segunda-feira, abril 04, 2011

Diário de caminhada – 25 de março de 2011 - Nas comunidades Boca da Mata e Sorocaima II

  

(Publicado no blog do projeto Caminhada Arteliteratura)

Mais uma vez seguimos nossa viagem rumo às comunidades indígenas de Roraima. Desta vez, as atividades foram realizadas na seguinte ordem: pela manhã estivemos na Boca da Mata e à tarde em Sorocaima II, ambas no município de Pacaraima.

Nesta terceira viagem do projeto tivemos a simpática presença do artista plástico José Napoleão, que chegou de Minas Gerais para realizar uma oficina cultural na sede do Coletivo Arteliteratura Caimbé.


Ao chegarmos na comunidade Boca da Mata, localizada às margens da BR 174, encontramos pais, alunos, professores e representantes de outras comunidades indígenas reunidos no malocão central.

Após as atividades e o preenchimento das fichas sócio-culturais da Funarte, Edgar convidou alguns moradores para oficializar a entrega do kit literário. Foram repassados às mãos do tuxaua e professor Aldemárcio 29 livros de autores roraimenses que a partir daquele momento passaram a pertencer à comunidade.

A visita foi finalizada com aplausos, agradecimentos e a confirmação de nosso regresso no dia 13 de maio. Voltaremos trazendo alguns dos autores dos livros entregues para conversar com a comunidade. A nova visita coincidirá com a realização de uma programação voltada à literatura na escola Tuxaua Antonio Horácio. Acreditamos que vamos enriquecer o dia.

Também faremos a entrega dos livros arrecadados na campanha de coleta de exemplares de prosa e poesia.

Veja as fotos em Boca da Mata









As atividades realizadas em Sorocaima II foram desenvolvidas na Escola Indígena Manuel Barbosa, que atende também a outras comunidades próximas. O professor e tuxaua Rivelino havia organizado tudo para nossa chegada e encontramos todos –crianças, jovens e senhores da terceira idade, bem animados.

Após apresentar a equipe aos presentes, Edgar falou sobre o projeto Caminhada Arteliteratura, como se deu a idéia do projeto e sobre o apoio da Funarte /Minc.


Falou sobre a importância da leitura, dos livros, do conhecimento e ainda de seu sonho de conseguir, através do projeto, despertar o interesse daqueles jovens de forma que, daqui a alguns anos, ao reencontrá-los, veja que alguns se transformaram em escritores.

Em seguida, Tana Halú iniciou uma roda de contação de história. Depois foi a vez do professor Rivelino contar a lenda da onça e do jabuti e cantar junto com as crianças moradoras da comunidade uma canção na língua indígena macuxi.



A sessão de desenhos revelou boas surpresas.


Por fim, um kit com 29 livros de autores roraimenses foram repassados às mãos do professor Rivelino. Após a entrega, demos por encerrada as atividades daquela tarde e marcamos nosso retorno para o dia 13 de maio, trazendo a nossa caravana de escritores.


As conversas e as trocas de idéias e de histórias seguiram de forma agradabilíssima, após o evento.

Nesta caminhada encontramos participantes de 13 comunidades indígenas:
Boca da Mata, Arai, Samã II, Sol Nascente, Bananal, Pacaraima (a sede do município), Santa Rosa, Sorocaima II, Sorocaima I, Guariba, Ingarumã e Nova Esperança.


“ Como relatar o brilho encontrado
Em cada um daqueles olhares?

Como descrever o riso inocente
Estampado em cada um daqueles rostos?

Como definir a magia que se dá entre
Doar um tempo tão curto
E receber algo tão belo:
A gratidão?”
(Zanny Adairalba)






















A Comunidade Sorocaima II está localizada às margens da BR 174, bem perto de onde as torres de energia elétrica que, vindas da Venzeuala, abastecem Boa Vista e outras cidades estado de Roraima. Apesar disso é iluminada apenas por um gerador que funciona poucas horas por dia, deixando quem não tem o seu próprio gerador no escuro. Internet? Só a mais ou menos 20 km de distância, na sede do município.

