segunda-feira, junho 26, 2017

Falando de arte e literatura na escola Oswaldo Cruz






Passei uma manhã gostosa no último sábado (24), participando como convidado do primeiro Sarau de Arte e Literatura da escola estadual Oswaldo Cruz, no centro de Boa Vista. 

Tive a companhia das poetas Elimacuxi, Sony Ferseck e do cantor Neuber Uchôa. Falamos no pátio da escola para cerca de 100 alunos sobre a nossa arte, vida e literatura. O sarau foi a culminância do projeto Literatura e Arte Roraimense, coordenado pelo professor Francisco C S Silva.





A organização do evento pediu aos alunos que escolhessem um texto ou música de autoria dos convidados para fazer a leitura e cantar. Foi bonito ver a meninada lendo o Sem Grandes Delongas. 







Havia me planejado para ler dois poemas, mas optei por fazer uma leitura interativa de Autopsicografia, chamando a turma para repetir em voz alta as palavras finais de cada quadra do texto de Fernando Pessoa. 





Aquele momento em que quase todos olham para a câmera errada (ou certa...)



No final do evento fiquei conversando e tirando fotos com a turma e quando me dei conta já havia perdido a damorida que estavam servindo. Fiquei na vontade... 

quinta-feira, junho 22, 2017

Desabafos acadêmico-musicais da quinta à noite


Sabe, neste momento eu deveria estar focado no trabalho que tenho que fazer para ser aprovado na disciplina lá do mestrado em Antropologia Social que fiz este semestre como aluno especial, mas não. 

Estou aqui (são 20h15 da quinta 22 de junho) ouvindo há horas versões e versões da música Costumbres, que ficou famosa na interpretação da cantora Rocío Durcal. A lista que me aparece no Spotify de gente que a regravou é tão diversa que não tenho como resistir.

Sou desses que ouve repetida e alucinadamente as músicas que o tocam. É a minha droga (Às vezes, penso o que seria de mim se usasse narcóticos e gostasse. Talvez ficasse o dia todo chapado...). 

A música agora é outra, uma do CD el Trem de Los Regresos, de Yordano. 

Fiz uma lista de outros sons que gosto e botei para tocar enquanto vou me desapegando de Costumbres. É um processo lento esse de abandonar as músicas. Teve uma noite que passei umas duas ou três horas ouvindo tudo que o aplicativo tem relacionado à Sweet Child O'mine (A tara começou depois que vi o filme Capitão Fantástico e a versão que a família retratada canta lá. Achei linda e recomendo. Vi o filme em HD lá no youtube mesmo. Além disso, tem as meninas cantoras super lindas de se ver também).

Agora é outro o som: vem de Franco de Vita Vuelve em primera fila, os acústicos que as gravadoras fazem com os cantores que gravam em espanhol.

Viro o rosto e o caderno com as anotações me encara. O rascunho base está entre meus braços, querendo, precisando, clamando para ser editado. Meu pescoço dói, tá chovendo e tudo o que não queria era ter que fazer isso, mas a culpa é minha, que não fui pra cima de um mestrado quando era jovem, disposto, com tempo e sem tanta gente para dar atenção. 

(Vou até dar uma olhada boa nesse "disposto" aí...talvez tire...afinal, disposição nunca foi meu forte. Procrastinação sim.)

Alguém canta agora uma versão de Rocket Man. Conhece, leitor ou leitora deste blog que insiste em sobreviver na era das redes sociais sem modernizar-se? Descobri essa música no final de uma temporada da série Californication. A dor do Hank Moody foi toda traduzida naquela cena ambientada com esta música. 

Deus, quantas apostilas espalhadas na mesa! Tenho que extrair os conceitos que me interessam de cada uma,  lincar isso com a ideia que tive de analisar os caras do rap roraimense e fazer um ensaio basicão de sei lá quantas páginas. Nada denso, nada difícil, eu sei, mas...

Quem sabe de suas dores é quem as carrega. Talvez depois que edite e comece a escrever a parada flua...Talvez...

