Quando gentileza não gera gentileza
Sou um incompreendido. Sem dramas nem estresse, sou um incompreendido. Uma vida de timidez, concisão, ironia e sarcasmo deixaram marcas na imagem que as pessoas, mesmo as que não me conhecem, fazem de mim. Não que eu me importe com elas, fique claro. A questão não é a pouca importância que dou às opiniões externas, mas a surpresa que ainda me causam quando as descubro.
Não foi uma ou duas vezes que as pessoas chegaram e me disseram: “nossa, como você é legal. Não parece com a pessoa que me descreveram”. Quer dizer, há quem não goste de mim e invista seu tempo propagando isso. É verdade que, consciente ou inconscientemente, minha vida pregressa sempre deu motivos para essas opiniões desabonadoras a meu respeito.
Me chamam por aí de tudo um pouco. Ainda bem que sempre há quem me defenda. Por exemplo, a mesma guria que em um papo me nomeou “escroto”, conforme seu próprio relato, acrescentou que apesar disso gostava muito de mim, pois sou “muito legal”. Vá entender esse paradoxo.
Sou fruto do passado. Em certa época, para tentar manter a ordem numa sala com mais ou menos 10 figuras insubordinadas e enroladoras, adotei uma postura mais rígida. Fiquei com a pecha de “mandão, grosso, insensível e durão”. Sem fazer alarde, após refletir sobre a maturidade e responsabilidade que os demais devem ter no seu trabalho, fui mudando. Pena que ninguém percebeu até hoje.
Não foi uma ou duas vezes que as pessoas chegaram e me disseram: “nossa, como você é legal. Não parece com a pessoa que me descreveram”. Quer dizer, há quem não goste de mim e invista seu tempo propagando isso. É verdade que, consciente ou inconscientemente, minha vida pregressa sempre deu motivos para essas opiniões desabonadoras a meu respeito.
Me chamam por aí de tudo um pouco. Ainda bem que sempre há quem me defenda. Por exemplo, a mesma guria que em um papo me nomeou “escroto”, conforme seu próprio relato, acrescentou que apesar disso gostava muito de mim, pois sou “muito legal”. Vá entender esse paradoxo.
Sou fruto do passado. Em certa época, para tentar manter a ordem numa sala com mais ou menos 10 figuras insubordinadas e enroladoras, adotei uma postura mais rígida. Fiquei com a pecha de “mandão, grosso, insensível e durão”. Sem fazer alarde, após refletir sobre a maturidade e responsabilidade que os demais devem ter no seu trabalho, fui mudando. Pena que ninguém percebeu até hoje.
A questão é que toda vez que tento ser MUITO educado acabo me dando mal. A história mais engraçada em torno de cortesia e gentileza envolveu o aniversário de uma colega. Chegamos eu, Zanny e Edgarzinho na peixada, prontos para comer um tambaqui sem espinha. Aquele burburinho de recinto cheio, um zum-zum-zum que ninguém se entende e me aproximo da aniversariante para parabenizá-la:
- Oi! Parabéns pra você, muito anos de vida e muita plata no bolso! (Sorriso aberto, demonstrando felicidade.)
- Obrigado, Ed! (Sorriso aberto, demonstrando felicidade)
- E quem é esta senhora? Tua mãe? Nossa, como ela é nova! Parabéns pela sua filha, viu? (Tentando ser gentil com a mãe de minha colega.)
- ....., (Zum-zum-zum não deixa ouvir o que a mãe de minha colega diz)
- Edgar, ...... (Zum-zum-zum não deixa ouvir o que minha colega diz)
- Ei, como tua mãe é nova. Parece mais nova que tu, heim? (Tentando ser engraçado para agradar a mãe alheia.)
- Edgar, ...... (Zum-zum-zum não deixa ouvir o que minha colega diz)
Fui sentar, comi meu peixe, brinquei e no final descobri que a “mãe” de minha colega na real era sua amiga querida e que a mesma tinha saído da mesa chorando por ter caçoado dela. Minha amiga não acreditou quando disse que havia sido sem intenção, que tentei ser gentil, que aquilo ou outro. Resumiu a história com um “Te conheço, Edgar. Tu fez de propósito” e o assunto é tabu numa hora e motivo de risadas em outra até hoje.
Dia desses, na instituição onde trabalho, fui pegar um documento para assiná-lo. Com aquela boa vontade e sorriso no rosto que sempre esbanja comigo (atenção: ler frase anterior com inflexão de ironia), a menina do gabinete me passou o papel. Errei e como não podia rasurar, voltei lá. Para evitar a cara feia da secretária (vai que fui o que não soube pedir o documento antes), usei uma velha, mas segura construção:
- Tira outra cópia, por obséquio.
- Hã?
- Tira outra cópia, por obséquio.
- Por o que?!
- “Por favor”, disse-lhe a colega de sala, ajudando a esclarecer o significado da frase.
- Ah, tá. Depois eu levo.
E lá fui eu, anotando mais uma para a coleção de situações esquisitas em que vivo me metendo toda vez que tento ser MUITO gentil.