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O projeto Caminhada Arteliteratura foi um dos contemplados pela Bolsa de Circulação Literária da Funarte e Ministério da Cultura.


domingo, março 13, 2011

Dia Nacional da Poesia 2011 – Uma festa ao ar livre

 (Publicado originalmente no blog do Coletivo Arteliteratura Caimbé)

E mais uma vez fomos às ruas de Boa Vista para comemorar o Dia Nacional da Poesia.

Esta foi a III edição do evento “Poesia na Praça”, uma iniciativa do Coletivo Arteliteratura Caimbé. Optamos por realizá-la na avenida Jaime Brasil, centro comercial de Boa Vista - RR, para presentear os transeuntes com muita poesia e música.
O evento começou às 9h com duas exposições fotográficas: uma do Fotoclube Roraima e outra de poemas e imagens produzidas pelo Coletivo Caimbé, além de um varal de poesias que chamou a atenção de quem passava pelo local.
As pessoas foram se aproximando e logo tínhamos um bom número de amantes da literatura brasileira, reunidos numa grande festa poética.
O evento contou ainda com a participação de vários artistas locais que abrilhantaram ainda mais o momento. O poeta gaúcho Eroquês Gaudério e sua linda filha Giovana Krystine, de apenas 8 anos, encantaram os espectadores com a sua performance.
Também estiveram presentes Daniel Moraes, que variou entre declamações próprias e de poetas como Fernando Pessoa; a atriz Vera Vieira, que com muita simpatia, recitou textos de autores nacionais e locais; o diretor de Cultura do Sesc- RR, Chico Pinheiro; o cantor e compositor Marcos Terra; e o diretor teatral Márcio Sergino, entre outros conhecidos.
Apesar da ameaça de chuvas, que haviam sido muito fortes na sexta-feira, o sábado foi agradavelmente nublado e frio, sem nenhuma gota para nos atrapalhar.
O encerramento do III Poesia na Praça ficou por conta do cantor de reggae Mike Guy-bras. Nos últimos acordes de sua apresentação São Pedro decidiu molhar a Jaime Brasil, provocando aquela correria de retirada de material e proteção de equipamentos. Ainda bem que foi apenas um chuvisco leve, bem leve.
A proposta de levar poesia a lugares públicos teve mais uma vez bons resultados. As declamações, a comercialização de obras literárias e a satisfação estampada nos olhares atentos dos espectadores provam que este tipo de ação é muito bem recebida pela comunidade.
Agradecemos o apoio da Fetec, do Sesc-RR e do Fotoclube Roraima em mais esta intervenção cultural.

Se tiver curiosidade, veja nestes links como foram as comemorações do Dia Nacional da Poesia em 2010 e em 2009.

Aproveite as fotos feitas por Edgar Borges, Zanny Adairalba e Chico Pinheiro: 

Poeta Eroquês Gaudério



Atriz Vera Viera
Zanny Adairalba divulgando o evento
Declamações
Varal de fotografias e fotopoemas
Tana Halú declamando
É na infância que a gente começa a gostar de poesia

DJ Paul declamando
Chico Pinheiro lendo um cordel de Zanny Adairalba
Responda a pergunta de Edgar Borges
Daniel Moraes
Declamadora que fugiu do trabalho para recitar seu poema
Érica Figueredo, da TV Globo local
Giovana Krystine recitando poemas de seu pai, Eroquês Gaudério


Zanny Adairalba e Mike Guy-bras
Alexia Linke
Cordéis de Zanny Adairalba
Zanny Adairalba, Edgar Borges e Tana Halú