Nem devia estar aqui, mas meio que precisava desabafar essa minha ansiedade por não avançar no trabalho da disciplina. Terça ainda tenho que apresentar um resumo dos conceitos e a linha metodológica que vou adotar para escrever o troço. Ou seja, agora é uma corrida contra o tempo. 

Preciso aprovar nessa disciplina. Se o fizer, serão 60 horas a menos quando um dia aprovar em um dos mestrados que vou disputar. Também serão 60 horas a mais para apresentar como capacitação lá no RH do trabalho...

Sério que tu ainda não foi pesquisar o som que tava ouvindo no começo do texto? Qual é teu problema com música romântica em espanhol? São bem melhores que as anglo-saxãs para representar um coração partido, te garanto.

Bem, vou desligar aqui e me concentrar. Quem sabe pelos menos a edição inicial do texto não acontece hoje, né?

sexta-feira, junho 09, 2017

Conquistando as piscinas naturais da Serra Grande

Hoje vou falar de uma ecoaventura que fiz nos distantes dias 20 e 21 de maio deste longo ano de 2017. Preparem-se para acompanhar cada gota de suor que soltei na jornada. 

O eco-passeio exigiu um bocado de esforço físico: em companhia de cinco amigos subi a Serra Grande, uma montanha que fica no município do Cantá (RR) e que há muito tempo queria encarar.

Esta minha ecotrip (acho que acabaram os termos aos quais consigo adicionar “eco”) começou com o convite do casal Timóteo e Graziela Camargo. Com eles e Ricardo “Biro” Guimarães, Júlio Fraulob e Marcelo Engelhardt encarei uma trilha e pedras escorregadias no meio da mata até conquistar (olhe aí a petulância do trilheiro) a Serra Grande. Ou pelo menos, mais da metade dela, bem na parte que interessa, com as piscinas que parecem infinitas e uma cachoeira delícia de tomar banho e bater fotos.

 A caminhada começou no sítio Água Fria, que fica na zona rural da vila Serra Grande Dois. Para chegar nesse lugar saímos de Boa Vista, pegamos a BR 401 e entramos na RR 206, passamos pela sede do município do Cantá (a 32 km de BVB) e avançamos mais uns 20 ou 30 km em estrada de picarra e terra batida. 

Sítio Água Fria, o começo de tudo

A divisão


Depois que dividimos as coisas de uso comum para carregar nas mochilas, começamos a caminhar. Logo de cara tivemos que atravessar um igarapé. Como não queria molhar os tênis logo nos primeiros 20 metros da jornada, avancei pela margem um pouco e passei pulando pedras. 


Primeiras puladas sobre as pedras


A umidade estava bem alta e logo comecei a suar muito. Sorte que tinha uma garrafa de água congelada comigo e isso ia matando a sede. O caminho começou fácil, mas logo foi ficando complicado, com troncos no meio da trilha e muitas pedras para pular e subir usando mãos e pernas. Me lembrou a etapa final da subida ao monte Roraima, que encarei há muitos anos, no auge de minha forma física, e na qual fiz “crec” no joelho esquerdo na descida. 


Primeiros passos na trilha


Primeiro terço: o cansaço já está batendo



Abaixa que tem árvore no meio

Pula que tem pedra pra subir


Mãos e pés na subida


Como o ritmo da turma estava bem puxado, houve momentos em que me faltou fôlego. Coisas da idade (naqueles dias indo para os 40, agora tendo 41) e do sedentarismo (naqueles dias caminhando cinco km por noite e passando uma semana sem fazer nada). 

A sorte é que cada momento apareciam córregos para pegar água bem gelada e jogar no rosto, aliviando a agonia do cansaço e o calor da mata fechada. E foi no meio da mata que almoçamos paçoca com banana e suco de cajá (ou taperebá, não lembro mais. Só lembro que serviu para recuperar forças e descansar). 


Almocinho no restaurante Trilha da Serra




Como estamos na temporada das chuvas, há muitas oportunidades para refrescar-se no meio do caminho, dando um mergulho para espantar o calor ou apenas pegando água para molhar o rosto. 


