo.

Exames para lá e repousos pra cá, e no fim, abatido, disse que queria jogar de qualquer maneira...Achava que devia isso ao povo. Foi aconselhado a pensar e só na hora do jogo decidiriam o que fazer. Ferreira estava muito aflito, era como se fosse com seu filho. Os nervos da equipe estavam em frangalhos. Matheus disse que por ele Saulinho não jogaria e caiu sobre os ombros do mais experiente e do jogador a difícil decisão. Jogar ou não jogar?

Faltando uma hora para o jogo, alguém põe um envelope embaixo da porta. Alguém leu e houve uma reunião a portas fechadas. Demorou muito até alguém quebrar o silencio. Então o maioral disse: - Temos que perder o jogo! Todos se perguntaram, e perguntaram aos outros...- Como???.....- Estamos obedecendo ordens!...Foi o que falou o "seu" maioral.

Na entrada do campo uns concordavam, outros não. Chamaram o Saulinho no canto, e lhe disseram algo...Ela acenou com a cabeça...- Que vergonha! ? pensou. Num jogo em que o time estava irreconhecível, nervoso, querendo gritar, o placar foi 3 x 0 para o adversário. Era inacreditável. Eles foram os campeões.

sexta-feira, junho 30, 2006

Meus mundiais


O Sérgio postou dia desses sobre onde e o que estava vivendo nos últimos mundiais de futebol. Desde o post da Luma, tentei me lembrar qual foi a copa que acompanhei com tanta atenção como esta. Resultado: nunca havia assistido a tantos jogos desta competição.
Daí comecei a pensar onde estava na final de cada mundial que rolou desde meu nascimento. A conta ficou assim:

Argentina 1978 - Com certeza, estava dormindo ou no seio de mamãe.
Espanha 1982 ? Não lembro, mas é provável que estivesse brincando com os meus bonequinhos no quintal ou no quarto.
México 1986 ? Estava na quarta série. Fiquei sabendo bem depois que a Argentina era campeã.
Itália 1990 ? Ah, essa final eu lembro. Um gol apenas da Alemanha contra a Argentina. Assisti na casa do meu amigo Gustavo. Alguém falou que final com placar tão magrinho não valia a pena pagar aposta.
EUA 1994 ? Assisti na varanda da casa de meus avós.
França 1998 ? Não lembro. Acho que estava dormindo. Mas depois acompanhei tudo...
Coréia do Sul & Japão 2002 ? Estava dormindo na final. Apenas ouvi os gritos de meus primos e tios na casa ao lado. É ruim de assistir jogo às 7h da madrugada!


E você, lembra onde estava nas últimas finais da copa do mundo?

segunda-feira, junho 26, 2006

E com vocês, Lumita, a grande vencedora do prêmio "Acertei o placar nos jogos do Brasil"!!!!!!
(Rufar de tambores, histeria coletiva na blogosfera, milhões de acessos etc. etc. etc.)
Que a ficção de Luma ilumine a segunda-feira de todos nós.





na fronteira

Doce era a ilusão de segurança das rotinas. Prezava-as.
Mas aquele dia era um dia diferente.
O dia estava chuvoso, frio, e isso não a impediu de sair para a rua.
Vagueou sem destino até que entrou naquele mesmo café. Todos os dias era ali que ia almoçar e jantar.
Mal entrava e recebia um sorriso rasgado do garçom, que já nem perguntava, vinha apenas servir-lhe, com meia garrafa de água e meia garrafa de vinho.
Levava com ela um livro, fingia ler algumas páginas, mas essencialmente sonhava acordada. Pensava nele, na sua vida, alheia a tudo o que se passava a sua volta.
A chuva teimava em cair, fustigando as vidraças. Lá fora, viu gente que corria de um lado para o outro, tentando proteger-se.
Não reparou naquele homem, sentado à frente, que a olhou curioso.
Pagou e saiu. Não viu que o homem a seguiu.
Percorreu o caminho até a casa, cabeça baixa e olhar perdido.
Entrou no prédio e subiu as escadas. Não viu o homem....

Novamente saiu de casa e o destino levou-a ao mesmo café.
O garçom trouxe o jantar. A chuva estava suspensa e o negro da noite venceu a negritude daquele dia.
Repara num homem sentado à sua frente. Ele sorri, ela devolve o sorriso. Um sorriso triste, de alguém para quem a vida já nada significava.
Sem uma palavra, ele juntou-se a ela e acariciou-lhe uma das mãos. Mãos frias de um coração vazio....

Saíram juntos do café e percorreram as ruas da cidade.
E recostada a um carro, ela sonhou a sofreguidão de um grande amor.

Era o seu aniversário de casamento. Um casamento sem brilho, sem emoções, um fardo para a sua alma.

A partir desse dia, depois de muitos anos, sonha que vive um grande amor. Fantasia sobre a sua vida e revive, ainda que por breves momentos, o sabor da paixão.

Alguma coisa mudou dentro dela. Não olha mais os outros no café com olhar de indiferença, olha os outros clientes com uma curiosidade assanhada, como se pudesse beber deles a vida que não tinha: o casal de namorados a beijar-se; as três amigas que vinham desabafar suas mágoas e um casal de gays com ar culpado, que claramente tinham outras famílias em casa, mas que todos os dias se encontravam ali antes de subirem para um quarto do hotel ao lado.

Todos fantasiando a felicidade. Não se sentia mais só.
Tudo o que via, analisava, e o que não via, imaginava. Completava a realidade de cada um com os seus próprios sonhos e assim vivia feliz.

Saía dali somente quando começava a esvaziar, mas não ia ainda para casa.
Encostava-se em um carro. Rua vazia de vida naquela hora, via os carros que passavam e sentia a impressão que produzia neles. Muitos olhavam para ela como se fosse doida, com a curiosidade natural de ver uma mulher sozinha àquela hora da noite. Muitos homens solitários como ela, abrandavam, olhavam-na demoradamente, tentando percebê-la.
Às vezes, havia um que parava. Confundia-a com uma prostituta, perguntava-lhe o preço. Ela sorria, entrava no carro, fazia-lhe tudo e não levava nada.
O calor de um corpo, a intimidade, mesmo que falsa, para ela não tinha preço.
Separam-se, sem trocar um olhar ou uma palavra.


E com muito prazer,
Luma invadindo o espaço do Edgar
Beijus

sexta-feira, junho 23, 2006

Cotidiano (Ou sessão querido fotolog)

Sem mais futebol, sem cheias de rios, sem dores ou febres na alma. Apenas algumas fotos do cotidiano de um índio em Boa Vista.

Ler, ler e ler. E ainda falta tanto...


Para ler, que tal uns óculos direto do Feirão do Garimpeiro?


Consciência pesada? Joga nessa balança importada da Venezuela.


Raízes...

Uma nega bonita chamada Zanny...

Um indiozinho chamado Edgar...

A família do índio, pintada pela artista plástica macuxi Carmézia Emiliano...


E um close do índio, na tela da pintora Mari Faccio.