quinta-feira, março 10, 2011

Liminar



Vamos, vamos, vamos
O tempo é curto e a distância é a longa.
Movimentem-se, movimentem-se
Já chegam e podem irritar-se
Que não nos vejam aqui.
Ninguém nos autorizou, lembrem-se.
Eles quem sabe o fizessem,
Mas hoje não será o nosso dia.
Adiem essa permanência, digam adeus,
Desconfortável adeus.
Os donos estão vindo e as nossas terras
Não são mais as que eram ontem.
Ficamos assim, ao alcance de suas decisões,
De suas mãos pesadas, de suas botas, de seu riso de escárnio.
Movimentem-se, vamos, vamos.
Ficar? Tem certeza?
Não, melhor não.
Estas terras não são mais nossas,
Seus donos alegam retorno, estorno, estorvo.
Somos estorvo, ocupantes impróprios
Nada para se preocupar.
Como disse, é melhor ir, é melhor.
Lá chegam à vista as primeiras botas raivosas
Desocupando o que estava bem ocupado.
Somos lembranças, somos passado.
O futuro a outros pretence.
A terra, como disse alguém,
A outros, justos ou não, pertence
E deles será a herança.
A nós?
Sem casa, sem caminho, sem nada
Que reste um pouco de resto, desocupação, invasão, fuga.
A nós, tomara, que sobre um pedaço de esperança
Em outra margem, em outro ponto distante.

(Poema premiado, conforme podes ler aqui)

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Caminhada Arteliteratura na rádio Monte Roraima

Matéria com a jornalista Evilene Paixão, da Fm Monte Roraima, aqui de Boa Vista.
Foi veiculada no dia 3 no jornal Amazônia é Notícia, que passa em toda a região Norte, e na FM Monte RR. No dia 4 foi repetida, às 7h30, no Monte RR Notícias, também na 107,9 mgz:


Campanha arrecada livros de prosa e poesia para comunidades indígenas. 20% dos livros arrecadados serão destinados à implantação de uma biblioteca comunitária no bairro Jardim Caranã, zona oeste de Boa Vista. Confira os detalhes com Evilene Paixão:

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Campanha de coleta de livros para as comunidades

Começamos hoje uma ação que não estava prevista no projeto aprovado pela Funarte mas atende plenamente à essência da Caminhada Arteliteratura. É uma campanha de coleta de livros para doar às comunidades que vamos visitar. 

No embalo, montaremos a biblioteca comunitária do Coletivo Caimbé. 

Mandei um e-mail para alguns contatos e já obtivemos, logo cedo duas boas respostas.

A primeira foi de Fabiano dos Santos, diretor do Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura. Via Biblioteca Nacional, vai mandar cinco kits contendo 70 livros cada. Muito bacana. Aliás, se você quiser sobre sobre as ações do MinC, que tal visitar o site dele? Informação é bom.

A segunda foi de Patrícia Velho, diretora do Museu Integrado de Roraima. Ela já estava querendo fazer uma campanha assim e decidiu juntar-se a nós. O museu vai ser ponto de coleta também.

Hoje à noite já vou pegar uma caixa de livros na casa de uma doadora. Muito legal essa receptividade das pessoas.

Abaixo, copio o e-mail que mandei. Caso você, nobre internauta, não tenha recebido, o pedido está aí, já com o novo ponto de coleta.
Abraços e esperamos sua colaboração.
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Como se diz por aí, poderia estar roubando ou matando, mas estou aqui somente para pedir-lhe que contribua com a campanha de arrecadação de livros de prosa e poesia que serão doados a moradores de Boa Vista e de quatro comunidades indígenas do Território da Cidadania das áreas indígenas São Marcos e Raposa-Serra do Sol – Roraima.   

Um livro basta. O material sera entregue em abril e maio, durante a realização do projeto Caminhada Arteliteratura, selecionado pela Funarte na Bolsa de Circulação Literária 2010.


Os livros vão complementar a entrega de uma cesta literária formada por 15 publicações de autores roraimenses. A intenção é que a iniciativa fortaleça e amplie as bibliotecas escolares ou comunitárias já existentes nas comunidades indígenas.

Como parte deste projeto, o Coletivo Arteliteratura Caimbé realizará rodas de leitura nas comunidades, complementadas com sessões de artes plásticas e repasse de técnicas de produção de massa de modelar caseira. As atividades serão gratuitas e abertas a todas as idades.

BOA VISTA - 20% dos livros arrecadados serão destinados à implantação de uma biblioteca comunitária no bairro Jardim Caranã, zona oeste de Boa Vista, no mesmo endereço onde funciona a Casa Cultural do Coletivo Caimbé, na rua Z, número 76. A previsão é que comece a funcionar no primeiro semestre deste ano, beneficiando a comunidade da região.