Subimos usando GPS, mas a certa altura saímos da rota e fomos parar no pé de uma parede gigante de pedra. Quando vi aquilo pensei: caraca...será que dá para subir isso sem escorregar? Por sorte, lá no topo (amplia a foto que dá para ver a silhueta do povo) estavam duas pessoas. Começamos a falar com elas na base do grito, perguntando se a trilha era por ali e elas responderam que não, que dava numa cachoeira, mas que não era o caminho correto. Demos meia volta e entramos na trilha correta, eu aliviado pela subida em vão que não fizemos…



Sente o tamanho da pedra que ainda bem que não subimos. Lá, na altura da nuvem, estavam duas pessoas

No meio dessas subidas que nunca acabavam, há percursos no meio do leito de pedra do rio que só aparece no inverno. Dele já dá para ver o rio Branco às nossas costas.

O rio Branco lá trás...e ainda tem chão (ou rio) para subir



Leito do rio que se forma na época das chuvas


Escultura de pedras perto da chegada


Finalmente, depois de sair de 110 metros de altitude e fazer quase quatro horas e 3,15 Km de caminhada, finalmente chegamos ao nosso destino, a 514 metros.  Mas não sem antes pular por cima de mais pedras para não molhar os tênis nos riachos e escorregar várias vezes por conta do limo no caminho. 


O gráfico mostrando nosso trajeto

No ponto de chegada, entre 10 e 20 pessoas já estavam instaladas em redes e barracas e tomando banho nas piscinas naturais mais altas. Por isso, depois de montar acampamento, descemos um pouco a serra e tomamos banho em outro ponto. Ainda bem que a visão de “piscina no horizonte infinito” também se via nelas. A água fria que desce do topo da serra nos ajudou a recobrar as energias e ficar muito bem. No meu caso, acrescentei muito alongamento para evitar dores musculares no dia seguinte. 


Piscina do infinito, uma das recompensas por tanto esforço

Tinha dois tipos de peixinhos na piscina. Como subiram é o mistério

Pose zen deste cronista, para ficar blasé na fotos




 Fizemos a montagem das barracas em dois pontos bem próximos: numa ficamos eu, Graziela e Timóteo. Debaixo da outra lona abrigaram-se Júlio, Marcelo e Biro. Nessa montamos o fogão e a iluminação a base de lâmpadas LED alimentadas por uma bateria de motocicleta, garantindo iluminação padrão “casa” para a janta (pão com linguiça frita), o mate e a conversa. O espaço ficou tão bom que o povo das vizinhanças veio esquentar água com a gente e lá pelas 23h rolou até um momento comunitário. 





Antes da noite chegar e depois do banho, fomos curtir o final da tarde na pedra, vendo o sol iluminar o lavrado, o rio Branco e colorir de laranja a mata da serra. Fiz algumas fotos e aí a bateria de meu celular acabou, mas não antes de enviar lá de cima umas fotos via Whastapp para casa.

A recompensa: o lavrado todo à vista, com o rio Branco em primeiro plano. 

Parece foto posada, mas estávamos mesmo curtindo a visão


Julio, Marcelo, Edgar, Timóteo, Graziela e Biro

Sente a luz linda que tínhamos nessa tarde


O sorriso na cara de quem já escorregou muito na subida
 Quando escureceu e os insetos começaram a incomodar, voltamos para as barracas e providenciamos a janta. Choveu um pouco e quando passou decidimos voltar para a pedra para tomar vinho e ouvir música nas caixas de som com bluetooth que o grupo levou. 

Preparando o jantar


Do ponto onde estávamos, víamos à noite os carros saírem de Mucajaí e atravessarem os 50 km da BR 174 rumo a Boa Vista, cuja iluminação se projetava por detrás da serra. Como era sábado, deduzi que o povo estava vindo curtir as baladas na capital. 


Os demais trilheiros foram chegando e daqui a pouco a roda tinha umas quinze pessoas conversando e ouvindo música. O bom momento, com muito vento frio, acabou quando recomeçou a chover, parando logo em seguida. Como já estava bem tarde, fui deitar e parte do povo ficou celebrando a natureza. 