Dito tudo isso, espero a sua contribuição.

Se for o caso, me liga que vou pegar (9111-4001).

Temos três pontos de arrecadação em Boa Vista:

1.   Livraria Saber, na avenida Major Willians,Centro (ao lado da panificadora Goiana)

2.   Centro Multicultural da Orla Taumanan, rua Floriano Peixoto, Centro.

3.  Museu Integrado de Roraima - Parque Anauá.

Qualquer coisa, manda pelos Correios que eu recebo tudo aqui:

Edgar Borges
Rua da Gravioleira, 556, Paraviana, Boa Vista, RR
69307-230

Conto com sua colaboração. Um livro basta, repito.  

Abraços e um fantastico 2011, cheio de prosa, poesia e muitas conquistas.

P.S.: sem querer ser chato, neste momento vamos dispensar as doações de revistas velhas e livros didáticos.

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O projeto Caminhada Arteliteratura foi um dos contemplados pela Bolsa de Circulação Literária da Funarte e Ministério da Cultura.  


domingo, janeiro 30, 2011

Boa Vista Versificando


Cinco versificadores participaram da terceira leva de #Versificados em Boa Vista, aqui na ponta Norte do Brasil.  

As poesias foram publicadas nos classificados do Jornal Roraima Hoje, na edição do sábado 29 de janeiro de 2011.

Comente à vontade. Esperamos você em fevereiro.



quinta-feira, janeiro 27, 2011

Cuando me enamoro


Se liga na percussão suave, envolvendo as vozes de Enrique Iglesias e Juan Luis Guerra. Aí você acompanha também a história do clipe, claro.
Você não sei, mas eu fui voando lá pra minha infância e juventude e fiquei o tempo todo sorrindo, lembrando dos amores (correspondidos ou não, é o que menos importa) daqueles tempos.

Na cena do garoto e a diretora, lembrei também de uma professorinha do ensino médio na escola estadual Gonçalves Dias. Não da minha turma, mas do pessoal de outra sala. Professora de química. Linda, cabelo curto, pernas grossas, vestidinho de garotinha do campo, morenaça, tipo feita para mim.
Todos ficávamos na parede esperando vê-la passar para o começo das atividades. Ai, nunca as 13h25 foram tão atraentes..

Cuando me enamoro a veces desespero,
cuando me enamoro,
cuando menos me lo espero, me enamoro
se detiene el tiempo, me viene el alma
al cuerpo, sonrio, cuando me enamoro...

Curte aí que agora minhas mãos voltaram a doer.





quarta-feira, janeiro 26, 2011

Projeto Caminhada Arteliteratura - 1ª visita às comunidades indígenas de Pacaraima 

Diário de caminhada - 20 de Janeiro de 2011

Escrito por Zanny Adairalba no blog do projeto Caminhada Arteliteratura

O relógio desperta antes de o dia clarear. São cinco horas de uma sexta-feira e o café da manhã é feito de forma rápida para não atrasar a viagem. Hoje a visita será feita às comunidades Boca da Mata e Sorocaima II.

Desta vez também usaremos a BR 174 em direção à Venezuela mas não haverá travessia em rios, balsas e outros medos.

Em compensação o percurso é bem maior que o realizado para chegar às primeiras comunidades indígenas visitadas. Depois de um bom tempo de viagem, as placas indicam que entramos na área indígena São Marcos, que logo depois se cola com a Raposa – Serra do So, formando um único Território da Cidadania.

Aqui o usufruto da flora e da fauna é exclusivo dos indígenas, como alertam placas ao longo da BR 174.

Para poder voltar a Boa Vista, temos primeiro que deixar o Brasil e abastecer na Venezuela. Gasolina muito barata (coisa de centavos de real por litro) gera filas demoradas.


Para tentar controlar o descaminho, a Polícia Federal de Pacaraima estabeleceu dias de abastecimento baseados nas placas dos carros. Mesmo assim, a fila é única e demorada. Quem não quer passar horas esperando apela pros abastecedores clandestinos, que vendem combustível a um real por litro. Em Boa Vista, o mais baixo valor é R$ 2,83 o litro.



Abastecidos e almoçados em Santa Elena de Uairén, do lado de lá da fronteira, baixamos a Serra de Pacaraima.



Ao chegar na primeira comunidade, Sorocaima II, não conseguimos encontrar nosso contato mas deixamos com um parente dele um documento explicando o que queremos fazer e quando.


Nossa próxima parada é Boca da Mata, comunidade com mais de 400 moradores, já em área de cerrado, ou lavrado, como chamamos por aqui.

Encontramos o tuxaua Carlos conversando com o professor Mauro enquanto supervisionava a limpeza das ruas. Fomos convidados a fazer parte da roda para explicar o motivo de nossa visita. Tivemos aprovação imediata e já marcamos para a manhã de 18 de março a atividade.




Com esse contato fechamos a etapa de visitas para agendamento das atividades dentro das comunidades indígenas. É importante destacar que em todas fomos recebidos com entusiasmo por parte dos administradores que, imediatamente, demonstraram-se conhecedores da importância dessa ação assim como bastante interessados que projetos como este continuem acontecendo.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Levando literatura às comunidades indígenas de Roraima

A turma do Coletivo Arteliteratura Caimbé, do qual faço parte, iniciou as atividades do projeto Caminhada Arteliteratura, contemplado em 2010 com a Bolsa de Circulação Literária - Funarte/Ministério da Cultura.
O blog do projeto já está no ar. É clicar aqui e acompanhar direto as notícias.
A seguir, um relato de Zanny Adairalba sobre a viagem inicial às comunidades indígenas do Baixo São Marcos.


Diário de caminhada - 15 de Janeiro de 2011

Acordamos cedo esta manhã. Para chegarmos às comunidades, além de carro, teremos que fazer uso de uma balsa para a travessia do rio Uraricoera. Água, blocos de anotações e câmeras fotográficas no carro e pronto. É hora de pegar a estrada.




Saída de Boa Vista rumo à região do Passarão, passagem obrigatória para chegar ao Baixo São Marcos. A cidade fica para trás. Daqui para frente, só natureza!


Passando pela Serra da Moça, onde fica uma comunidade indígena, mas ainda não pertencente aos Territórios da Cidadania.


Primeira parada.



São 8 da manhã e perdemos a balsa. Agora é esperar seu retorno.



Um pescador chegando pelo rio Uraricoera. A cena relata a poesia viva do cotidiano Amazônico.


Depois de uma hora e meia de espera, o motor do rebocador avisa que vamos partir. Todos a bordo parecem bem à vontade. Menos eu, que sempre gostei de manter meus pés em terras bem firmes.





Chegamos em Campo Alegre, uma comunidade fundada em 1982 que hoje possui 203 habitantes, 2 escolas (uma estadual e outra municipal) e um micro-hospital em processo de construção.

Os moradores indicam onde podemos encontrar o Tuxaua, Sr. Jadir, e seguimos a seu encontro. Mais à frente avistamos um senhor sentado à sombra de um galpão de palha, com seus pertences de trabalho (bolsas, canetas e papeis) numa mesa de madeira, anotando numa planilha de planejamento todas as atividades da comunidade para 2011.



Nos apresentamos e Edgar começa a descrever como serão realizadas as atividades.
“Acredito que esse projeto será muito importante para nós. É a primeira vez que teremos uma ação como esta aqui dentro da comunidade”, diz seu Jadir, que antes de assumir a posição de Tuxaua trabalhou 26 anos como professor.

Evento marcado, seguimos em direção à comunidade Vista Alegre, percorrendo mais 28 km de estrada de piçarra.


Na comunidade, de 530 habitantes, fomos recebidos pelo 2º Tuxaua, o Sr. Zildo, que também exerce a profissão de professor e nos falou sobre trabalhos realizados pelos moradores e outros projetos que beneficiam a comunidade.


Após apresentação do projeto, marcamos o dia para a realização do evento, recebido com entusiasmo pelo Tuxaua.