As chuvas voltaram de madrugada, minha rede começou a molhar dos lados, deixando-me à procura da melhor posição para voltar a dormir. Na verdade, só ficou seca a parte do meio. Até o lençol molhou na brincadeira e não parava de chover, molhando tudo ainda mais… A noite mal dormida foi o grande momento ruim do passeio.

Quando amanheceu, lanchamos, tomei banho e lá pelas 9h, 9h30, começamos a descer. Sabe aquele ditado de “para baixo todo santo ajuda”? Pura conversa. Quase todo mundo escorregou e se ralou um pouco na descida. 

Como estava bem úmido, suei bem mais do que na subida. A certa parte, minha pernas tremiam pelo esforço e os tornozelos e joelhos começaram a doer...quando encontrávamos uma parte reta para caminhar, agradecia pelo descanso. Como já estava indo para casa, nem me preocupava mais em pular as partes com riacho. Passava direto. 

Tirando a chuva me incomodou à noite e esse cansaço, não tenho nada de ruim para contar. Valeu muito a pena sair do conforto de casa para curtir a Serra Grande na companhia desse grupo bom de pessoas. 

(É claro que nessa semana não fiz nada de exercícios, dando tempo para que as pernas se recuperassem.)

quarta-feira, maio 31, 2017

Ensinando o Edgarzinho a dominar as manhas do dominó e das damas



Eu nunca passei muito tempo com o meu pai. Em parte porque ele sempre trabalhou abrindo e pavimentando estradas longe de casa, em parte porque os meus progenitores se separaram quando tinha uns 6 ou 7 anos de idade e a parada foi tensa nos afastamentos até eles se reconciliarem, mais de uma década depois. 

Lembro que uma das poucas coisas que ele parou para me ensinar foi a escrever os algarismos romanos. Por conta disso era um dos poucos moleques do bairro a entender aquele monte de letrinhas que representavam valores e datas. 

Este ano, quando decidi fazer o mesmo com o Edgarzinho, descobri que ela já conhecia os números romanos. Havia aprendido sobre eles jogando Minecraft no celular...Dei muita risada quando soube e parti para a outra parte de transmitir saberes que havia me proposto: ensinar-lhe dominó e damas. 

Comecei com o dominó, mostrando que os pontinhos se encaixavam até alguém ganhar. Depois partimos para o jogo com os múltiplos de cinco. A minha meta era, na verdade, estimulá-lo a somar mais rapidamente e garantir que o seu pensamento matemático avançasse. No começo ele não curtiu e sempre pedia para voltar a jogar só o de encaixar as pedrinhas com pontinhos iguais.

Sua mamis e eu optamos por reforçar o conhecimento dele na tabuada. Quando percebemos que estava mais seguro, parti novamente para o dominó dos múltiplos de cinco, ajudando ele quando as somas ficavam altas. Resultado: o moleque hoje está uma fera nas somas e cálculos de probabilidades sobre as jogadas que lhe garantem pontos e mais pontos. 

Além da gente em casa, ele já jogou com o avô paterno, seu Juca, e com minha avó, dona Maria José, que aos 91 anos ainda é a rainha familiar do dominó, montando combinações e somando pontos numa velocidade absurda para o que se espera de alguém de sua idade. 


Edgarzinho jogando comigo, sua bisavó Maria José e seu avô Juca. Percebam que ele cresceu tanto que já usa de boas as minhas camisetas...

Outro jogo que decidi ensinar-lhe, aqui pedindo ajuda da mamis Zanny Adairalba, foi o de damas. Esse demorou mais um pouco, sobretudo por exigir mais concentração de sua parte. Mesmo assim, na segunda semana ele já chegou contando que havia jogado com uma colega na escola. Na outra já estava jogando com a avó materna.

Pensando a estratégia para o jogo de damas


Ainda fica nervoso quando está perdendo e nessas horas a gente pega leve, dando aquela chance bacana para ele comer uma ou duas peças e ganhar confiança. Além disso, reforçamos o tempo todo que ele precisa aprender a montar as jogadas na cabeça e meio que prever o que o outro jogador vai fazer.
Assim vamos, fortalecendo os conhecimento do moleque. O próximo passo é ensinar xadrez, mas aí será uma história entre ele e a mãe, porque eu não manjo disso aí.