Deixamos a comunidade Vista Alegre depois do meio-dia.




Pegamos a RR-319 em direção a Boa Vista cansados mas já com aquela sensação de início de missão cumprida. Conversando sobre os pontos fortes da viagem,
Edgar questiona o que mais chamou minha atenção nesse primeiro contato. Sem sombra de dúvidas, a seriedade no tratar sobre a melhoria da comunidade e o senso de responsabilidade presente nos dois administradores (tuxauas), foi algo que me deixou impressionada.

Bons ventos levam os pássaros. Esperamos que à nossa caminhada também.

E a literatura no projeto cultural?

 
Nilton Bobato *

 

Os sinais dados pela presidente Dilma em seu discurso de posse, deixando claro que o governo federal tratará cultura como um processo de desenvolvimento e atividade econômica, que aliado a fortes investimentos em educação, ciência e tecnologia, constituirá a base da nação que queremos construir, são alvissareiros.

Os primeiros passos da ministra Anna de Hollanda são expressivos, e no universo da simbologia, importantes.

Neste mesmo universo simbólico vale também salientar que a presidente Dilma, em seu discurso de posse, incluiu entre os bens culturais citados a literatura, outro fato inédito.

Estes indicativos precisam ser acompanhados de atos concretos.

A literatura necessita ser tratada como prioridade nas ações do Ministério da Cultura, mas mais do que isso, tem de ser olhada como centro de política de desenvolvimento, como centro de política do tipo de nação que queremos construir. Necessariamente deve fazer parte de ações articuladas de vários ministérios, notadamente a Cultura, a Educação, a Comunicação, o Desenvolvimento Social e o Planejamento.

No universo simbólico que tratamos aqui, os indicativos relacionados ao futuro das políticas para a literatura não estão claros. Falarão alguns, o governo não completou 15 dias, a ministra da Cultura ainda tenta conhecer os prédios e os servidores, etc. No entanto, políticas centrais devem ser sinalizadas nos primeiros dias, pois é nestes dias que se constitui o foco principal do governo.

É querer muito diante dos desafios que o país ainda tem de cumprir na área social? Se olharmos para a base da nação que queremos constituir, o investimento em literatura deve ser tratado no mesmo patamar de prioridade da educação, da ciência e tecnologia e da cultura. A literatura, como arte, é base da constituição de um tipo de pensamento.

Não falo aqui somente no ato do incentivo a leitura, também de fundamental importância, ou de políticas de incentivo ao livro, cruciais para o futuro. Falo do tratamento da literatura pelo Estado como parte da estruturação da identidade nacional, de uma arte, de uma economia.

Foram fortes as ações nos governos Lula na área do livro e da leitura. Constituiu-se o Plano Nacional do Livro, Leitura e Literatura (PNLLL), temos o Fundo Setorial, a Lei do Livro, ampliação do número de bibliotecas, formação dos agentes de leitura, investimentos na área cultural para o livro que saltaram de míseros R$ 8 milhões nos desgovernos do sociólogo para mais de R$ 100 milhões, entre outras.

O Ministério da Cultura ainda precisa constituir investimentos específicos para a literatura como arte, regulamentar a Lei do Livro, reconstruir o Instituto do Livro, entre outras políticas.

No entanto este é o limite do Ministério da Cultura, é preciso urgentemente ampliar as articulações com o Ministério da Educação, com ações como formação de professores mediadores de leitura, abertura das bibliotecas escolares para a comunidade e agentes de leitura.

Já há uma forte participação do Ministério da Educação no PNLLL que precisa ser acrescida de outras políticas de base, notadamente na rotina das políticas educacionais do país e na formação dos professores e funcionários da educação.

Esta articulação, se somadas a ações institucionais de vários outros ministérios constituirá a base de uma política literária realmente efetiva.

* Vereador do PCdoB em Foz do Iguaçu (PR), membro do Conselho Nacional de Política Cultural, professor e escritor. Publicado no site Vermelho.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Leituras: Antonio Hohlfeldt


O velhinho que virou criança
Editora Mercuryo Jovem
Literatura infanto-juvenil